Desigualdade de acesso à saúde aumentou mortalidade em regiões do Brasil, mostra estudo

"As internações em UTI por leito de UTI foram mais pronunciadas nas regiões Norte, Sudeste e Nordeste, do que no Centro-Oeste e Sul", trouxe o estudo

Imagem: IANS

Jornal GGN – As desigualdades do acesso à saúde em regiões e cidades brasileiras estão associadas ao aumento da mortes por Covid-19 no país. É o que revela o estudo “Caracterização das primeiras 250 mil internações hospitalares por COVID-19 no Brasil: uma análise retrospectiva de dados nacionais”, publicado pela revista científica The Lancet Respiratory Medicine.

“A carga geral de internações em UTI por leito de UTI foi mais pronunciada nas regiões Norte, Sudeste e Nordeste, do que no Centro-Oeste e Sul”, trouxe a pesquisa.

Analisando 254.288 mil pacientes, com idade média de 60 anos, internados em hospitais públicos e privados do Brasil, durante os seis primeiros meses da pandemia, entre fevereiro e agosto de 2020, o objetivo “foi analisar as características dos pacientes internados com COVID-19 no Brasil e examinar o impacto do COVID-19 nos recursos de saúde e mortalidade intra-hospitalar”.

“Os resultados deste estudo destacam a heterogeneidade do atendimento prestado a pacientes gravemente enfermos em um país de renda média. O atendimento de alta qualidade prestado em alguns hospitais contrasta fortemente com o prestado na maioria das instalações, que frequentemente é de qualidade inferior.”

Leia a introdução da pesquisa e a íntegra (em inglês) aqui:

Caracterização das primeiras 250 mil internações hospitalares por COVID-19 no Brasil: uma análise retrospectiva de dados nacionais

Resumo

A maioria dos países de baixa e média renda (LMICs) tem poucos ou nenhum dado integrado a um sistema nacional de vigilância para identificar as características ou resultados das internações hospitalares COVID-19 e o impacto da pandemia COVID-19 em seus sistemas nacionais de saúde. Nosso objetivo foi analisar as características dos pacientes internados com COVID-19 no Brasil e examinar o impacto do COVID-19 nos recursos de saúde e mortalidade intra-hospitalar.

Métodos

Fizemos uma análise retrospectiva de todos os pacientes com 20 anos ou mais com COVID-19 confirmado por RT-PCR quantitativo (RT-qPCR) que foram admitidos no hospital e registrados no SIVEP-Gripe, um banco de dados de vigilância nacional no Brasil, entre 16 de fevereiro e 15 de agosto de 2020 (semanas epidemiológicas de 8 a 33). Também examinamos a progressão da pandemia COVID-19 em três períodos de 4 semanas dentro deste período (semanas epidemiológicas 8-12, 19-22 e 27-30). O desfecho primário foi mortalidade hospitalar. Comparamos a carga regional de internações hospitalares estratificadas por idade, admissão à unidade de terapia intensiva (UTI) e suporte respiratório. Analisamos dados de todo o país e de suas cinco regiões: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Achados

Entre 16 de fevereiro e 15 de agosto de 2020, 254 288 pacientes com COVID-19 confirmado por RT-qPCR foram admitidos no hospital e registrados no SIVEP-Gripe. A idade média dos pacientes era de 60 (SD 17) anos, 119 657 (47%) de 254 288 tinham menos de 60 anos, 143 521 (56%) de 254 243 eram do sexo masculino e 14 979 (16%) de 90 829 não tinham comorbidades. O número de casos aumentou nos três períodos de 4 semanas estudados: nas semanas epidemiológicas 19-22, os casos estavam concentrados no Norte, Nordeste e Sudeste; nas semanas 27-30, os casos se espalharam para as regiões Centro-Oeste e Sul. 232 036 (91%) de 254 288 pacientes tinham um desfecho hospitalar definido quando os dados foram exportados; a mortalidade hospitalar foi de 38% (87.515 de 232.036 pacientes) em geral, 59% (47.002 de 79 687) entre os pacientes internados na UTI e 80% (36.046 de 45.205) entre aqueles que foram ventilados mecanicamente. A carga geral de internações em UTI por leito de UTI foi mais pronunciada nas regiões Norte, Sudeste e Nordeste, do que no Centro-Oeste e Sul. No Nordeste, 1.545 (16%) de 9.960 pacientes receberam ventilação mecânica invasiva fora da UTI em comparação com 431 (8%) de 5.388 no Sul. A mortalidade hospitalar em pacientes com menos de 60 anos foi de 31% (4204 de 13 468) no Nordeste contra 15% (1694 de 11 196) no Sul.

Interpretação

Observamos uma ampla distribuição de COVID-19 em todas as regiões do Brasil, resultando em uma alta carga geral da doença. A mortalidade hospitalar era alta, mesmo em pacientes com menos de 60 anos, e agravada pelas disparidades regionais existentes no sistema de saúde. A pandemia COVID-19 destaca a necessidade de melhorar o acesso a cuidados de alta qualidade para pacientes criticamente enfermos admitidos no hospital com COVID-19, particularmente em LMICs.
Redação

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