Alberto Youssef e sua estreita relação com políticos do Paraná

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Sugerido por Francisco A. de Lima
 
De Folha Web
 
‘O DOLEIRO DO PARANÁ’ – Relação estreita com políticos do Paraná
 
Na CPI da Copel, instalada em 2003, parlamentares aliados ao ex-governador do Estado Jaime Lerner barraram depoimento de Youssef
 
Por Mariana Franco Ramos
 
Preso pela Polícia Federal sob a acusação de ser o pivô da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef já esteve envolvido em pelo menos quatro outros grandes escândalos, todos envolvendo políticos e agentes públicos, entre o fim dos anos 90 e o início dos anos 2000 no Paraná: em Maringá, na gestão de Jairo Gianoto, o AMA-Comurb em Londrina, o esquema de lavagem de dinheiro do Banco do Estado do Paraná (Banestado) e a fraude contra a Companhia de Energia do Paraná (Copel). O último deles foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instalada na Assembleia Legislativa (AL) no dia 17 de março de 2003. O objetivo era apurar supostas ilegalidades ocorridas durante o processo de tentativa de privatização da estatal, a partir de 2001, na gestão do ex-governador Jaime Lerner (na época no PFL). 
 
Conforme o relatório final aprovado pela AL, fizeram parte da CPI os então deputados Marcos Isfer (PPS), que assumiu a presidência do grupo, Ademar Traiano (PSDB), escolhido como vice-presidente, o relator Ratinho Junior (na época no PPS, hoje no PSC), os sub-relatores Alexandre Curi (PMDB), Vanderlei Iensen (PMDB), Tadeu Veneri (PT) e Durval Amaral (na época no PFL), além de Valdir Rossoni (na época no PTB, hoje no PSDB) e Fernando Ribas Carli (PP). A maioria deles integrava a base de apoio a Lerner no Legislativo. 
 
A principal denúncia investigada foi o caso conhecido como Copel/Olvepar. De acordo com o documento, a empresa do setor agropecuário, que teve falência decretada em agosto de 2002, em Cuiabá (MT), vendeu créditos irregulares de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para a Copel, no valor de R$ 45 milhões, por R$ 39,6 milhões. A operação foi autorizada pelo então secretário de Estado da Fazenda, Ingo Hubert, que era também diretor-presidente da Copel, e pelo ex-conselheiro do Tribunal de Contas (TC) Heinz Herwig. 
 
Ainda de acordo com as investigações, Youssef foi flagrado em vídeo nos dias 6 e 13 de dezembro de 2002, por volta das 18 horas, sacando dois pagamentos de R$ 13,2 milhões em uma agência do Banco do Brasil, juntamente com Antônio Carlos Fioravante Pierruccini, representante da massa falida da Olvepar, e o tesoureiro da Copel André Grochevski Neto. A outra parte da transação, no mesmo valor, foi efetuada da mesma forma em 20 de dezembro. Do total, R$ 3,2 milhões foram entregues à empresa Rodosafra Logística e Transportes e o restante diluído em cheques, depositados em três contas de microempresas do Rio de Janeiro, operadas por fantasmas. 
 
“É importante ressaltar que Youssef queria realizar o saque mesmo o beneficiário não sendo ele, o que dá um forte indício de que a destinação dos recursos era mesmo responsabilidade do ‘doleiro’ e este tinha controle de toda a situação”, diz um dos trechos do relatório, que também acrescenta: “Se os créditos tivessem condições legais de serem restituídos, o deveriam ser à massa falida da empresa Olvepar, contudo, como visto, não foi o que ocorreu”. 
 
Após o fim dos trabalhos da CPI, Ingo Hubert e outras sete pessoas, entre elas Youssef, tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça, sob acusação de formação de quadrilha e peculato fiscal. Em seguida, o Ministério Público (MP) ingressou com uma ação civil pública e uma ação criminal, na 3ª Vara da Fazenda Pública e na 2ª Vara Criminal de Curitiba, respectivamente. A primeira delas indicava que os réus deveriam pagar as custas processuais e os prejuízos causados ao erário público, calculados em R$ 106,9 milhões. Até hoje, contudo, nenhum dos processos chegou a ser julgado. 
 
“CADÁVERES ENTERRADOS” 
 
Em entrevista à FOLHA, o deputado estadual Tadeu Veneri disse que, durante a CPI, tentou protocolar um convite para que tanto Hubert como Youssef prestassem esclarecimentos no plenário da AL. No entanto, foi voto vencido. “Perdi por oito a um. Todos os deputados foram contrários à vinda. Engraçado, agora posarem como Madalenas arrependidas”, declarou. 
 
Sobre a possibilidade de o doleiro voltar a depor sobre o caso na Justiça, o petista afirmou que “gostaria muito de saber por que esse processo está desde 2003 parado”. “É inusitado que não haja curiosidade de alguma pessoa abrir e ver o que há lá dentro. Nós entregamos inclusive os vídeos e assinaturas do Pierruccini dizendo que recebeu dinheiro e, até hoje, não foi perguntado o que ele fez com aquilo. Então, talvez, o Youssef agora possa levantar esses cadáveres que estão enterrados há 11 anos”, afirmou. 
 
Já o deputado estadual Ademar Traiano (PSDB), que atualmente ocupa a liderança do governo Beto Richa (PSDB) na AL, curiosamente alegou que não fazia parte da CPI, embora seu nome conste no relatório como vice-presidente do grupo. “Você está equivocada. Eu votei pelo processo de privatização da Copel e hoje me arrependo. Mas não fiz parte de CPI. Não cabe a mim a pergunta”, afirmou. “Isso (depoimento do Youssef) depende da Justiça, que como melhor entender, se necessário, vai buscar; não do deputado Traiano”, completou.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. A ignorância da sociedade é

    A ignorância da sociedade é grande.

    Ao invés de se preocupar com a corrupção endêmica se preocupa apenas com políticos de determinado partido e fecham os olhos para todo o resto.

    Marcos Valério, Daniel Dantas, Cachoeira, esse doleiro, as empreiteiras….

    Ramificações em todos os partidos.

    Enquanto a sociedade LIBERAL achar que caçando os políticos resolverá a corrupção…

    ela continuará, passará de partido para partido, de pais para filhos.

    O embrião da corrupção não é o Estado, e o empresário ganancioso,

    tudo bem, quem quiser substitua ganancioso por lutadores pela sobrevivência.

    1. É, Assis, li a excelente

      É, Assis, li a excelente matéria de capa da Carta Capital, que é sobre isso, a corrupção “a la brasileira”, onde os corrompidos são os degenerados e os corruptores, cidadãos acima de qualquer suspeita, nada tem a ver com isso.

      Creio que é uma característica atávica das camadas médias e altas da sociedade brasileira. Muitas vezes advogando em causa prórpria. O sujeito dá a propina ao agente público e se sente acharcado. A desculpa é que “não tem outro jeito”. E põe-se como vítima de um estado corrupto.

      Parece aquele história do “não sou viado, quem deu a bunda foi ele”

      Mas o interessante é que na matéria da Carta, esse discuros do achaque fica claramente desmascarado. Grandes empresas que tem negócios com orgãos públicos não são coagidos a pagar comissão.

      Não é assim que funciona. A licitação não é tão dificil de ganhar, mesmo porque, a concorrência é pequena. Muito poucas empresas tem condições de prestar aquele serviço específico. Estamos falando de uma economia altamente monopolizada. O grande lance é conseguir ir encaracendo o seu serviço e produtos ofercidos ao Estado, os famosos aditamentos. Os corrompidos tem essa função. Isso está longe de ser um achaque

  2. Privataria Tucana

    Consta do livro do Amaury Ribeiro Júnior nas páginas 92 – 93 e seguintes a relação com a entourage tucanas de altas plumagens e bicos bem longos…

  3. Aécio Neves

    Enquanto os tucanos posam de vestais, Ouro Preto vive um dia especial. Está presa pelos preparativos para a principal data do Estado: o Dia da Inconfidência. Ao contrário de todos os anos, quando a festa ocorre pela manhã, em 2014, ano eleitoral, o evento foi remarcado para a noite, à espera da chegada daquele que se pensa o filho eterno: Aécio Neves passou o dia em São João del Rey, nas homenagens ao avô morto e só estará livre à noite. E o candidato preparou o terreno – e as doces e humílimas almas dos administradores da histórica cidade para que protagonize o grande ato de hoje à noite. Enquanto isso, os cidadãos, o comércio, os turistas, a vida enfim de Ouro Preto ficou interrompida na sua praça principal, justamente chamada Praça Tiradentes, pela qual passam todos os caminhos da cidade. Tudo parou à espera daquele que se acha herdeiro do príncipe da privataria, ele próprio na expectativa de uma noite de grande brilho.

  4. As mesmas estratégias de

    As mesmas estratégias de sempre.

    “Não fui eu.”

    “Eu não sabia”.

    “Não é só nós que roubamos”.

    “Todo mundo faz”.

    “Eu não li”.

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