“Estou firme e forte”, diz Lula, ao divulgar vídeo após deixar UTI

A equipe médica afirma que o exame neurológico do presidente está normal. A recomendação é de "repouso relativo" nas próximas semanas.

Ricardo Stuckert/PR

da Agência Brasil

“Estou firme e forte”, diz Lula, ao divulgar vídeo após deixar UTI

Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradeceu, nesta sexta-feira (13), as “orações e palavras de conforto” que recebeu nos últimos dias em razão do tratamento de saúde a que vem sendo submetido. Lula divulgou vídeo nas redes sociais em que aparece caminhando ao lado do neurocirurgião Marcos Stavale, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

“Janjinha [a primeira-dama, Janja Lula da Silva] me repassou todos os recados. Peço que fiquem tranquilos. Estou firme e forte! Andando pelos corredores […], conversando bastante, me alimentando bem e, em breve, pronto para voltar para casa e seguir trabalhando e cuidando de cada família brasileira”, escreveu Lula.

A previsão de alta está mantida para o início da semana que vem. A equipe médica, comandada pelo médico pessoal de Lula, Roberto Kalil, afirma que o exame neurológico do presidente está normal. A recomendação é de “repouso relativo” nas próximas semanas.

“2025 está chegando e temos muitos encontros pelo Brasil e pelo mundo. Obrigado pelo carinho de vocês e por toda a dedicação da equipe médica. O amor que recebo me mantém sempre pronto para seguir!”, completou o presidente na mensagem nas redes sociais.

Acidente doméstico

No dia 19 de outubro, Lula sofreu uma queda no banheiro da residência oficial, bateu com a cabeça e precisou levar cinco pontos na região da nuca. Desde então, ele fez diversos exames de imagem que mostraram uma pequena hemorragia intracraniana, estava sendo monitorado, mas não havia passado por nenhuma intervenção.

Na noite da última segunda-feira (9), ele sentiu dores de cabeça e, depois de exames feitos no Sírio-Libanês em Brasília, foi transferido para a unidade do hospital em São Paulo, onde foi submetido a uma cirurgia de emergência (chamada trepanação) para drenar o hematoma, na terça-feira (10). Na manhã desta quinta-feira (12), ele também passou por um procedimento endovascular (embolização da artéria meníngea média) para reduzir o risco de se formar novo hematoma, na região entre o osso do crânio e o cérebro.

Lula já deixou a UTI e segue internado em cuidados semi-intensivos.

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  1. Nos últimos dias várias coisas importantes aconteceram. Lula foi operado duas vezes e o estado de saúde dele provocou uma pequena instabilidade política rapidamente desfeita. Primeiro, o presidente brasileiro anunciou que Fernando Haddad é o herdeiro político dele. Depois, um pequeno vídeo de Lula perambulando normalmente pelo hospital foi divulgado no Facebook.

    A conduta de Lula foi exemplar, mas a de Fernando Haddad é preocupante. Aguardei alguns dias para ver se ele diria algo sobre o assunto, mas o herdeiro político do presidente brasileiro preferiu ficar em silêncio. Isso me fez revisitar alguns conceitos antigos, muito antigos, sobre a democracia.

    O problema da sucessão sempre foi algo extremamente delicado. Especialmente quando o líder político é eleito pela população, porque nesse caso ele é apenas alguém que temporariamente corporifica um poder que não é dele e cuja verdadeira fonte é a vontade popular.

    Todos vimos como a ambição pessoal de Jair Bolsonaro de se assenhorar do poder político conturbou o cenário político. A crise constitucional brasileira, que ganhou fôlego quando o ex-presidente proclamou “Eu sou a constituição” e afirmou que não iria mais cumprir decisões do STF, poderia ter resultado numa guerra civil. Mesmo sem o apoio da esmagadora maioria da população, Bolsonaro e seus comparsas insistiram em criar condições para o golpe de estado invadindo e destruindo prédios públicos em Brasília.

    Nesse contexto, eu esperava que Fernando Haddad tivesse o bom senso de vir a público para anunciar se aceita ou não ser o herdeiro político de Lula. Mas seria muito melhor ele anunciar que uma candidatura dele à presidência depende fundamentalmente dos militantes do PT e da coalisão de forças políticas que sustenta o governo Lula.

    Nomeado herdeiro político de Polícrates em Samos, diante do povo reunido diante do monumento erguido para homenageá-lo Maiândrio disse aos cidadãos “Resuelto yo a depositar la suprema autoridad en manos del pueblo, y deseoso de que todos seamos libres y de una misma condición y derecho público, sólo pido dos gracias…” (Los Nueve Livros de La Historia, Heródoto de Alicarnaso, Tomo I, Obras Maestras, libro III – CXLII, Barcelona, 1955, p. 328)

    “Resolvido a colocar a autoridade suprema nas mãos do povo, e desejoso de que todos sejamos livres e da mesma condição e direito público, peço apenas dois agradecimentos…” essas seriam palavras que caberiam bem na boca de Fernando Haddad. Mas ele preferiu ficar em silêncio, como se já fosse o detentor de um kratos (poder) que somente pertence ao povo brasileiro. A falta de elegância dele é imperdoável.

    Nós vivemos numa democracia, regime inventado pelos gregos para neutralizar e despersonalizar o poder.

    “Existem em grego três termos para dizer o rei. O primeiro, anax, é aquele que designa entre 1450 e 1200 [aC], no mundo micênico, a personagem que governa de seu palácio, com ajuda de seus escribas, toda a vida social, econômica, guerreira e religiosa de seu reino. Anax é um termo absoluto: ou se é anax ou não. Na epopeia homérica, no século VIII, ele se apagou, se banalizou. É doravante basileus que designa o rei, mas o termo admite um comparativo: pessoa é basileuteros, ‘mais rei’ que um outro, menos que um terceiro. Pode-se também ser ‘o mais rei’ de todos, basileutatos, como Agamenon. Não há, no exército aqueu recrutado na expedição contra Tróia, um soberano único, mas reis, personagens reais, à frente de seus contingentes; eles são independentes e se consideram iguais entre si. Formam uma elite, os aristoi, os melhores, definindo-se por sua superioridade de valentia no combate, por seu valor guerreiro ou pela qualidade eminente das opiniões que emitem nos conselhos. Força do braço, mas também sabedoria do discurso, prudência da língua. Quando o exército, em seus componentes diversos, está reunido em assembleia, ele faz círculo e abre no centro um espaço, comum a todos, em que cada interveniente, se é qualificado como um aristoi, avança, se mantem mese agore, no meio da assembleia, toma na mão, por sua vez, o skeptron que reveste já um caráter coletivo, e fala como bem entende. Nesse meson, espaço comum, público, colocado sob o olhar e o controle de todos, Aquiles esvazia seu coração e sua querela com o rei dos reis, com toda a liberdade de linguagem, tratando Agamenon sem constrangimento, como um inferior. O terceiro termo, turannos, quase sinônimo, no início, de basileus, vai assumir mais tarde os valores negativos da soberania para designar, a partir do século V [aC], na personagem do monarca, o que não conhece outro limite, outra regra que não a arbitrariedade de sua vontade, pronto a perpetuar pelo poder todos os delitos; se lhe der na veneta, dormirá com sua mãe, matará seu pai, devorará os próprios filhos: seu estatuto fora da norma o exclui ao mesmo tempo da cidade e do humano.

    Neutralizar o poder consistirá, para o grupo dos que se consideram como iguais (grupo que se ampliará até englobar todos os cidadãos), em depor o kratos no centro, para despersonaliza-lo e o tornar comum, de modo que todos participem dele sem que nenhum possa apropriar-se dele.” (A Travessia das Fronteiras, Jean-Pierre Vernant, edusp, São Paulo, 2009, texto Nascimento do Político, p. 160/161)

    A imprensa e os membros do PT pouparam Haddad, como que normalizando o status que lhe foi atribuído de herdeiro político de Lula. Mas o poder transitório que o presidente exerce não pode ser transferido. Ele só pertence ao povo. Lula obviamente tinha a obrigação de fazer algo para evitar o crescimento de uma crise política. Mas essa mesma crise se aprofundou paradoxalmente porque Fernando Haddad não recolocou o poder político no lugar dele.

    Mese agore não é um lugar em que o herdeiro de Lula pode ocupar, exceto se o fizer temporariamente para dizer que agradece a honraria e reconhece que somente poderá ser candidato se for alçado à essa condição pelos seus iguais. Mas não foi isso o que ocorreu.

    Admitir pública e humildemente que o poder investido em Lula não pertence ao presidente, mas a população brasileira, faria de Fernando Haddad um líder político democrático digno do meu voto. Mas nesse momento devo dizer que não posso votar nele, porque ele não se comporta como um igual e sim como um anax, basileus, basileutatos ou, pior, como um turannos que pode aceitar um kratos que não lhe pertence e que ele somente poderá exerce se e somente se for candidato e eleito.

    Meu voto não decidirá sozinho a próxima eleição. Mesmo assim, como única parcela de poder político que disponho, ele é para mim muito valioso. Se quiser conquista-lo Haddad terá que se esforçar muito.

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