Relato da barbárie na Maré, por Virginia Berriel

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Relato da barbárie na Maré
 
por Virginia Berriel
 
Preciso falar, estou muito angustiada e agora também me sentindo arrasada, impotente.
 
Estamos numa guerra, no Rio.
 
Vocês sabem que estou na Comissão Popular da Verdade, representando a CUT. A CPV foi criada para investigar e denunciar as violações dos direitos humanos, em decorrência da Intervenção Militar no Rio, “NAS FAVELAS”. Nossa atuação tornou-se visível e grande desde a vinda do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel e de Danny Glover ator e ativista de Direitos Humanos da ONU e nós, membros da Comissão, composta por diversas entidades, criada a partir de reuniões da FBP Frente Brasil Popular.
 
Traçamos linhas de estratégias e ações, com visitas as favelas em parceria com a Defensoria Pública e outras entidades para  acompanhamento das ações do Exército, das Polícias Civil e Militar. As ações do Exército com Core, Bope, Caveirão explodiram em massacres, chacinas e violações. Uma guerra de verdade. 

 
A mídia divulga muito pouco, menos de 50% do que está efetivamente  acontecendo.
 
Nesta quarta-feira, 20/06, foi a gota d’água: As Operações nas favelas da Maré, no Pavão e Pavãozinho, Cantagalo e Morro da Coroa, foram de pleno extermínio. Uma guerra contra os pobres, pretos e favelados.
 
Na Mare:
1 caveirão aéreo,
4 caveirões de solo 
Vários blindados…
 
O caveirão aéreo em vôos rasantes, disparou contra a favela sua metralhadora aleatória, numa só quadra,  parte de um quarteirão foram encontradas marcas de 59 tiros. 
 
Incontáveis todos os tiros disparados de cima para baixo sobre as casas.
 
Eles dizem que foram mortos 6 traficantes, é o que dizem, mas, na verdade, foram muito mais. E vários e vários feridos.
 
UMA MENINA DE 14 ANOS também foi atingida e veio a falecer no hospital.
 
Ela não foi levada para a UPA. A familia, por medo, recusou-se e recusa-se divulgar o nome da menina.
“Muitos óbitos são classificados como morte natural”
 
Numa outra casa, já que muitas foram invadidas, os policiais espancaram dois adultos e jogaram seus corpos, da mesma casa executaram a queima roupa outros três jovens. De outras casas invadidas roubaram  pertences como celulares e televisores, os moradores NÃO denunciam por medo.
 
Atiraram em vários carros, casas e disseram que era para vingar a morte de policiais.
 
Terror total. 
 
Moradores em choque e pânico.
 
Ainda proibiram o acesso de ambulâncias para retirada dos feridos.
 
No Pavão Pavaozinho e Coroa também foram mortos tantos outros moradores.
 
Ontem, 21/06, esse foi o relato de defensores de direitos humanos, que residem na Maré, numa reunião na Defensoria Pública. Foi de doer, de chorar por horas…
 
Dia 25/06 visitaremos com a Defensoria a Favela da Mangueirinha e dia 29/06 a do Chapadão.
 
Estamos solicitando audiência para os dias 02 ou 03 com o Interventor, por intermédio da Defensoria Pública e no mesmo dia à tarde faremos uma coletiva de imprensa para denunciar todas as violações, a partir de um dossiê que está sendo preparado.
 
Muita impotência diante da barbárie da Intervenção Militar no Rio.
 
Os Governos Federal, Estadual e Municipal, entregaram o Rio à barbárie e a própria sorte. 
 
Todos estão com as mãos sujas de sangue.
 
NÃO SOU A FAVOR DO BANDITISMO, nem do tráfico, nem da milícia, muito menos da Polícia e Exército do extermínio.
 
SOU E SEREI SEMPRE A FAVOR DA JUSTIÇA.
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. O aumento da truculência é uma clara expressão do medo do golpe.

    Já há mais de três anos venho falando claramente em diversas intevenções que faço em artigos e comentários, juntando as forças armadas e as polícias militares, se ocorrer um início de sublevação popular que conte no máximo com 3% da população estas forças armadas serão varridas do mapa. Se considerarmos 3% dos maiores centros populacionais brasileiros e compará-los com os efetivos disponíveis descontados toda uma parte que não é possível empregar em ações concentradas em grandes cidades, pois aí teríamos o mesmo problema partindo do campo ou das pequenas e médias cidades, a relação de forças é em torno de 10/1. Alguém poderia dizer que as forças armadas tem armas, porém não esqueçam que as armas são manejadas por soldados, que estão mais próximos em termos de grupos sociais da papulação em geral do que dos seus comandantes.

    As ações militares de fuzilamento a partir de helicópteros deixa claro que o nível de truculência está atingindo já o máximo que as forças de repressão podem fazer, mais do que isto somente seria possível o bombardeamento de comunidades com peças de artilharia ou aviões.

    O que se está mostrando é que as forças de repressão estão já estão chegando nos seus limites. Se começa a ocorrer movimentos selvágens (selvagens no sentido de serem completamente sem nenhuma coordenação central), como a greve dos caminhoneiros, repressões seletivas como as empregadas durante a ditadura militar não tem nenhum efeito, pois não há um comando central do lado da população.

    Chamo a atenção que tanto a polícia militar como as próprias forças armadas estão ciente que no momento não estão combatendo “o crime”, tanto o organizado como o desorganizado, eles tem noção que estão fazendo uma repressão difusa e preventiva para evitar uma sublevação, porém esquecem estes senhores que por mais que localizem suas ações em determinadas regiões esta sublevação poderá começar em outras regiões.

    O que quero destacar é que não devemos achar que isto tem possibilidade de aumentar ou continuar indefinitivamente, tem um fim e esse não será nada agradável para ninguém.

    1. IMPRUDÊNCIA ANTI DEMOCRÁTICA

      Diante da escalada da violência policial, evidenciada nos fatos ocorridos na favela da Maré em 20/06/2018 e em tantos outros fatos correlatos, sugerir que uma sublevação popular para ‘varrer do mapa as forças armadas’ não é apenas uma aberração, é uma imprudência perigosa, que coloca em risco a sobrevivência da democracia brasileira, já tão fragilizada pelos asseclas da construção do caos. A única maneira de enfrentar os descalabros do estado de exceção que hoje vigora de fato em nosso país é pugnar pela defesa da legalidade democrática e pelo respeito às garantias constitucionais, Falar em sublevação e sugerir o uso de violência civil para combater a violência estatal é servir aos interesses golpistas que pretendem inviabilizar as eleições.

  2. FRENTE AMPLA CONTRA A EXCEÇÃO E O EXTERMÍNIO

    É preciso denunciar e repudiar em todas as esferas a barbárie desencadeada pelo estado policial, implantado pelo governo ilegítimo e temerário, que se apossou do poder para servir aos interesses predatórios da usurpação e da desestabilização.

    Os crimes aviltantes cometidos pela brutalidade policial são de responsabilidade direta dos poderes executivo, legislativo e judiciário, que se mostram coniventes e cúmplices do extermínio genocida, evidenciado à exaustão na favela da Maré.

    A inexistência de coibição rigorosa para obstar a prática das atrocidades perpetradas contra a população nos morros e nas periferias induz, de maneira direta, o acirramento da violência policial, conduzida à escala da desumanidade hedionda.

    Urge promover a formação de uma frente política em defesa da ética e da dignidade, mediante lançamento de candidatura à presidência da república com compromisso real firmado sobre plataforma democrática, que tenha por base o efetivo e imediato resgate da legalidade constitucional, rompida pelos asseclas da construção do caos.

    É indispensável que os partidos políticos que têm efetivo compromisso com as causas populares percebam a necessidade de construir um projeto de programa de governo de união nacional, capaz de reverter os retrocessos promovidos pelo estado de exceção mal dissimulado, que hoje vigora de fato, e que viola o estado democrático de direito.

    Urge difundir uma plataforma política que fale e linguagem do povo, que seja feita por pessoas que tenham suas origens e suas vivências identificadas com a realidade do povo e que seja voltada para a garantia dos direitos sociais e do pleno respeito à dignidade humana, pois assim o povo saberá escolher seus verdadeiros representantes.

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