Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
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Os agropanelaços porteños

Por Maíra Vasconcelos, de Buenos Aires

A intrépida Argentina, talvez por suas raízes espanholas e italianas, sempre atravessa agitados cenários político-econômicos. Nesse momento, trepidam novos panelaços pelas calles, pânico pela dificuldade para comprar dólares e empresários desajustados frente aos empecilhos burocráticos impostos no comércio das importações.

A imprensa mais crítica chama de “agropanelaços” a atual onde de inconformismo que levou entre três e cinco mil pessoas à Praça de Maio, no último dia 7 de junho, um amontoado impreciso e pouco divulgado pela imprensa. “A classe média argentina” protesta? Além dos 54% que aprovaram Cristina Kirchner, nas últimas eleições de 2011, alguns de fora sempre resmungarão. Afinal, são argentinos e argentinas.

E atrás de dólares, parte da sociedade resiste com panela nas mãos às burocracias implementadas pelo governo na compra das verdinhas. Hoje,  o dólar oficial está cotado ao redor de $ 4,50 pesos. Em princípios de 2008, figurava em $ 3,15 pesos. A projeção do Banco Central joga o dólar a $ 5 pesos, até o final do ano. E, quem tem, tem!

Mas a revolta pela dificuldade em comprar dólares pode ser justificada num país onde a compra-venda e aluguel de imóveis são dolarizados. Também a poupança da classe média argentina é em dólar, dada a forte desvalorização da moeda local. O culto ao dólar não vem de hoje, desde os anos 1970/80, assim gira a economia dos hermanos.

Os manifestantes questionaram, ainda, a inflação, hoje nas alturas o índice flutua ao redor de 20% anual. E com a moeda local em queda abrupta, vê-se coerente o modelo, que transformou $ 2 pesos em pratinha, postas em circulação no final de 2011.

Também pediram um basta à corrupção e à insegurança, e repudiaram a personalidade “autoritária e “arrogante” da presidente Cristina Kirchner, chamada também de “essa mulher”. Os protestos se concentraram nas zonas nobres de Buenos Aires, como Recoleta, Belgrano e Palermo.

Vale observar que o governo de Buenos Aires, pela segunda vez sob comando de Mauricio Macri (PRO, um dos principais partidos opositores ao governo kirchnerista), saiu ileso de xingamentos nos últimos panelaços. Sua personalidade não foi escrachada, mas o prefeito foi acusado e esteve a um passo de responder em juízo oral, na Justiça, por supostas escutas ilegais. Também o atual governo da Capital, aumentou de uma só vez em 127% a passagem do metrô, em janeiro deste ano.

O governo de Buenos Aires anda privilegiado, num país onde reclamar é tão trivial, no almoço ou no jantar, como o costume de pedir desculpas ao esbarrar em alguém pelas ruas. País de mierda, esbravejam sempre que possível.

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