Primeira ministra britânica renuncia admitindo fracasso com Brexit

Após quase três anos de desgastes por sucessivos fracassos junto ao parlamento, a premiê não conseguiu chegar a um acordo de como ficará o Brexit

Jornal GGN – A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, renunciou o cargo nesta sexta-feira (7) abrindo caminho para a disputa da sucessão tanto do comando do governo quanto da liderança do Partido Conservador.

A decisão foi anunciada durante um discurso emocionado, onde May admitiu o fracasso na condução da saída do Reino Unido do bloco da União Europeia, o Brexit.

“Meu sucessor terá de conseguir um consenso”, afirmou dizendo antes acreditar que podem “entregar o Brexit” à população, em honra ao referendo de junho de 2016.

May assumiu o cargo em julho de 2016, com a saída de David Cameron, contrário ao Brexit. Após quase três anos de desgastes por sucessivos fracassos junto ao parlamento, a premiê não conseguiu chegar a um acordo de como ficará o processo de separação do Reino Unido da União Europeia.

“Nossa política talvez esteja sob pressão, mas há tantas coisas boas no nosso país, tanto de que devemos nos orgulhar”, disse May. “(Sou) a segunda primeira-ministra mulher, mas certamente não a última.”

“Em breve, deixarei o trabalho que foi a honra de minha vida”, afirmou, concluindo que agradecia “por ter servido ao país que ama”, momento em que não conseguiu mais conter as lágrimas.

Curiosamente, durante o plebiscito de junho de 2016, May apoiou a permanência do Reino Unido na União Europeia. Entretanto, ao assumir o cargo de primeira ministra, tomou para si a responsabilidade levar adiante a decisão da maior parte da população. Na ocasião, a saída britânica do Reino Unido foi aprovada por uma margem apertada – 51,9% dos eleitores.

Segundo informações da BBC Brasil News, a disputa para a escolha do novo líder do Partido Conservador, que se tornaria o primeiro-ministro, deve começar no dia 10 de junho. Até lá, May continua no comando.

O nome mais cotado para substituí-la é do ex-ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson. Mas existem outros nomes na disputa, entre eles do ex-secretário do partido Dominic Raab.

Em entrevista à Rádio 4 da BBC, o deputado conservador Damien Green elogiou o legado deixado por May na liderança do governo:

“Talvez, inevitavelmente, as pessoas estejam neste momento se concentrando no lado negativo, mas temos que nos lembrar do extraordinário compromisso (de May) com o serviço público”, disse o político. “E em uma era em que o discurso político se tornou tão venenoso e viciado, ela sempre foi cortês, sempre educada.”

“Eu acredito que a maior tragédia política é que ela não teve condições, tempo ou espaço, para implementar sua agenda doméstica – o combate às grandes injustiças que ela enxergou.”

Já o líder do Partido Trabalhista (oposição), Jeremy Corbyn, ponderou que May fez certo em renunciar a cadeira, aproveitando para destacar o fato como prova de que o Partido Conservador estaria “se desintegrando”.

“Ela aceitou o que o país sabe há meses: nem ela nem seu partido dividido e desintegrado conseguem governar.”

Entenda

A renúncia da premiê torna ainda mais incerta a realização ou não do Brexit. Agora é necessário saber quem será o sucessor de May. Ou seja, se for um apoiador do Brexit, tentará realizar o desmembramento, mesmo que seja sem nenhum acordo com a União Europeia.

Existem ainda aqueles que votaram pelo Brexit, mas são contrários a uma saída “sem acordo” e estão abertos para que o Reino Unido estabeleça um acordo mais estreito com o bloco, depois de uma saída.

A falta de um consenso para estabelecer um documento de como ficariam as barreiras para a passagem de pessoas, serviços e produtos entre Reino Unido e a União Europeia, foi justamente o que desgastou a gestão de Theresa May.

Na primeira vez que apresentou uma proposta, May sofreu uma derrota recorde: 202 dos 432 parlamentares negaram o pacote de saída.

Isso levou a premiê a sofrer uma moção de desconfiança (também chamada de “moção de censura”), um processo onde, formalmente, todos os parlamentares votam se confiam ou não “no governo”.

May sobreviveu ao processo por 325 votos a 306 graças aos deputados do Partido Conservador (ligados à primeira-ministra) e do Partido Unionista Democrático (DUP), maior legenda da Irlanda do Norte e responsável pela manutenção da maioria parlamentar do governo.

Em entrevista à CNN, na quarta-feira (22), o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, acusou os membros de parlamento britânicos de acharem “mais importante substituir a primeira-ministra do que entrar em um acordo entre si”. “Estou me irritando porque já estamos esperando a próxima extensão de prazo”.

Pode ser, ainda, que o processo do Brexit não aconteça. Em 2016, 51,9% da população do Reino Unido decidiu pelo Brexit. Na ocasião a maioria esmagadora da população de Londres, Escócia e Irlanda do Norte votou contra a saída do Reino Unido. Mas o interior conseguiu prevalecer na disputa.

Uma pesquisa feita em dezembro de 2018 pelo YouGov mostrou que 49% dos britânicos acham que a saída da UE foi um erro. Outro levantamento feito pelo mesmo instituto apontou que 64% dos eleitores são favoráveis a um novo referendo.

O governo e o Legislativo do país têm ainda a possibilidade de permanecer na União Europeia simplesmente cancelando a decisão popular, isso graças a uma porta aberta deixada pelo Tribunal de Justiça da União Europeia.

Mas essa é uma possibilidade complicada para os governistas, considerando que a maioria chegou ao poder comprometida com o Brexit.

*Com informações da BBC Brasil News

 

Redação

2 Comentários

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  1. Como uma contribuição às ciências da Psicologia, Comunicações, Ciência Política, Sociologia e outras tantas, vou tentar explicar como é que pensa um ignorante confesso que seria favorável ao BREXIT, quando houve o plebiscito e que hoje não estaria tão convicto se votaria novamente pela saída da UE.
    Para esse ignorante, essa estória de União Europeia é um desdobramento da tal da globalização que teria sido o movimento inicial da consolidação supremacia das forças do Mercado sobre os Estados Nacionais, a partir de Thatcher no UK e Reagan nos EUA, portanto filhas do neoliberalismo. Durante a formação da UE o que se via eram Sarkozy, Merkel, no comando de uma movimentação errática, que não evoluia na direção de consolidar a União mas servia para submeter e humilhar Estados da Europa obrigados a aceitar as tais políticas de Austeridade impostas pelo Banco Central Europeu que era dirigido pelo Mesmo Mario Draghi, que impunha humilhação à Grecia, falida em 2010, por conta de uma operação desastrosa com o Goldman Sachs dirigida pelo mesmo referido Draghi, no ano 2000. Então, para esse ignorante que escreve essas traçadas linhas, entrar no acordo da UE equivalia a submeter os países e seus povos às mesmas regras que o Mercado impunha aos países subdesenvolvidos nos anos 80 e 90, por meio do FNI e BAnco Mundial. Eu era favorável ao BREXIT e, smj, continuaria votando na saída se o plebiscito fosse hoje. A não ser que a situação do UK com a UE seja igual a do Brasil com o BOZÓ. Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.

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