Fernando Horta
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A economia brasileira estrangulada, por Fernando Horta

A economia brasileira estrangulada

por Fernando Horta

Não existe meio espontâneo de redistribuição de renda no capitalismo.

Anote esta frase aí, ela é oriunda das teorias críticas do século XIX e foi retomada no final do século XX e XXI com a falência das teorias neoliberais. Mas guarde ela aí que nós vamos chegar a ela mais tarde.

Durante a ditadura civil-militar (1964-1985), uma das mais perversas características econômicas do período foi a concentração brutal de renda feita pelos grupos mais ricos. Este conceito “concentração de renda” é sempre mais fácil de se compreender de forma estática. Num determinado momento, faz-se um estudo dos valores apropriados pelos diversos grupos sociais do montante da renda nacional. Ali se tem uma fotografia da distribuição de renda no país. É muito mais difícil, entretanto, reconhecer os processos pelos quais a renda é apropriada. Os canais que levam a esvaziar os bolsos dos mais pobres e encher os cofres dos mais ricos são escondidos em discursos suaves.

Um dos mecanismos mais eficientes, neste sentido, usado pelos militares foi a “correção monetária”. O argumento teórico é perfeito: como a inflação estava muito alta o financiamento (empréstimos de dinheiro) necessitava exigir juros estratosféricos para que o financiador não tivesse prejuízo. O que estava inviabilizando a economia porque ninguém aceitaria juros de quase 80% ao mês. Daí que se dividiu o valor. Uma parte era juro (moderadamente de mercado) e outra era “correção monetária”, que significava a imposição da inflação diária. Assim, se você tivesse uma conta para pagar no dia 05 de um determinado mês, pagava o valor nominal da conta mais a inflação do dia primeiro até o dia 05.

Este mecanismo tinha três imensos problemas. O primeiro é que nem todas as empresas tinham autorização para cobrar a “correção monetária”, e outras empresas não podiam fazer sob pena de perder clientela. Quando mais concorrência tinha o produto vendido menor a possibilidade de aplicar o corretor, pois a “livre concorrência” fazia com que pequenos empresários “absorvessem” o prejuízo sem saber que ali adiante eles quebrariam por isto. As empresas grandes, entretanto, foram todas autorizadas a inserir a tal “correção monetária”. Isto criava um fluxo de dinheiro de baixo para cima. O segundo problema era que o trabalhador recebia a “correção monetária” apenas uma vez por mês. Apenas no dia do pagamento. Após sacar o dinheiro, este não era mais corrigido (e os bancos não ofereciam serviços para reajuste dos valores nas contas, além do fato de o nível de bancarização do brasileiro ser muito baixo na época). Então, o trabalhador ia sendo “comido” em toda a conta que pagava e toda a compra que fazia, durante todo o mês. Dinheirinho pequeno, mas constante e, literalmente, cobrado de todos, saindo de baixo e indo para cima. O terceiro problema é que este tipo de prática criou o que a teoria chamou de “inflação inercial”. Um sentido de volatilidade dos preços que induzia a toda a sociedade a majorar os valores em determinado espaço de tempo. Não era mais o fruto de um cálculo econômico, mais ou menos racional, era uma impressão subjetiva que fazia com que até nas trocas diretas o sentido de uma “inflação” fosse introjetado no brasileiro.

Este tipo de movimento é muito difícil de ser percebido por economistas do mainstream. Aqueles que ficam em seus escritórios usando modelos e índices sem ver gente, sem ver comércio. Durante o período militar os índices de inflação do governo eram sempre manipulados. A situação foi tal que o DIEESE começou a fazer o contraponto para minorar o prejuízo real do trabalhador. Normalmente este tipo de movimento na economia real é captado por historiadores depois de ocorrido. Depois do dano, nós recuperamos o movimento.

Aqui quero entrar com o argumento do historiador. Passei o dia de domingo dentro de um dos maiores centros de comércio à retalho de Brasília. Vende-se de tudo ali. De roupas, a celulares e filhotes de animais. Passei mais de cinco horas lá, por necessidade. E conversando com as pessoas me apavorei. Existia interesse em vender e interesse em comprar, mas os termos das trocas impediam as negociações. As pessoas estavam divergindo em cinco ou sete reais, pouco se pensar na troca individual, mas muito se pensar em termos de fluxo. Vender “no dinheiro” dava desconto de quase 20%. Perguntei o motivo disto, e meu interlocutor, dono de uma das bancas me disse que o cartão de crédito toma 17% do valor e leva até 45 dias para fazer o pagamento. Ou seja, 17% mais a inflação neste período e custo que não receber o dinheiro da venda acarreta. Venda “no débito”, veja só, leva até 20 dias para entrar para ele.

Agora parem para analisar como está aqui já o fluxo da concentração de renda. Lembre-se que no débito o valor sai da sua conta automaticamente. O banco gira com este valor cobrando juros de alguém. O governo Temer diminuiu o papel dos bancos públicos e entregou uma série de ferramentas à elite para reconstruírem os canais de apropriação de renda. O dono do comércio em que eu estava me ofereceu um desconto se eu pagasse “no dinheiro” “porque tinha que pagar o funcionário” e havia vendido quase tudo naquele mês “no cartão”. O que significava que estava sem capital de giro. Novamente o banco lhe mandou uma cartinha oferecendo o capital de giro a um juro que, segundo o dono do comércio “lhe comeria todo o lucro”. Vejam os dois canais de apropriação de renda que estão amassando os pequenos negócios.

Me parei a pensar em outros como os reajustes de planos de saúde acima da inflação e permissão para excluir procedimentos, cobrança por malas em viagens além da retirada do controle sobre multas de remarcação de viagens de avião ou de ônibus. Além da liberação do mercado bancário feita pela diminuição do BB e da Caixa ainda tem o afrouxamento dos controles sobre tarifas e direitos do consumidor, e por aí vai. Todo setor criou as suas. Todas medidas escorchantes. Todos sacam dinheiro das imensas parcelas pobres e jogam para as elites.

Os dois maiores canais de apropriação de renda, entretanto, são o congelamento dos salários dos funcionários públicos por vinte anos junto com a diminuição dos aumentos do salário mínimo, já decretados por Temer. Isto provocará uma distorção brutal em favor da elite no final dos vinte anos. O segundo canal é o desmonte da legislação trabalhista e o enfraquecimento dos sindicatos. Sem os sindicatos ou a proteção legal ao trabalho, a necessidade e a fome farão rebaixar o valor do salário ainda mais. O exército de desempregados que o Brasil tem dará à elite a posição discursiva que sempre ela achou ter: afinal, eles farão o “favor” de dar emprego a semianalfabetos, a pessoas “sem qualificação” e etc. O desdém ao trabalho é o centro de todo o pensamento econômico brasileiro do governo Temer. Apenas a título de informação, desde que foram desarticulados os sindicatos nos EUA, ainda na década de 60 em função da histeria comunista, nunca mais o trabalhador americano recebeu um aumento. Os números mostram que o valor médio da hora trabalhada nos EUA é o mesmo (corrigida a inflação) desde a década de 60. Mesmo tendo a produtividade quase quadruplicado.

A elite terá novamente seus cofres cheios. Os trabalhadores voltarão a trabalhar pela comida e a classe média, em breve, perceberá que não foi convidada para a festa do enriquecimento. Pequenos empresários já estão falindo, outros irão pelo mesmo caminho. Alguns ainda repetem de forma ignorante que é culpa da “herança maldita” de Dilma. Mas se este discurso encontra eco até em ex-pensadores de esquerda, não culpo, pois, a classe média. Média-baixa, em breve, aliás, como ocorreu nos anos 80. Tenho pena é de quem voltará a passar fome.

Fernando Horta

Somos pela educação. Somos pela democracia e mais importante Somos e sempre seremos Lula.

11 Comentários

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  1. Caro Fernando
    Se antes a

    Caro Fernando

    Se antes a “elite” possuía investimentosw em bens de produção; hoje ele é apenas financeirizada: os bancos sequestraram o Brasil e o mantém em cativeiro desde 1989.

    A única coisa que o neoliberalismo apresentou ao mundo foi a financeirização da sociedade; um processo que produziu miséria, fome, desepero e morte em qualquer lugar que esses abutres pousaram

    As operadoras de plano de sáude têm a cara de pau (a sem-vergonhice; melhor falando), de enviar uma carta diendo de 38,90% de “inflação médica” no período. 

    Os tontos que foram bater panela e seguir pato amarelo (cadê o Skaf? sumiu por que?) talvez agora percebam (como vc bem diz) que vão descer alguns degraus para os de sempre subirem mais

    Vejo que há 4 coisas que ameaçam não só nossa sociedade; mas a integridade territorial do Brasil:

    * o sistema financeiro (inescrupuloso, parasitário e voraz), que se comporta como um braço do capital norte-americano

    * a mídia (principalmente a rede globo, que é um agente do sistema financeiro; que mente em cada noticia que martela o dia inteiro)

    * o ministério público (que são outros parasitas da sociedade, financiados com dinheiro público para destruir o Brasil)

    * a justiça (sem comentários)

  2. A desvalorização dos salários não é a causa do estrangulamento

    A desvalorização dos salários e a falência da pequena-burguesia (pequeno empresário) são os efeitos do estrangulamento da economia, não suas causas.

    A causa da desvalorização dos salários, da falência do pequeno e médio empresariados e da estrangulação da economia são efeitos do capitalismo. Isso foi constatado por Marx e Engels no década de 40 do Século XIX:

    “Na mesma medida em que a burguesia, isto é, o capital se desenvolve, nessa mesma medida desenvolve-se o proletariado, a classe dos operários modernos, os quais só vivem enquanto encontram trabalho e só encontram trabalho enquanto o seu trabalho aumenta o capital. Estes operários, que têm de se vender à peça, são uma mercadoria como qualquer outro artigo de comércio, e estão, por isso, igualmente expostos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as oscilações do mercado.

    O trabalho dos proletários perdeu, com a extensão da maquinaria e a divisão do trabalho, todo o carácter autónomo e, portanto, todos os atractivos para os operários. Ele torna-se um mero acessório da máquina ao qual se exige apenas o manejo mais simples, mais monótono, mais fácil de aprender. Os custos que o operário ocasiona reduzem-se por isso quase só aos meios de vida de que carece para o seu sustento e para a reprodução da sua raça. O preço de uma mercadoria, e, portanto, também do trabalho, é, porém, igual aos seus custos de produção. Na mesma medida em que cresce a repugnância [causada] pelo trabalho decresce, portanto, o salário. Mais ainda: na mesma medida em que aumentam a maquinaria e a divisão do trabalho, na mesma medida sobe também a massa do trabalho, seja pelo acréscimo das horas de trabalho seja pelo acréscimo do trabalho exigido num tempo dado, pelo funcionamento acelerado das máquinas, etc.”

     

    “Os pequenos estados médios até aqui, os pequenos industriais, comerciantes e rentiers, os artesãos e camponeses, todas estas classes caem no proletariado, em parte porque o seu pequeno capital não chega para o empreendimento da grande indústria e sucumbe à concorrência dos capitalistas maiores, em parte porque a sua habilidade é desvalorizada por novos modos de produção. Assim, o proletariado recruta-se de todas as classes da população.”

     

  3. E outro fator que dá mais

    E outro fator que dá mais dinheiro a quem tem aplicações que o povo nem tem ideia que existe = com o desabamento da inflação devido à recessão brutal, o banco central vem, de forma deliberado, não abaixando os juros na mesma medida, ou seja, quem tem aplicação está tendo ganhos reais com essa política. E pra ferrar de vez, há perspectiva de deflação em junho, ou seja, é o mesmo que um paciente que começa a ter menos de 36 graus, portanto há risco de vida. E logo logo vamos ver a mídia pró-Temer colocar os seus analistas econômicos fazendo louvações a essa desgraça, falando que a febre foi debelada – mas não dizendo que hipotermia pode levar rapidamente à morte..

  4. Off topic: da uma lida neste aqui, caro Fernando?

    GLOBO NA MIRA DO FBI, BANCOS NA DO DALLAGNOL E BLOGS DE ESQUERDA “PERDIDINHOS”: O “CAOS” DA IRRACIONALIDADE HUMANA

    Por Romulus & Núcleo Duro

    (…) Essa história de “FBI pegar a Globo” está seguindo o esquema normal de política em D.C.: a agência – no caso o DoJ – capturada pelo lobby.

    O Departamento de Estado ainda não deu atenção a isso porque até agora não teve relevância na sua seara.

    Detonar a Globo seria um “game change” no Brasil… de décadas!

    Qual o interesse dos EUA – enquanto ~Estado~ e não enquanto país onde Time Warner/ Disney são sediadas – em implodir a Globo – o maior obstáculo à esquerda e ao nacional-desenvolvimentismo no Brasil?

    Afinal, a direita $EMPRE $E €NT€ND€… £¥NDAM€NT€!

    Mas…

    A Globo é democrata e os EUA tem hegemonia política republicana atualmente.

    A “sorte” da Globo é que o deep-State do Departamento de Estado é democrata.

    O “azar” da Globo é que a operação em que ela está metida é… ~mundial~.

    Assim, a queda da Globo pode acabar como, “apenas”, um efeito colateral. Tolerado! (…)

    *

    O “caos” descabelado… minimamente “penteado”:

    I. Blogs de esquerda fazem demagogia enquanto seus leitores deliram com uma “Revolução de Outubro”.

    II. FHC e Armínio Fraga dão a senha: PSDB é, apenas, a “pinguela” do 1%.

    A “ponte para o futuro” é a… JURISTOCRACIA!

    E, mais uma vez, nós avisamos aqui!

    III. O estilo “caótico” do blog e o seu alcance, necessariamente, restrito.

    IV. “Jeitinhos” e “Jeitões” juristocráticos.

    V. BOMBA! Sim, aquela mesmo: a NUCLEAR – os Bancos!

    Ainda na mão do Dallagnol “candy crush” (!)

    VI. “Lula” – o melhor Presidente que o Brasil ~nunca~ terá novamente??

    – O maior ativo político nacional – e internacional!

    Mas…

    – Esnobado pela “elite” – que, no Brasil, se escreve, necessariamente, entre aspas mesmo.

    VII. Atenção: ~fontes~ confirmam a jornalistas nossas deduções sobre o (não) “julgamento” da delação da JBS no STF!

    VIII. Sucessão na PF – a rapidinha do… “instituições funcionando normalmente” (!)

    IX. Epílogo: a tensão estrutural entre a Juristocracia e a Política no país onde se inventaram os tais dos ~3~ Poderes… hmmm… “independentes” (?) …

    País esse que, inclusive, ~não~ aplica essa ideia!

    Algum motivo haverá de existir…

     

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  5. Pergunta em quem vota o dono

    Pergunta em quem vota o dono da loja do shopping center. Pergunta porque vota assim. Com certeza vota em representantes da iniciativa privada e por identificação pessoal com o candidato.

    Agora pergunta ao balconista. Com certeza vota com os representantes da iniciativa privada e porque quer agradar ao chefe.

    Ganha uma bala de hortelã quem conseguir deixar clara a diferença entre o comerciante e os Moreira Salles, Setúbal e Marinhos da vida. Não são, eles todos, empresários? E o comerciário, tem como ajudá-lo a distinguir seus interesses dos de seu chefe?

     

  6. Revelação da ‘lava-jato’

    “A força-tarefa da Operação Lava Jato está apreensiva com o impacto da delação de Antonio Palocci no sistema financeiro do país. Estuda uma forma de, ao contrário do que ocorreu com as empreiteiras, preservar as instituições e os empregos que geram.”

    Este trecho foi extraído da coluna de Mõnica Bergamo http://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2017/06/1895621-lava-jato-estuda-como-preservar-bancos-do-impacto-da-delacao-de-palocci.shtml.

    Fica tudo escancarado: A chamada ‘lava-jato’ depois de atacar empreiteiras (‘aliadas’ do pt, de Lula e Dilma), arrobar com seus empregos, vai amaciar em favor do poder financeiro e do PSDB. E ainda se fala nos empregos que seriam poupados neste setor – todo automatizado.

    O consolo do capital produtivo em tudo isto é a supressão do estatuto do trabalhador – a destruição da previdência pública é um mimo para o setor financeiro.

    Caiu definitivamente a ficha.

     

  7. Velhos ou novos mecanismos de acumulação?

    Numa primeira leitura parece que o artigo tem alguma consistência, porém quando se faz uma segunda leitura parece que o mesmo simplesmente repete algumas centenas de outros artigos, ou até milhares de comentários que se tem espalhado pela Internet nos últimos anos, ou seja, é um discurso que feito há dez ou vinte anos no passado que agregado a situação do congelamento das contas públicas, que é mais recente, tudo aqui já foi dito.

    Porém ao se ler com mais cuidado se verifica que o mesmo mais tem omissões do que qualquer novidade, e inclusive não discute assuntos que merecem críticas nos dias atuais e novos assuntos que começam a vir a tona com as novas características do Imperialismo-Capitalismo atual. Entretanto esta crítica acima posta é sobre o artigo e algumas de suas omissões, uma crítica de platitudes que não acrescentam nada. Para fugir do lugar comum de simplesmente dizer dos erros e das omissões do mesmo, vamos aos motivos do desconforto de quem a lê.

    Primeiro vamos a crítica sobre o mecanismo da correção monetária, este instituto inventado durante os governos militares, foi uma espécie de ovo de Colombo que num primeiro momento parecia uma grande saída, a correção monetária exprimia um conceito de moeda com valor móvel, ou seja, para taxas de inflação relativamente baixas (parece até uma ironia) de até 20% a 30% a.a. esta corrigia os passivos permitindo que houvesse investimento em produtos com longos períodos de retorno, acima de uma década, como imóveis. A medida que a inflação subia os períodos em que esta era utilizada para a correção de prestações diminuíam do ano para o mês, e no fim do processo hiperinflacionário do mês para o dia.

    Como ó uso da correção monetária em contratos de financiamento de diversos produtos era legalmente impedido, o uso deste mecanismo era limitado, porém ao mesmo tempo em que não se utilizava a correção monetária o valor da inflação futura embutidos nos juros das prestações tornavam –se uma verdadeira loteria, pois projetar acima de seis meses a inflação futura se tornava impossível. Da mesma forma a correção de aluguéis também limitada por lei a períodos pré-determinados tornavam o mercado de locações um verdadeiro mico.

    Além dos problemas supracitados o principal mecanismo de acumulação do capital não era causado pela correção, mas sim pelos limites na atualização dos salários, primeiro anual, posteriormente semestral e trimestral para no fim se tornar mensal. Ou seja, o principal mecanismo de acumulação de capital era a inflação mesmo e não a correção monetária, pois salários não eram corrigidos por este índice, mas sim por negociações coletivas.

    E talvez esteja aí o motivo da degringolada dos governos militares e posteriores até o plano Real, plano este que na realidade fez uma introjeção do mecanismo desta numa moeda virtual, o URV (Unidade Real de Valor), enquanto deixava a moeda tradicional da época inflacionar. O plano Real foi uma reprodução incompleta do plano incrementado na Alemanha pré-Hitler pelo banqueiro Hjalmar Schacht que criou o chamado Rentenmark que possuía uma âncora cambial com o dólar enquanto o 4,2 Rentenmarks valiam 1 dólar o antigo Reichsmark continuava a flutuar. Vemos aqui que a dualidade de moedas serve também para um empobrecimento instantâneo da população, à medida que como a URV e o Rentenmark não eram utilizados para o pagamento de salários. É importante destacar que em 18 semanas de coexistência dos Cruzeiros Reais com a URV, uma URV valia CR$647,50 passou a valer CR$2.750,00, ou seja, durante este período os negócios estavam ancorados na URV (ancorado no Dólar) e os salários nos Cruzeiros Reais ancorado em coisa nenhuma além de uma correção que deu uma perda real de valor do dinheiro em torno de 12%.

    Em resumo, o fim da inflação, como num passe de mágica retirou parte dos valores dos salários e os transferiu para o capital, exatamente no mesmo tipo de manobra como a feita na Alemanha em 1923 pelo banqueiro Hjalmar Schacht. A grande jogada dos dois países foi à retirada do “imposto inflacionário”, dificuldade de sobreviver ao longo de um mês com uma inflação mensal de até 42% com uma perda desde que os assalariados absorvessem os 12% de perdas salariais.

    Conforme se vê em cada ajuste heterodoxo ou ortodoxo sempre há um lado que paga, e sempre o assalariado. A grande diferença é que tanto o plano alemão como o plano real (em menor percentagem) relançam a economia, e para quem não morreu de fome ou de outras desgraças durante o período, esquecem o passado e tocam a vida. Já o plano atual de contingenciamento de despesas públicas pode no limite permitir um controle da pequena inflação (em relação à hiperinflação, é claro) reduzindo-a em algo em torno de 5% a 8% e colocando-a numa meta de 4,5% a.a.. Porém o maior problema é que este plano diferentemente do plano alemão que posteriormente com outras invencionices que funcionaram, as contas Öffa e, uma em 1932 para de forma velada de ampliar a base monetária alemã e financiar obras públicas e posteriormente as contas Mefo em 1933, para financiar o rearmamento alemão, o atual plano de contigenciamento não tem nada.

    Conforme se vê no passado há somente uma forma de sair de uma crise no sistema capitalista, o achatamento salarial e o financiamento público de empresas privadas para reerguer a economia. A grande novidade é que o que é previsto no atual governo Temer é somente a primeira parte deixando para a mão “nada invisível do mercado” a segunda parte, e como a experiência internacional tem demonstrado, esta segunda parte nunca ocorre.

    O autor se embrulha todo na seguinte frase tendo dois grandes erros nas suas afirmações:

    “As empresas grandes, entretanto, foram todas autorizadas a inserir a tal “correção monetária”. Isto criava um fluxo de dinheiro de baixo para cima. O segundo problema era que o trabalhador recebia a “correção monetária” apenas uma vez por mês. Apenas no dia do pagamento. Após sacar o dinheiro, este não era mais corrigido (e os bancos não ofereciam serviços para reajuste dos valores nas contas, além do fato de o nível de bancarização do brasileiro ser muito baixo na época).”.

    Primeiro erro é que não foram todas as grandes empresas que receberam o direito de introduzir a correção monetária nos seus contratos de venda ao consumidor, por exemplo, a indústria automobilística, a indústria de eletrodomésticos e outras não tinha diretamente este privilégio. A maioria delas ou embutia um juro astronômico que nas duas primeiras parcelas pagavam o principal ou se serviam de bancos que faziam empréstimos aos clientes em curto prazo com correção monetária. A segunda grande imprecisão é que quaisquer bancos da época, mesmo as caixas econômicas estaduais, aplicavam qualquer valor no chamado “overnight” que recebia valores que eram frações do salário mínimo e tinham a correção diária dos valores aplicados.

    O próximo parágrafo também é coberto de erros, como relato a seguir:

    “Este tipo de movimento é muito difícil de ser percebido por economistas do mainstream. Aqueles que ficam em seus escritórios usando modelos e índices sem ver gente, sem ver comércio. Durante o período militar os índices de inflação do governo eram sempre manipulados. A situação foi tal que o DIEESE começou a fazer o contraponto para minorar o prejuízo real do trabalhador. Normalmente este tipo de movimento na economia real é captado por historiadores depois de ocorrido. Depois do dano, nós recuperamos o movimento.”

    A primeira frase é um primor de ingenuidade ou de desconhecimento, todos os economistas do “mainstream” sabiam exatamente o que estava ocorrendo, pois a inflação era o assunto do dia a dia de todos e motivo das mais diversas discussões acadêmicas e empresariais. Não se terminava com a inflação simplesmente porque se queria achar uma fórmula que quem perdesse fosse somente o operariado. Quanto a manipulação dos índices era um verdadeiro segredo de Polichinelo, os índices de custo de vida do Dieese, começam a ser calculados em Janeiro de 1959, ou seja, bem anterior a manipulação dos dados dos governos militares!

    Nem vou falar com detalhes aqui do erro nos custos do cartão de crédito, que estão em torno de 3% a 5% conforme o comerciante e não 17% como indica o artigo. Já a análise toda de como ocorre a apropriação de renda do pequeno comércio é quase que anedótica, mas não poderia ser de outra forma, pois através de uma pesquisa “intensiva” de cinco horas num centro de compras, realmente não se consegue grande coisa.

    Já os últimos dois parágrafos parecem ter saído de um trabalho de aluno de segundo grau, sem antes chamar a atenção que o nome Dilma é utilizado “en passant” no fim do texto para relembrar alguns que ainda acham que ela foi a grande responsável pela crise.

  8. Entrou com doxa!

    “Aqui quero entrar com o argumento do historiador”.

    Nos negócios coloniais e metropolitanos, a Coroa portuguesa exigia que aqueles que aconselhassem, nas Câmaras e nos Conselhos, fossem homens práticos. Estes eram escolarizados e formados segundo a lógica aristótelica, analisavam com preocisão e acerto.

    Fernando Horta não é um nem possui a outra. O artigo é testemuno de um pubescente, pois não possui experiência nem de negócio nem de consumidor. Ora, se um comerciante dá desconto de 20% a vista no cartão, é porque ganha bem mais do que os 3% citados.

    Ademais, se outro vendedor, que venderá quase tudo em cartão de crédito, e por isso não conseguiria pagar seus funcionários, é porque, provavelmente, não acumulou capital suficiente para ter capital de reserva. Ou seja, está num processo incipiente de acumalação de capital. A relação entre capital constante e capital variável deve ser também observada. A reforma trabalhista visa, justamente, baretear trabalho e potencializar acumulação.

    A formação segundo a história cultural e pós-moderna, não permite a Fernando Horta dominar com precissão sobre o que escreve.  Não diferenciar capital produtivo de capital comercial. Não entende de mais-valia, nem de taxa de lucro. Nunca teve, por certo, O Capital nas mãos.

    Seus argumentos não são de historiador, aliás – são -, mas da história cultural. Escreve a partir da doxa!

  9. Considero a experiência do

    Considero a experiência do autor na feira bastante ilustrativa.

    E o objetivo do golpe sempre foi esse mesmo: drenar toda a riqueza dos brasileiros para os bancos.

    Idiotas, imbecis, estúpidos e medíocres. É até difícil qualificar os asnos que acreditaram na Globo e pediam o “Fora Dilma”. Mas meu consolo é que estão sendo castigados por sua burrice impar. Tá todo mundo apavorado e é bem-feito.

  10. Considero a experiência do

    Considero a experiência do autor na feira bastante ilustrativa.

    E o objetivo do golpe sempre foi esse mesmo: drenar toda a riqueza dos brasileiros para os bancos.

    Idiotas, imbecis, estúpidos e medíocres. É até difícil qualificar os asnos que acreditaram na Globo e pediam o “Fora Dilma”. Mas meu consolo é que estão sendo castigados por sua burrice impar. Tá todo mundo apavorado e é bem-feito.

  11. Sem nostalgia

    Sera que vamos fazer marcha a ré por mais dez ou vinte anos? Esse artigo me fez voltar aos anos 80, quando meus pais diziam em casa que os brasileiros eram acrobatas por viver naquele caos econômico em que vivia o Pais. Mas é isto ai, “os pessoar”, a classe média que pensa que é elite vota em que tipo de partido mesmo… E ainda me dizem que sou “lunatica” (eufemismo para um monte de adjetivo) por acreditar em Lula e votar no PT.

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