Plataformas aproveitam radicalismo para lucrar, diz pesquisador

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Segundo Pablo Ornelas Rosa, redes sociais usam algoritmos para direcionar discurso a níveis extremos de radicalismo e obter mais engajamento

Pablo Ornelas Rosa, sociólogo e professor da Universidade Vila Velha (UVV). Foto: Reprodução – pintofscience.com.br

Os rastros deixados pelos usuários de redes sociais têm sido utilizados pelas empresas como forma de direcionar o discurso para um viés mais radical e, assim, aumentando o engajamento e, por consequência, o lucro.

“Com as plataformas digitais, a gente tem uma tendência radicalizada, uma tendência onde há uma espécie de contágio que vai se dar por meio desses discursos de ódio”, explica Pablo Ornelas Rosa, sociólogo e professor da Universidade Vila Velha (UVV), em entrevista à TV GGN 20 horas desta sexta-feira (01/04)

“E as plataformas digitais, na verdade, elas operam por meio dessa radicalização, porque é justamente por meio dessa radicalização que elas ganham engajamento dos usuários”, lembra o pesquisador.

Ornelas Rosa ressalta que o plano de negócio das plataformas é justamente direcionado a prender a atenção dos usuários, e uma das estratégias é trabalhar com as informações deixadas pelos usuários na medida em que eles fazem pesquisas.

“(Os usuários) vão deixando o lastro desses históricos, dessas pesquisas, o que é utilizado justamente para modular o comportamento desses usuários no sentido de encurtar a capacidade de escolhas desses usuários (…)”, explica o professor universitário.

Um exemplo nesse sentido ocorre no YouTube: ao se fazer uma pesquisa, aparecem indicações na barra lateral. “Recorrentemente, essas indicações são cada vez mais radicalizadas. Isso é uma coisa que a gente presenciava muito na área comercial (…)”.

Mudança no tom do discurso

Quando o uso de tal mecanismo se desenvolve e chega à política, a proporção avança a níveis muito expressivos, como ocorreu nas eleições norte-americanas em 2016 – ao ponto de  dicionário Oxford a apresentar a pós-verdade como palavra do ano.

E isso se deve a “um processo de manipulação que a gente acompanhou – aquele caso da Cambridge Analytica, através do Steve Bannon, que compra informações do Facebook. E o próprio Mark Zuckenberg reconhece que vendeu informações de mais de 80 milhões de usuários da plataforma (…) A gente não está falando de teoria da conspiração, isso é um fato”, ressalta Pablo Ornelas Rosa.

Enquanto o Facebook foi usado nos Estados Unidos para modular as eleições a favor de Donald Trump, a plataforma que favoreceu a vitória de Jair Bolsonaro no Brasil foi o WhatsApp.

Inclusive, Ornellas faz uma referência ao livro ‘A Máquina do Ódio’, da jornalista Patrícia Campos Melo, que conta que o então diretor do WhatsApp para a América Latina afirma que o problema do Brasil é que as pessoas começaram a se informar pelo WhatsApp – e não se comunicar pelo WhatsApp.

“Ou seja: a pessoa compartilhava um vídeo do YouTube, no WhatsApp as pessoas tomavam aquele vídeo como verdade. Foi dessa forma que houve um impulsionamento”, diz o pesquisador.

Outro aspecto de extrema importância é a influência do Olavo de Carvalho no mercado editorial brasileiro, direcionando os autores que passaram a ser lidos, que passaram a conferir uma certa legitimidade no mercado editorial brasileiro. “Agora, se recorre a uma bibliografia – antes, não tinha essa bibliografia”, ressalta o professor da UVV.

Avanço da extrema-direita

Diante disso, Pablo Ornelas afirma que está emergindo no Brasil um projeto que não é uma novidade na história brasileira: “o bolsonarismo, ‘Deus, Pátria, Família’ não é novidade no Brasil, era tema do Plínio Salgado, do integralismo”.

O professor da UVV lembra que, na época do integralismo, também era possível encontrar o Partido Nazista do Brasil – inclusive, o Brasil “foi o país onde tinha o maior número de filiados ao Partido Nazista fora da Alemanha”.

Embora a retomada do autoritarismo não seja algo novo, a novidade é o formato como isso vai ocorrer e a proporção que irá tomar – o que só foi possível por causa das plataformas digitais.

“Ou seja: a extrema-direita passou a saber muito bem instrumentalizar essa máquina técnica, convertendo essa máquina a uma máquina política e, agora, a uma máquina de guerra cultural”, diz Pablo Ornelas Rosa.

Veja mais sobre o assunto na íntegra da TV GGN 20 horas. Clique abaixo e confira!

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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  1. Obter mais lucro. Mas o quê, em nome de Deus, não é feito, nessa terra, para obter lucro? Tudo, nessa terra, é feito para obter lucro. Amor, Fé, Ódio, tudo, absolutamente tudo, nesse mundo, é um meio para se obter lucro. A Morte, a Caridade, de tudo se obtém lucro. É grátis? Alguém está lucrando com isso. É barato, é caro, é dado? Alguém está lucrando com isso.

    Quem ama não pensa em lucro. Embora o receba de bom grado, caso venha a ocorrer. Quem louva a Deus, também não – quem estimula e dirige essa louvação, sim – e até demais. Quem odeia – bom, talvez, quem odeia pense somente em obter algum lucro, na maioria dos casos. A morte pode ser lucrativa, a caridade já enriqueceu muita gente. O que somos e o que queremos ser precisam ser expostos, divulgados, seja lá o que for; e quem expõe, quem divulga? Outrora, o jornal, a televisão, (pastores, também), e hoje, principalmente a internet – o último (?) refúgio dessa canalha, os intermediadores da vida. Detentores dos meios de produção, de distribuição, de circulação. De tudo.

    O meio é a mensagem. Não é? O meio – os intermediários, os atravessadores, os capitalistas. Jornais, televisões – a internet, são a mensagem. Mesmo que aquilo que se faça – jornalismo de qualidade, por exemplo – seja feito com propósitos nobres, isso tem que ser exposto, dado a público, veiculado em algum lugar; um jornal, que quer vender exemplares, atrair publicidade, e lucrar; uma plataforma de internet, que quer visualizações, cliques, compartilhamentos, e lucrar; isso não torna um jornalista um ser ávido por lucros, mas ele só poderá atingir seu objetivo de informar se veicular sua informação, e o veículo – qualquer que seja ele – quer lucrar. Não importa passar por cima da lisura, da honestidade; às favas com essas insignificâncias. Todos temos que vender nossa força de trabalho, de uma forma ou de outra; que importa, para aqueles que sucumbem ao esquema, incluir a consciência no pacote? Quanto aos que, como o GGN, não se submeterão, resta aguardar o momento em que essas plataformas gigantescas – corporações – lhes fecharão as portas, já que tanto faz, para elas, a consciência do ser humano – isso tem pouco, ou nenhum, valor de Mercado. O radicalismo é uma vara de bambu, que verga com o vento, para onde quer que seja que ele sopre; a Consciência, não. E quem é, de fato, consciente, rejeita o radicalismo. Não sei se essa última frase é, de fato, uma verdade; para mim, é.

    O mundo é uma grande intermediação, onde o meio é a mensagem. Sendo a mesma coisa, estão nas mesmas mãos. Para distribuir, compartilhar? Não. Para vender. Produzir e vender bens e serviços para satisfazer necessidades e/ou desejos – há pouca diferenciação entre essas duas coisas, hoje. O mundo é um grande magazine de bancos e corporações – e a vida é um anúncio comercial, do qual somos os figurantes. Sempre limpinhos e sorridentes, felizes a ponto de estourar de tanta felicidade, como consumidores prá lá de satisfeitos (satisfeitissíssimo, conforme o jingle de uma antiga propaganda dos anos 70). Ostentamos nossos carros, nossas roupas, nossos iphones, enquanto eles embolsam os lucros, aparecem pouco e seletivamente, apenas para nos fazer babar mais um pouco de inveja, e nos envenenar com o desejo impossível de ser como eles.

    Somos como o ladrão pé-de-chinelo: roubamos as migalhas deles, gastamos tudo em farras e esbórnias, pensando que é assim que eles fazem, e logo mais adiante tempos que ir lá, raspar mais algumas migalhas, e reiniciar o ciclo – e enriquecê-los mais um pouco, a cada vez. Eles nos roubam, e acumulam. Nós não os roubamos, só acumulamos frustração e ressentimento, que nunca fermentam, nem produzem revolta e ação. Apenas nos tornam mais desejosos de ser como eles, e livrar-nos da miséria e da pobreza. Círculo vicioso do qual não nos libertamos.

  2. kafka disse que nascemos condenados a morte
    cioran disse que todos os dias é a mesma desgraça
    augusto dos anjos disse que essa maldição é eterna

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