Documentos e áudios inéditos mostram plano de Bolsonaro para povoar Amazônia

Proposta avança na mão de militares que avaliam ONGs e Igreja Católica como instrumentos internacionais contra a soberania nacional

Jornal GGN – Reportagem publicada nesta sexta-feira (20) no The Intercept Brasil em parceria com a Open Democracy revela a estratégia do governo Bolsonaro em retomar o projeto de ocupação na Amazônia idealizado pelos militares durante o período da ditadura (1964-1985).

Em uma apresentação feita em agosto sobre o projeto “Barão do Rio Branco”, nome da proposta que visa aumentar a escalada da exploração na região Norte do país, os generais Aberto Cardoso e Villas Bôas acusaram o Sínodo da Amazônia, a mídia, governos, ONU, ONGs e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) de serem “instrumentos” para a “grande estratégia indireta” de outros países para assumir o controle da região.

A Sínodo da Amazônia é um encontro previsto para acontecer em outubro deste ano. Organizado pelo Vaticano, o encontro deve receber 250 bispos líderes da Igreja Católica para discutir durante 21 dias o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

A reportagem teve acesso a uma apresentação da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo, coordenada pelo coronel reformado Raimundo Cesar Calderaro sobre o plano Barão de Rio Branco. O governo queria que o projeto fosse viabilizado por um decreto em um prazo de 100 dias a partir de janeiro, mas isso acabou não acontecendo.

A proposta foi de fato apresenta pela primeira vez em fevereiro. Desde então, as principais discussões sobre o Barão de Rio Branco têm sido feitas a portas fechadas entre governo e empresários locais. “Não há, na agenda oficial, registro de participação de autoridades do Ministério do Meio Ambiente nessas discussões”, escreve Tatiana Dias que assina a reportagem.

Ainda em fevereiro, o então secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebiano, planejava levar uma comitiva à Tiriós, no Pará, formada pelos ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Damares Alves (Direitos Humanos) para se reunirem com entidades locais.

“Bolsonaro, no entanto, não sabia da viagem. Foi surpreendido pelas notícias e vetou a comitiva — uma das razões que culminaram na crise que tirou Bebbiano do governo em 18 de fevereiro. O plano acabou sendo apresentado dias depois só pelo coronel reformado Raimundo César Calderaro, seu coordenador, sem alarde, em reuniões fechadas com políticos e empresários locais”, conta Tatiana Dias.

A proposta foi revelada ao público finalmente no mês passado, pela Open Democracy e retomada na matéria publicada nesta sexta-feira (20) no Intercept, que teve acesso à apresentação feita durante uma reunião da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos do dia 25 de abril deste ano na sede da Federação da Agricultura do Pará, a Feapa, em Belém e alguns áudios.

“Na apresentação, os responsáveis esmiuçaram a preocupação do governo com a ‘campanha globalista’ que, de acordo com o material, ‘relativiza a soberania na Amazônia’ usando como instrumentos as ONGs, a população indígena, quilombola e os ambientalistas. E afirmaram ser necessária a execução de obras de infraestrutura — investimentos ‘com retorno garantido a longo prazo’ —, como hidrelétricas e estradas, para garantir o desenvolvimento e a presença do estado brasileiro no local”, pontua a reportagem.

O principal objetivo do plano do governo Bolsonaro é integrar a Calha Norte – área que abrange a região de fronteira com nações vizinhas em oito estados do Norte e Centro-Oeste. Na apresentação e nos áudios, é possível observar a preocupação dos representantes do governo com as fronteiras do país, alegando defesa à soberania nacional.

Em entrevista à reportagem, o professor do Programa de Pós Graduação em Estudos de Fronteiras da Universidade Federal do Amapá, Paulo Correa, explicou que a região é remota dos dois lados, cercada por rios de difícil acesso e pequenas cidades.

“Estamos falando de uma das fronteiras mais desabitadas que existem”, observou. “Ali é uma região inexplorada do ponto de vista dos minérios. Tem muito ouro e bauxita. Esse poderia ser um interesse: os recursos minerais”, completou.

O desafio de ocupar a região Amazônia é antigo e governos tentam realizar o feito desde o século 18. Getúlio Vargas, já em meados da primeira metade do século passado, criou a Superintendência para a Valorização Econômica da Amazônia para induzir a ocupação local. Mas foi no período militar que essa política foi levada mais a sério com a criação de vários instrumentos como a Operação Amazônia com o lema “ocupar para não entregar”.

“Com o fim da guerra fria, o contexto geopolítico mudou, e a preocupação dos militares passou a ser os EUA. Entre os anos 1980 e 1990, começou a surgir na comunidade internacional uma discussão sobre se o Brasil estava falhando em proteger a Amazônia”, escreve Tatiana Dias.

“Os quartéis passaram a temer que os americanos invadissem a floresta sob a justificativa de proteger o meio ambiente global. O receio foi abrandado com políticas ambientais mais efetivas, como a criação do Ibama, e se manteve relativamente discreto nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Lula. Mas, com a crise econômica e a oposição dos militares ao governo de Dilma Rousseff, as teses sobre a perda de soberania na região voltaram a fermentar”.

*Clique aqui para ler na íntegra a matéria Intercept-Open Democracy

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Redação

4 Comentários

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  1. É perturbadora a tentativa de entender as mentes desajustadas. Não se sabe se querem o apocalipse e o fim de tudo, ou o crescei e multiplicai-vos do gênesis.

  2. “…Documentos e áudios inéditos mostram plano de Bolsonaro para povoar Amazônia…” QUE CRIME!!!!!! O Presidente Brasileiro quer povoar o Território Brasileiro com o Povo Brasileiro !!! ONG’s Uni-vos !! Não podemos permitir tamanho acinte !! Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

  3. Infelizmente este plano é melhor que o abandono. É pior entregar.
    Pois bem, essa ocupação poderia ocorrer de maneira racional, com respeito ao meio ambiente, por empresas estatais, com a supervisão das forças armadas.
    Mas, o “socialista ( o marxista)”, FHC privatizou a Vale. Que “socialista” dizem os Minions!
    E o exército aceitou, quieto.
    ( O Lula tem que ser preso, mas o pré sal, a Vale, bem: foda-se, não é mesmo!).
    O PT quis o grippen o subnuclear
    As forças armadas ( que nojo!) entregaram a Embraer.
    Esses são os milicos!
    Agora estamos pertos talvez de uma intervenção visando roubar e destruir a Amazônia. Mas os milicos irão nos defender com seus estilingues!

  4. Tudo indica que o imperialismo contemporâneo dispensa força de ocupação da sede do império. Nossas forças armadas fazem muito bem este papel e por um custo muito mais barato. Afinal, os recursos da região serão direcionados àquele 1% que comanda a economia mundial e será uma minoria os convidados à mesa do baquete. Quem não concordar com a entrega terá uma baioneta na nuca e os dispensáveis por não pertencerem à raça superior terão fuzis apontados para suas cabeças.

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