Cesar Locatelli
César Locatelli, economista, doutorando em Economia Política Mundial pela UFABC. Jornalista independente desde 2015.
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Lula vai ao centro; a esquerda precisa ir às ruas, por Adroaldo Quintela e César Locatelli

É certo que um eventual governo Lula será  resultante das diferentes forças que trabalharam por sua vitória e trabalharão por sua governabilidade.

Ricardo Stuckert

Lula vai ao centro; a esquerda precisa ir às ruas

por Adroaldo Quintela e César Locatelli

Lula presidente, é preciso que se diga de antemão, fará o país saltar a um ponto incomparavelmente superior no processo civilizatório da sociedade brasileira. Tal entendimento, entretanto, não é sinônimo de acomodarmo-nos na plateia para assistir ao embate político sempre em curso. A força de sua vitória e a qualidade de seu governo poderão ser bastante distintas, a depender das manifestações populares a guiá-lo para um programa cujo norte seja o bem estar das grandes parcelas da população destituídas de direitos.

O cenário político está claro. Não existe uma candidatura à esquerda de Lula capaz de vencer as eleições e assegurar a implementação de um programa mínimo de reconstrução da democracia, de responsabilidade ambiental e de inserção dos mais pobres na agenda econômica e social do país. Não existe, tampouco, uma candidatura viável que seduza e agregue os eleitores situados mais ao centro e centro-direita. A estes resta a alternativa de usar seu poder político e econômico para tentar atrair Lula para suas posições.

A estratégia de caminhada ao centro, ampliando o arco de alianças com partidos mais conservadores visando assegurar a vitória de Lula nas eleições de outubro e, ao mesmo tempo, buscando condições de governar a partir de janeiro de 2023, carrega o risco de produzir um governo em que estejam ausentes os pontos centrais de uma agenda econômica voltada às reais necessidades da maioria da população, especialmente dos trabalhadores urbanos e rurais de menor renda.

As dificuldades com as “alianças” fisiológicas nos governos de coalizão e o protagonismo do Congresso no golpe de 2016,  parecem justificar uma preocupação extrema com quem ocupará as cadeiras da Câmara e do Senado. Há rumores de que o PT estaria disposto a abrir mão de concorrer a  candidaturas ao governo de estados, buscando ampliar a participação nas duas casas do Parlamento.

Parece-nos acertada a desistência de candidaturas nos estados onde o PT e partidos de esquerda não possuam representatividade política que os capacite a formar e liderar o arco de alianças na frente ampla. No entanto, a retirada de candidaturas onde há clara viabilidade eleitoral e política parece ser exagerada e danosa para os partidos de esquerda, para os setores mais vulneráveis da sociedade brasileira e para a reconstrução da democracia. Explicitar individual e coletivamente nossa posição, seja favorável seja contrária, contribui para que a solução a ser concertada tenha menor risco de dar errado.

Contrariamente ao que se poderia pensar, a possibilidade de vitória de Lula, até no primeiro turno, precisa se constituir em um dos principais vetores para a mobilização popular. Pois, é certo que um eventual governo Lula será  resultante das diferentes forças que trabalharam por sua vitória e trabalharão por sua governabilidade.

Mesmo que as forças democráticas estejam com baixa capacidade de ocupar as ruas, só a contraposição vinda da mobilização popular conseguirá nos defender da influência, sobre um eventual governo Lula, de partidos que, embora tenham a palavra “social” no nome, situam-se muito à direita no espectro político e econômico.

É fartamente conhecido o poder das classes dominantes para impor agendas que as favoreçam, para conflagrar golpes, para gerar crises de governabilidade, entre outras subversões às demandas e aos interesses da maioria da população. Equilibrar esse poder parece passar, necessariamente, pela não contaminação pela lógica da democracia representativa e pelo entendimento que as instituições não são neutras. Instituições como o Congresso, o Judiciário, as Forças Armadas não representam os trabalhadores e, desse modo, não substituem a pressão das ruas no embate político.

Só haverá possibilidade de avanço das demandas populares no Congresso Nacional com a ocupação das ruas e dos espaços públicos de disputa política. O processo de sensibilização dos setores democráticos e populares da sociedade brasileira não pode e não deve esperar o resultado das eleições.

É imprescindível iniciar processo de debate e preparação das bases para ir às ruas no futuro próximo  com uma agenda estruturada levando em conta os pontos principais das necessidades do povo brasileiro reveladas nas pesquisas e debates.

A ação possível e eficiente para aqueles que não detém poder econômico é a mobilização em coletivos e nas ruas. As idas e vindas do jogo político brasileiro estão em pleno curso, como sempre estiveram e sempre estarão. A opção de estar na plateia ou no centro do campo cabe a cada um de nós. De qual coletivo você é ou será membro?

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Cesar Locatelli

César Locatelli, economista, doutorando em Economia Política Mundial pela UFABC. Jornalista independente desde 2015.

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