Exclusivo: o escândalo das vacinas, a Miss Brasil e o link com empresários bolsonaristas

Tem-se apenas fios da meada, não conclusões taxativas. Caberá à CPI do Covid desvendar essa trama maior.

Nas teias que vão sendo reveladas, do caso das vacinas, surge um novo personagem, ainda não suficientemente analisado. Se nossos leitores quiserem ajudar nesse mutirão, no final do post há um roteiro de palavras chaves a serem pesquisadas.

Peça 1 – o personagem Winston Ling

Trata-se de um investidor brasileiro, filho de um imigrante chinês, Sheun Ming Ling, que fundou a Olvebra e a Petropar, no Rio Grande do Sul. 

Na época da revolução chinesa, fins dos anos 40, um grupo  de empresários chineses, ligados a Chiang Kai-shek, conseguiu desembarcar trazendo algum patrimônio da China. Sheun era  auditor de uma estatal chinesa. Por aqui, associou-se a outros chineses e adquiriu uma esmagadora de soja. Fez fortuna no Rio Grande do Sul, fundou uma grande indústria de óleo de soja, a Olvebra e morreu no ano passado, aos 99 anos

Nos anos 90 criou o Instituto Ling, ligado à cultura e responsável por mais de uma centena de bolsas de estudos a jornalistas promissores, visando prepará-los para teses conservadoras.

Deixou dois filhos. Um deles, Winston Ling desde 2001 foi morar em Hong Kong onde trabalha com  “importação, exportação e negócios imobiliários”.

Desde o advento do governo Bolsonaro, WInston passou a frequentar uma frente de empresários  com vários pontos em comum: comércio de madeira da Amazonia com a China e adesão incondicional ao bolsonarismo. 

Além dele, compõem a frente Luiz Renato Durski Junior, o dono dos restaurantes Madero – cujo nome foi inspirado na ação original do seu fundador, que tinha como sócio, na exploração de madeira e nos restaurantes, o chinês Lu Weiguang, da empresa Anxin, tratado pelos chineses como “o primeiro chinês dono da floresta amazônica”. 

Nos registros da Forbes chinesa, sua empresa, AnXin Trust Investment, aparece como sendo do ramo imobiliário e finanças. Foi classificado em 329 lugar entre os bilionários do país com patrimônio de US$ 1,1 bilhão

Segundo a China Daily Lu Weiguang, 39, nasceu em uma família de comerciantes de Wenzhou, província de Zhejiang. Após se formar na faculdade, Lu tornou-se funcionário do Departamento Administrativo de Pesca de Wenzhou.

Com um empréstimo do pai, fundou a Anxin, que começou vendendo pisos de madeira e se tornou a líder do setor e a maior importadora de madeira bruta do país.

Na China, antes da descoberta da Amazônia, o setor envolveu-se em corrupção grossa com o contrabando da madeira da Birmânia, ou Miamar. Em 1996, o Conselho de Estado da China proibiu a exploração comercial de florestas nativas. Ele passou, então, a se voltar para o Brasil. Com a proibição de exportação de madeira do país, o setor montou um enorme poder paralelo no país.

Recentemente, Miamar foi alvo de um golpe militar sangrento.

Peça 2 – os negócios da China

A rápida e gigantesca expansão recente da China, abriu espaço para um capitalismo ainda selvagem, não submetido à regulação. Em vários setores surgiram empresas, que cresceram rapidamente, e empresários que passaram a se aventurar pelo mundo, com práticas, muitas vezes, heterodoxas. Negócios de madeira e de vacina se destacam.

Por volta de 2017, quando Bolsonaro passou a despontar como uma alternativa conservadora, Winston aproximou-se dele, assim como Durski Jr, do Madero. Durki é tosco, Lin é internacional, herdeiro de um grupo com ramificações em vários países.

Já ativo no mercado financeiro, propôs-se a fazer o meio campo com o mercado e o empresariado. Coube a ele prospectar diversos economistas e, finalmente, emplacar Paulo Guedes no Ministério de Bolsonaro. Ou seja, sua relação com o bolsonarismo é muito mais estreita do que a de simples apoiador.

Ling com Bolsonaro

Segundo o site De Olho nos Ruralistas, Winston compareceu à Câmara para homenagear a deputada bolsonarista Bia Kicis, quando assumiu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça.

Segundo reportagem do site, nas eleições de 2018 o clã gastou ao menos R$ 550 mil em doações partidárias. Entre os beneficiados estavam o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Enquanto Salles permaneceu Ministro, havia menções de apoio frequentes a ele por parte de Winston.

“Um levantamento feito pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) a pedido do Valor Econômico em março de 2016 listou os cem maiores devedores da Previdência. A Petropar, dos Ling, aparecia em sétimo lugar no ranking, com R$ 1,058 bilhão. Ela declarou à época não possuir passivo em aberto e desconhecer a existência de qualquer processo de cobrança pela via judicial ou por qualquer outra via.

Peça 3 – a miss Brasil pouco comportada

Há misses Brasil comportadas e aquelas mais desinibidas. Miss Brasil 2015, Marthina Brandt é do segundo grupo.

Namorou celebridades, consta nos sites de fofocas como tendo namorado o dono do Almanara, e, agora,  o herdeiro da Riachuelo

Hoje em dia ele se apresenta como influenciadora e inundou a avenida Paulista em 2016 com palavras de guerra: “Meu partido é o Brasil!!!! Vamos lá, todos por um país melhor… Um Brasil sem corrupção, com saúde, educação e respeito”

Em 2016 estava diretamente ligada com a Precisa, a empresa envolvida nas falcatruas do Ministério da Saúde, na gestão Ricardo Barros. Seu envolvimento se deu no período em que a Precisa enfrentava processos variados no Tribunal de Justiça de São Paulo, por não entrega de medicamentos a redes privadas, e rolos com seguradoras.

No Tribunal de Justiça de São Paulo há 9 processos envolvendo Marthina Brandt, todos tendo participação de Francisco Emerson Maximiano, o dono da Precisa Medicamentos

Os processos envolvem bloqueio de bens, ações de ressarcimento de seguradoras etc. Uma delas é pelo não pagamento do aluguel de uma cobertura em Campo Belo, que Maximiano alugou em parceria com um empresário e com Marthina.

E, aqui, faz-se o link com Winston. Em agosto de 2020, ele adquiriu da TV Bandeirantes  a concessão do concurso Miss Brasil Universo. E nomeou Marthina Brandt como diretora executiva.

Peça 4 – juntando os fios

Tem-se as seguintes coincidências:

  1. A figura de Miss Brasil, em comum com a Precisa e Winston Ling.
  2. As ligações com a China, a Precisa – e outros aventureiros – buscando negócios com vacinas chinesas, e Winston Ling trabalhando no comércio exterior com a China e morando lá.
  3. As enormes facilidades promovidas por Bolsonaro para a importação de vacinas chinesas e indianas. E a influência de Ling sobre Bolsonaro, como padrinho da indicação de Paulo Guedes.
  4. Outros bilionários bolsonaristas de alguma forma envolvidos com a tentativa de importação da vacina, como Luciano Hung e Carlos Wizard

Tem-se apenas fios da meada, não conclusões taxativas. Caberá à CPI do Covid desvendar essa trama maior.

Mas se os leitores quiserem ajudar no Mutirão, ai embaixo vai um gráfico com algumas palavras chave que poderão ser pesquisadas ou por aqui ou por sites chineses.

3 Comentários

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  1. Caro Nassif:
    O ” Luis Nassif online” (GGN),por inúmeras razões, é o melhor do Brasil.
    É uma constatação tardia. Mas é sempre tempo de reconhecer.

  2. Tudo é uma questão de ser capaz de vender, seja lá o que for, seja do jeito que for.
    Essa é a essência do mundo, desde que as coisas, ou seja, o valor de uso das coisas, passou a ser medido pelo valor de uso de outras coisas, e, depois, por símbolos desses valores: moedas, e posteriormente, o dinheiro, o famoso papel pintado, ou impresso.
    Ainda hoje, analistas sinceros e bem-intencionados exaltam a China, como país socialista. O país que, diligentemente, evitou percorrer os caminhos do gigante “comunista” que o precedeu, a URSS.
    Ora, quando a URSS colapsou, o noticiário internacional passou a ser ocupado por figuras descritas como “magnatas russos”, ou “oligarcas russos”, expressões que parecem funcionar como eufemismos mútuos. Ora, depois de 70 anos “rumo ao comunismo”, como é que foram surgir tantos bilionários assim?
    Depois, como um novo Bonaparte, o presidente Putin(ho) surgiu para por fim a balbúrdia: restaurou-se a moral, para que todos pudessem se locupletar de forma honesta e moral. PQP.
    Hoje, com a China inabalável em seu destino (rumo ao socialismo, ou ao super-capitalismo, sei lá), vira e mexe a contagem de bilionários chineses é destaque na imprensa. Da última vez que eu vi, já eram quase mil.
    Tudo é uma questão de ser capaz de vender, seja lá o que for, seja do jeito que for. Vacinas, madeira, hamburguer, concursos de miss, o diabo. O diabo que compra, e o diabo que vende. Tem cisma, não. Comprar e vender são as ações que são as quase iguais, já dizia o Compadre meu Quelémem de Góes, apud o “Grande Sertão:Veredas”.
    Fico pensando se um dia seremos capazes de sair desse ciclo, que nos comprava antigamente, como força de trabalho, e nos vendia como consumidores.
    Já não nos compra tão maciçamente, e já não nos vende, pois não temos mais renda. E, no entando, continua movimentando quantias cada vez maiores. Que sequer existem, fisicamente. Mais uma profissão em extinção: o ladrão de banco. Não há dinheiro em cofres de bancos. Vão ficar como os mágicos de circos mambembes, depois que o Mister M revelou seus truques baratos. A mágica agora é a moeda criptografada, que não precisa de truques para ficar oculta.
    Enfim, o dinheiro se aproxima da condição de Deus, o invisível que governa. Se é que não foi sempre assim.
    Caminhamos para o centro do labirinto, onde um dia morreremos.
    Pois a humanidade não foi prudente como Teseu, e nem teve uma Ariadne, quando essa m*** toda começou.
    Agora, creio eu, já era.
    Reflexões melancólias de um desempregado quase sessentão.
    Alguma coisa no horizonte?

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