Os debates televisivos sofrem com a interferência da pauta midiática

 

O oligopólio midiático, sobretudo a televisão, influi decisivamente na construção da agenda pública. Valores, ideias, vozes e temas privilegiados pelo noticiário permitem enquadrar o que merece ser debatido na sociedade. Obscurece tantos outros assuntos, ideias e vozes, tornados invisíveis e desimportantes. Outros tantos demonizados. O oligopólio midiático revela também forte incidência na definição dos programas político-eleitorais dos partidos. Questões como a receptividade e a baixa capacidade de gerar controvérsia, frente aos meios massivos de comunicação, entram na mesa da escolha dos temas a serem abordados por muitos candidatos. Comumente, incidem na própria escolha dos candidatos pelos partidos políticos. Como bem frisa o sociólogo Pierre Bourdieu, a preocupação em “passar bem na TV”, em buscar alguém que se “adapte melhor ao formato televisivo”, constituem critérios levados em conta pelos partidos na escolha dos seus candidatos.

Às vezes, as coisas ganham proporções muito grandes, como foi a interferência do oligopólio na opção do PSB por Marina Silva, após a trágica morte de Eduardo Campos. Uma pressão midiática que não pretendia dar espaço à reflexão política interna ao próprio partido. Mas, os debates televisivos que têm ocorrido nessa e na anterior campanha eleitoral à Presidência (2010), têm mostrado um grau de ingerência do oligopólio sobre as eleições, que reserva escassa possibilidade de liberdade e reflexão autônoma para os candidatos. Refiro-me às perguntas feitas por jornalistas. O apriorismo na formulação das perguntas aos candidatos tem sido a tônica, desde 2010. É o que se pode afirmar já realizado o segundo debate ocorrido na atual corrida eleitoral.

Em 2010, um tema ganhou demasiada importância nas indagações feitas nos debates promovidos pelas Redes Globo e Band de Televisão, aos candidatos à Presidência: a “liberdade de imprensa”. Reticentes com iniciativas tomadas em alguns países da América do Sul, assim como em relação a debates sobre a regulamentação da mídia ocorridos nas esferas do governo federal (mesmo que tímidos e cujo Plano Nacional de Diretos Humanos 3 gerou um griteiro), os dois canais de televisão não perguntavam. Afirmavam abertamente as suas posições contrárias. Preocupações, em verdade, com a liberdade de empresa suscitaram expressivas pressões aos candidatos naqueles debates, especialmente sobre Dilma Rousseff (PT).

Agora em 2014 não tem sido diferente. No debate ocorrido na Band, um jornalista indagava à candidata Luciana Genro (PSOL), ao mesmo tempo em que encerrava os termos da pergunta à sua avaliação a priori: “As manifestações do ano passado reclamavam por segurança pública”. Como de notório cohecimento, as manifestações estiveram longe de provilegiar o referido tema. Demais questões feitas aos opositores de Dilma, em regra, tendiam a operar com críticas contundentes ao governo federal. Há pouco, no debate promovido pelo SBT, uma pergunta demarcou explicitamente a crítica do jornalista à candidata Genro: “A sra. não acha que possui um programa ‘populista’?”.

O mais grave é a construção de um ambiente que gera, de um lado, acolhimento a alguns candidatos – notadamente os que se orientam pela agenda política e econômica midiática – e, de outro, saliente desconforto aos demais, que procuram encaminhar as suas pautas, em graus diversos de discordância daquilo que é privilegiado pela grande mídia. Não gratuitamente, candidatos/as como Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) questionam os seus adversários e tecem as suas considerações à vontade, pois se encontram em terreno e com linguagem familiares. Marina, então, opera com uma retórica acentuadamente contraditória, mas alguns temas que privilegia lhe dão notável segurança. São precisamente os temas e os enfoques das editorias de política e economia dos jornais da grande imprensa. A moça está se sentindo “em casa”.

Adicionando-se a exclusão de algumas candidaturas de esquerda dos debates – Mauro Iasi (PCB), Zé Maria (PSTU) e Rui Costa (PCO) –, os procedimentos em questão adotados pelos canais de televisão pouco têm de democráticos. A interferência direta na condução do debate, já não bastasse no curso do processo eleitoral, é a marca. O papel desejado da mediação do debate, para que a população realmente conheça a opinião das candidaturas, esse papel é descartado pelo oligopólio midiático.  

Roberto Bitencourt da Silva
Doutor em História (UFF), mestre em Ciência Política (UFRJ) e prof. da FAETERJ-RIO/FAETEC  e da SME/RIO.

Redação

9 Comentários

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  1. Os debates deveriam ser

    Os debates deveriam ser organizados pela Justiça Eleitoral, em locais públicos (universidades, teatros municipais, anfiteatros, praças e parques, etc.), com transmissão por todos os veículos de mídia que desejarem e com ampla participação na formulação das perguntas. Já chega desse protagonismo do cartel midiático na condução das eleições, dessa democracia sob tutela.

     

  2. Perfeito.

    Roberto Bitencourt matou a pau.

    Expressou de forma clara algo que percebi nos dois debates.

    A interferência da pauta midiática tem sido tão forte que as interpelaçoes dos candidatos à presidente Dilma, que parece, a quem acompanha diariamente o noticiário, simples reedição das recentes manchetes da mídia.

    O “escândalo” da compra da refinaria de Pasadena  – apenas como um exemplo – foi explorado pela candidata Marina sem o menor pudor no debate de hoje no SBT.

    E vê-la repetindo, tal qual Aecio, que a Petrobras sofreu uma desvalorização na gestão petista, torna-se revoltante, por saber que é mera repetição da desinformação patrocinada pelo partido-mídia-oposição.

    Dá nos nervos…

    Petrobras:

    O maior lucro líquido no segundo trimestre de 2014 entre as empresas brasileiras de capital aberto. Foi um lucro consolidado dos meses de abril, maio e junho de 2014 de R$ 5 bilhões.

    Seu valor de mercado é de R$ 262,9 bilhões.

    A Petrobras alcançou a produção de 2 milhões de barris, dos quais 500 mil oriundos do pré-sal.

    1. Em tempo…

      De uma coisa me convenci frequentando este espaço por alguns anos.

      É preciso melhorar tudo no Brasil; saúde, educação, sistema tributário, sistema judiciário, sistema político, transportes, segurança, etc

      A reforma mais urgente, porém é na mídia. É um setor atrasado e um fator de atraso ao país.

       

      1. Concordo discordando.

        Melhor dizendo, só não concordo com a última afirmativa, pois, para mim, o judiciário está no centro das mudanças. Inclusive da midiática, já que permitiria resposabilizar os meios de comunicação pelas inverdades propagadas como verdades inquestionáveis, fora outras demandas da sociedade.

         

  3. Debate político? Pauta midiática?

    É a Petrobrás o “Debate”  – o regime de partilha que a oposicao nao engole porque desenvolverá o país. A Dilma precisa sair da zona de conforto ! O assunto “Passadena” foi mencionado, nao foi? Era chance da Dilma “escancarar” a importancia da Petrobrás e a verdade sobre o petróleo do pré-sal que está sendo escondida do povo. Querem dar em regime de concessao e tirar o povo da jogada. Eis o “foco”, o que realmente está em jogo para o destino do país. 

    Acho difpicil, do jeito que a Dilma tem se comportado,  reverter o quadro de desinformação do povo. Nem ela nem o Lula fizeram a lei para regular as comunicações, então, já era esperado que o povo estivesse de cabeça feita contra o governo. Números agora não bastam..

    O prejuízo da desinformação, da desconstrução do governo feita há anos e diariamente, acho praticamente irreversível. 

    E é por essa absoluta falta de informação que, de novo, o Brasil, o povo, vai morrer na praia sem nem saber da onde veio o tiro. A internet nao está conseguindo fazer o jovem entender. Eles sao só rebeldes e pagarao caro por isso.

    Com Vargas foi assim. Já naquela época era a Petrobras o motivo de todo o conflito, pois era o petróleo que ia possibilitar desenvolver o país.  Mas a oposição, assim como hoje,  cumpria as ordens dos Eua para que isso não acontecesse, para que o povo não se beneficiasse da sua maior riqueza. O jovem nao entende isso, É alienado.
    Esse é o ponto nevrálgico dessa eleição – A IMPORTANCIA DA PETROBRÁS PARA O SUCESSO DO POVO E DO PAÍS.   Mas o povo não sabe disso nem tem noção da importância da Petrobras no seu destino e desenvolvimento.

    A Dilma não vai abrir o jogo falando com todas as letras que esta eleição, de novo, é SOBRE A PETROBRAS, SOBRE A NOSSA INDEPENDENCIA ADVINDA DO PETRÓLEO DO PRÉ-SAL e que QUEM FOR CONTRA A PETROBRAS ESTÁ INDO CONTRA O PAÍS, CONTRA O SEU POVO. É isto que não ficou claro até agora na sua campanha.

    A Dilma está se comportando como “Gerente” do governo e não como Presidente.
    A defesa da Petrobrás não é para ‘gerente”, tem que ser “política”.

    QUANDO É QUE A DILMA VAI FAZER A DEFESA POLÍTICA DA PETROBRÁS COMO PRESIDENTA?

    QUANDO É QUE O POVO VAI SABER DA REAL IMPORTANCIA DA PETROBRÁS NO SEU DESTINO???

    Se a Dilma não sair da zona de conforto, ela perderá as eleições e o povo deixará de usufruir de todos os benefícios da sua maior riqueza que é o petróleo. OPOVO NAO SABE DISSO. A CULPA TAMBÉM É DE QUEM SABE MAS NAO FALA.

    Os jovens quererem Marina? Chorarao lÁgrimas de sangue de saudades dos governos Lula e Dilma. Será tarde.

    Eles querem Marina, nao é isso? A terao e se lamentarao amargamente pela sua escolha. Aí, quando a desgraça do governo Marina chegar, irao para as ruas protestar, aliás, de “protesto” eles entendem, nao é mesmo? Nao resolverá nada. As privatizaçoes, desemprego e inflaçao seguirá o seu cruso, marca da política economica já anunciada pela oposicao. Os jovens estap pedindo para sofrer o que os mais velhos já sofrerao. Deixe-os sofrer para aprender.

    A internet tem as informaçoes que eles deveriam confrontar,mas nao, eles insistem em ir contra tudo sem “raciocinar” os fatos, querem ser só rebeldes e acabam por engrossar as fileiras dos “analfabetos políticos” de sempre.

    Eu estudei em Universidade pública. Eles vao perder esse direito. Tiraram deles mauito mais do que eles pensam. Acredito também que os jovens conhecerao o que é “confisco”. Eles merecem  aprender mais isso.

    Pobres jovens… Conhecerao um país de cabeca para baixo..

    Naçao rica com povo “analfabeto político” escolhebdo o seu futuro está fadado ao fracassso. Será sempre colonia.

    Pobre jovem !

     

       

  4. A mae de todas as reformas

    … é a judiciaria. Com uma justiça célere, que realmente julgue, salomonicamente, muitos desmandos que hoje ocorrem pela certeza da impunidade, nao aconteceriam.

  5. Por ser presidenta da

    Por ser presidenta da República, Dilma Rousseff deveria ser desobrigada de comparecer aos debates, cabendom isto sim aos demais postulantes do cargo, que assim apresentariam de maneira mais consistente as suas propostas. Em contraposição, a Justiça Eleitoral abriria um espaço à parte para que a presidenta pudesse responder aos pssíveis ataques, havendo aí o legítimo contraditório

  6. se o cargo é eletivo, as

    se o cargo é eletivo, as perguntas não deveriam ser feitas por leitores comuns 

    e não por velhas raposas do partido da imprensa golpista?

    esses debates viram uma chatice e um temeroso refrão repetitivo do que é possivelmente inventado pelos perguntadores dias ou semanans  antes. 

    os candidatos já vão com a resposta pronta.

    a maioria dos perguntadores só pergunta o que o patrão quer.

    porque mantêm o emprego dizendo tudo o que ele quer.

    simples.

    e o país pode afundar junto com suas tramóias.

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