Após Odebrecht incriminar PSDB e PMDB, Lava Jato não está satisfeita

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Uma semana após Marcelo Odebrecht delatar o repasse de R$ 23 milhões de caixa dois à campanha de José Serra (PSDB-SP), à Presidência em 2010, e de R$ 10 milhões em dinheiro vivo para o PMDB, a pedido de Michel Temer, um dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato disse que o acordo com o executivo “ainda não está fechado”: “Ainda temos um longo caminho à frente”.
 
A revelação dos repasses provenientes de esquema de corrupção, em sistema de caixa dois para campanhas eleitorais, tanto para o PMDB, quanto para o PSDB – partidos articuladores do impeachment de Dilma Rousseff – não provocou a mesma reação à equipe de Sérgio Moro que o impacto manifestado pelos jornais e opinião pública neste final de semana.
 
Foi a Veja que revelou um jantar, em maio de 2014, na residência oficial de Temer, o Palácio do Jaburu, na presença de outro cacique do PMDB, Ediseu Padilha, braço direito e atual ministro-chefe da Casa Civil do governo interino. Na ocasião, Michel Temer pediu “apoio financeiro” a Marcelo Odebrecht, na forma de caixa dois.
 
Como Marcelo sabe que um dos requisitos exigidos pela equipe de Sérgio Moro para aceitar um acordo de delação é, além de trazer informações “novas” que outros delatores ainda não forneceram, mostrar provas materiais que confirmem os depoimentos, o executivo prometeu à força-tarefa apresentar registro de contabilidade da Odebrecht dos R$ 10 milhões de caixa dois repassados em dinheiro vivo.
 
Desse total, R$ 6 milhões teriam sido destinados a Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que disputou naquele ano o cargo de governador pelo PMDB, e outros R$ 4 milhões tiveram como destinatário final o próprio Eliseu Padilha.
 
O comprovante dessa remessa está, segundo o executivo, na contabilidade do setor de operações estruturadas da Odebrecht, denominado pelos investigadores como “departamento da propina” e apontado, inicialmente, como o registro de caixa dois repassados ao PT. 
 
Em resposta, o interino disse que o jantar ocorreu, mas que conversaram “sobre o auxílio financeiro da construtora Odebrecht a campanhas eleitorais do PMDB, em absoluto acordo com a legislação eleitoral em vigor e conforme foi depois declarado ao Tribunal Superior Eleitoral”. 
 
De acordo com os dados do TSE, a Odebrecht repassou R$ 11,3 milhões ao PMDB. Esse montante de outros R$ 10 milhões ocorreram por fora, via caixa dois, segundo Marcelo. Se comprovado esse repasse, fica caracterizado que a quantia não esteve de acordo “com a legislação eleitoral” como explicou Temer.
 
Além desse trecho da delação, o conteúdo entregue por executivos da empreiteira também carregou outras “novidades” para os investigadores da Lava Jato. Dessa vez, a repórter da Folha de S. Paulo, Bela Megale, mostrou outro capítulo dos preparativos do acordo: um aporte da Odebrecht de R$ 23 milhões, como caixa dois, para a campanha do tucano José Serra (SP) à Presidência da República em 2010, hoje, atual ministro das Relações Exteriores.
 
O valor corrigido pela inflação equivale a R$ 34,5 milhões. A quantia foi enviada, em uma parte, no Brasil, e outra por depósitos bancários em contas no exterior. Também neste depoimento, os executivos prometem mostrar provas dos repasses: os comprovantes.
 
A exemplo do que ocorreu com os peemedebistas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou R$ 2,4 milhões da empreiteira para o Comitê Financeiro Nacional para Presidente da República do PSDB (que equivale a R$ 3,6 milhões). Mais o montante enviado pela Odebrecht, as contas atingiriam um total de R$ 25,4 milhões à campanha do tucano.
 
Não apenas incriminando Serra, os executivos informaram, ainda, que a negociação para o repasse se deu com a direção nacional do partido, que distribuiu à Serra e a outros candidatos do PSDB em 2010. Ainda, nos registros de contabilidade da companhia, os funcionários identificavam José Serra pelos codinomes “Vizinho” e “Careca”. Os arquivos serão apresentados aos procuradores da Lava Jato. Ou seriam.
 
Isso porque da delação com os funcionários da Odebrecht ainda se exige mais. Mesmo após as duas grandes revelações, descobertas neste final de semana pela imprensa, os procuradores e investigadores não se dão por satisfeitos com os relatos – o que confundiu as interpretações noticiosas e análises editoriais: para os jornais, faltava a Odebrecht trazer “informações novas” para os investigadores aceitarem os acordos.
 
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Além da novidade, era de amplo conhecimento, a exemplo da tática adotada nos últimos meses pela equipe da Lava Jato, que os investigadores exigiam, junto às delações, documentos e arquivos que comprovem as informações prestadas. A medida facilita o trabalho de comprovação dos ilícitos, uma vez que a delação, por si só, não se pode considerar como único meio de prova.
 
Na última quinta-feira (05), por exemplo, Marcelo Odebrecht prestou um depoimento de cerca de dez horas aos procuradores da República. A expectativa é que a temida delação incrimine cerca de 100 políticos, na negociação feita desde maio deste ano. Apesar de os investigadores já caracterizarem os conteúdos como “satisfatórios”, ainda exigem de Marcelo certos detalhamentos.
 
Se no início das investigações que arrolou mais fortemente a Odebrecht, o objetivo da força-tarefa era mirar os repasses ao PT – lembrando que a superplanilha da empreiteira foi apreendida na 23ª fase da Lava Jato, a Acarajé, que apurava o suposto pagamento de propina em campanhas petistas comandadas por João Santana e Mônica Moura – as delações não só ainda não trouxeram provas diretas contra Dilma, como também abriu o leque do foco inicial. 
 
Nem o nome da presidente afastada Dilma Rousseff ou de Luiz Inácio Lula da Silva apareceram na gigante lista, agora detalhada nas delações. Em contrapartida, entre os nomes que aparecem como possíveis beneficiários do esquema de caixa 2, estão o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o atual ministro José Serra (PSDB-SP), o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Renan Calheiros (PMDB-AL), Jorge Picciani (PMDB-RJ), deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), Francisco Dornelles (PP), o governador Beto Richa (PSDB), entre outros.
 
Mas, após o boom midiático com a incriminação efetiva pelos delatores da Odebrecht de campanhas tucanas e peemedebistas, resta saber o que falta aos procuradores para aceitarem as delações e essas outras miras.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Vergonha na cara.

    “…resta saber o que falta aos procuradores para aceitarem as delações e essas outras miras.”

    Vergonha da cara.

    Um pouqinho só já seria suficiente.

  2. Resposta fácil, fácil

    Resposta fácil, fácil …

     

    Basta Marcelo Odebrecht relatar que pagou um café e um pão com manteiga para Dilma e Lula na padaria da esquina em um encontro fortuito com os dois, que pronto BINGO: Lula e Dilma aceitaram favores pessoais de Marcelo Odebrecht. Não precisa de prova e nem nada. Cadeia nos dois.

    Quantos ao milhões citados a Temer, Cerra, Aécio, Renan, Quadrilha … precisam de diligências e provas mais robustas e claro confissão assinada pelos implicados. Afinal de contas Marcelo Odebrecht pode estar usando mentiras como cortina de fumaça para esconder o óbvio. Ele comprou o Lula e a Dilma com um pão com mateiga.

  3. Pois é, os procuradores estão

    Pois é, os procuradores estão desnorteados e profundamente decepcionados. A tese deles, de que o PT institucionalizou a propina e a corrupção,  está desmoronando.  Todos, sem exceção, que agiram para derrubar a Presidenta Dilma, estão enrredados com as investigações. São todos ladrões e pretendem o afastamento definitivo da Presidenta para tentar se livrar da cadeia. Não conseguirão. O Mundo já suspeita e logo terá a mais absoluta certeza de que o governo golpísta que se instalou tem este objetivo e não perdoarão descaramento tamanho. Por outro lado, as ivestigações que tinham como alvo Lula e o PT e a espectativa de provar o roubo do século, por eles praticados, não poderá recuar frente ao fiasco dos sherloques de araque, fundamentalistas da direira esclerosada e decadente, tendo que prestar contas aos que os elegeram como os justiceiros impolutos, vestais da hipocrisia nativa. Senão, é a desmoralização plena e, adeus planos de voos rumo aos picaros da glória.

  4. Imaginemos só a dimensão que

    Imaginemos só a dimensão que tomaria se os personagens fossem o PT, Lula e Dilma. Ou qualquer um dos três. A escatologia correria solta; em especial no meio midiático. 

    Imaginemos só por um momento um empreiteiro declarando, sob condições sob as quais não pode mentir, que Lula ou  Dilma pedira recursos para o PT e que um dos próceres desse partido, digamos Ricardo Berzoini ou Jaques Wagner, recebera – EM DINHEIRO VIVO! – DEZ MILHÕES DE REAIS, dos quais, SEIS, seriam para um dos ex-mandatários do país. 

    Cadê as entrevistas coletivas com joviais procuradores e delegados, impecavelmente vestidos, soltando frases efeitos contra a corrupção? Manchetes garrafais e editoriais indignados? Necas!

     

     

  5. Delação aceita <=> for apontado o PT ou petista

    Prezados,

     

    Para os que não estudaram matemática e lógica, uma explicação: o símbolo <=> significa “se e somente se”.

    A lógica da Farsa a Jato é esta: uma delação, por mais contundente e por mais provas robustas que apresente contra tucanos e assemelhados será aceita pela turma de procuradores que compõem a ORCRIM institucional (e destacada por vários dias em capas e reportagens de várias páginas ou longos minutos de rádio e TV nos veículos do PIG/PPV) se e somente se incriminar algum nome importante do PT.

    Não são surpresa para ninguém a chantagem, a coação e a tortura psicológica a que estão sujeitos executivos e diretores de empreiteiras, como Marcelo Odebrecht, para dizerem extamente o que os integrantes da ORCRIM da Farsa a Jato desejam. Se necessário, os integrantes da ORCRIM institucional o farão ajoelhar no milho e cuspir os feijões. A condenação a 19 anos de prisão, após longos meses de cárcere, foi a primeira tentativa de extrair de MO o que desejavam os procuradores da Farsa a Jato. Estejam certos de que se MO tivese incrimnado Lula, Dilma e/ou outros líderes petistas, ele sequer teria sido condenado, estaria em casa, com uma tornozeleira, aproveitando o espólio do que sobrou ou sobrara´do conglomerado de empresas que administrava. A coragem, altivez e serenidade de MO em encarar sérgio moro e comparsas da ORCRIM institucional lhe custaram a liberdade. A pressão agora é para que ele de alguma forma incrimine o PT, Lula e Dilma. Se não o fizer, continuará preso e sujeito a outras condenações. Essa é a lógica da inquisitorial Farsa a Jato.

  6. Após Odebrecht incriminar PSDB e PMDB, Lava Jato ?

    Considerado o passado no qual fica estridente a incapacidade de a “República dos Estados Unidos de Curitiba” incriminar ou fazer inquéritos consistentes contra algum tucano, Marcelo Odebrecht ficará na prisão até delatar os citados pão e manteiga a Lula e Dilma.

    Comprovado esse horrendo mal feito inserido oportunamente na narrativa inicial tudo o mais “não vem ao caso”.

    Vaza-se o que interessa, isso é notório. Como não “conseguem” incriminar algum tucano, sempre inocentes até com prova em contrário, utilizam-se da velha e sempre prestativa peneira para tapar o sol.

    Lula que se cuide. A fogueira medieval se aproxima.

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