Investimentos nas Forças Armadas: Nassif entrevista Manuel Domingos Neto

Em pauta, a crise das Forças Armadas, investimentos militares e projeto de defesa nacional; assista no canal TVGGN

O jornalista Luis Nassif entrevista Manuel Domingos Neto, historiador, professor, pesquisador, escritor e político brasileiro, sobre a crise das Forças Armadas, investimentos militares e o projeto de defesa nacional. A entrevista será veiculada no canal TVGGN (inscreva-se aqui) a partir das 17:00 horas desta quinta-feira (24), e faz parte do programa semana Nova Economia (confira episódios anteriores aqui).

Acompanhe pelo link abaixo:

Redação

2 Comentários

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  1. Seria engraçado, se não fosse trágico. Enquanto as investigações da Polícia Federal e da CPMI sobre a intentona golpista do 8 de janeiro revelam que sobra batom nas cuecas,nas fardas, nos quepes, botinas e gandolas dos militares, há todo um esforço para que eles escapem impunes (os generais, em especial). Pelo que se vê, planeja-se sacrificar alguns oficiais como “bodes expiatórios”. Tanto a relatora quanto o presidente da CPMI deram declarações recentes que isentam de responsabilidades as Forças Armadas e seus generais, denotando que há um movimento para que os crimes sejam tratados como atos individuais, totalmente desvinculados das corporações militares e das suas cadeias de comando. Pizza com massa verde-oliva.

    Já o Ministro da Defesa, que deveria personificar o controle civil sobre a caserna,  se comporta como um porta-voz dos comandantes militares – em tese seus subordinados – e tenta emplacar versões nada factíveis sobre os acontecimentos. Como um Nero que toca lira enquanto Roma arde em chamas, o ministro grava um álbum de canções românticas e divulga o seu lançamento nas redes de streaming em plena crise de credibilidade da caserna.
    A cada nova revelação das investigações sobre o 8 de janeiro, fica mais do que evidente que havia uma ação coordenada de militares, e de natureza clandestina. Isso porque as instituições militares não poderiam assumir diretamente a conspiração, seja por falta de consenso interno dos comandantes, seja pelo temor de se exporem às consequências de um isolamento internacional. Mesmo com sólidas evidências, a investigação sobre a ação dos “kids pretos” nos atos na Esplanada e na sabotagem das torres de transmissão segue abafada (desconfia-se até do “apagão” de 15 de agosto, o que seria bem mais grave).

    O momento atual, portanto, era mais do que propício para se discutir uma ampla reformulação das Forças Armadas, principalmente no que diz respeito à formação de seus quadros. Porém, enquanto a percepção pública da reputação e confiabilidade dos militares segue ladeira abaixo, nenhuma iniciativa nesse sentido é ventilada nem pelo Executivo, nem pelo Legislativo, nem pelo Judiciário. Pelo contrário, só testemunhamos declarações meramente protocolares dos porta-vozes oficiais  após cada reunião com os comandantes militares. Invariavelmente, todos dizem que os militares estão totalmente comprometidos com a legalidade democrática, com a despolitização das Forças Armadas e afirmam haver confiança mútua entre o governo eleito e o alto comando.
    Quem, em sã consciência, acredita nisso?

    Nessa omissão dos poderes constituídos, os militares apresentaram o seu próprio plano: a criação de uma associação nacional de ”Amigos do Exército”, com capilaridade em todo o território nacional. Entre as finalidades desta associação estariam a defesa da reputação do Exército e dos privilégios da “família militar”. Só que, pelos antecedentes recentes, essas associações têm um grande potencial para se converterem em células golpistas, quiçá terroristas, espalhadas por todo o país. 
    Coincidentemente – ou não – circula entre os militares a proposta de subordinar todas as tropas especializadas (operações especiais, artilharia, defesa cibernética e comunicação) a um único comandante (um general 4 estrelas). Pode ser apenas um “boi na sala”, parte de uma provocação, mais uma chantagem para tentar inibir punições mais abrangentes entre os militares. Seja como for, os propósitos golpistas da proposta saltam aos olhos.

    O problema é que há um temor imenso de desagradar os militares. Um temor em parte compreensível, já que, conforme os trabalhos da CPMI vem demonstrando, eles são capazes de patrocinar o caos  para preservar o poder, privilégios corporativos e a impunidade para os seus. Sob uma retórica patriótica exaltada, decorada nas academias militares e sabidamente salpicado de hipocrisias, os militares chantageiam com o poder que possuem de comandar tropas armadas. E parece que ninguém quer pagar pra ver, pois vivemos num momento em que a seita bolsonarista ainda respira. A opção do governo parece ser fritar lentamente o ex-presidente para que seus seguidores mais fanatizados, finalmente envergonhados, retornem cabisbaixos para dentro do armário. Em paralelo, apostam na recuperação da economia para consolidar um vigoroso apoio popular ao governo. Aí, talvez, quem sabe, se não chover, nem coincidir com uma conjuntura astral de Mercúrio retrógrado, pode ser tentado algo mais contundente para enquadrar os militares.
    É uma escolha cautelosa do governo, compreensível e, até certo ponto, justificável. Só que o preço desta escolha poderá ser muito alto para a nossa frágil democracia num futuro próximo.

    Numa república democrática, as  instituições permanentes devem ser íntegras e inspirarem respeito. Se no Brasil atual a reputação dos militares se chafurda na lama, é unicamente por obra e graça deles mesmos, mera consequência de suas ações pregressas. No passado, ao invés de extirpar um câncer de seu corpo, os militares foram condescendentes com a própria doença. O tumor bolsonarista cresceu livremente e contaminou toda a corporação.  É hora deles submeterem-se a uma dura e sofrida quimioterapia. Pelo bem do da nação.
    Os militares brasileiros precisam compreender isso. Mas não parecem ter ouvidos para tanto, pois são vítimas de uma dissonância cognitiva que só lhes permite enxergar uma “realidade imaginada” por eles próprios. Então há que se berrar, gritar, bradar isso aos quatro ventos. Ou o roteiro golpista se repetirá mais cedo ou mais tarde.
    O Brasil precisa de Forças Armadas à altura da nossa posição no mundo. Profissionalizada, tecnologicamente equipada e capacitada, voltada primordialmente à sua missão institucional de proteger o nosso território. Não podemos mais viver sob o espectro de um golpismo latente.
    O cientista político Robert Dahl, em sua clássica obra “Poliarquia”, nos ensinou que qualquer forma de democracia liberal só seria viável se fossem respeitados alguns axiomas.  Basicamente, a de que o custo político de uma ruptura democrática deveria ser o mais alto possível, pois somente assim poderia ser inibida a ação dos adversários da democracia. E isso inclui, obviamente, manter os militares sob controle, totalmente subordinados ao poder civil.

    Diante da prudência dos poderes constituídos, cabe à sociedade civil, progressista e organizada, contribuir para elevar ao máximo o custo político para os  militares golpistas. Não bastam os muitos livros e artigos acadêmicos tratando dessa questão, nem as matérias na blogosfera alternativa, nem os ácidos programas de humor. É preciso desencadear, de forma articulada, uma ampla campanha para colocar em pauta o fim da tutela militar no Brasil. O que falta para isso?

  2. O Exército brasileiro subverteu completamente a figura de seu fundador, como de seu co-fundador. Respectivamente o preto Henrique Dias e o índio Felipe Camarão. João Cândido, o Almirante Negro queria sorte maior?

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