Jornal GGN – O jornal “Folha de S.Paulo” obteve acesso a uma gravação do espanhol Luis Novoa, dono da Enviawhatsapps, empresa especializada no envio automático de mensagens na qual ele fala sobre a contratação de sua empresa para disparar mensagens pró-Bolsonaro. A gravação foi realizada durante um encontro de empresários na Espanha.
“Eles contratavam o software pelo nosso site, fazíamos a instalação e pronto […] Como eram empresas, achamos normal, temos muitas empresas [que fazem marketing comercial por WhatsApp]”, disse o espanhol.
“Mas aí começaram a cortar nossas linhas, fomos olhar e nos demos conta de que todas essas contratações, 80%, 90%, estavam fazendo campanha política”, completou o empresário. Ele disse que não sabia, até o corte das linhas pelo WhatsApp e recebimento de uma notificação judicial da empresa de redes sociais, que seu software estava sendo usada para campanhas políticas no Brasil.
Quando, durante a mesma gravação obtida pela Folha, uma pessoa pergunta para ele se a “campanha era para algum partido” Novoa respondeu: “Eram campanhas para Bolsonaro”.
Segundo a legislação eleitoral, apenas campanhas eleitorais oficializadas podem fazer a contratação de impulsionamento de conteúdo eleitoral nas redes sociais, e usando a base de dados da própria campanha. A contratação de “propaganda terceirizada” e a compra de banco de dados de terceiros é proibida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, a lei proíbe o uso de ferramentas de automatização, como os softwares de disparos em massa.
Ainda segundo apurações da Folha, os brasileiros compraram cerca de 40 licenças do software da agência espanhola. Cada linha com capacidade para disparar até 500 mensagens por hora, permitindo assim até 20 mil disparos políticos por hora nas últimas eleições.
A Folha apontou também que, no audio obtido, Novoa afirma que não sabia que empresas estavam usando seu software para beneficiar candidatos. “Estávamos tendo muitíssimos cortes, fomos olhar os IPs, era tudo do Brasil, olhamos as campanhas, eram campanhas brasileiras”, disse no áudio.
Entretanto, ao ser procurado pelo jornal, negou que tenha trabalhado para campanhas políticas no Brasil.
“É mentira, não trabalhamos com empresas que tenham enviado campanhas políticas no Brasil (…) Tanto faz se gravaram sem permissão uma conversa informal. Repito pela enésima vez: não trabalhamos com campanhas políticas no Brasil”, disse à reportagem.
Em outubro do ano passado, antes do segundo turno das eleições, a Folha revelou que empresários estavam pagando pelo impulsionamento de disparos via WhatsApp contra o PT na campanha eleitoral. Os serviços foram vendidos pelas agências Quickmobile, CrocServices e Yacows.
Vice-procurador-geral eleitoral fez declarações reduzindo impacto das fake news
A denúncia levou a Coligação O Povo Feliz de Novo (PT/PCdoB/PROS), formada pela chapa do petista e então presidenciável, Fernando Haddad, a abrir uma ação no TSE para apurar o caso. Oito meses depois, ninguém ainda foi ouvido no processo.
No dia 16 de outubro de 2018, logo após as reportagens da Folha, o vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques de Medeiros fez uma videoconferência entre membros do conselho consultivo de fake news do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e quatro representantes do WhatsApp, que falaram do Vale do Silício, na Califórnia.
Na ocasião, sem apresentar estudos técnicos a respeito do tema, Medeiros disse que o volume de informações mentirosas propagadas nas redes sociais não tinham números tão alarmantes.
“Queria que vocês observassem, se olhassem as redes sociais, que o volume de informações mentirosas não tem esse número alarmante. Nós estávamos preparados, um ano atrás, era um cenário mais grave do que aquele que aconteceu. O nível de desinformação que circulou circula num nível interpessoal e não num nível institucional, com sites falsos, veículos falsos de comunicação. Existe muito rumor, muita intriga, maledicência, sim, mas isso tem acontecido num nível interpessoal”, pontuou.
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