Entrevista: O PT acreditou no mito da conciliação de classes

Esta segunda entrevista dá continuidade as entrevistas que o Esquerda Diário está fazendo com intelectuais, jornalistas e figuras políticas da esquerda. Nesta entrevista, conversamos com o sociólogo e professor da Unicamp, Ricardo Antunes.

Enviado por Antonio Ateu

do Esquerda Diário

Ricardo Antunes: “O PT acreditou no mito da conciliação de classes”

Dando continuidade as entrevistas realizadas pelo Esquerda Diário, primeiro comGuilherme Boulos, do MTST, depois com o cientista político Rudá Ricci debatemos a complexa situação política do país e os desafios para a Esquerda.

Nesta entrevista, conduzida por Christian Castillo ex-deputado na Argentina pelo PTS-FIT e apresentador do La Izquierda Diario TV, da rede internacional de diários digitais que o Esquerda Diário faz parte, Ricardo Antunes comenta sua visão sobre o golpe institucional no país, seu balanço dos governos do PT e os desafios para a esquerda.

Para ele, como se pode ver na entrevista abaixo, os governos de Dilma e Lula se constituíram como governos do “partido da ordem”, retomando essa categoria de Marx. Governos marcados por uma política de conciliação de classes e que o PT acreditou que tinha ganho a classe dominante para seu projeto. Polêmico como sempre o sociólogo atribui uma “nota zero” aos governos do PT.

Essa oposição e crítica aos governos do PT, não pode permitir deixar de ver que ocorreu o que ele caracteriza como um “golpe parlamentar com ressonâncias judiciais” para instituir um governo que realize importantes ataques a classe trabalhadora. Essa caracterização, que uma parte da esquerda não petista no Brasil não viu, na opinião dele, por medo de parecer que estivessem apoiando o PT.

Veja o vídeo do sociólogo que também passa por uma visão do que ele chama das “rebeliões de junho e subseqüentes”, sua visão sobre a atual classe trabalhadora e dos desafios atuais da esquerda, que para ele, passam pela amplificação das lutas sociais e por alguns temas que unifiquem a “miríade de movimentos” atuais.

Redação

19 Comentários

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  1. Todo o poder aos Sovietes!

    Pela expropriação violenta da burguesia!

    Paredão para os traidores da classe trabalhadora!

    Pela ditadura do proletariado!

    Pelo expurgo dos traidores das hostes comunistas!

    Morte aos imperialistas!

    Que saudades do tempo em que eu ainda acreditava nisso tudo…

    1. todo…

      Ah, esta inocência pueril doutrinada nos anos 60. Se mandar rolar, rola. Se mandar pular, pula.  Dos anistiados que voltaram nos anos de 1980, faltou alguém a exercer cargo público, legislativo e executivo? Mas já sabemos a resposta pelo Brasil continuar na bárbarie e no atraso. A culpa é dos outros.

        1. jose salles….

          Garimpou muito entre milhares para achar um. Presidente de partido politico não é cargo público? Partido politico tem alguma função fora almejar o poder público e ser financiado por ele. Ainda mais sendo comunista que acredita que o Estado está acima de tudo. Abs.( P.S Tente outro, mas que alguém conheça). 

          1. O ponto
            Levantado não era este? Um exilado quee, por opção sua, não concorreu a cargo?

            José Salles foi relevante e durante seu exílio veio ao Brasil e Argentina mais de uma vez com passaporte falso para resgatar gente.

            Ele é sim exemplo válido e se vc não o conhece é porque, como eu disse, não concorreu a cargo público.

            Pelo visto seu universo só conhece quem concorreu e por isso mesmo seu comentário.

    2. Gostei

      Gostei. Você manteve o bom humor.

      Mas isso confirma uma coisa que o Arnaldo Jabor disse, e que me fez pensar (não que eu aprecie muito o Jabor, mas vez por outra ela acerta): uns países se fazem por soma, outros por subtração. É o caso do Brasil. Temos uma boca cheia de dentes de leite que temos que arrancar se quisermos crescer. O governo petista foi um desses dentes de leite. Não que tenha sido ruim (teve muitos aspectos positivos, reconheço) mas com certeza não foi aquela revolução que muita gente sonhava. Fez o que podia fazer de bom, e depois esgotou-se. Uma ilusão a menos , e ficamos mais adultos. Quando tivermos eliminado todas as nossas ilusões bobocas, o que sobrar será o nosso país.

  2. Envelheceu mal … ou talvez tenha sido sempre assim.

    Ricardo Antunes representa um tipo de esquerdismo que eu quero distancia. Milhas e milhas … Criticas ingenuas, sem apresentar qualquer alternativa possivel para o quadro atual. Sem a “conciliação de classes” o PT conseguiria governar??Qual seria a outra opção? A ditadura do proletariado??? 

  3. Lula errou.

    Lula errou, acreditou que poderia promover a conciliação de classes no Brasil. Isto se mostra totalmente impossível na democracia inaugurada pela constituição de 88 . Acabou o governo democrático, substituido por cleptocracia temerária . Salve Jorge.

    1. Outra bobagem.

      Lula acertou e jogou o único jogo possível diante da conjuntura política absolutamente adversa encontrada e existente no país em 2003 e agora, nesse momento. Teve que fazer a luta política do pregador peregrino contra o sistema oligopolizado de comunicações entregue aos inimigos do Brasil, desde sempre. Venceu quatro eleições com essa tática de guerra, escorraçado e linchado diariamente durante mais de uma década, enquanto projetava o nome do país no cenário internacional por extraordinárias realizações nos campos econômico e social. Não teve condições de prosseguir porque, evidentemente, sob ataques continuados, cada vez mais violentos e ilegais, perdeu a sustentação política, enquanto que a plutocracia foi cada vez mais se organizando e juntando forças políticas legítimas e outras forças, especialmente na alta burocracia do estado, corrompidas, por meios ilegais, evidentemente. Perdeu sustentação política principalmente porque gente supostamente progressista sofre processos assemelhados a esquizofrenia e passam a atacá-lo fazendo eco às vozes da plutocracia entoadas pelo jogral midiático.

  4. Discordo do professor em

    Discordo do professor em vários pontos. Não acho, por exemplo, que “acreditaram numa conciliação de classes”.

    Que houve um “pacto” ou coisa parecida, obviamente na dimensão tácita.

    Ocorreu foi uma acomodação, um empurrão dos maiores e mais graves problemas com a barriga.

    Pior ainda, faltou visão, tato, comprensão de contextos, capacidades, competências, métodos, ousadia.

    Uma gritante omissão com representação bastante simples, também: covardia.

    Afinal, para que correr sérios riscos no confronto com adversários cabulosos se tudo caminha tão bem?

    Se conseguimos retirar 30 milhões da miséria?

    Essa, a falácia do século.

     .

    Há um único elemento – amplamente ignorado – que atenua a responsabilidade do partido e seus dirigentes:

    Governar, assumir a responsabilidade pela condução de um Estado, é tarefa de extrema dificuldade.

    A ignorância quanto ao assunto é facinho perceber.

    As pessoas costumam achar que CEOs de empresas multinacionais são altamente qualificados.

    Não conseguem ver, entretanto, que administrar um país é infinitamente mais problemático. 

    Aqui mesmo neste nobre espaço ouvi aos montes a explicação para o desastre:

    “O Lula se comunicava, é palanqueiro, a Dilma, não”

    Nada disso.

    .

    O PT jamais esteve preparado para governar. O que fizeram foi uma preparação para vencer eleições.

    Uma coisa é bem diferente da outra.

    Isso que ele diz ser uma crença na conciliação é, tão e simplesmente, uma ilusão das possibilidades de se manter no poder.

    É a ilusão de cada vez mais eleger “postes pelo país até sua iluminação” (por Sr. Luis Inácio).

    .

    O PT até hoje é um partido em condições de realizar belos trabalhos na dimensão municipal e, talvez, estadual.

    Não tenho dúvida que é o mais preparado nesse sentido. O nível federal é outra história bastante diferente.

    .

    O que mais faziam os ufanistas era comparar com o governo FHC, um tucaninho de quinta categoria.  

    Ora, por acaso vocês acham que algum tipo de verdadeira transformação ocorrerá a partir dos partidos à direita?

    Vocês acham que uma alteração na comunicação pública ou no judiciário ocorrerá a partir do PSDB?

    Rsss… Precisa ser muito tolo pra acreditar nessa possibilidade.

    Logo, não faz o menor sentido dizer o “Lula fez muito mais que o FHC”.

    Pensado de outra forma, por reles analogia, é como um carro que anda a 10 por hora e passa a andar a 20. 

    A velocidade dobra, mas continua muito baixa.

    .

    Ademais, houve um transbordamento da riqueza gerada principalmente no continente asiático.

    O PT assume com sua modesta pranchinha (muito boa para marolas) e vem uma onda grande.

    Ela impulsiona o país e facilita muitos processos, dentre eles o aumento real do salário mínimo.

    Não fosse essa onda, ou esse verão que trouxe calor para uma casa de estrutura podre, e adeus PT, adeus Lula.

    .

    Para o nosso azar veio essa onda, ou esse verão, e o governo se manteve até que praticassem contra ele um golpe.

    Por qual motivo o destino foi crudelíssimo?

    Porque cair através de um golpe deixa a falsa impressão que não houve erros cometidos, mas a traição de uma elite.

    .

    Outra ironia da história: o PT não vencer as eleições em 90 e assumir no lugar do Collor, o que só não aconteceu por um triz.

    Teria sido trágico, logicamente, porque se não havia preparo em 2002, que dirá em 90.

    As crises abalariam o governo, venceriam dessa vez para perder logo depois de modo natural.

    Aprenderiam, haveria a possibilidade de correção, a chance de retornar um dia, mais experientes, mais qualificados.

    Só que não.

    .

    Hoje nos encontramos numa encruzilhada diabólica.

    É bem verdade quando dizem por aí que nosso passinho civilizatório está em risco.

    O PT caiu dando um abraço de afogado na esquerda. Levou todo mundo junto para as profundezas.

    1. Quanta bobagem.

      Cara! Eu confesso que não li a metade das bobagens escritas por voce mas apenas o suficiente para convidá-lo a uma reflexão sobre se estão autorizadas às pessoas que lerem o seu post a acusar a presença de evidencias de falta de conhecimento ou falsidade intelectual. Pois dizer que faltou coragem e competência aos governos do PT que ousaram mexer em pontos tão delicados e caros para a alta plutocracia tupiniquim e estrangeira, ao ponto de provocar a hecatombe que se abateu sobre o Brasil, na forma de ação orquestrada e concertada de forças que habitam na escuridão das ma$$onaria$, corrompendo agentes públicos do judiciário, MP, PF e tantos outros agentes das instituições do Estado?

      A retirada de 40 milhões de pessoas para fora dos limites da linha da miséria absoluta e a saída do país do vergonhoso Mapa da Fome da ONU em 2013, é uma quimera?

      Pois, algumas pessoas menos obtusas haverão de entender que essas e tantas outras realizações extraordinárias teriam sido indicativas de estrondoso sucesso, sob o ponto de vista do interesse público majoritário, consideradas a falta de visão de uma sociedade desinformada e desprovida de formação mínima para conhecimento do processo político, como voce demonstra ser.

      1. Ousou mexer em pontos tão
        Ousou mexer em pontos tão delicados da alta plutocracia?

        Rsss

        Conte-me quais foram.

        Ps: já ouviu falar em linha de pobreza?

      2. Mas se o sucesso foi tão estrondoso, então…

        Mas se o sucesso do governo petista foi assim tão estrondoso quanto você diz, então como você explica que Dilma Rousseff tenha sido afastada ante a total indiferença do povão, que não saiu às ruas em sua defesa? Pois a essa altura é totalmente inútil discutir se o impedimento foi ou não um golpe, pois o fato é que a ausência de resistência prova que o governo já havia perdido todo o apoio da população!

        Houve, sim, progressos na Era Lula, mas eles não foram tão formidáveis quanto você acredita. Foram apenas a culminância de um processo que se iniciou em 1994, com o Plano Real, e que terminou com a Nova Matriz Econômica. Tirar milhões da linha da miséria absoluta? Bem, se você estabelece que a linha da pobreza é X, e milhões passam para X + 0,001 então eles cruzaram a linha da pobreza, mas o que isso significa em termos práticos para essas pessoas?

    2. Lucidez, enfim!

      A derrocada do PT caiu como um porrete na cabeça de muitos militantes, que ainda estão tontos sem entender direito o que aconteceu. Tecem todo o tipo de teoria conspiratória e insistem em ver a queda de Dilma como um raio em céu sereno, como se antes tudo estivesse às mil maravilhas. Diz o ditado, quanto maior o pedestal, maior o tombo, e não falta gente mais preocupada em erigir o pedestal do que com a estátua… Nesse quadro, é um alívio ler análises lúcidas com a deste Antonio.

      Ele sintetizou bem: o PT preparou-se para ganhar as eleições, não para governar. Fez o pedestal, mas esqueceu da estátua, e acabou caindo do pedestal. Não que o PT (leia-se Lula) não tenha tido méritos: soube surfar a onda que se ergueu à sua frent, enquanto outros menos habilidosos teriam tomado um belo caldo. Depois a onda acabou, e como diz outro ditado, é quando a maré baixa que se vê quem está nadando pelado. Mas sem entender como funciona a política e a economia, as pessoas comuns só conseguem enxergar um drama bobo onde contracenam os heróis e os vilões, os bonzinhos e os malvados: sob esta óptica, Lula foi “bom” porque concedeu benesses ao povão e tirou milhões da miséria, enquanto FHC e Dilma foram “maus” porque não fizeram o mesmo. Na visão dessa gente, cada ator político tem todas as possibilidades nas mãos, pode fazer o que quiser, e se não faz é porque é mau.

      Não percebem que as possibilidades são limitadas pelas circunstâncias, que as circuntâncias são obra de cadeias de eventos, e que o sucesso ou fracasso de um personagem tem a ver com o sucesso ou o fracasso do personagem que o precedeu. Os exemplos são abundantes em nossa História: JK é considerado o nosso maior presidente, mas deixou um legado de crise e inflação que pavimentou o caminho para a queda dos dois presidentes que o sucederam. Lula jamais poderia ter feito os programas sociais que fez e aumentado do salário mínimo se não tivesse herdado uma economia estabilizada pelo Plano Real. Tivesse ele a má sorte de vencer uma das três eleições que disputou, e só teria duas opções: fazer mais ou menos o mesmo que FHC fez, e assim ficar totalmente desmoralizado junto às bases, ou partir para uma aventura populista estilo Alan Garcia no Peru, que fatalmente terminaria em hiperinflação e populardade zero. Dilma não pôde dar continuidade às benesses da Era Lula porque herdou uma economia em deterioração, produto da malfadada Nova Matriz Econômica lançaa na metade do segundo mandato de Lula.

  5. Nesta hora

    ninguém fala da crise provocada pelos EUA, que à exceção da Alemanha, beneficiada pela União Européia, levou de roldão diversos países europeus.

    Ninguém fala mais dos orelhudos do mesmo país.

    Ninguém fala mais da queda do preço do petróleo, após reunião de Obama com o Rei da Arábia Saudita.

    Qual será a razão?

    Tem medo que digam que sempre colocamos a culpa nos outros ? Mas tudo isto não pode ficar “esquecido”, quando a análise é feita seriamente.

  6. Classe!

    A esmagadora maioria da classe dominada nem sabe da existência de classes; um percentual significativo da dominante também não!

    E aí não sei o que é pior: a esmagadora maioria da classe dominada não saber da existência de classes ou o percentual significativo da dominante.

    E nesses nichos é que está o poder de adotar uma decisão, ditada por alguém.

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