Expressão ‘atrás das grades’ é imprópria, admite STJ sobre caso de Dirceu

Jornal GGN – Após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) divulgar em seu twitter, no último ano, que José Dirceu iria “passar o Ano Novo atrás das grades”, a comunicação gerou grande repercussão sobre a parcialidade e adequação da assessoria do Tribunal. Uma das críticas foi a do blog Maria Frô, do Portal Forum, que relacionou o histórico do atual Secretário de Comunicação do STJ, Douglas de Felice, com a possível motivação para uma postura partidária do jornalista. Felice enviou uma carta resposta, admitindo que a expressão usada no tweet foi “imprópria”, mas defendeu que a crítica “é inverídica, difamatória, carece de apuração, não procurou ouvir o tradicional ‘outro lado’ e foi movida por puro preconceito”.
“A matéria do Forum tenta, equivocadamente, ou maldosamente, construir a tese de que este Secretário de Comunicação tem inspirações partidárias ou profanas”, disse o Secretário, completando que já trabalhou durante o primeiro governo da presidente Dilma Rousseff, com o então ministro do Esporte, Aldo Rebelo, durante a organização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, além de já ter assessorado parlamentares petistas, durante a sua carreira na imprensa.
Douglas de Felice afirmou que sentiu “o gosto amargo dos que são acusados sem o direito à ampla defesa” e que não se considera “tendencioso, mas sim um defensor do amplo direito de defesa e da presunção da inocência, princípios da democracia e do meio jurídico” que preza. “Continuarei trabalhando para que todos tenham voz”, finalizou.
Leia a carta completa:

Rio de Janeiro, 04 de janeiro de 2016

Senhor Editor-responsável do Portal Forum, de Maria “Frô”, abrigado no IG,

Um dos grandes aprendizados que tive na vida, e em minha carreira de 35 anos, é que há o bom e o mau jornalismo, dicotomia repetida em várias profissões.

O bom, o correto jornalismo praticado em nosso país, e no mundo, tem limites éticos estabelecidos por entidades representativas como ABI, FENAJ e Sindicatos, por práticas louváveis, como apuração rigorosa, espaço para o contraditório, imparcialidade e pelo pré-requisito fundamental da informação precisa. O mau jornalismo vai na contramão destes princípios democráticos.

A matéria “Currículo do Secretário de Comunicação do STJ pode explicar o twitter do STJ sobre José Dirceu” teve o cuidado de ferir todos os paradigmas básicos de nossa profissão. É inverídica, difamatória, carece de apuração, não procurou ouvir o tradicional “outro lado”, no caso a minha pessoa, e foi movida por puro preconceito. Ou achismo imperdoável!

A acusação que me é feita pela pessoa que assina a matéria, com teor fortemente opinativo, é que o twitter da conta oficial do STJ, no dia 29 de dezembro de 2015, teria tripudiado com um dos quadros do PT, demonstrando o que ela considera “parcialidade e partidarismo anti-petista”. E isso se deve ao fato de haver sido escrita, nesta rede social, a frase: “Como o recesso do Judiciário só termina em fevereiro, José Dirceu vai passar o Ano Novo atrás das grades”.

A única concordância que a matéria tem de minha parte é que a expressão utilizada na frase é imprópria à Comunicação institucional de um Tribunal. Efetivamente, o tweet foi concebido e redigido não por este jornalista que vos escreve, mas por um outro profissional altamente qualificado, imparcial e experiente, editor-chefe da área de conteúdo da Comunicação do STJ, que eu prefiro preservar o nome para não parecer que evito as responsabilidades do cargo.

O erro que ele cometeu foi tentar explicar numa linguagem comum e sucinta, própria de sua formação de rádio e TV, nos exíguos 140 caracteres que o Twitter permite, uma decisão tomada no plantão pelo Presidente deste Tribunal Superior. Economizou nas palavras e foi, no que alguns consideram, inclusive eu, infeliz na expressão, mas explícito na descrição e tradução da decisão judicial.

Devo esclarecer que, no período das festas de final de ano, entre o Natal de 2015 e o Ano Novo de 2016, eu estava em recesso, autorizado pelo Presidente da egrégia Corte, para um curto período de descanso com minha família fora de Brasília e, portanto, desconectado das atividades diárias da Comunicação do STJ. Em meu lugar, respondia uma profissional experiente que, informada da reação ao texto considerado inadequado, determinou sua retirada. Apesar de estar fora do trabalho, tomei, nas horas seguintes ao episódio, as providências que considerei adequadas para que tal erro não mais se repita.

A matéria do Forum tenta, equivocadamente, ou maldosamente, construir a tese de que este Secretário de Comunicação tem inspirações partidárias. Ou profanas… Já que menciona clientes ditos polêmicos para os quais efetivamente trabalhei em minha carreira.

Vamos aos fatos, o verdadeiro amálgama do bom jornalismo. Depois de exercer, por 20 anos, a profissão na iniciativa privada, como repórter, editor, chefe de reportagem e diretor de jornalismo em diversos órgãos da chamada grande imprensa, desde o SBT, passando pela Manchete, Radiobrás, JB, CBN e TV Globo, entre diversos outros veículos, me dediquei à assessoria de imprensa.

Especializei-me em gerenciamento de imagem, o que implica, muitas vezes, trabalhar com personagens que enfrentam crises, como foi o caso de Renan Calheiros e José Maria Marin. Chefiei a comunicação do PSDB, na gestão de Sérgio Guerra, assessorei o governador Marconi Perillo e fui convidado por uma empresa de comunicação de grande porte para colaborar na crise que o atual governador do Paraná, Beto Richa, atravessa, embora não tenha chegado a atuar. E prestei consultoria a outras instituições e personagens de diversas correntes ideológicas, inclusiva da base do atual Governo.

Portanto, daí, simplesmente, classificar este profissional aqui de “antipetista” seria um óbvio exagero. E uma mentira! Afinal, se isso é verdade – e garanto que não é – porque teria eu trabalhado, também, no primeiro governo Dilma, do PT, com o então Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, hoje na Pasta da Defesa, durante a organização da Copa das Confederações e Copa do Mundo? Ou teria assessorado parlamentares petistas, por ocasião de denúncias de aluguel irregular de veículos em seus estados?

Ou seja, se fosse tucano ou anti-petista, tais autoridades jamais teriam me contratado. E, digo mais: não seria nada inteligente de minha parte. Sabe por que? Porque para um profissional que presta consultoria em crises, seria um gesto impensado eliminar um público, ou clientes, falando do ponto de vista de mercado. Seria como um locutor famoso de futebol declarar que torce para determinado time. Perderia legiões de admiradores no mesmo instante. E pior: não teria mais credibilidade, bem tão valioso que está em jogo, na hora em que escrevo esta resposta.

O texto ainda me faz diversas acusações, com base em recortes de jornais, à época dos meus trabalhos de assessoria a alguns destes personagens. Somente esqueceram, talvez por desconhecimento, ou má fé, de averiguar que tais textos jamais tiveram fundamento ou incorreram em qualquer processo, inquérito ou denúncia por parte do Ministério Público ou qualquer órgão policial contra a minha pessoa. E sabem por que? Por serem absolutamente inverídicas.

Enfim, talvez as pessoas comuns não tenham conhecimento, mas para ser nomeado em um Tribunal Superior, ou em qualquer órgão público, é preciso ter ficha limpa. Tive de me submeter a este crivo e apresentei nove certidões negativas que comprovam minha idoneidade.

Portanto, Sra. Conceição Oliveira e Portal Forum, não me considero tendencioso, mas sim um defensor do amplo direito de defesa e da presunção da inocência, princípios da democracia e do meio jurídico que tanto prezo.

Reitero o meu profundo respeito a todos, repito todos, os jurisdicionados do STJ, independente de ideologia ou agremiação política, ao Poder Judiciário brasileiro e, principalmente, ao bom jornalismo, algo essencial para a construção de um país verdadeiramente democrático.

Senti o gosto amargo dos que são acusados sem o direito à ampla defesa. Mas continuarei trabalhando para que todos tenham voz. E que seja a voz da cidadania, lema deste Tribunal para o qual trabalho e que tanto admiro.

Atenciosamente, Jornalista Douglas De Felice.

Leia mais:

No twitter, STJ diz que “José Dirceu vai passar o fim de ano atrás das grades”

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

View Comments

  • expressao atras das grades.

    Trocando em miudos. O cara é um "anta" mesmo. Alega que assessorou o Aldo e o PT. E um produtodo meio,justificandompor que o PT surfa nessa lambança,nesse côcô montado pelo cartel midiatico.Com um Douglas de Felice desses na comunicaçao....

  • Limites éticos

    "O bom, o correto jornalismo praticado em nosso país, e no mundo, tem limites éticos estabelecidos..." e quase sempre ignorados.

  • A expressão foi grosseira e

    A expressão foi grosseira e desrespeitosa.

    Aposto todo meu salário que usaram de forma intencional.

    O resto é cinismo.

    • Quem acredita no Judiciário?

      Concordo! A forma que encontraram para comunicar que Dirceu estaria impedido de confraternizar com seus familiares nas festas de final de ano foi jocosa, zombeteira. Um escárnio! Felice afirma que o twitte foi escrito por um profissional competente e isento. Pois bem, eu, que não sou jornalista, encontro rapidamente, pelo menos, algumas dezenas de textos alternativos ao desse profissional isento. Aliás, esse twitte estaria muito bem ajustado às postagens de perfis como o dos Revoltados. É uma vergonha que o Judiciário, esse poder que nos custa fortunas anuais, seja aparelhado por partidos e políticos. O caso do twitte do STJ é até menor. Não podemos esquecer de ministros do STF que transformam seus votos em discursos políticos de ataque ao governo e ao PT. 

      • O STF...

        O problema começa com o STF midiático jogando pra mídia fazendo discursos moralistas e hipócritas!

        Essa semana li que Joaquim Barbosa ligou pra  Ricardo Lewandowski para "liberar" o passaporte DIPLOMÁTICO, com o famoso jeitinho brasileiro que o canalha hipócrita tanto criticou!

        Espero que Lewandowski NEGUE e lembre a ele que o jeitinho brasileiro não cai bem... 

         

        Aposentado, Joaquim Barbosa pede para renovar passaporte diplomático

        Foto: Fellipe Sampaio/ SCO/ STFMesmo após a aposentadoria, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, preferiu não perder todas as benesses que o antigo cargo permitia. Segundo a coluna Radar Online, Barbosa pediu ao presidente do STF – sucessor e desafeto -, Ricardo Lewandowski para enviar um ofício ao Itamaraty solicitando a renovação do passaporte diplomático a que tinha direito enquanto membro da Suprema Corte. Aposentado antes da “expulsória”, Barbosa justificou ter perdido o documento. Como ex-ministro, ele não teria mais acesso ao passaporte especial, que garante fila especial em aeroportos e dispensa de visto para alguns países. Barbosa quer entrar no rol de exceções, previstas mediante autorização do ministro de Relações Exteriores, destinatário da carta de Lewandowski.

         

  • Nada tenho nada a opinar

    Nada tenho nada a opinar acerca da defesa do missivista face às acusações de que foi vítima. Decerto que o Portal Fórum vai emitir uma tréplica para contestar ou coonestar as alegações do mesmo. Assim funciona a Democracia e as interações entre pessoas bem intencionadas. 

    O que me causou estranheza foi a economia exagerada com relação as explicações para o fato que gerou toda a celeuma: apenas meros dois  parágrafos para tentar justificar o absurdo que foi esse malsinado "twitter" emitido por um Tribunal Superior. Tentar,  porque realmente não justificou. Mesmo porque não se pode justificar o injusticável. Arguir competências, currículos, o que seja, fica no terreno das desculpas esfarrapadas. 

    • Desculpas

      Em nenhum momento ele se desculpou, apenas imortalizou e enfatizou ser honesto, mas convenhamos, é muito cara de pau e desonesto.

  • As racionalizações do autor

    As racionalizações do autor da ofensa não resolvem o problema.

    A ofensa desnecessária foi feita e tem cunho evidentemente partidário.

    Nenhum réu do PSDB foi tratado da mesma forma que José Dirceu.

    O STJ não precisava dizer que ele iria passar o fim de ano preso, pois já havia dito que o HC dele somente seria apreciado após o fim do recesso judiciário.

    A ofensa foi evidentemente intencional e tinha o propósito de instigar os internautas a comemorar a notícia reproduzindo-a (o que de fato ocorreu).

    O responsável deve ser punido.

    Caso contrário, ele continuará fazendo coisas semelhantes sempre para ferir a imagem pública de José Dirceu ou de outro petista.

    Aliás, se quer passar a limpo o caso o STJ deve meter o pé na bunda do tucano pilantra que usou o Twitter oficial do Tribunal para fazer proselitismo anti-petista. 

    • Também não acho necessário

      Também não acho necessário ferir ainda mais a imagem pública de um criminoso contumaz.

      O desprezo que a sociedade nutre por pessoas deste especie já é o suficiente.

      • Então cite os crimes

        pelos quais o Dirceu foi condenado. Não esqueça das provas, pois tu não tens o direito que a rosa weber tem de apenas condenar porque a literatura assim o permite. Sei... no teu caso a literatura é a rebistinha veja.

  • Pode até ser, mas alinguagem

    Pode até ser, mas alinguagem totalmente  imprópria. Responsavel deveria ser demitido, ja que nao sabe qual é a linguagem a ser utilizada num tribunal. Confundiu as  bolas. Acontecerá de novo? Só se O Tribunal deixar.

  • peraí, o csra é "secretário

    peraí, o csra é "secretário de comunicação do STJ", se faz de coitado mas apura responsabilidades...haja cara de pau...

    e o proesidente do STJ, não tem nada a dizer ? (acho que não, Francisco Falcão era praticamente o prepostdo do Joaquim Barbosa no CNJ, é outro dos deuses que não precisa prestar contas a ninguém)

  • disse tudo...

    ou quase..."Efetivamente, o tweet foi concebido e redigido não por este jornalista que vos escreve, mas por um outro profissional altamente qualificado, imparcial e experiente, editor-chefe da área de conteúdo da Comunicação do STJ, que eu prefiro preservar o nome para não parecer que evito as responsabilidades do cargo." Preservar o nome?... ah sei! tendi....

     

    e disse mais "....CBN e TV Globo, entre diversos outros veículos, me dediquei à assessoria de imprensa." CBN e TV Globo, tai o DNA do rapaz....

    e olha a clientela..."Especializei-me em gerenciamento de imagem, o que implica, muitas vezes, trabalhar com personagens que enfrentam crises, como foi o caso de Renan Calheiros e José Maria Marin. Chefiei a comunicação do PSDB, na gestão de Sérgio Guerra, assessorei o governador Marconi Perillo e fui convidado por uma empresa de comunicação de grande porte para colaborar na crise que o atual governador do Paraná, Beto Richa, atravessa, embora não tenha chegado a atuar. E prestei consultoria a outras instituições e personagens de diversas correntes ideológicas, inclusiva da base do atual Governo." da base do atual governo tem muita gente boa, né? Eduardo Cunha e Michel temer por exemplo!

  • " pisou na gorduchinha "

    Parodiando o grande " filósofo" Osmar Santos: Pisou na bola, brother !!

    Aceita que dói menos !!!

  • A expressão usada pelo 

    A expressão usada pelo  Secretário de Comunicação do Tribunal e a tentativa de desqualificar a crítica que lhe foi justamente dirigida, pois a forma deseducada, para dizer o mínimo, e quase comemorativa da infelicidade do réu José Dirceu é prova inconteste de que é inimigo na trincheira. Fosse um governo menos republicano  e ele não teria exercido o cargo que exerceu no Ministério dos Esportes. Aliás, o restante de seu currículo é lamentável, esteve sempre próximo a corruptos e governantes autoritários e associados até mesmo a bandidos, como é o caso do Marconi Perillo. Sua menção a ter sido convidado por empresa de comunicação de grande porte para atuar na crise por que passa o governador do Paraná e não ter ter chegado a atuar é risível. Afinal, como atuar contra seus próprios correliginários? As empresas de mídia que assessorou não recomendam o nome de ninguém. Pelo contrário,  deslustram muitas carreiras ilustres.

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