A política sem guerra, por Angela Alonso

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Leonardo Benassatto/FramePhoto/Folhapress

Jornal GGN – Angela Alonso, em sua coluna mensal na Folha, traz um tema importante para a discussão de retorno à normalidade: a intolerância que aflorou no país após a manifestação das panelas. Um exemplo clássico foi a agonia e morte de dona Marisa, ex-primeira dama, que foi atingida pela incivilidade agora reinante. Trata, a partir do exemplo dos médicos, a própria história, que parte do extermínio moral para chegar no extermínio físico, a tal da política de exterminação do adversário. Se não pode com ele, mate-o.

Mas o extermínio se dá em variadas situações. Parte da figura pública e descamba para o presidiário, que padece da falta de moral que se apossou do país, quando exposto em vida ou na morte. O país cordial deixou de lado esta faceta e assumiu um lado pouco cidadão e prenhe de achismos em seus direitos.

Na largada para voltar ao ponto da normalidade, Angela Alonso cita os abraços recebidos por Lula, por ocasião da doença e morte de dona Marisa. São abraços que não comungam uma ideologia, mas são carregados de simbologia, a de que diferenças políticas não precisam excluir traços de humanidade.

Leia o artigo a seguir.

da Folha

A política sem guerra

por Angela Alonso

Quem acompanhou a agonia e morte de Marisa Letícia Lula da Silva viu salientes dois lados da sociedade brasileira. De uma parte, a solidariedade. O viúvo foi confortado por correligionários, pela gente comum e mesmo por adversários políticos, aos quais abraçou sem restrições.

De outra parte, a incivilidade. Enquanto anônimos buzinavam na frente do Hospital Sírio-Libanês e xingavam Marisa Letícia nas redes sociais, o neurocirurgião Richam Faissal El Hossain Ellakkis e a reumatologista Gabriela Araújo Munhoz espargiam idêntica violência dentro do hospital. Contrariando o esperado da profissão, o médico desejou que a paciente ardesse no inferno: “daí o capeta abraça ela”, registrou no WhatsApp. A atitude repugna, mas não surpreende.

Os dois médicos comungam o perfil de parte dos manifestantes que foram às ruas de São Paulo em megaprotestos nos três últimos anos: têm alta escolarização e alta renda, são brancos, são jovens. E são intolerantes.

Numa das manifestações –provavelmente contra o Mais Médicos, programa que prometia universalizar o acesso à saúde–, uma mulher desse perfil se deixou fotografar com cartaz caçoando do dedo que o ex-presidente perdeu na prensa: “Lula, achamos seu dedo! Tá no *#!% do povo brasileiro!”.

A atitude dos médicos se alimenta do espírito que animou muitos manifestantes, desde os de 2013 até os que pediam o impeachment de Dilma. Nesses protestos se exigiu o bom funcionamento das políticas públicas, mas também se destilou ressentimento antipetista. Muito saudável que cidadãos cobrem governos, combatam a corrupção, defendam melhorias. E que tenham preferência partidária. O preocupante é que se exprimam pelos meios agora cotidianos: a intolerância, a desumanização e a defesa do extermínio do adversário.

É arriscado comparar conjunturas históricas, mas o mecanismo que opera na intolerância costuma ser constante. Ele se encarna exemplarmente num padrão de sociedade, alicerçado na escravidão, e num regime político, o fascismo. Em ambos, destitui-se certo grupo de pessoas de sua humanidade. O rebaixamento à animalidade permite, num caso, o uso indiscriminado do corpo do escravo por seu dono, no outro, o aniquilamento dos que –como o atestam filmes nazistas– nada mais seriam do que ratos.

O processo tem, pois, história longa. E costuma acabar mal. O extermínio moral precede e autoriza o extermínio físico do diferente.

Registros dessa política da destruição do adversário têm aparecido amiúde no noticiário brasileiro. Pouca dúvida resta, se resta alguma, sobre o protagonismo do ex-governador Sérgio Cabral e do empresário Eike Batista em episódios de corrupção. Os delitos demandam pena. Contudo, nenhuma lei autoriza humilhar presos pela exposição de seus corpos, como na escravidão, e raspar-lhes a cabeça, como faziam os fascistas. Aí a punição se converte em vingança.

O padrão grassa nos cárceres brasileiros. Longe das câmeras, multidão de pobres vive sem acesso a direitos básicos. Slogan eleitoral de Paulo Maluf sintetizou o motivo: bandidos não seriam membros da classe dos “humanos direitos”. Essa partição da humanidade em bons e maus, nós e eles, justifica ignorar, excluir e torturar os diferentes –em cor, sexualidade, credo religioso, tendência política etc. Tortura, aliás, defensável, segundo o novo indicado ao Supremo Tribunal Federal.

A parte da sociedade brasileira a que pertencem os médicos Gabriela e Richam opera nesse registro. Julga-se cidadã do andar acima, mais confortável com seus pets que com a “gentalha” que habita o térreo e da qual preferiria se livrar em definitivo.

Antípodas desse comportamento são os abraços dos ex-presidentes. Lula estreitou um por um todos os que foram se despedir de sua mulher, independentemente de posição social ou cargo. Políticos, aliás, tiveram que aguardar na fila, atrás da gente humilde. O ato reconhece que somos todos membros da mesma humanidade.

Com idêntica fraternidade, Fernando Henrique retribuiu, na morte de Marisa Letícia, o abraço que recebera de Lula quando do funeral de Ruth Cardoso.

Esses abraços talvez sejam a mensagem mais poderosa que os dois líderes de partidos rivais podem transmitir ao país: a política não é a guerra. É justamente sua evitação. É possível discordar, criticar, se opor, sem trucidar –moral ou fisicamente. O diferente pode ser um adversário, mas não precisa ser um inimigo. A tolerância é a base da democracia. O resto anda na borda de um abismo, o do totalitarismo e da barbárie. 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

15 Comentários

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  1. Tolerância?
     
    O mesmo fhc que

    Tolerância?

     

    O mesmo fhc que abraçou Lula é o que pediu sua prisão há poucos dias, ontem estava lendo um artigo, de dezembro de 2015, sobre uma reunião com juristas contra o impeachment, ali perguntavam sobre a ausencia do golpisto e a resposta de Dilma era que o cidadão tinha a mesma postura do governo!! e que indicava não estar conspirando para tomar o poder!!; que o PT continue com a sua “tolerância”, os politicos profissionais não possuem essas firulas, atacam o que interessa, sem meios termos.

  2. “Na largada para voltar ao

    “Na largada para voltar ao ponto da normalidade, Angela Alonso cita os abraços recebidos por Lula, por ocasião da doença e morte de dona Marisa. São abraços que não comungam uma ideologia, mas são carregados de simbologia, a de que diferenças políticas não precisam excluir traços de humanidade.”

    A ángela tenta apagar Lula, o grande e único político líder carismático do Brasil. Ela tem a capacidade de vomitar que os algozes de Lula o foram abraçar no velório de Dª Marisa, não para posarem ao lado de Lula, fazendo suas médias e aparições ao lado do mito, mas sim o foram abraçar por questões éticas inerentes a políticos em que nessas horas deixam as diferenças de lado. ángela sabe que esses a que se refere não são políticos, são bandidos mafiosos que tomaram o poder na base do golpe saqueando 55 milhoes de brasileiros! ángela é golpista mercenária da pior espécie! ángela é golpista do tipo urubú coveiro.

  3. Ótimo, vamos fingir que não

    Ótimo, vamos fingir que não estamos num estado de exceção. Vamos recuperar a cordialidade do brasileiro… Quem sabe assim as coisas melhoram… resta saber para quem.

  4. Em nome da decência deve ser

    Em nome da decência deve ser dito na cara do hipócrita que ele é hipócrita. Receber o abraço dos assassinos da esposa e fingir que tá tudo bem meu caro, é isso que vc quer?  Diz isto porque não aconteceu com um ente amado seu.

    1. Na verdade Lula estava com

      Na verdade Lula estava com uma peixeira na cintura na hora dos abraços nos golpistas mafiosos. Mas, na hora H, pensou no povo brasileiro ainda sofrido e na ignorância de muitos a serem incluidos e recuperados, e desistiu de fazer justiça com as próprias mãos. 

  5. …a de que diferenças políticas…

    Não são diferenças políticas, não são ideologias, pontos de vista, visões do Estado e de mundo…ora…..

    É uma questão policial, criminal; são bandidos, são uma Organização Criminosa, e assim devem ser tratados, como criminosos a saquerem um país, uma nação, e um povo inteiro.

  6. Vamos mudar

    Os réus, condenados, os presos em geral tem a cabeça raspada .Eike , Cabral e todos os cidadãos acima de qualquer suspeita também devem ter o mesmo tratamento quando cometem delitos.A  lei é para todos. Mude-se a lei.Há muito poderia ter havido , ou já há houve tal protesto ?

  7. Tolerância?????

              O que falta a esta esquerda caviar (Angela Alonso) é perceber que para um trabalhador, o que para a Dra são só acontecimentos históricos e fonte de estudo,  é sim uma guerra! A falta de sensibilidade das esquerdas que estão bem guarnecidas nas “trincheiras” estatais é repugnante! É fácil propagandear civilidade quando se tem emprego e garantias de funcionário público. Existe algo mais conservador do que isto?

            “Queremos um mundo mais igualitário, mas se não for possível, vamos manter a civilidade”(e os nossos empregos) LiXO!

            O outro lado não está nem um pouco interessado nesta civilidade e, pelo contrário se necessário lança mão de qualquer barbárie para atingir seus objetivos.

             As ovelhas são herbívoros, mas o lobo é carnívoro! Não existe acordo! 

             Para o cidadão comum, politizado, o que o lula fez  ao aceitar os assassinos de sua mulher no enterro foi um deboche! Demonstração de fraqueza só superada pela Dilma ao aceitar o mercado como aliado ao invés de chamar o povo para fazer valer o plano de governo eleito nas urnas.

             

     

  8. Nadraas

    Aceitar abraços de FHC , Temer , Serra e corja Ltda. ???

    Pensando bem, talvez até de certo essa afetividade e cordialidade politica. Quem sabe Lula chama a Dilma, a Helena Chagas e o marido da Gleise Hoffmann e inundam a rede Globo com dinheiro de publicidade novamente e a paz e o interesse nacional voltarão a imperar. Ainda mais com José Serra, FHC, Temer e Cia nessa cruzada historica pelo bem do Brasil.

    Peço desculpas pelo comentario inicial e sem noção. É preciso acreditar. Tenhamos fé.

  9. Hipocrisia pura

    Não concordo com a autora, os golpistas que compareceram ao enterro e abraçaram o Lula são hipócritas e perigosos, não dão ponto sem nó. Lula nunca deveria ter permitidos que lá comparecessem, tudo precisa ficar claro no jogo de quem é quem. Ser bonzinho é a pior escolha, se a Dilma e cia não tivessem sido bonzinhos e até omissos, fossem mais sagazes, o Brasil não estaria neste estado de exceção, nesta ditadura golpista. FHC se juntou ao Yves GAndra no dia seguinte à eleição da Dilma e começou a tramar o golpe, noticiou e tudo mais pois o poder para esse povo inqualificável só no golpe. Esses seres golpista são cruéis, sem ética, fazem o que for preciso para manter o poder, matar até se for necessário. Então, do meu ponto de vista, infelizmente é guerra, deixar as armas de lado é suicídio, a verdade deve ser mostrada cada vez mais. Não sou pessoa de guerra, contudo é da maior importância para a o país que se dê nome aos bois.

  10. Quem despertou o ódio, com

    Quem despertou o ódio, com objetivos políticos, foi a plutocracia aliada à grande mídia,  liderada pela globo.  Penso que a Sra. Angela deveria se dirigir diretamente a essas facções, implorando-lhes que se humanizem. Minha cara colunista, com todo respeito, isso não vai funcionar.  

  11. A questão se agrava
    A questão se agrava perigosamente quando essa doença contamina homens e mulheres que estão a frente de instituições do Estado.

  12. Que seja bem vindo o artigo e
    Que seja bem vindo o artigo e a análise perfeita de Angela Alonso.Ainda esta semana chamei a atenção sobre a Lei de Taliao que estaria chegando por aqui,através de comentários impertinentes.O barbarismo sem precedentes,a aniquilação pura e simples do adversário político e o fuzilamento em praça pública de quem não me é simpático,campeia a olhos vistos.Olho por olho,dente por dente,inadmissível em qualquer situação, no caso brasileiro,o alvo em questão são os mais desfavorecidos,os desvalidos ou os deserdados de Deus,como costumo colocar.A Casa Grande,talvez em nenhum momento da história,tenha chegado tão longe no seu fascismo explícito e a sede incontrolável de sangue na boca,não tendo a menor noção,tomada pelo ódio que cega,que atravessa o rubicao e escancara a porteira para o ajustes de contas que fatalmente o destino reserva.O ódio devastador é uma via de mão dupla,pois quem com ferro fere por ele será ferido.É bíblico.

    1. Os cadastrados e cadastradas

      Os cadastrados e cadastradas que aqui aportam,diuturnamente,Sol a Sol,por conviniencia ou vergonha,recolhem o flap nos meus comentarios,justamente por ser eu um diferenciado.No comentario acima,eu o resumiria da seguinte forma:Faça o que eu digo,não faça o que eu faço.Simples assim.

  13. Que engulam a Miss Paulínia!

    A VIDA DA ”BELA”: Jornal suíço diz que mulher de Temer tem vida de luxo e 50 empregadas pagos pelo povo

    04/02/2017064238  

    mulher-temer

    Um dia após a consumação do impeachment no Brasil, o jornal suíço “Tagesanzeiger”, ironiza o mais famoso ‘conto de fadas’ brasileiro:Die brasilianische Marie Antoinette.

     

    Marcela Temer é comparada à rainha francesa Maria Antonieta, cujos hábitos extravagantes, de luxo e riqueza, contrastavam com a miséria a que o povo fora submetido.

    Filha do imperador Francisco I, Maria Antonieta se casou com Luís XVI aos 14 anos. A ideia era fortalecer a aliança franco-austríaca.

    No dia 14 de julho de 1789, fartos por não conseguirem comer nem o pão que o diabo amassou e, após ouvirem a suposta resposta da rainha sobre sua condição de miséria extrema (Se não têm pão, que comam brioches), os camponeses resolveram por abaixo a Bastilha (para onde eram mandados os ‘inimigos do reino’).

    Luiz XVI que, segundo consta, não conseguia conter os gastos astronômicos da esposa, acabou guilhotinado. Nove meses depois foi a vez de Maria Antonieta perder, de vez, a cabeça.

    A comparação feita pelo jornalista suíço Beat Metzler, é curiosa e só reforça o que já sabemos:  viramos uma espécie de piada de mau gosto do mundo político contemporâneo.

    Leia, abaixo, o artigo do Tagesanzeiger, que não é nenhum jornalzinho: tem “só” 133 anos de circulação…

    A Maria Antonieta brasileira

    A nova primeira-dama Marcela Temer gasta com prazer o dinheiro dos outros. Ela ocupa em sua residência 50 empregados. Às custas do Estado.

    Marcela Temer, desde a última quarta-feira primeira-dama do Brasil, poderia ter saído de um catálogo de desejos cunhado por uma publicação voltada para o público masculino. Foi descrita por uma revista como “bela, recatada e do lar”. E isso foi entendido como elogio.

    O afastamento da presidente de esquerda Dilma Roussef por Michel Temer divide o país. A esposa de Temer, Marcela, aprofunda o abismo. Para seus críticos, ela incorpora o caráter reacionário do novo governo, ocupado apenas por homens brancos, grisalhos e ricos.

    Marcela escolheu o caminho mais rápido para subir: ela casou-se com um homem branco, grisalho e rico. E tinha apenas 19 anos, quando encontrou Michel Temer. Ele tinha 62. Marcela cresceu como filha de classe média em uma cidade do interior de São Paulo. Além de carregar o título de vice-rainha-da-beleza, trabalhava na recepção de um jornal local, quando, em 2002, acompanhou parentes a um evento do PMDB. Foi onde viu Michel Temer, milionário conhecido e há muitos anos deputado pelo PMDB. Ela pediu para tirar uma foto com ele, o que de fato ocorreu. E pediu também seu número de telefone. A mãe acompanhou-a no primeiro encontro e um ano depois eles já se casavam. Foi uma festa secreta, pois o abismo de 43 anos entre os dois não era exatamente apresentável.
    “bela, recatada e do lar”

    Os pais de Marcela não estão incomodados: “Isso é só o choro dos invejosos” disse a mãe.

    Marcela disse recentemente: “É como se Michel tivesse 30 anos. A idade não importa ” .

    Quando Michel Temer ainda era Vice- Presidente, em 2011, rapidamente sua esposa se tornou a queridinha dos tablóides.

    Louvavam seu bom estilo e ela chegou até a ser comparada com Carla Bruni e Jackie Kennedy. Temer publicou um livro de poemas sobre sua vida amorosa, fotos eróticas de Marcela foram divulgadas. Ela faz o papel de uma dona de casa fiel, que leva seu filho para a escola e tem « Michel » tatuado em seu pescoço.

    Marcela desfrutava da riqueza. Na residência oficial do vice-presidente, ela mandou executar reformas milionárias “para que seu filho se sentisse em casa”. A família de três membros ocupa 50 funcionários, entre eles quatro empregadas, que cuidam apenas de lavar e passar roupas. Tudo isso pago pelo Estado. Além disso, Marcela viajou ao lado da mãe e de uma irmã, em voo de primeira classe rumo a Nova York e Miami, para fazer compras durante um dia – o que ela própria documentou alegremente na internet. Durante um encontro de cúpula da ONU, cujo tema era a sustentabilidade, ela mandou organizar um desfile de moda de jóias.

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