Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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O executivo financeiro na era dos conglomerados, por André Araújo

Por André Araújo

Entre 1945 e 1970, a organização das grandes empresas se dava em torno do setor de atividades, que exigia executivos experientes no setor. O conhecimento do RAMO DE NEGÓCIO era considerado essencial para se dirigir uma empresa. Nas montadoras existiam os que começaram como simples engenheiros de produto e chegavam à presidência com 40 anos de experiência no ramo. Nomes célebres como Lee Iacocca, com décadas na Ford e que depois salvou a Chrysler eram a regra do sistema capitalista.

No fim dos anos 60 começa uma nova era, os chamados “conglomerados”, grupos que, através de fusões e aquisições, juntavam empresas de setores sem relação um com outro. Nasce aí um novo tipo de empresa nos EUA, como a LTV, siderurgia e aviões, United Technologies, elevadores e turbinas de aviação,  Rockwell, eletrônica e utensílios domésticos, Raytheon, radares, mísseis e TVs, a própria General Electric, que de eletricidade se volta para química, plásticos, motores de aviação, financeira. Mas o grande inventor dessa onda foi Harold Geneen, um contador nascido na Inglaterra e que fez fama e fortuna nos EUA quando assumiu a presidência da International Telephone and Telegraph Corporation, a célebre ITT. Entre 1961 e 1970, a ITT comprou 350 empresas dos ramos mais disparatados, como locação de automóveis (Avis), hoteis (Sheraton), seguros (Hartford) bombas (Gould), de um faturamento de $700 milhões de dólares chegou em 9 anos a $17 bilhões, tornou-se uma empresa emblemática com envolvimento político nas quedas de Jango e Allende.

Geneen não fez só a ITT crescer. Ele foi o guru intelectual de uma filosofia empresarial que pregava que um bom executivo poderia dirigir empresa em qualquer setor, não precisava ser especialista em nada a não ser em finanças, replicando o que ele era de profissão, um contador-auditor que virou presidente de um vasto conglomerado multi-ramo.
 
Esse doutrina Geneen virou uma espécie de crença universal e fez nascer o EXECUTIVO FINANCEIRO que dirige empresas de ramos que não conhece por experiência, ele só conhece finanças e números. Grandes exemplos não faltam, toda uma geração de executivos que pulam de empresa em empresa com currículo de financeiro na mão, especialista em cortar custos a qualquer custo como quem espreme um limão, não importa qual o setor.
 
Isso pode funcionar a curto prazo, mas é um câncer para o capitalismo. Esse tipo de executivo é perigoso para a economia, não tem função social, pode liquidar a longo prazo com o próprio capitalismo. O caso SAMARCO é um exemplo típico. Para espremer custos e gerar lucros no trimestre e garantir o bônus de fim de ano, se espreme a despesa e cuidados com certas áreas que “parece que dá para cortar”, o geniozinho deixa de reforçar a barragem e provoca na sequência um prejíizo 200 vezes maior do que gastaria. Esse tipo de executivo se replica em tudo e só o Estado com agências reguladoras fortes pode barrá-lo de cometer desastres na tarefa de “cortar custos correndo riscos”.
 
O exemplo máximo e mais deletério é o do grupo GP-Lehman-Ambev com suas fusões infinitas de cervejarias, criando um monstrengo cujo mecanismo central é comprar para cortar custos e com isso pagar a compra. Que sentido tem para o mundo um grupo sozinho controlar 300 marcas de cerveja em cinco continentes? Gera exatamente o que, qual o benefício social a não ser para eles? O capitalismo só sobreviveu porque ao criar prosperidade e riqueza beneficia a todos, essa é a justificativa social e política do modelo capitalista desde Adam Smith, o capitalismo não pode ser só bom para os donos.
 
O capitalismo do tipo exclusivamente financeiro  produz concentração de renda e nada beneficia a população em geral. O fenômeno está sendo percebido mundialmente por pensadores como Piketty, Stiglitz e o resultado político dessa malignidade do capitalismo financeiro pós 1970 está se expressando em situações políticas em grandes paises onde uma população desencantada com a concentração de renda vê em candidatos fora do circuito financeiro-político, como Trump, que é rico mas não faz parte do sistema corporativo, ele é empresário individual, e novos partidos pela Europa, subprodutos desse mal estar anti-capitalista que esmaga as pequenas empresas e concentra toda a economia em mãos de meia dúzia de grupos, no processo reduzindo salários e eliminando empregos.
 
Além do aspecto social, esse modelo é intrinsicamente disfuncional, elimina a concorrência e ameaça o Estado. A concentração que se permitiu no sistema bancário brasileiro é absurda e levou a cartelização do sistema que pode cobrar as mais altas taxas de juros do planeta e é uma das causas da recessão brasileira. O modelo gerou um exército de empregos marginais de milhões de pessoas ganhando baixos salários, quando antes da expansão desse modelo a distribuição dos salários médios era muito mais equitativa nas empresas e bancos, o sistema era mais harmônico.
 
Geneen criou um monstro e seu modelo, em algum momento, será contestado por explosões sociais a nível mundial.
 
A doutrina do executivo financeiro contaminou as “escolas de administração de empresas” que estão totalmente voltadas à formação de executivos financeirizados sem ligação com produto ou ramo, só com balanços, o que em nível macro torna o conjunto das empresas menos eficientes para o sistema econômico como um todo, embora possam ser eficientes para os bônus dos executivos. Essa disfunção esteve por trás da crise financeira de 2008 e está atualmente produzindo um mal estar mundial nas economias dos países ricos e emergentes, ninguém está satisfeito com a economia porque ela não está mais atendendo às necessidades e expectativas das populações.
Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

22 Comentários

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    1. Político profissional? Tem

      Político profissional? Tem certeza que vai sustentar essa tese caro debatedor Lionel?

      Você, certamente, defende teses melhores do que esta. 

      Esta aí é flagrantemente anti- democrática meu caro!

      Não há  falar em político profissional. 

      Aliás, esse , penso, pode ser mais um de nossos grandes pepinos!

      O uso do poder precisa ser renovado. O sufrágio é UNIVERSAL meu caro debatedor.

      E se é universal não deve ficar na mão daqueles que “financiam” campanhas”!

      Pense muito bem nisso, meu caro debatedor.

      Tenho a certeza de que vais mudar de “tese”.

      Saudações 

       

  1. A teoria “X” das finanças

    Bom dia senhores, Nassif e equipe, debatedores em geral.

    Caro André,

    preliminarmente, capto  daqui, um certo viés progressista de sua parte. Digamos, uma certa tendência ao “capitalismo”  de Keynes. ( do filho). 

    Que bom.

    Deixo claro, no entanto, que não pretendo resumir a sua análise ao pensamento dessa importante “corrente” econômica.

    Por outro lado, “alguém”  já disse que a macro economia começou a se perder a partir dos anos 1970, justamente com a “morte” de Keynes e a “ressurreição do deus  “Smith”,  trazendo aquele “capitalismo novo”.

    Sabe como foi o discurso ainda presente, não é mesmo? Mais ou menos assim: a “liberdade” é “fundamental” e o “mercado” é o “único” ser que a “cria” ,a  “garante” ,razão pela qual deve ser ferozmente “prestigiado”.  O Estado com “E” maiúsculo passa a ser ator coadjuvante com “e” minúsculo. E bota minúsculo nisso…

    Nem me fale  de “imposto de renda”, diria Regan. ( que não era ator coadjuvante, certo?)

     

    Bom, não vou aqui perder meu tempo ensinando padre a rezar.

    Gostaria apenas de contribuir com o debate jogando um pouco de lenha nessa fogueira. Vejamos.

     

    Você começou em 1945. Interessante início.

    Logo após a guerra quente. 

    Todavia, vale  lembrar que antes seria preciso resgatar o “capitalismo” até mais ou menos 1929.  Salvo engano, as ideias econômicas e”capitalistas” de Say ( entre outros) com aquela “mão boba e invisível” não prosperaram. Por que? Especulação  financeira de novo? Ou melhor, lá de novo, naquela épóca de novo? ( não precisa explicar nada, foi apenas uma provocação para o debate de ideias).

    ____________________________

    Alguns dizem que o “capitalismo” já até mudou de nome pra “vender” a sua “essência” como, por exemplo, o  Galbraith. Agora seria mais “interessante “vender” a “ideia” de “economia de mercado” ao invés de “capitalismo”.

    Afinal, “capitalismo” lembra “capital” e este lembra “O Capital”  do “abominável” rico, burguès, barbudo, cachaceiro, preguisoço, infiel, burro, Karl marx…rsrsrs.

    Para alguns, se existe diabo na face da terra, esse diabo tem nome ou apelido:  Karl Marx 

    Mas, não vamos por aí, certo.

    Voltemos.

    Você disse:

    “A doutrina do executivo financeiro contaminou as “escolas de administração de empresas” que estão totalmente voltadas à formação de executivos financeirizados sem ligação com produto ou ramo, só com balanços, (…)

     

    Eu prefiro dizer:

    A escola de administração, no Brasil, nasce, efetivamente, “sem medo” em  setembro de 1965.

    Ano curioso não? Logo 1965?

    A “racionalidade” nas “tarefas”  de um Taylor da vida conjugada com o “frigorífico”  de um Ford da vida  estruturada como um Fayol da vida e burocratizada a la weber da vida,  entre outros da vida ( do  norte, é claro!) adeptos de uma teoria “X” da vida, surge aqui no “quintal” periférico brasil,  justamente em 1965, isto é, justamente após a “queda” do Jango?…( que não foi queda, foi golpe, e em seguida fuga para não derramar sangue( dizem; diga aí Brizola!)

     

    Eureca!

    Agora entendi como esses “agentes econômicos”, racionais e sociais, do tipo  “conglomerados” eram e ainda são muitíssimo contra àquela lei “estúpida” e infeficaz lei nº 4131/1962  de setembro de 1962 ( ops! que ano interessante não?)

    E a lei 6404/76 hem?

    Essa é boa também. Está repleta de direitos “sociais”, isto é, direitos dos sócios (kkk) para o bom futuro da “nação”.

    Enfim, brincadeiras a parte, vamos combinar meu caro.

    O que vale é  lucro líquido livre de impostos, juros,  já débitado(recebido) no caixa, ou melhor no banco, ou melhor ainda, na subsidiária, ou ainda melhor, se essa estiver num “paraíso” ( kkkk) e no curto prazo, já que no longo prazo, todos nós estaremos mortos( kkkk) . Tudo isso a  um “certo custo de oportunidade que aquele “colega”  sacana me cobra.

    O resto é conversa…

    Saudações 

    1. Agradeço o comentario. Essa

      Agradeço o comentario. Essa minha anlise progressita não é nova. Meu livro MOEDA E PROSPERIDADE, de quase 1.000 paginas, é focado exatamente nesse tema, eu faço um ataque frontal ao neoliberalismo dentro do contexto do post.

      O livro foi publicado em 2005 pela Top Books mas foi escrito entre 2002 e 2003.

      1. Já vi esse calhamaço nas

        Já vi esse calhamaço nas livrarias. Folheei-o. Talvez, consiga lê-lo num futuro próximo. Agora, não o adquiri por que:

        – Estava e estou  lendo outros calhamaços de outras áreas mas que são também da área social e;

        -Ultimamente estou zangadíssimo com os “economistas”, sobretudo, os que “criam” suas teses econômicas que não refletem a “realidade” brasileira. Mas, mesmo assim, tentam implementá-las aqui sem qualquer “ajuste”.  São, na verdade,  “marionetes” bem pagas para difundirem ideias  de “escolas centrais” , aqui  na “periferia”. ( como dizem)

        – Espero que não seja o seu caso!

         

        Lado outro, penso que os “economistas” estão “perdidos”. Parece-me que não sabem resolver problemas(*) da própria área econômica. Isso, na minha opinião, é grave, pois  conflitos mais explícitos rondam  por ai.  

        Espero que v. me compreenda.

         

        (*)- quais seriam estes problemas? Eis a pergunta que não admite resposta “simples”. Ou melhor, a resposta pode até ser simples mas, certamente, vai  “mexer” num vespeiro de conflito de interesses cujas consequências não são fáceis de administrar.  Não há  isoquanta “simples” nesse “modelo”.  

         

        No mais, desejo boa sorte para todos nós.

        Reitero que gostei do “espírito” progressista. Acho que é melhor do que aquele “espírito animal puro”  feroz e,  paradoxalmente, com uma “racionalidade ”     contrária à dos   seres humanos “racionais” e emocionais. 

        Saudações 

  2. “O exemplo máximo e mais

    “O exemplo máximo e mais deletério é o do grupo GP-Lehman-Ambev com suas fusões infinitas de cervejarias, criando um monstrengo cujo mecanismo central é comprar para cortar custos e com isso pagar a compra. Que sentido tem para o mundo um grupo sozinho controlar 300 marcas de cerveja em cinco continentes? Gera exatamente o que, qual o benefício social a não ser para eles?”

    André,

    No intuito de cortar para maximizar lucros estão cortando até os ingredientes da cerveja, haja visto que estão vendendo agua suja para seus consumidores. Estregaram todas as crervejas que puseram as mãos.

  3. Caro André,
    Logo teremos duas

    Caro André,

    Logo teremos duas castas: altos executivos e altos funcionários públicos e a ralé, em baixo.

    Já repararam os argumentos para aumentos saláriais do judiciário ? “Executivos de empresas ganham mais que nós”, “Advogados ganham 100 mil por mes”, etc..

     

  4. Minhas aulas de geografia.

    “O capitalismo do tipo exclusivamente financeiro  produz concentração de renda e nada beneficia a população em geral.”

    Nascido e criado numa região serrana, abrovi de imediato as aulas de geografia do velho curso Primário, e em seguida as leituras de Aroldo de Azevedo, nos livros de Ginásio, sobre o ciclo das águas. O motivo? Sempre observei, desde tenra idade o mecanismo das nuvens subindo as serras, a 35 ou 40 quilômetros do mar, a engrossarem e, dependendo da época, ali começarem a jorrar seu precioso soro da vida. Lindo espetáculo.

    O meu lugar tem o nome numa expressão indígena, “Lugar de onde vem as águas (ou rios)”. Justo porque, as nuvens carregam no Atlântico e se movem pra dentro do continente. Ao encontrarem a barreira… chovem. A chuva molha a terra, que faz nascer o grão, que gera o lodo natural, que escorre pros rios que voltam pro mar, alimentando os mangues e por eles toda a cadeia alimentar marítima.

    Mar egoísta, que não evapora, é só um monte de água salgada. Sem vida! Assim é a economia! Concentrou? Matou tudo. Inclusive o detentor da concentração. Pra que serve dinheiro que não circula?

    Excelente, André Araújo!

  5. “Que sentido tem para o mundo

    “Que sentido tem para o mundo um grupo sozinho controlar 300 marcas de cerveja em cinco continentes?” Acabar com o prazer de milhões de pessoas que apreciavam as marcas adquiridas! Grandes marcas (outras nem tanto) de cerveja cairam num lugar comum de dar dó. Obviamente estão ganhando rios de dinheiro! Em tempo, trabalho numas das multinacionais citadas, e este artigo mereceu destaque no clipping diário!

  6. Novamente, temos o privilégio

    Novamente, temos o privilégio de ler os posts de André Araújo

    Sensacional

    Quanto ao JP Lehmann, seu grupo comprou a Heinz nos EUA. Primeira providência: corte de 10% nos custos, sem pensar; nem raciocinar

    Estes caras comprarm a Antárctica Paulista, e destruíram um patrimônio nacional: A Cerveja Original (tão boa que era chamada de “Faixa Azul”)

    Com sua idéia imbecil e pasteurizada de cortar custos (maximizando lucros e ferrando empregados), acabaram com a reputação desta cerveja. Quando vc abre uma Orginal, não percebe a diferença de sabor e aroma entre esta cerveja e as outras da companhia. Até a textura mudou

    É por isto que a “Revolução Cervejeira” (produtores artesanais espalhados pelo mundo) tira o sono destes tubarões

    Lamento que uma cerveja premium brasileira tenha caído na mão destes tubarões

    Lamento que sujeitos desta laia destruam marcas centenárias

    1. Todas as cervejas do grupo

      Todas as cervejas do grupo tem o mesmo gosto, muda o rotulo e a embalagem. Tampouco são sempre eficientes, compraram a ALL Logistica que virou um lixo e foi revendida para o grupo Cosan em estado de total sucateamento. As empresas de venda em line ligadas à Lojas americanas tampouco foram um sucesso.

      O ambiente interno nesse grupo é PESSIMO, eles se orgulham que exigem tanto dos executivos que poucos casamentos resistem, é todo um ambiente de enxofre, de ar pesado, de um derrubando outro, só é bom para os donos.

      Eles fizeram a fortuna no Brasil e mudaram para a Suiça onde moram e pagam impostos, deixando aqui apenas rastros.

      1. Uma das primeiras aquisições

        Uma das primeiras aquisições predatórias da AMBEV foi a Antarctica de Ribeirão Preto, simplesmente para fechar logo depois.

        Na minha opinião esta era uma das melhores cervejas do mundo, mesmo hoje pouquíssimas se aproximam dela, mas foi extinta porque assim quiseram uns idiotas que nem devem gostar de cerveja, basta ver a porcaria que fabricam.

        Desde aquela época bebo pouquíssima cerveja porque me recuso a por na boca qualquer coisa feito pela AMBEV e não é fácil encontrar uma cerveja independente, leve e saborosa.

        1. Marcelo, não bebo. . .

          Marcelo, não bebo cerveja há nove anos, mas meus quatro filhos que adoram cerveja, dizem que hoje só tem uma cerveja “bebível”, a Heineken, que não usa nem milho nem arroz em sua composição. Um de meus filhos que trabalha com uma casa de eventos em Maringá-PR, me disse que vem aumentando muito a procura por cervejas estrangeiras e chopps artesanais, quem tem um pouco a mais de dinheiro no bolso, foge das cervejas brasileiras como o diabo da cruz. Mas o povão nunca bebeu tanta cerveja nacional, mercadinhos de vila e até quitandas tem instalado freezers e até cãmaras frias e estão ficado ricos vendendo cerveja. O que enriqueceu a AMBEV, mais que o corte de custos foi o PT que aumentou o salário mínimo e a renda média do trabalhador brasileiro, que passou a beber cerveja como “nunca antes na história deste país”. 

  7. PQP… um texto desses é um
    PQP… um texto desses é um bálsamo intelectual.

    AA, boa parte dos esquerdistas se identifica plenamente com o que expõe… o capitalismo em benefício apenas de alguns é deletério ao próprio sistema. Não à toa a Era dos “trinta gloriosos” foi baseada em força da massa salarial e controle do mercado financeiro.

  8. TAM – Exemplo paradigmático

    Após o falecimento do Comandante Rolim no início dos anos 2000, a família decidiu “profissionalizar” a gestão da empresa aérea. A despeito do trágico acidente do Focker-100 na década de 90 em Congonhas, o modo simples e cordial do comandante era motivo de muita consideração de seus clientes-passageiros. 

    A filosofia Rolim foi suplantada pelo modelo que o Nassif entitula de cabeça de planilha, com a ascensão, em 2005, de Marco Antônio Bologna ao cargo de presidente da companhia, engenheiro politécnico egresso do mercado financeiro. A “missão Bologna” era simples: prerarar o terreno da companhia para o IPO e fazer torná-la a companhia aérea de maior valor de mercado. A partir daí, um abraço. Outrora empresa simpática, a TAM virou um horror, sinônimo de atendimento terrível, frio, overbooking, atraso, constrangimento, enfim, uma percepção de absoluta DESCONFIANCA pelos passageiros

    Tudo em função da máquina de corte de custos. Hoje, em tendo a participação majoritária dos chilenos, a coisa parece que, em efetivo, piorou de vez. A atual presidente, uma jovem abaixo dos 40, foi pescada de uma consultoria de alta gestão (Bain & Co). Pra que? Foco 100% em market value e busca de sinergia com a LAN. E só. E a satisfação dos clientes? Em um mercado quasi-oligopolista, pra que se dar ao luxo de receber bem o cliente (como o comandante Rolim fazia)

    Coisa sem sentido, por exemplo, é imaginar que empresas exitosas do Vale do Silício como  Google, Apple, Twitter, e Facebook  ver pescar um consultor da McKinsey, da Boston Consulting, ou um banqueiro do Morgan Stanley, do Wells Fargo ou da Citibank para, de uma hora pra outra, ser CEO. No final do ano passado, fiz um bate-volta pra Santiago provei o dissabor dessa transformação a que se viu na então querida TAM (hoje chamada de LaTAM). 

     

     

  9. RIP capitalism

    Até os liberais estão alarmados com o fato de que é muito mais seguro e rentável para uma empresa colocar sobra de caixa em um hedge do que investir em máquinas, equipamentos etc. Acabei de ler “The crash of 2016”, de Thon Hartmann. Recomendo. Ele dá valores de investimentos em papéis de várias empresas americanas. Até o Google está comprando papéis em quantidade. Claro que a coisa vai levar ao abisbo em breve.

  10. “Monstros “, exagerou

      Parece até que conglomerados nascem por geração expontanea, aliás empresas são criadas para gerar lucro, e a busca por performances cada vez melhores em um mercado competitivo, reduzir custos, buscar sinergias, adquirir ou fundir-se com outras empresas, faz parte, a 1a obrigação de uma empresa é com seus acionistas, e se as legislações permitem a criação de conglomerados, as instancias de controle são inócuas, não é “culpa” dos empresários/investidores, é dos que legislaram neste campo.

       Especuladores, “tycoons”, bancos especializados em fusões/aquisições, não são “monstros”, sempre a espreita para sanitizar o mercado de trabalho, apenas agem sobre as falhas cometidas por outrem, pois se empresas individuais não conseguem se sustentar, competir no mercado, é porque seus gestores falharam, e os “conglomerados” ao agirem, pelo menos recuperam partes ou até mesmo a totalidade destas empresas, e claro, a 1a ação de um novo “dono” ou gestor, é cortar custos, renovar as linhas de produção, até mesmo fechar a empresa é uma opção valida ( elimina um concorrente, transfere os melhores do quadro de funcionarios ).

        Não existe “maldade”, monstruosidade intrinseca, são negócios, ou prefere-se um monte de falencias, recuperações judiciais; executivos financeiros proporcionam a seus contratantes, tanto ou mais retorno que colaboradores/gerentes adidos diretamente a produção, os quais muitas vezes não percebem a tempo, que a empresa esta indo para o buraco, só veem o balanço, uma peça contabil que não explica a realidade futura, é uma foto ( mal tirada ) do passado.

         Este sistema tem falhas, obvio que as possue, nenhum anterior a ele foi virtuoso em totalidade, mas jogar a culpa, até a “social – politica” nas costas dos agentes de mercado, na financeirização, é uma fuga, aliás bem comoda, tanto para governos como para partidos, sindicatos, empresários fracassados e ultrapassados, que não assumem seus erros, suas péssimas descisões, e como todo mundo, em tese, nos odeia, que somos os culpados preferenciais ( ninguem discute este nosso “protagonismo” ) de qualquer crise, somos o alvo perfeito para o descarrego dos incompetentes.

          Só tem um pequeno detalhe : Sempre sobrevivemos, todos estes que nos odeiam – desde os primeiros templos que emprestavam sementes para agricultores, cobrando juros, na época da Babilonia – em algum momento vão precisar de nós, para financia-los, aumentar sua produção, até para salva-los, afinal não somos Lucifer, mas tambem não chegamos a santidade de São Francisco de Assis.

  11. Leveraged Buyout – LBO ou Compra Alavancada

    Caro AA, há muito acompanho os seus artigos aqui no blog e, embora as vezes discorde de algumas posições, é sempre leitura interessante. Muito oportuna e competente a análise neste aqui.

    Vivo na Suíça e acompanho também bastante a mídia francesa. A “malaise” dos excluídos por esse paradigma que vc descreve é palpável, resultando no aumento da representação politica dos extremos do espectro politico – os anti-sistema – a esquerda mas principalmente a direita.

    Aqui na Suíça manda na coalizão de governo o SVP, o partido xenófobo patrono daquela famosa charge da ovelhinha branca que chuta as ovelhas pretas pra fora do território. Pra manter a base animada e fiel a cada 6 meses ou ano chamam um referendo demagógico e xenófobo. E ganham… geram no embalo um imenso pepino para o Parlamento, ja que essas propostas demagógicas colidem com diversas obrigações de tratados internacionais, principalmente com a UE e tratados de direitos humanos. Esse fim de semana tem mais um referendo convocado nessa linha…

    Mas voltando ao tema do post propriamente, vale a pena ver os programas de economia da TV publica francesa (que saudades da Miriam Leitao, Sardemberg e Luquet comentando nas organizações globo – só que não!). Os programas aqui batem muito nessa tecla da estratégia puramente financeira de M&A, o LBO – “Leveraged Buyout”, ou aquisição alavancada em que o comprador se alavanca para comprar a empresa-alvo, usa os ativos da empresa comprada como garantia dos empréstimos que contraiu para pagar a compra e repaga os credores com os dividendos futuros da empresa comprada – devidamente espremida com fechamento da custosa área de pesquisa e desenvolvimento (fatal para o futuro da empresa), demissões em massa, fechamento de unidades fabris e corte de custos do limite da irresponsabilidade. É a magica que fazer uma compra milionário sem colocar um centavo do próprio bolso!

    É obvio que no curto prazo o retorno sobre o capital e os dividendos vão as alturas, já que o custo desaba enquanto a receita se mantem a mesma. Mas dali a 5 anos a empresa estará no CTI. Nada importante para quem comprou, em geral fundos de asset management, que nunca pensaram em ficar na empresa mais do que esses 5 anos, quando venderão a empresa por muito mais do que compraram – devido ao ilusório aumento do retorno sobre o capital e consequente alta das ações no curto prazo. Azar de quem comprar a empresa sem futuro depois e dos trabalhadores quando há falência ou deslocalização das fabricas para a Asia.

    Esse enfoque puramente financeiro de M&A seria tipicamente anglo-saxão, com os fundos dos EUA e UK fazendo incursões no continente Europeu – no resto do mundo a historia é a mesma – em busca de empresas encrencadas para tocar a “magica” do corte de custos e aumento do retorno sobre o capital para futura venda e lucro.

     

    PARA QUEM ENTENDE FRANCES (vale muito a pena):

    Anexo um programa bem completo do ano passado da TV francesa sobre esse tema, investigando diversos casos parecidos. Atenção a partir de 1h 20min. É a reportagem final. Analisa o caso Samsonite, adquirida pelo fundo do ex-candidato Republicano a Casa Branca Mitt Romney – Bain Capital – e submetida em seguida a sangrias para pagar a alavancagem contraída para a compra. Casa perfeitamente com a sua analise aqui, AA. Atenção a descrição esquemática da operação de compra e venda da Samsonite pelo tal fundo a partir de 1h 32min. Compraram por USD 100 milhões e venderam alguns anos depois por USD 1.7 bi! Aumentaram 17 vezes o valor, enquanto as unidades fabris fechavam. Magica!

    Mais uma nota: chama-me a atenção aqui a “accountability” – mal traduzindo “prestação de contas” – das autoridades e mesmo dos representantes das empresas. Ministros dao a cara pra bater em programas como esse – aqui o todo poderoso ministro da economia, Emmanuel Macron, a partir do min. 28:30 do vídeo.

     

    https://www.youtube.com/watch?v=pjULdLxdZeg

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