Em livro, FHC diz que se recusou a nomear Cunha para Petrobras

Jornal GGN – Em episódio relatado em seu livro Diário da Presidência – que será lançado no fim do mês – o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conta que recusou um pedido do deputado Francisco Dornelles (à época no PPB) para nomear o deputado Eduardo Cunha (PMDB) para a diretoria comercial da Petrobras.

Segundo FHC, ele apontou “problemas com esse nome”, relembrando o período em que Cunha foi presidente da Telerj. “Nós os tiramos de lá no tempo de Itamar Franco porque ele tinha trapalhadas”. 

Durante seus dois mandatos, Fernando Henrique Cardoso registrou com um gravador o cotidiano na Presidência da República. As 44 fitas foram transcritas pelo Instituto FHC e resultaram no livro, do qual o primeiro dos quatro volumes compreende o período entre o fim de novembro de 1995 e o fim de abril de 1996.

Do Estadão

‘piauí’: FHC conta em livro que se recusou a nomear Eduardo Cunha para a Petrobrás

RICARDO GALHARDO 

Revista antecipa trechos de ‘Diários da Presidência’, cujo primeiro de quatro volumes será lançado neste mês pela Companhia das Letras

No dia 23 de março de 1996 o então presidente Fernando Henrique Cardoso recusou um pedido feito pelo deputado Francisco Dornelles (à época no PPB) em nome da bancada do Rio de Janeiro para que o também deputado Eduardo Cunha (PMDB), hoje presidente da Câmara, fosse nomeado diretor comercial da Petrobrás. “Imagina!”, reagiu FHC, apontando “problemas com esse nome”.

O episódio é narrado pelo próprio Fernando Henrique no livro Diários da Presidência, a ser lançado no fim deste mês pela Companhia das Letras, do qual a revista piauí publica trechos inéditos na edição que chega às bancas nesta segunda-feira, 5.

“Na verdade o que eles (deputados do Rio) querem é nomear o Eduardo Cunha diretor comercial da Petrobras! Imagina! O Eduardo Cunha foi presidente da Telerj, nós o tiramos de lá no tempo de Itamar (Franco, ex-presidente da República) porque ele tinha trapalhadas, ele veio da época do Collor. Eu fiz sentir que conhecia a pessoa e que sabia que havia resistência, que eles estavam atribuindo ao Eduardo Jorge; eu disse que não era ele e que há, sim, problemas com esse nome. Enfim, não cedemos à nomeação”, escreveu o ex-presidente.

Durante seu governo, entre 1995 e 2002, Fernando Henrique registrou de forma metódica, com ajuda de um gravador, o dia a dia da Presidência da República. As 44 fitas cassete foram transcritas pelo Instituto FHC e resultaram em cerca de 4 mil páginas. O livro que chega às bancas neste mês compreende o período entre o fim de novembro de 1995 e o fim de abril de 1996 e é o primeiro de quatro volumes que serão publicados até 2017.

No Alvorada. Nos Diários, o tucano reconstitui encontros e conversas, faz comentários sobre personagens do universo político, revela intenções e planos para o governo, avalia os principais acontecimentos do País e reflete sobre o peso do cargo e a natureza da atividade política.

Alguns trechos antecipados por piauí remetem à situação política atual, como, por exemplo, o registro de uma reunião com dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), no dia 25 de abril, quando a oposição mobilizava movimentos sociais para pedir o impeachment do tucano.

“Conversamos sobre tudo, eu gosto do Vicentinho. (Em seguida) ele até me pediu para fazer a reunião deles na biblioteca, depois que eu fosse embora. Deixei, é coisa só do Brasil! Os dirigentes máximos da CUT se reúnem na biblioteca do Palácio da Alvorada. Eles vieram trazer reivindicações dos grevistas de Brasília, a questão dos sem-terra, e havia uma manifestação, dessa vez parece que grande, aqui em Brasília, porque o momento é tenso por causa dos sem-terra. E tentam aproveitar para ver se fazem algo semelhante a impeachment, sempre a mesma história.”

Em outro trecho publicado pela piauí, Fernando Henrique relata com detalhes as negociações para incluir o extinto PPB de Dornelles, Paulo Maluf (SP) e Esperidião Amin (SC) no governo e, assim, viabilizar uma maioria no Congresso que garantisse a aprovação das reformas cobradas pela sociedade.

“Parece que o PPB não aceita o Ministério da Reforma Agrária sem o Incra. Luiz Carlos (Santos, PMDB, líder do governo na Câmara) sugeriu que ampliássemos a oferta e incluíssemos o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo (MICT). Isso para mim é dolorido, por causa da Dorothea (Werneck, titular da pasta), que é uma ministra de quem eu gosto, e ela tinha que ser avisada dessa manobra”, registra o ex-presidente em 25 de abril de 1996.

O relato continua no mesmo dia. “O (Pedro) Malan (ministro da Fazenda) veio com aquela de que não quer saber do Dornelles (no MICT), eu expliquei as circunstâncias e tal, e ele disse que a Dorothea estava magoada. Claro, eu sei que ela está magoada (…) Fui à casa da Dorothea. Eu tinha que ir (…) Dorothea é uma pessoa admirável e fui ficando com raiva de mim mesmo. Porque na verdade eu fiz a escolha de Sofia, não tinha jeito, eu sei que não tem jeito, porque ou tem o PPB, ou não passam as reformas, mas justamente em cima da Dorothea é uma coisa muito pesada para ela e para mim (…) Enfim, começo a sentir o travo amargo do poder, no seu aspecto mais podre de toma lá, dá cá, porque é isto: se eu não der algum ministério, o PPB não vota; se eu não puser o Luiz Carlos Santos, o PMDB não cimenta, e muitas vezes – o que Dorothea diz tem razão – fazemos tudo isso e eles não entregam o que prometeram”.

Redação

17 Comentários

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  1. Olha só! O que deu em FHC?

    Olha só! O que deu em FHC? Como ele explica as atuais relações do psdb com o “inclito” Eduardo Cunha? Esse FHC é mesmo uma figura vaidosa que não quer sair da ribalta. Não percebe que já está gagá e que só o PIG lhe atribui a importância que, há muito, ja perdeu. Agora, depois de ler os documentos vindos da Suiça que indicam que Sua Excia E Cunha tem cerca de 5 milhões de dólares em contas naquele país, quero ver que providências o Procurador Janot adotará! E como os “honestíssimos parlamentares pessedebistas & cia” se comportarão na câmara e no senado.

    Como diz o Kotscho, vida que segue! 

  2. E não foi só isso.

    FHC também aconselhou Churchill a endurecer com Hitler e Pôncio Pilatos a adotar uma postura contra majoritária em termos de direito penal.

    Um deles seguiu os conselhos do sábio e se deu bem.

  3. Em compensação o FHC colocou o Geraldo Brindeiro como Procurador

    Em compensação o FHC colocou o Geraldo Brindeiro como Procurador Geral da República ( mais conhecido como o Engavetador Geral da República) para arquivar todos os pedidos de CPIs contrárias ao governo e não investigar nada que comprometesse seu governo. Por isso que toda a roubalheira durante o processo de privatizações não foram investigadas.

  4. E o PSDB o apoiou e o

    E o PSDB o apoiou e o sustenta na Presidência da Câmara.

    Bem típico do FHC. E como disse o franciscano Rícupero: “o que é bom a gente mostra…”

  5. FHC grita, cinicamente hoje, que “Dilma vendeu a alma ao diabo”

     

    “Porque na verdade EU FIZ a escolha de Sofia, NÃO TINHA JEITO, EU SEI QUE NÃO TEM JEITO, porque ou tem o PPB, ou não passam as reformas, (…) Enfim, começo a sentir o travo amargo do poder, NO SEU ASPECTO MAIS PODRE DE TOMA LÁ, DÁ, PORQUE É ISTO: SE EU NÃO DER ALGUM MINISTÉRIO O PPB NÃO VOTA; E SEU NÃO PUSER O (…) O PMDB NÃO CIMENTA” (Fernando Henrique Cardoso confessando, em seu livro de memórias, uma das suas negociatas com os partidos da base para permanecer e poder governar – Caixas altas minhas).

    E isso porque ele (FHC) não cita as inúmeras “engavetadas” de processos que o seu PGR de bolso fez durante todo seus dois mandatos para que nada de seu governo fosse investigado. Pior é que, se ele tivesse vendido apenas a alma ainda seria um problema dele, mas ele vendeu a sua alma e o patrimônio brasileiro junto, ou seja, vendeu até o que não lhe pertencia.

    FHC, deveria constar no dicionário como sinônimo de hipocrisia e de cinismo.

  6. Ia escrever que ele sempre

    Ia escrever que ele sempre manda esquecer o que ele escreveu, mas o Saraiva foi melhor. Só me resta sugeir o título do livro. Mentiras ao Vento. Ou Memórias de um Bufão do Tio Sam.

  7. Já não chega ter sobrevivido

    Já não chega ter sobrevivido a oito anos de desgoverno FHC e cia.

    Ainda tenho que aturar às memórias de um golpista… frouxo.

     

  8. O filtro dele é bem seletivo,

    O filtro dele é bem seletivo, não passou o Cunha mas teve a seu lado o Sergio Motta, perto do qual  Cunha é aprendiz

    e não podemos esquecer do Ricardo (no limite da irresponsabilidade) Sergio, Vice Presidente Internacional do Banco do Brasil, que segundo a Veja, tomava vinhos de 5.000 dolares em Nova York (com foto).

  9. Eu tambem me recusei a sair

    Eu tambem me recusei a sair com a  Paola de Oliveira, me recusei a escalar  o monte Everest e me recusei a governar o país (meu ponto em comum com FHC),  embora nem ela nem  ninguém saibam saibam disso.

  10. arre!

    Esse FHC é pusilânime mesmo, hein… Tudo o que fez de ruim para o Brasil, todo esse bando de sangue-suga das privatizações que ele colocou em ação, uma procuradoria que engavetava tudo, tentou aparalhar do Supremo e vem com essa de que se recusou a nomear Cunha. Quanta grandeza, santa! Afasta de mim essa hipocrisia, que eu não sou da turma que bate palmas para tudo o que você diz ou desdiz. 

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