Queda dos juros não alivia divida interna

Da Folha

Queda recorde dos juros básicos não alivia custo da dívida pública

Governo previa que taxa menor reduziria gasto com dívida, mas deficit piorou com programas sociais

Títulos pré-fixados, compra de dólares e aportes para o BNDES neutralizaram o efeito da redução da Selic

GUSTAVO PATU, DE BRASÍLIA

A queda dos juros do Banco Central para os menores patamares desde o Plano Real está longe de reduzir, na mesma proporção, os gastos do governo com a sua dívida.

Tradicionalmente apontados como os maiores vilões das contas públicas, ao lado dos gastos previdenciários, os encargos da dívida pública não caíram até agora o suficiente para sancionar as previsões oficiais.

Em vez de uma melhora motivada pelo alívio das despesas financeiras, como foi projetado pelo Ministério da Fazenda, o deficit das contas da União, dos Estados, dos municípios e das estatais mostra uma piora puxada por despesas com programas sociais, pessoal, custeio administrativo e obras.

Dados pesquisados pela Folha apontam que, de um ano para cá, os juros médios incidentes sobre a dívida de União, Estados, municípios e estatais tiveram um modesto recuo, de 16,7% para 15,9% acumulados em 12 meses.

No mesmo período, entre agosto de 2011 e julho passado, o BC promoveu sucessivos cortes de sua taxa, a Selic, que passou de 12,5% para 8% ao ano -e, a partir de agosto, para 7,5%.

Referência para a rentabilidade das aplicações financeiras e para o custo dos empréstimos bancários, a Selic também é o principal indexador da dívida pública.

Os números evidenciam, porém, que a influência da taxa no gasto do governo não é direta e nem imediata.

PRÉ-FIXADOS

Um dos motivos é o aumento da proporção de títulos públicos corrigidos por índices de preços e prefixados, ou seja, com remuneração negociada previamente com os credores -que tendem a exigir remuneração mais alta para aceitar o risco maior.

Outro é que, nos últimos anos, o endividamento federal foi inflado por operações como a compra de dólares para as reservas do BC e os aportes de recursos para o BNDES, banco oficial de fomento.

Nesses casos, o custo da dívida depende também da rentabilidade das reservas e do volume de subsídios concedidos pelo banco estatal.

MENOS ESFORÇO FISCAL

Na esteira da redução aguda da Selic, o governo Dilma Rousseff também relaxou sua política de austeridade fiscal, reduzindo impostos e elevando gastos na tentativa de reanimar a economia.

Com a expectativa de menos despesas com juros, no entanto, foram apresentadas projeções otimistas para as contas públicas.

Na apresentação do projeto de Orçamento para 2013, a equipe econômica previu que o deficit público cairia de 2,6% do Produto Interno Bruto, em 2011, para 1,6% neste ano e 1% no próximo ano.

O deficit, em trajetória oposta, cresce desde fevereiro e atingiu 2,75% do PIB nos 12 meses que se encerraram em julho.

Não é difícil entender: nos primeiros sete meses do ano, as despesas com juros da dívida pública caíram apenas 7%, ou R$ 10 bilhões, na comparação com o período correspondente de 2011.

Já a parcela da arrecadação poupada para o abatimento da dívida foi reduzida em R$ 21 bilhões, considerando-se a mesma base de comparação.

Luis Nassif

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