O modelo errado de UPP, no Rio

Da Agência de Notícias das Favelas

O modelo de UPP que a favela não quer

Apesar da minha formação de jornalista, decidi escrever esse texto na primeira pessoa, pois quero mesmo externar minha opinião do que não acredito ser um bom modelo de polícia para nossas favelas.

André Fernandes

upp jacarezinho

Foto tirada do local onde estava almoçando

Estava almoçando hoje na favela do jacarezinho, há poucos metros da base da UPP. Sentei-me tranquilo na companhia de uma colaboradora de nossa organização, que trabalha com grafite, pedimos ao senhor José Fernandes um delicioso macarrão com carne assada e começamos a conversar enquanto comíamos. Minha mochila com equipamento de vídeo estava em uma cadeira ao lado e minha câmera em cima da mesa. Ao sentar, me acomodei de frente para a sede da UPP, não por acaso, pois queria perceber a movimentação, já que as reclamações de abusos policiais tem sido constante por parte de diversos moradores que conheço e respeito. Minutos depois, um grupo de policiais passou e até aí tudo bem. Mais alguns minutos, um policial se aproximou por trás de onde eu estava sentado e já veio me interpelando: “Documento. Você mora aqui? Tá vindo de onde e está indo para onde?” Respondi que não morava, que estava vindo do trabalho e estava indo para o trabalho e mostrei minha identidade de jornalista. Pediu para ver minha mochila, enquanto outro policial pedia para ver a mochila de minha amiga. No momento que mostrava minha mochila, procurei a identificação do policial e qual não foi minha surpresa? O policial que estava me abordando estava sem identificação! Perguntei seu nome e ele respondeu “Aguiar”. A abordagem parou por aí, eu porém, confesso, fiquei indignado, porque os policiais que me abordaram já tinham me visto quando passaram anteriormente, vieram me abordar por trás no momento que almoçava tranquilamente com minha amiga e ainda por cima, o que me abordou estava sem uma identificação. Não reclamo tanto da abordagem, apesar de não conseguir entender porque não vieram diretamente, ou seja, passaram e depois vieram por trás fazer a abordagem. Porém, não admito ser interpelado e abordado por um policial que pede minha identificação e não está identificado como tem que ser! Não pode acontecer comigo, com você que está lendo, tampouco com nenhum cidadão das favelas do Rio de Janeiro, principalmente onde existem as Unidades de Policia Pacificadora.

Entrei em todos os sites das UPPs e não consegui encontrar nenhum telefone das Assessorias de Imprensa para que pudesse questionar. Pedi para um colega jornalista o telefone e tentei falar com o Assessor de Imprensa das UPPs no telefone fixo e no celular e nenhum dos dois atenderam. Espero sinceramente um esclarecimento e espero que não tenhamos mais notícias sobre abordagens policiais desse tipo, onde o cidadão não pode identificar quem está abordando-o.

Esclarecimento

O título deste texto tem relação com um fato aparentemente isolado, que só não é isolado, se nós da Agência de Notícias das Favelas não estivéssemos recebendo tanta denúncia de praticas de abusos, de utilização indevida de força e de falta de controle dos policiais da UPP do jacarezinho.

Luis Nassif

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