Eleições 2020: a esquerda conseguirá estar viva em 2022?

Três conclusões gerais nas análises das eleições 2020: Bolsonaro foi derrotado nas urnas; a “velha direita” está fortalecida; a esquerda segue viva

Eleições 2020: a esquerda não está morta! Conseguirá estar viva em 2022?

Por Erick Kayser

O fim das eleições municipais de 2020 abrem um necessário período de balanços para as forças políticas no Brasil. Para as esquerdas, em especial, esta é uma tarefa vital. Em termos gerais, três conclusões gerais são aventadas nas análises dos resultados: 1 – Bolsonaro foi derrotado nas urnas; 2 – a “velha direita” está fortalecida; 3 – a esquerda segue viva.

Quanto as duas primeiras conclusões, talvez não haja grandes polêmicas. Bolsonaro não conseguiu eleger nenhum candidato que recebeu seu apoio nas eleições, ainda sem partido, viu o bolsonarismo se pulverizar em inúmeras siglas e com as alianças mais variadas. A onda reacionária se arrefeceu, poucas foram as candidaturas que conseguiram sucesso eleitoral exibindo maior fidelidade a retórica bolsonarista. A pandemia e a urgência dos temas sociais, especialmente questões relacionadas a renda e saúde; aliada a queda acentuada da popularidade do governo federal, parecem ter subtraído a audiência e adesão popular da agenda “ideológica” do reacionarismo.

Quem soube aproveitar melhor esta mudança nos “ventos” da política brasileira foi a “velha direita”, também eufemisticamente chamada de “centrão”, que obteve os melhores resultados eleitorais, elegendo o maior número de prefeituras e vereadores pelo país afora. O MDB, mesmo perdendo muitas prefeituras, continua sendo o partido a governar mais cidades, com 784. PP (685), PSD (654) e DEM (464) foram as siglas que mais cresceram em número de prefeituras. O PSDB, com 520 prefeituras, foi quem registrou a maior queda neste campo (-33%). Contudo, convém não superdimensionar o alcance destes resultados, especialmente para a disputa de 2022. Nunca é demais lembrar, por exemplo, que o MDB figura já fazem algumas décadas no topo da lista de partidos que mais administra prefeituras no país, sem conseguir sequer lançar uma candidatura presidencial competitiva. O fortalecimento da direita tradicional deixa o “jogo eleitoral” ainda mais aberto e indefinido quanto a sucessão presidencial. O apoio maior ou menor que a totalidade destes partidos prestam ao governo não recomenda afirmar, desde já, qualquer tendência “oposicionista” ou de projeto próprio para as eleições de 2022, não devendo ser descartado, inclusive, a adesão de algumas destas siglas em uma tentativa de reeleição do Bolsonaro.

Sobre a terceira conclusão, de que a esquerda segue viva, talvez hajam algumas controvérsias. Não faltaram analistas, especialmente na grande mídia, para regozijar-se sobre os fracassos eleitorais dos partidos da esquerda, especialmente nas capitais e apontar para uma “nova morte do PT”. Os dados não apontam para isso. Em termos gerais, entre derrotas e vitórias municipais, o que se constata é uma situação “estacionária”, ainda que sofrendo perdas, a soma dos partidos de esquerda ou centro-esquerda mantêm quase inalterada a força institucional que haviam obtido nas eleições de 2016. As maiores perdas foram do PSB (252) e PCdoB (46), os socialistas perderam 151 prefeituras (-37%) e o PCdoB perdeu 34 (-42%), o PDT (314) manteve-se praticamente estável, perdendo apenas 17 prefeituras, O PT (183) sofreu novo recuo e, pela primeira vez, não governará nenhuma capital, enquanto o PSOL passará a governar sua primeira capital, com Belém, mas no geral obteve poucas vitórias e governará apenas cinco cidades em todo o país.

Este quadro de vitórias e derrotas eleitorais esconde alguns aspectos políticos importantes, que permitem algum otimismo para as forças da esquerda. Muitas capitais e cidades de grande porte voltaram a presenciar candidaturas competitivas da esquerda, sinalizando a recuperação de um terreno social perdido em eleições passadas. Porto Alegre, por exemplo, após duas eleições consecutivas que a esquerda sequer conseguia chegar ao 2º turno, a aliança do PCdoB e PT levou Manuela D’Ávila a chegar muito próxima de uma vitória. São Paulo é outro exemplo, ainda que com características distintas, que a derrota eleitoral é contraposta por uma inequívoca vitória política, com o ótimo desempenho de Guilherme Boulos, do PSOL, irradiando ares renovadores no cenário nacional.

O quadro político interno as forças de esquerda, contudo, pouco se alterou. Como já mencionado, o “peso institucional” dos partidos da esquerda sofreu alguns recuos, mas mantêm ainda uma força relevante. Mesmo com alguns bons resultados eleitorais, um abismo de distância ainda separam o PT e o PSOL neste quesito. Enquanto o PT elegeu 2.592 vereadores pelo país, o PSOL elegeu apenas 77, especialmente em alguns grandes centros urbanos, praticamente ainda inexistindo em muitas regiões do país. Mas este fato, contudo, não pode levar a conclusões de que nada mudou. Houve a continuidade de um processo de mudança política qualitativa no âmbito da esquerda. O PT segue o partido mais forte e referência na esquerda brasileira, conseguiu recuperar espaço social em algumas cidades, mas sua hegemonia se alterou. Lula segue como a maior liderança do campo popular no país, mas sua liderança terá que se dar, como já tem ocorrido, cada vez mais, em um patamar distinto de outros períodos. O espaço para “hegemonismos” se fechou. A liderança terá que se dar em termos de constante diálogo e composição com os demais partidos e movimentos de esquerda, no momento, em torno de uma agenda de resistência.

A conclusão que a esquerda segue viva depois das eleições de 2020 não nos permite apontar que, “naturalmente” chegará as eleições de 2022 em condições de derrotar nas urnas o bolsonarismo e o neoliberalismo. A conjuntura segue adversa, os problemas econômicos, sociais e políticos se avolumam, sem que os partidos ou movimentos de esquerda consigam capitalizar socialmente este momento de crise. Aqui, o problema da ausência de uma Frente permanente (não apenas para disputar eleições) que aglutine as forças de esquerda é por demais evidente. Caso a fragmentação geral da esquerda siga prevalecendo, esta não conseguirá se afirmar, socialmente, como um polo capaz de atrair segmentos mais amplos da sociedade para um projeto de transformação social. Sem isso, dificilmente conseguiremos ultrapassar a atual condição de resistência e recuperar o necessário protagonismo.

 

Redação

3 Comentários

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  1. Falta o principal da classe média (trabalhadora) é aprender a votar ate quando votamos em patrões (empresários) que nos humilham, amordaçam, diminui salários trabalhador aprenda quem nos representa/defende são as ESQUERDAS (PT, PC do B e PESOL).

  2. O alastramento da pobreza costumam diminuir o ímpeto da arrogância e dos arroubos. Aumenta a diferença para as minorias ricas e também, ao aumentar a abrangência das perdas econômicas aproximam mais as causas das maiorias. Pelo caminho não muito agradável, em 2022 haverá uma massa muito maior e mais permeável ao discurso esquerdista e das causas sociais, que hoje. O que causa mais temor, creio eu é que vem aumentando ano a ano o processo de desumanização, pois é este que é o pai da tão falada empatia, que por sua vez é a definidora da solidariedade. Como hoje já temos visto o surgimento até do “gabinete do ódio” esquerdista, o pior para 2022 e mais, não será se a esquerda restará viva, já que a pobreza e a precarização deverão aumentar. É se vão alimentar mais a arrogância e a divisão do que já está hoje.

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