Mitos tucanos (1): FHC é o pai do Bolsa Família?

Nota do Brasil Debate

Aécio Neves e o PSDB têm reivindicado a criação do Bolsa Família, que até pouco tempo atrás os tucanos chamavam de “Bolsa Esmola”, de esmola governamental e “assistencialismo simplista que não apresenta benefícios concretos”.  Aécio disse no debate da Band de 14/10 que, “se fizermos um raio-x do DNA do Bolsa Família, o pai será o presidente Fernando Henrique e a mãe, Ruth Cardoso”.

Ana Fonseca, que participou do processo que deu origem ao Bolsa Família, aponta (ver AQUI) que o programa se beneficia de diversas experiências anteriores, a partir do projeto de 1991 de Eduardo Suplicy: de programas de renda mínima criados em 1995 em Campinas e Ribeirão Preto, do programa Renda Mínima da prefeitura de São Paulo, do Renda Cidadã do Estado de São Paulo e do Bolsa Escola do governo federal dos tempos de FHC.

É evidente que o Bolsa Família não foi resultado exclusivo do programa do governo federal nos tempos de FHC, senão uma construção coletiva baseada em experiências até mesmo anteriores à criação do programa Bolsa Escola.

Além disso, há uma questão mais profunda envolvida, que diz respeito à visão das funções dos programas sociais. Por mais que a criação do Bolsa Família tenha se valido legalmente da fusão de diversos programas assistenciais já existentes na esfera federal, isso não quer dizer que o programa tenha DNA tucano. Se por um lado a política compartilha parte do DNA tucano, a partir da evolução, ela é hoje outro organismo.

No governo FHC, a política social era focalizada, o que significa que o apoio do Estado se concentra em indivíduos muito pobres. Os demais devem buscar no setor privado o atendimento de suas demandas.

Por uma decisão política, o DNA dos programas sociais foi transmutado nos governos Lula-Dilma, deixando sua raiz focalizada e ganhando caráter universalista. O que não prescinde, evidentemente, das políticas focalizadas.

O Bolsa família – que hoje atende cerca de dez vezes mais pessoas que a soma dos programas Bolsa Escola, Auxílio Gás, Bolsa Alimentação e Cartão Alimentação – é apenas parte (importante) de um conjunto de programas sociais, que fazem parte da nova visão do papel dessas políticas no desenvolvimento brasileiro.

Seu papel mais amplo se reflete na ampliação dos gastos sociais. Como pode ser visto no gráfico abaixo, a participação dos gastos federais em assistência social saltou de 3,2% da receita corrente líquida em 2002, para 9,2% em 2012.

O novo organismo que existe hoje tem muito pouco em comum com seu ancestral. Comparar os dois é mais ou menos como comparar humanos e chimpanzés: possuímos mais de 90% da carga genética idêntica, com características e capacidades muito diferentes entre si. Ou não?

Portanto, não foi somente a escala que mudou, mas a essência das políticas. Reivindicar a paternidade do Bolsa Família é uma falsa questão, pois o sucesso das políticas sociais nos governos Lula-Dilma decorre de uma visão mais ampla das políticas sociais.

À parte o caráter contraditório e eleitoreiro, tal estratégia faz parte da tentativa dos tucanos de “adequar” a imagem do partido aos tempos de eleições, sem levar em conta as reais diferenças existentes na visão de política social dos dois programas em disputa.

grafico evolução das despesas federais

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Redação

36 Comentários

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  1. De criança bonita todo mundo

    De criança bonita todo mundo quer ser pai. Até o Cristóvam Buarque já reinvidicou a paternidade do Bolsa Famíla. Logo vai ter gente afirmando ser pai do Enem, só que do Enem inicial só persiste o nome, na essência, hoje, esse exame se transformou no maior avanço da educação do Brasil nos últimos 100 anos, mesmo que, para implantá-lo, Fernando Haddad tenha tido que enfrentar oposição predatória e até sabotagem. 

  2. Só quem não viveu naqueles

    Só quem não viveu naqueles tempos acredita no que esse pessoal demotucano fala; estudar na epoca deles não tinha incentivo nenhum, trabalho?  nem pra remedio, e se voce trabalhasse? o salario ó!!, a inflação voltou comendo solta, a crise era geral; sinceramente se não fosse a batalha dos meios de comunicação junto com outros que tais para eleger o candidato deles, o povo não tinha nem que pensar muito para escolher, tanto na competencia administrativa como nas qualificações pessoais.

  3. FHC pai dos filhos dele, ponto.

    Nassif,

    FHC é o pai do Bolsa Família, tanto quanto foi pai do Real rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs

    FHC, além dos tres filhos com a sua falecida mulher, também é pai do Tomás, filho que teve com a jornalista Miriam Dutra.

    Os tres filhos de Ruth Cardoso,de olho na herança polpuda, já estão esperando Tomás com garfo e faca nas mãos. 

     

    1. Hehe, o DNA acaba provando que não foi pai …

      Nem do Bolsa Família de Lula, nem do Plano Real de Itamar, nem do filho da jornalista.

      Aliás, FHC um pouco antes assumiu, iludido, a paternidade legal do Tomás (?).

      Os outros, sabemos que são os pais (Itamar e Lula);

      Resta saber quem é o pai do garoto…

      Afinal ele tem direito de saber.

      E de não viver envergonhado…

    2. FHC é tão pai do Bolsa-Família quanto é pai do Tomás!

      De fato, esta é melhor descrição: FHC é tão pai do Bolsa-Família quanto é pai do Tomás. Que, como é público e notório, não é seu filho, tendo sido enganado ao longo de 18 anos de vida. Coisas que um simples exame de DNA pode resolver e resolveu, após a morte de Ruth e a exigência dos filhos, na divisão da herança. Os tucanos erram de qualquer forma e em tudo que fazem, até quando erram.    

    3. Alfredo, o filho de Miriam

      Alfredo, o filho de Miriam Dutra, segundo exames de DNA, não é dele.

      Isso é matéria vencida.

       

      Resumo: o bolsa-família não é do PT, mas não é dele;

      o Plano Real é do Itamar e nada tem do fhc;

      o filho da Miriam é da Miriam e não tem nada de fhc. Só serviu para ele confessar infidelidade matrimonial.

      1. DNA

        Luiz,

        Eu tenho conhecimento da história do exame de DNA.

         

        Não tenho certeza quanto a ser matéria vencida, mas tenho certeza quanto ao empenho dos filhos em rifar o Tomás por causa da $$$$.

  4. Um depoimento excepcional – a gênese do bolsa família

    Este depoimento -link abaixo- de alguém (com a devida declinação do nome sobrenome cargo – dados e estatísticas) que por mais de 13 anos acompanha os programas de transferência de renda, em relação ao bolsa família – tem um caráter tão excepcional que justifica, por si, todo o apoio e investimento que foram feitos por este governo Dilma -Lula, para diminuição da desigualdade social neste nosso país.

    A forma como ela – Luciana Oliveira – que se tornou especialista neste campo, narra e explicita a evolução e implantação do programa, bem como o atual reconhecimento mundial (inclusive pela ONU) é simples e direta.

    DIVERSOS PAÍSES mandam representantes para o Brasil para aprenderem e buscarem dados para tornar este programa realidade também em seus países – mostra que isso foi muito mais que um experimento econômico exitoso, mas sim a realização de promessas de um país mais solidário e que se espera com cada vez mais responsabilidade social e cidadania.

    PARABENS Luciana Oliveira…

    PARABENS para todos que tornaram possível a implementação deste programa.

    Este é um presente que justifica a atuação politica – e deveria – deve – interessar as pessoas – para que todos – sem exceção – dediquem um pouco mais de tempo “a politica” pois isto muda a realidade, isto muda o mundo – vejam a narrativa e descubram a história acontecendo a cada passo…http://paulomoreiraleite.com/2014/10/19/que-pai-aparece-de-4-em-4-anos-epoca-das-eleicoes/

  5. Caro Nassif e demais
    Os

    Caro Nassif e demais

    Os tucanos criam a pobreza e se dizem pais do Bolsa Família.

    É como algumas pessoas que conheço, apoiam governos reacionários, e em nome da humanidade, vivem fazendo almoços beneficientes.É Lions daqui, Maçons acolá, Rotary aquém, Opus idem……..

    Quantos anos já não se fazem mais “apoio humanitários” aos nordestinos pela seca?!

    São esses mesmo que apoiam Aécio.

    Saudações

  6. FHC só é pai de filho bonito,

    FHC só é pai de filho bonito, até quando não é dele! O DNA do filho da reporter deu negativo para FHC. Ele não é tucano é um Cuco: A fêmea do cuco, que é um animal ovíparo (todas as aves são), põe seu ovo no ninho de outro passarinho, e para isso ela tira um dos ovos do ninho e come, e no lugar põe o seu ovo. As vezes, quando o ninho é muito vigiado, aproveita o menor descuido e lança seu ovo de uma certa distância.

    O objetivo disso é que outra família de passarinhos crie seu filhote. http://www.ninha.bio.br/biologia/cuco.html

  7. 1) A Presidenta Dilma deveria
    1) A Presidenta Dilma deveria ter falado da plataforma que afundou no período fhc, quando o governo não investia na Petrobras, ao contrário do período Lula-Dilma, em que foi justamente a volta do investimento maciço que permitiu a descoberta do pré-sal. Tem que falar isso na campanha! (Se o tse não impedir…)2) Outra coisa: tem que dizer maciçamente que o partido mais corrupto do Brasil é o PSDB (pelo número de fichas sujas, dados do TSE publicados pela Folha, pela Folha!). E neste ranking, o PT está num honroso 8o lugar (mesmo sendo o 1o ou 2o maior partido em número de políticos).3) Um terceiro ponto, muito bem colocado pela responsável pelo Bolsa Família no governo: quando o “Ah-é-sim” diz que o fhc é o verdadeiro pai da bolsa família, tem o DNA dele ali (acho que ele não deveria falar em corda em casa de enforcado, mas…), ela muito bem lembrou que Pai é quem cuida! Excelente resposta, pois pai não é para aparecer só de 4 em 4 anos e, durante o tempo todo chamar o “filho” de bolsa esmola!

  8. Assisti a um desses debates a

    Assisti a um desses debates a partir do site do LN e um dos seus comentários foi que o ACM tentou unificar os programas, tendo sido a ideia rechaçada pelo FHC. O Nassif até salientou que escrevera à época sobre o assunto…

    Qual foi a alegação mesmo, Luis Nassif?

  9. Outra lenda, ou lorota, é a

    Outra lenda, ou lorota, é a história do Plano Real.

    No momento da entrada em vigor (30/06/1994) o Presidente era Itamar Franco e o Ministro da Fazenda  era Rubens Ricupero (sucedido por Ciro Gomes em setembro seguinte).

    Quem desenvolveu o plano fora, Persio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho e Winston Fritsch.

    Quem, até hoje, curte a fama são fhc e PSDB.

  10. O grande erro do governo Lula

    O grande erro do governo Lula foi fazer um pacto de civilidade para tocar o 1º governo .

    Ainda acho que este pacto foi extremamente danoso para o nosso País, este safado deveria responder criminalmente por vários crimes de lesa-pátria e hoje não aturaríamos uma horda de feascistas violentos em grandes cidades do nosso Brasil .

    Todos os países latinos-americanos puseram seus ex-presidentes criminosos atrás das grades, mas infelizmente aqui no Brasil este maldito é agraciado como uma grande figura da república .

    UM NOJO !!!!!

    1. Engaano seu.
      O primeiro

      Engaano seu.

      O primeiro governo Lula foi uma composição de forças e de competências. Lula escalou o que tinha de melhor ao seu alcance: Marina na ecologia, Gilberto Gil na cultura, Furlan no desenvolvimento, Rodrigues na agricultura, Cristóvan na educação, e etc. Mas,  pela enorme obra que começaram a edificar, a ganância pelo poder cegou aos envolvidos.

      A complacência do Lula e seu governo, o Lulinha paz e amor, começou a construir um país melhor e foi imposta pela carta de intenções de 2002. O respeito por ele dedicado ao antecessor e às instituições foram obrigações de aceitas e combinadas nasua eleição. Com o sucesso, ele se desgarrou do altruísmo cívico e começou a navegar na prepotência inebriante do sucesso. Fez até de um poste o seu sucessor. Mas o tempo passa e a verdade tarda mas não falta. E como disse Sandra Cavalcante: “O poder sem humildade não se sustenta”.

      Salvo algum cambalacho nas urnas eletrônicas, a era PT será página virada na nossa história, pois pela prepotência do poder e pela falta de planejamento altruísta e cívico as instituições cobrarão dos erráticos os enormes desvios que provocaram. A mudança urge, pelo bem da democracia.

  11. Oi Nassif, vendo esse atigo e

    Oi Nassif, vendo esse atigo e me lembrando de uma referência que vc fez a Franklin D. Roosevelt, encontrei essa pérola de 1936, um discurso de campanha sobre as cobranças e discordâncias de plano dos Republicanos:

    https://www.youtube.com/watch?v=kRZUaW0HwCM

     

    Fiz minha traduçãozinha tosca: “Deixe-me alertá-los e à nação, contra o devaneio suave que diz:

    ‘ claro que acreditamos nessas coisas, acreditamos na segurança social, acreditamos em trabalho para o desempregado, acreditamos em segurança habitacional, …, nós acreditamos em tudo isso; mas não gostamos do modo que a presente administração o faz. Basta transferí-los à nós (risos e aplausos) ‘.

    Nós os faremos todos, faremos ainda mais, os faremos ainda melhor e, mais importante de tudo, a sua realização não custará nada a ninguém. “

    (se alguém quiser a transcrição original: http://www.dailykos.com/story/2012/10/14/1144579/-FDR-Let-Me-Warn-You-About-the-GOP)

    Por outro lado, a turma anda “a milhão” com a possibilidade de uma “tomada comunista” onde todos que ousem discutir certos aspectos positivos da política desse governo fazem parte da esquerda-caviar, acho que vou atiçar ainda mais a ira deste grupo:

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1408200119.htm

  12. Teoria da Conspiração!
    Quem

    Teoria da Conspiração!

    Quem entrou no lugar de Ricupero no caso do escandalo da Parabólica?

    FHC!

    Ora senhores, a conversa “informal” entre o Ministro Ricupero e o jornalista Carlos Monforte (REDE GLOBO) vazou TODINHA causando forte constrangimento ao Sr. Ricupero…

    Será que não foi armação???

  13. O pai originalmente é Cristovão Buarque

    Não foi feita nenhuma mensão do verdadeiro pai do Bolsa-escola, CRISTOVAM BUARQUE. Que hoje é Senador pelo PDT, mas na epoca era Governador do Distrito Federal de 1995 a 1998.

  14. Ser pai as vezes é o de menos

    O importante, SEMPRE, é quem cuidou da criação, do crescimento, amadurecimento, tornou adulto, bem sucedido.

    O resto é conversa fiada.

    Como trololó, nhém, nhém, nhém de tucano!

  15. Minha resposta ao Aécio Neves

    RESPOSTA A AÉCIO NEVES

    Não se mata a sede sem água

    Não se mata a fome sem comida

    Não se mata a tristeza sem esperança

    Não se mata o desejo sem amor

     

    De fome, de sede e tristeza vocês ultrajaram nossa história

    De fome, de sede e tristeza vocês dizimaram nosso povo

    De fome, de sede e tristeza vocês construíram suas fortunas

    De fome, de sede e tristeza vocês alimentam suas vidas.

     

    No lugar da esperança vocês plantam o desespero

    No lugar do amor vocês plantam o ódio

    A tantos desejos incontidos vocês respondem com a fome

    A tanta sede de tudo vocês negam água e vida.

     

    Mas o nosso povo não quer mais a tua história

    Ao teu ódio responderemos com o nosso amor

    À tua sede de fortuna, responderemos com a nossa sede de vida

    E às tristezas que semeias responderemos com a nossa esperança.

  16. O PT sempre foi contra

    O PT sempre foi contra programas sociais, o video do Lula criticando programas sociais abaixo..

    O grande projeto do governo petista para redução da miséria era o fome zero que foi um fracasso.

    Tanto que não consta no programa de governo do PT o bolsa familia, apenas o programa fome zero.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=khrWYPd3hRQ%5D

     

     

     

  17. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!!! FHC é pai de quem?u

    Esse que quebrou o Brasil por 3 vezes,

    chamou os professores de incompetentes,

    comprou uma reeleição,

    comprou uma fazenda em sumpaulo,

    deixou uma inflação galopante,

    disse que não sabia do Apagão de 2 anos,

    e ainda reconheceu um filho de uma amante que ele mandou para a Espanha, paga pela rede Gloeebels, era de um urso (como se fala em Pernambuco),

    NUNCA IRIA FAZER UM PROGRAMA SOCIAL PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA.

    Demotucanos são aquilo que o gato cheira e enterra, como aécio cheira um talquinho e aspira.

     

    1. é pai do filho

      fhc é pai do filho da jornalista da globo, que foi viver na espanha às custas da privataria tucana. Com 18 anos, fhc reconhece o filho. Depois, um exame dna mostra que o “garoto” não era filho do fhc. Até golpe de barriga de aluguel o grão-bicudo, que deve estar esclerosado, levou.

  18. Maria Antonieta é a mãe!

    Maria Antonieta é a mãe do bolsa-família. Deixou os brioches para o povo.

    fhc, que é superlaivo de phd, disse que professor é frustrado pois não é pesquisador, disse que aposentado é vagabundo (ele se aposentou com 39 anos), disse que brasileiro é caipira.

    A conclusão a que chego é que fhc é da elite paulistana, do grupo de 32…

  19. KKKK, essa do Aécio é boa.

    KKKK, essa do Aécio é boa. Acho que nem ele percebeu a piada: “se fizermos um raio-x do DNA do Bolsa Família, o pai será o presidente Fernando Henrique e a mãe, Ruth Cardoso”. Com o FHC nunca é bom fazer teste de paternidade. Vai lá saber o que aparece…. 

  20. Origem é Banco Mundial

    A bolsa e a vida

    Já é tempo de avançar além da receita do Banco Mundial, rumo à qualificação dos direitos sociais

    Conceitualmente, O Bolsa Família não nasceu com Lula, nem com FHC, mas no laboratório político do Banco Mundial. O “objetivo abrangente” de redução da pobreza, proclamado em 1991 por Lewis Preston, presidente do banco, seria alcançado por meio de políticas focadas de transferência de renda. Era uma resposta estratégica ao pensamento de esquerda, concentrado em reformas sociais, e um programa de ação para o ciclo aberto pela queda do Muro de Berlim. FHC a adotou sem o entusiasmo dos conservadores, encarando-a como um emplastro civilizatório que não substituiria iniciativas fortes do Estado nas esferas da educação e da saúde. Lula não só a abraçou como serviu-se dela para ancorar eleitoralmente seu sistema de poder.

    Quando Lula fulminou o Bolsa Escola com o epíteto de “bolsa esmola”, operava no registro tradicional do pensamento de esquerda. Na hora da chegada ao poder, sob a inspiração de José Graziano da Silva, perseverou naquele registro e lançou o Fome Zero, que não era um programa de transferência de renda. Graziano analisara de modo realista os rumos da formação do complexo capitalista do agronegócio, em duas obras significativas, publicadas na década de 1980, mas sonhava com o florescimento de uma agricultura familiar autônoma. No esquema do Fome Zero, sob o amparo estatal, pequenos produtores locais forneceriam os alimentos para a mesa dos pobres. O Bolsa Família surgiu dos escombros do Fome Zero.

    O experimento utópico do Fome Zero nem decolou. No início, seus escassos críticos sofreram o bombardeio ideológico de acadêmicos de esquerda encantados com o lulismo. Contudo, depois de 388 dias de inércia, Lula demitiu Graziano do Ministério Extraordinário e promoveu o giro pragmático que conduziria à unificação dos programas de transferência de renda de FHC (a “bolsa esmola”) no Bolsa Família. Naquele momento, cessaram as resistências de esquerda à estratégia conservadora de combate à pobreza e, no lugar delas, emergiu o coro dos contentes, a proclamar a aurora de uma nova era.

    Lula descobriu uma virtude político-eleitoral da expansão das transferências diretas de renda: o impulso ao consumo popular (de material de construção, eletrodomésticos e celulares) propiciava-lhe a chance de congelar a agenda de reformas na educação e na saúde públicas. O Bolsa Família tornou-se o núcleo de um conjunto de políticas focadas que abrangem, notadamente, o crédito consignado e as bolsas do ProUni. Nas eleições, o espectro da supressão dos benefícios monetários passaria a figurar como linha de ataque permanente do PT contra qualquer adversário. Simplificado ao extremo, o tema tão decisivo do combate à pobreza convertia-se em monopólio de um partido.

    Os tucanos sentiram o golpe, girando em círculos à procura de uma resposta. Desorientados, chegaram a ensaiar, nos piores momentos, a reprodução da primitiva réplica original de Lula. O prumo começou a ser reencontrado por Aécio Neves, que anunciou o compromisso de entalhar o programa na pedra da lei, fazendo-o “política de Estado, não de governo”. Transferir o Bolsa Família do campo minado da disputa partidária para o das políticas públicas nacionais será um passo adiante, do ponto de vista da disputa eleitoral democrática. Mas, do ponto de vista conceitual, ainda estaríamos atrás do patamar atingido no governo FHC.

    “Vemos as filhas do Bolsa Família transformarem-se nas mães do Bolsa Família”, alertou Eduardo Campos meses antes de sua morte trágica, para indagar: “Queremos vê-las transformando-se em avós do Bolsa Família?”. O círculo da pobreza e da dependência não pode atravessar gerações, sob pena de darmos razão ao Lula ancestral que clamava contra o “bolsa esmola”. Já é tempo de avançar além da receita do Banco Mundial, rumo à qualificação dos direitos sociais universais. A bolsa não é a vida.

    Fonte: Folha de S. Paulo

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