Luiz Marinho e os caças da FAB

Do Valor

Marinho vira alvo de Saab, Dassault e Boeing

Virgínia Silveira e Marli Olmos |De São José dos Campos e São Paulo
12/11/2010

Depois de formalizar seu apoio ao grupo Saab, fabricante do caça Gripen, no processo de seleção da nova aeronave de combate da Força Aérea Brasileira (FAB), o prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho (PT), passou a ser alvo da investida dos demais concorrentes. Executivos da Dassault e da Boeing passaram pela Prefeitura nos últimos dias para conversar com o prefeito. Os franceses da Dassault propuseram uma parceria. Mas os suecos da Saab aceleraram o passo ontem e formalizaram o projeto para investir US$ 50 milhões num centro de pesquisa em São Bernardo.

Antes de os outros concorrentes se aproximarem da cidade, a Saab contava com pleno apoio de Marinho, amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a posição do prefeito não mudou, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo, Jefferson José da Conceição. Ele lembra que Marinho já se manifestou publicamente em favor do caça sueco e não pretende mudar a posição. “Mas, como prefeito, ele está correto ao receber qualquer empresa que esteja interessada em investir na região”, completa Conceição.

NotaNota divulgada pela Prefeitura de São Bernardo à imprensa, ontem, relata que os executivos da Dassault e da Boeing ofereceram “possíveis compensações comerciais para São Bernardo caso vençam a disputa da compra dos caças pelo governo brasileiro”. Para Conceição, o projeto anunciado pela Saab ontem foi um “passo importante porque representa a intenção da companhia de investir na cidade, independentemente do resultado do processo de escolha do caça pelo governo federal”.

Pela manhã, o vice-presidente da Saab, Dan Jangblad, e o diretor-geral da Saab no Brasil, Bengt Janér, anunciaram o lançamento da pedra fundamental do centro de pesquisa e desenvolvimento para o início de dezembro, com a previsão de as obras de construção serem iniciadas no primeiro trimestre de 2011. Duas áreas estão sendo avaliadas para receber o empreendimento, segundo o secretário do Desenvolvimento.

A empresa sueca pretende atuar atuará nas áreas de aeronáutica, defesa e inovação urbana como, por exemplo, na segurança pública. “Este será o embrião de um parque tecnológico”, disse Conceição.

“De certa forma, o nosso concorrente seguiu os nossos passos ao anunciar sua intenção de investir em São Bernardo, o que demonstra a importância que a cidade vem assumindo para os novos projetos de alta tecnologia em curso no país, não só no contexto do F-X2, mas também de outros programas de pesquisa e desenvolvimento nos setores aeronáutico, de defesa, inovação urbana e desenvolvimento sustentável”, disse o diretor geral da Saab no Brasil, Bengt Janér. Segundo o executivo, os US$ 50 milhões envolvidos no projeto, que deverão ser aplicados em cinco anos, serão aportados não só pela empresa, mas também por agências de fomento à pesquisa no Brasil e na Suécia.

O diretor da Dassault-Aviation, fabricante do Rafale, Jean-Marc Merialdo, disse que a empresa pretende ampliar atuação na região de São Bernardo, dentro da proposta de transferência de tecnologia do programa Rafale à indústria brasileira. “O consórcio Rafale já está presente no ABC por meio das empresas Omnisys e Dassault Systems, mas a nossa ideia é aprimorar a capacidade de outras empresas locais para que elas possam dar um alto tecnológico e participar de maneira mais efetiva do programa Rafale, caso ele seja o caça escolhido pelo governo brasileiro”.

A Omnisys, por exemplo, segundo Merialdo, já está bastante qualificada para trabalhar com o programa Rafale. A empresa, que é controlada pelo grupo Thales, participante do consórcio Rafale, realizou no começo deste ano a primeira exportação brasileira de radar de vigilância para Cingapura. “Vamos aproveitar as grandes competências que nós já temos e desenvolver outras para apoiar as autoridades locais na formação de mão de obra especializada e de alta tecnologia”, explicou.

O executivo disse que o consórcio Rafale também vem mantendo contatos estreitos com outras empresas com as quais já assinou cartas de intenção relacionadas ao Rafale. “Temos acordo com 38 empresas e entidades brasileiras e um total de 67 projetos. Trabalhamos em conjunto também com os engenheiros da Embraer desde o início do processo”.

A cooperação com a Embraer, segundo Merialdo, também será estendida ao projeto do avião de transporte militar kC-390:”O governo francês se comprometeu em comprar dez aeronaves do modelo e também de cooperar com seu programa de desenvolvimento, se o Rafale ganhar a concorrência”.

Em relação às ações dos concorrentes na disputa do F-X2 (Boeing com o caça F-18 e a Saab), o executivo da Rafale diz que a empresa não desenvolve estratégia em função dos seus competidores e sim dos interesses e capacidades dos seus potenciais clientes. “Há muito tempo as nossas equipes vem trabalhando para ganhar”, disse. 

Luis Nassif

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