Carl Jung e Monteiro Lobato – A busca da criança esquecida

Por tvmard

Em busca da criança interior

Carl Gustav Jung foi um psiquiatra suíço e Monteiro Lobato um escritor brasileiro. O que eles tem em comum? A busca da criança interior.

 *** A depressão de Carl Jung

Teve uma época em que Jung andava muito depressivo e procurou referência de identidade na própria infância. Ele escreveu: “Os anos em que estive possuído por minhas imagens profundas, foram os mais importantes de minha vida – neles tudo de essencial foi decidido.”

 *** Monteiro Lobato e as desilusões profissionais

Monteiro Lobato teve várias crises, sempre que falia em algum negócio, e também teve que usar o recurso psicológico de Carl Jung. Só resolveu seu problema de criatividade quando abraçou as lembranças da infância e se dedicou aos contos infantis.

 *** Jung brincando com pedrinhas

As vezes Jung sentava em algum lugar e ficava pensativo, sem entusiasmo, sem rumo, chegando a apresentar um quadro de transtorno mental. Para fazer frente ao tumulto interior, começou a brincar com pedras à margem do lago de sua casa em Küsnacht, exatamente como fazia quando era criança. Ele disse que se sentiu convidado pela criança interna para realizar essa atividade. Construía com as pedras casinhas e chegou a montar uma cidadezinha em miniatura. Manteve essa atividade pelo resto de sua vida. 

Quando passo no Campo de Santana, no Rio de Janeiro, olho várias pessoas sentadas nos bancos. Algumas podem estar apenas descansando do almoço ou esperando algum horário marcado, porém a maioria está feito Carl Jung. Talvez pensando assim: afinal o que é a vida? Todos nós temos esses momentos de crise.

 *** Jung busca a identidade na criança

Naquela época ele lembrou muito dos tempos de criança, de si mesmo e das brincadeiras que fazia montando construções. Nas horas vagas, passou a sair para escolher e catar as pedrinhas, depois ficava montando suas construções. 

Mas ele conta que aquela busca da criança interior foi muito importante para crescer psiquicamente, mudar, retomar a maturidade com mais consciência e manter um equilíbrio psicológico. A solução que ele encontrou foi resgatar a identidade da criança e mantê-la por perto exercitando-se na pintura e nas construções com pedrinhas.

*** Monteiro Lobato volta a ser criança

São vários os casos de grandes nomes da ciência e da arte que buscam na criança interior o refúgio da tensão exterior. Monteiro Lobato, depois de várias tentativas na literatura, sempre falindo nos negócios, desesperançado e derrotado, buscou a criança interna e começou escrever com a jovialidade de um menino. Lembrava das brincadeiras de criança, dos amiguinhos, e bordava aquelas aventuras com lendas brasileiras e ingredientes da história.  O resultado foi uma obra literária incrível, alegre, profunda e que brotou de um folguedo com sua criança interna.

 

Redação

9 Comentários

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    1. Não vejo problemas em Lobato.

      Não vejo problemas em Lobato. Aprendi a ler com ele. Aprendi a adorar leitura com ele. A obra do Sítio é maravilhosa, assim como Urupês, Negrinha e Cidades Mortas. Pena hoje não o conhecerem. Paciência, o que é bom sempre foi (e parece que sempre será) para poucos.

      1. Jung e Monteiro Lobato

        Não existe problema nenhum em Monteiro Lobato, existe é solução na leitura dos seus livros. Quis dizer que tanto ele quanto Jung  buscaram alegrias e atividades antigas dentro deles mesmo e essas alegrias foram grandes soluções que eles não esperavam. Monteiro Lobato teve vários fracassos literários, até descobrir os contos infantis.. Mas também tanto Jung quanto Monteiro Lobato pintavam. Jung as suas mandalas. Monteiro Lobato pintava aquarelas retratando paisagens, e muito boas…

    1. Monteiro Lobato

      Olá, Pedro Rubim…

      Agradeço o elogio…

      Visitei o Almanaque Urupes e fiquei muito feliz de ver o trabalho sério e bem feito do site. Ficou ótima a reprodução do meu artigo sobre Monteiro Lobato. Agradeço muito… Obrigado…

       

      Abraços…

       

      Marco Aurélio Dias Mard

  1. Ué?!?!?  Onde foram parar as

    Ué?!?!?  Onde foram parar as teorias de “racista”, “eugenia”, etc.. que tanto gostam aqui no blog sobre Monteiro Lobato?

    Estou decepcionado!

    1. SOBRE MONTEIRO LOBATO

      Olá, Zanchetta, Monteiro Lobato não era racista, mas ele achava que a miscigenação seria uma praga no desempenho social do Brasil. Não estava com o pensamento formado. Mas nos contos infantis ele se retratou e miscigenou sua obra literária infantil (que, podemos dizer, seria o seu pensamento amadurecido) com o Saci, personagem folclórico da cultura indígena já miscigenado com a fama dos quilombolas. Couto de Magalhães confirma essa miscigenação do Saci indígena com a cultura africana. A etnia tem uma força superior ao que possamos querer dentro de um idealismo social. A etnia se impõe e grupos se atraem por imposição da adaptação ao meio. Sabemos que a atração que os portugueses tinham pelas negras, falo no período pós-escravidão, era uma imposição da natureza para miscigenar e obter uma adaptação maior ao clima tropical do Brasil, e não simplesmente o que poderíamos chamar de tara sexual. E a miscigenação continua por esse imperativo biológico, miscigenar e adaptar. Os próprios neandertais se perpetuaram em nossos genes pela miscigenação com os hommo sapiens. Miscigenação não é questão de querer ou não querer, quem quer é a natureza. O que vemos em Monteiro Lobato é um nacionalismo exarcebado e esse nacionalismo lhe rendeu algumas opiniões impensadas e algumas inimizades desnecessárias, como no caso de suas críticas contra os quadros de Anita Malfatti,  que soaram mal no meio artístico e cujo antagonismo teve como resposta a famosa Semana da Arte Moderna de 1922. Para ele o nacionalismo era fundamental e queria o Brasil fechado para todo tipo de importação de cultura. Evidentemente que cubismo, surrealismo, dadaísmo, etc., eram movimentos insuportáveis. Basta saber que ele era ferrenhamente contra a exploração do petróleo nacional por capital estrangeiro. Mas não era contra os movimentos artísticos, pois, sabidamente, era um caricaturista notável e suas paisagens em aquarela eram belamente pintadas. Mas, voltando ao racismo, ele introduz Tia Nastácia, personagem negro, em seus contos, e ela tem uma função pedagógica junto das crianças. Eu o comparo mais ou menos a Jean Jacques Rousseau com sua opinião ferrenha de que a volta do homem social ao estado de natureza seria a solução para acabar com os problemas da maldade no meio humano. Foi perseguido pela igreja por causa dessas idéias e de outras. Chegou a escrever sua obra infantil pedagógica, o Emílio, como um manual de educação para levar o ser humano próximo ao estilo de simplicidade do estado de natureza. Sentia-se, por assim dizer, enojado com os adultos, assim como nós as vezes temos nojo da política, e Rui Barbosa expressou esse nojo naquelas palavras: “de tanto ver prosperar a injustiça…”, razão pela qual saiu em defesa de Monteiro Lobato quando repercutiu mal nos meios sociais a forma como ele generalizou no seu Jeca Tatu a indolência do homem do interior. Monteiro Lobato imaginava um Brasil acelerado. Todavia, o Brasil tinha um resgate social. A escravidão deixou uma dívida social para as futuras gerações. Nem Getúlio Vargas, nem Fernando Henrique, nem Lula, nem Dilma conseguiram acabar com a injustiça social que faria o Brasil acelerar como era o gosto de Monteiro Lobato. Considero Lobato um grande brasileiro. Ele achava que a descoberta e a exploração do petróleo no Brasil resolveria os problemas da injustiça social. Mas a injustiça social está na própria injustiça e não no capital. A injustiça no Brasil chega a ser quase um arquétipo social, ela se impõe como se fosse uma qualidade, e estou falando tanto da corrupção dos grandes quanto dos maus costumes dos miseráveis. Herdamos a injustiça social e seus atributos de comportamento. Semelhantemente a Rousseau, Monteiro Lobato coloca o seu nacionalismo na literatura infantil e descobre a fórmula pedagógica de influenciar as gerações futuras… Mais ou menos por aí… Um grande abraço…

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