Nova Economia: Ciência econômica se afasta do ser humano para justificar as contradições do capitalismo

Mestre em Desenvolvimento Econômico afirma ainda que o desenvolvimentismo acabou com o plano real e debates se restringem à área acadêmica

Crédito: Reprodução/ TVGGN

A Economia é inseparável da política? Para responder esta pergunta, o programa Nova Economia da última quinta-feira (12) contou com a presença de Nathan Caixeta, mestre em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, um dos autores da obra  “Avenças e Desavenças da Economia”, que aprofunda a discussão das conexões da economia com outros campos de pensamento, como a física, a literatura, o cinema, a vida social e a filosofia.

Como conclusão do livro, Caixeta comenta que a economia é uma ciência que trata do ser humano e das suas relações. “Então, a gente parte desse ponto e vê como a tal “ciência econômica”, entre muitas aspas, vai se afastando desse objeto central e tornando como seu objeto a pura abstração que pretende justificar, de forma moral e com essa pretensa, sem dificuldade, as virtudes e as contradições do capitalismo.” 

O mestre em Desenvolvimento Econômico afirmou ainda que o desenvolvimentismo de Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek e Celso Furtado foi atacado a partir dos anos 1990, desmontado e teve fim a partir do Plano Real. 

“O [ex-presidente] Fernando Henrique dizia: ‘Eu quero que vocês esqueçam o que eu escrevi e eu vou apagar a Era Vargas’. Então, é até bom esquecer o que ele escreveu, porque a única coisa que ele escreveu de valioso não foi ele que escreveu, foi o Enzo Faletto. É até bom, mas a grande questão aí é que surge com a chamada globalização, com a entrada da China como player internacional e com todas as dificuldades que nós começamos a enfrentar a partir da crise da dívida, surge uma tentativa ou uma concepção de um novo desenvolvimentismo”, acrescenta Caixeta.

No cenário atual, porém, o entrevistado afirma que o desenvolvimentismo se restringe à academia. 

“O pessoal ainda diz: ‘Não, os anos do Lula e um pouquinho da Dilma ali foram um ensaio de desenvolvimentismo’. Eu não concordo com essa avaliação. Eu vejo que o Brasil vem regredindo dos anos 1980 para cá, a regressão absurda em todas as áreas e que, em algum período ali, teve algum respiro relativo dessa regressão, mas que não deixou de regredir. Se você pega, por exemplo, esse período que eu tô falando do Lula e Dilma, a chamada desindustrialização se aprofundou, apesar de você ter números relativamente melhores aqui ou ali, mas ela se aprofundou”, continua. 

“O Brasil você não tem soberania monetária. O Brasi tem é uma dependência do Banco Central, da sinalização que o Banco Central faz ao operar a definição da taxa básica de juros, aos preços que estão sendo definidos pelo mercado. Ou seja, se você olha do Plano Real para cá, ou pelo menos da implementação do sistema de metas para cá, quantas vezes o Banco Central foi contra as opiniões de mercado prévias ao Copom? Pouquíssimas vezes”, observa o mestre em Desenvolvimento.

Em relação à inflação, a Selic, Nathan Caixeta ressalta que o país não tem histórico de performar em baixa porque a economia é “dramaticamente indexada” pelo setor financeiro. 

“Quase 90% da dívida pública é pós-fixada, com prazo médio de vencimento de três anos. E com uma parte relevante dela para fazer política monetária através das operações compromissadas, é com vencimento de curtíssimo prazo. Então, quando você já carrega na fixação da taxa de juros pelo Banco Central e na sua operacionalização, na forma que o Banco Central faz para trazer a taxa de juros de mercado, a sua meta, aquilo que ele pretende como taxa básica, que é a Selic, ele já sai com um custo enorme.” 

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4 Comentários

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  1. É o Deus dinheiro cada vez mais presente no dia dia das pessoas e no mundo todo, na política na ciência e na cultura…as bigtechs dominando o mundo com suas fakes News…o facismo avançando é destruinndo direitos fundamentais…devastando a natureza. .poluindo tudo com sua cultura de lixo…

  2. A dívida pública não diminui pq o Banco Central é capacho do mercado financeiro. Por isso, não tem como se fazer controle fiscal. Essa taxa de juros é uma vergonha. Os EUA cresceram pq a taxa de juros é baixa e os investidores/empreendedores buscam dinheiro, diferente dos rentistas que ganham dinheiro produzindo miséria. Eles não são investidores.

  3. Nada que tenha, em sua base conceitual, ou lógica, ou histórica – enfim, qualquer que seja o enfoque, nada que tenha como fundamento a exploração do ser humano por outro ser humano, pode ser considerado…humano. Exploração do ser humano por outro ser humano é escravidão. Ponto. A “ciência econômica” não se afasta do ser humano para justificar as contradições do capitalismo; ela é a própria justificativa. Adam Smith desconfiava de que havia algo errado na equação básica do capitalismo, mas fez vista grossa; Ricardo sabia desse vício de origem, mas, candidamente, admitiu que era assim mesmo, e não tinha jeito. Malthus foi além, e, clérigo que era, invocou a Vontade Divina para justificar a depravação. Stuart Mill compendiou isso tudo, mas não avançou muito em direção à verdade que Marx revelou: o salário do trabalhador é ‘pago’ pelo próprio trabalhador, e não pelo patrão que, eventualmente, o emprega. Se você produz 10.000, e recebe por seu trabalho, 000,01 por isso, isso é escravidão. A intensidade dessa escravidão, e o sofrimento que ela provoca, varia, e, hoje, certamente, é bem mais amena do que em tempos idos – fardo leve, jugo manso. É sempre necessária uma adequação moral a um estado de coisas tão miserável, e a “ciência econômica” providencia isso. Mas fardo continua sendo fardo, e jugo continua sendo jugo. Não há capitalismo humano, nem ético, nem suave; há capitalismo. Sua única razão de ser é a exploração da força de trabalho. A justificativa da “ciência econômica” para ocultar e atenuar as contradições do capitalismo é, em verdade, uma tentativa de humanizá-lo. Mas humanizar o capitalismo significa extingui-lo em sua natureza, e transformá-lo em outra coisa – que, salvo engano, não existe. O Socialismo (caso fosse exequível) seria algo diverso, o anarquismo também, dentre outros menos votados. Mas a evolução do capitalismo (desde a antiguidade, passando pelo mercantilismo e chegando à revolução industrial) se encarregou de criar uma natureza para si, a natureza humana, apartada da Natureza. Porque se a fome põe em movimento o mundo animal, no nosso caso – animais superiores – é a ambição e a ganância que, desde sempre, nos pôs em movimento, assim que nos julgamos proprietários de algo: terra, animais, e o que mais fosse possível apropriar. Ao contrário da Natureza, sujeita ao caos e infensa à vontade do que ou de quem quer que seja, a natureza criada pelo homem, a sua própria, sujeita-se apenas à sua vontade e ao seu desejo, que são, sempre, deformações da Natureza.. Assim, o capital (através de sua última linha de defesa, o fascismo) apela à natureza real do Homem, prometendo a ele a prosperidade enquanto explora sua força de trabalho até o bagaço; e aqueles que criticam a “ciência econômica”, como acólita do capital, apelam à uma suposta natureza ideal do homem, generosa, solidária, e altruísta. Como o Mundo não é uma ideia, adivinhem quem está perdendo esse jogo.

    1. Concordo integralmente. Bem conforme minha visão do Brasil: seguimos colônia de países que sugam as riquezas nacionais como fizeram desde 1500. Mudaram as cores, os discursos, as formas. A reserva em dólares já em si uma forma de manter a riqueza e mando norte-americano. O BRICS é uma saudável forma de contraposição mas também traz o germe da colonização e todo cuidado é pouco. Toda nação deve usar seu próprio metro para medir as relações externas. Aqui ainda vige o regime de castas disfarçado sob o manto da democracia. Democracia tutelada interna e externamente. Nossos dirigentes – salvo exceções, pouquíssimas exceções – governam sob o olhar atento dos verdadeiros mandantes. O brasileiro cordial é o que se pretende para o povão . A cordialidade do submisso, na realidade a conformação do poder de uns poucos. Exemplos temos aos montes: Banco Central domina quase a metade do orçamento federal sem controle algum, não há caso de algum bandidão da direita preso em TODA A HISTÓRIA BRASILEIRA, a legislação fiscal pune o trabalho com IRPF de até 27,5% e as tacadas financeiras seguem livres de qualquer ônus. As fortunas assim amealhadas nada pagam ao país e apenas satisfazem a ganância do 05,% favorecido desde sempre. Quintal seguimos sendo pois as “naves” estrangeiras trazem “miçangas” e levam subprodutos com pouca ou nenhuma transformação. Não faz muito os produtores franceses se rebelaram contra o acordo com o Mercosul, a indústria francesa ou europeia não. Por que será ? Recentemente voz do governo norte americano repetiu o mantra do “quintal americano” sem qualquer contestação do governo brasileiro. Não é de “bom tom” reagir, a “cordialidade” do brasileiro deve ser preservada. Por isso seguimos sendo o país do futuro ( incerto e não sabido) tão ao gosto dos globais e seus apitos de cachorro. E a esquerda brasileira ? Tomando uisquinho no boteco da esquina discutindo bandeiras identitárias?

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