Política econômica irresponsável vai levar o país a uma imensa crise social, por André Araújo

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Por André Araújo
O extraordinário nesse quadro tão bem traçado pelo Xadrez é como a elite política e empresarial compram este pacote econômico absurdamente frágil e inconsistente, como as escolas de economia do País, com raras exceções, não apresentaram qualquer contestação a um plano tão raso, tão capenga, tão medíocre como esse, indigno de um grande País de 200 milhões de habitantes com todos os recursos naturais e capacidade industrial , um País que se encontra na mesma posição de um homem forte amarrado com cordas impedido de se movimentar.  Esse é o Brasil amarrado por uma política monetária estéril que não serve a nada, apenas para satisfazer grupos rentistas, como se esses fossem a parcela mais importante da população do País.
Como é possível que uma economia que necessita neste momento crucial uma grande liderança política como foi um Osvaldo Aranha, um Delfim, um Simonsen, um Lucas Lopes,tenha no seu comando uma mediocridade como Meirelles apenas porque ele representa bancos e gestoras, quando o Ministro mais importante do governo precisa representar o conjunto do País presente e futuro, a composição dos interesses dos assalariados e produtores e só a Avenida Faria Lima e a Rua Dias Ferreira, o Brasil é bem mais do que os barbinhas das corretoras.

O fracasso dessa direção da economia já foi aqui previsto, desde a gestão Joaquim Levy, da mesma origem. Em nenhum momento essa política foi vitoriosa ou deu algum sinal de vigor, de que levaria o País ao fim da recessão que se aprofunda em depressão.
Seus arautos na mídia, se bem que em menor escala, ainda vendem a ilusão de que essa política vai tirar o País da crise em um tempo nunca especificado ou prometido, apenas um desejo etéreo, um “wishful thinking” remoto, apesar das evidências em contrário.
Nenhum programa de austeridade na história da economia triunfou sem os exemplos de cima, os cortes no topo do Estado precisam ser os primeiros para lastrear os cortes embaixo. Cortes de salários e mordomias, de jatinhos, de viagens internacionais pagas pelo Estado, de auxílios, de diárias, são a base para cortes no andar inferior, impor sacrifícios exige moral de quem impõe e absolutamente não é o que se vê.
Não há absolutamente nenhum gesto, como o do governo britânico vendendo o jato da Rainha e o iate real Britannia, para indicar tempos austeros, tampouco se deixa o dólar flutuar no seu preço real para não estimular turismo internacional na escala que se faz no Brasil. A política cambial brasileira está a serviço da meta de inflação e não a serviço da economia produtiva do País, do mesmo modo que a política monetária está a serviço dos rentistas e não dos assalariados.
A atual política econômica irresponsável, tosca, simplória e mal intencionada vai levar o País a uma imensa crise social que já se manifesta pelo aumento da criminalidade e pela crescente pressão das classes pobres sobre os sistemas de saúde e educação do Estado. A próxima etapa é dos saques em supermercados, não é a meta de inflação que vai segurar.
Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

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  • Realmente o que se pode esperar do futuro é o pior.

    Na direção que vão as coisas é possível se esperar qualquer coisa como tumultos generalizados sem praticamente nenhuma liderança política os chefiando, isto é o pior.

    A única coisa que falta é um gatilho, que pode vir de qualquer coisa, do governo federal, dos governas estaduais (Rio e São Paulo) ou mesmo dos governos municipais (São Paulo).

    Se alguém num ato qualquer juntar algumas centenas de pessoas completamente dispostas a tudo (não mais do que poucas centenas) e algum governo reprimir violentamente esta manifestação, a chance de degringolar tudo é ENORME, estamos numa situação sem a mínima estabilidade e sem freios para manter o que se chama a atual (des)ordem.

    E o pior de tudo é que este pessoal se manifestará como uma horda sem controle nenhum e sem ideologia nenhuma, é só achar um louco qualquer para ir a frente de um grupo que a confusão estará instalada.

    • "... horda sem controle

      "... horda sem controle nenhum e sem ideologia nenhuma..."

      Com black blocks quebrando tudo, né?

      Logo dirão que se tratam das "Jornadas de Julho de 2017".

      "É o novo nascendo!"

  • Enquanto isso o MPF, com
    Enquanto isso o MPF, com menos de 2000 procuradores, tem orçamento de 3,8 bilhões de reais. Não satisfeitos acabam de aprovar reajuste de quase 17% para si mesmos.

    • "menos de 2000"

       A lista de antiguidade do MPF, publicada na Resolução nº 170, de 25 de agosto de 2016, do Conselho Superior do MPF, tinha 74 subprocuradores-gerais da República, 227 procuradores regionais da República e 781 procuradores da República. Somando-se ao único Procurador-Geral da República, o resultado eram 1083 procuradores ativos no MPF.

  • Como não percebem?

    "A próxima etapa é dos saques em supermercados, não é a meta de inflação que vai segurar."

    Não sou economista, e precisaria sê-lo para endossar esta obviedade terrível? Que acontece com todos nós? Que letargia é essa? Uma maconha imensa envolve toda a nação. Qual seró o 'day after'?

  • Eu acho que estou entendendo

    Eu acho que estou entendendo agora um dos problemas fundamentais do Brasil como país, vendo os conspiradores cometendo crimes diariamente no comando do país e não vendo ninguém tomando medidas efetivas para impedir (protesto não é medida efetiva).

    Em países maduros como a Alemanha, você vê partidos brigando pelo poder da mesma forma que acontece no Brasil, na minha terra não é diferente com a eterna briga entre Democratas e Republicanos. Mas quando algo ameaça o país esses partidos, essas pessoas botam as diferenças de lado para defender a pátria.

    Mas no Brasil eu percebi que é cada um por si. Enquanto na França um hipotético invasor teria que enfrentar a população em peso, no Brasil o mesmo invasor veria os brasileiros brigando entre si para ver quem entrega o vizinho primeiro, enquanto a "elite" do país já teria fugido semanas atrás para algum paraíso tropical

    Nesse momento eu julgo que o Brasil como país está morto, e o cadáver está começando a apodrecer.

    • Não foi bem assim...

       

      "Enquanto na França um hipotético invasor teria que enfrentar a população em peso"

       

      Sei não, pelo que me lembro das aulas de História, não foi bem assim que as coisas aconteceram após 10 de maio de 1940...

      • Sim, esse foi o ponto mais

        Sim, esse foi o ponto mais baixo da França - sua elite decidiu tercerizar o governo prum rival - a Alemanha - governada pelo pior sistema - o nazista. Se não é o gênio de De Goulle, a França sairia da guerra com a imagem tão negativa quanto a da Austria, anexo pelos naazistas.

        Mas pelo menos a França chegou ao auge, com Napoleão (indiretamente responsável pelo Brasil sair da sua condiçã de colônia) , e foi o centro cultural da Europa nas letras, filosofia e artes plásticas e sua língua foi, até meio do século XX, o que o inglês hoje é pro mundo. 

  • Essa crise mostra que nossa

    Essa crise mostra que nossa elite é uma caixa preta, tanto no sentido real e figurado da palavra. No sentido figurado, representa aquilo que ninguém consegue ver, não se sabe o que acontece por dentro dela (graças à nossa Imprensa Oficial) . No sentido real, essa elite tem a certeza que mesmo que o avião chamado Brasil, por culpa sua, se espatife no chão e mate todos os passageiros, ela, a caixa preta, será a única coisa a ficar intacta - e acontar a sua versão da história (o culpado foram os passageiros -rs)

    O rdmaestri descreve bem o ponto que estamos. É terrível você saber que está numa sala trancada,escura, ao lado de milhões de pessoas que não têm a mínima ideia do que está acontecendo (trabalho perfeito dos Marinhos) , sala com o chão cheio de pólvora e sabendo que há muitos tentando criar uma fagulha e ... 

    E não me surpreenderia que essa fagulha viesse da polícia do TucanaTonton-Macoute (vide Haiti ) 

  • O projeto dessa gente é colonial

    O projeto dessa gente é colonial; significa o que sempre significou: passar mão onde alcançar e gastar la fora.

    Os slogans supostamente liberais são meros expedientes para tirar o país do caminho da independência, da civilidade e do mínimo de justiça social. É inaceitavel pra essa gente iletrada que o poder e a grana não seja exclusividade deles.

    Fingem-se de ilustrados como sempre fingiram: consumo afetado e bobagens ditas nessa, naquela ou naqueloutra língua; do mesmíssimo modo que os personagens machadianos.

    São mais baixos até que a elite da Venezuela, uma monocultura de petroleo.

    Porém, o papel mais triste cabe àqueles que bajulam, imitam e "compram o barulho" dessa gente mesquinha: estão condenados a morrerem ma linha de frente sem nenhuma consideração enquanto sonham em fazer parte do seleto clube de caricatos personagens de uma opereta bufa.

  • Arrastões e roubo a shopping já são rotina no rio

    Só saques em supermercados? A única atividade econômica que cresce e "gera empregos" no Brasil de Meirelles é o crime (bancos crescem, mas demitem mesmo assim).

    Resultado da equação: menos estado, menos polícia, menos gente empregada e na escola, mais tráfico de armas, mais poder de facções criminosas, mais gente envolvida com crimes. Alguns até sem saber, como camelôs que vendem mercadorias roubadas sem saber de onde vieram.

    Até pouco tempo, no Rio de Janeiro, Shopping Centers eram ilhas de segurança. Agora virou rotina assaltos dentro dos shoppings, visando principalmente joalherias e eletronicos (celulares caros). Arrastões tem toda hora em qualquer lugar. Desde restaurantes de luxo até vias expressas. Tiroteios tem quase todo dia e nos bairros ricos, nos morros em Ipanema, Copacabana, Vidigal.

    O duro é ver autoridades da Versalhes brasileira (Brasília) dizendo que "as instituições estão funcionando".

     

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