O exemplo de Joaquim Barbosa, por Marcos Coimbra

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Da Carta Capital
 
O exemplo de Joaquim Barbosa
 
Ele não deixa nenhum legado digno deste nome. Nada há de construtivo no seu protagonismo. Ao contrário: o ministro naturalizou o ódio na vida pública
 
Por Marcos Coimbra 
 
A respeito de Joaquim Barbosa podem-se discutir várias coisas. Suas motivações, por exemplo: o que teria levado um jovem frustrado no sonho de ser diplomata a jogar para o alto a carreira e querer se tornar promotor? Era mesmo a Justiça seu objetivo? 
Podem-se discutir os atos e comportamentos como ministro e presidente do Supremo Tribunal Federal. Depois do anúncio da aposentadoria precoce, diversos especialistas o fizeram. Se há, entre eles, quem tenha aprovado a “obra” de Barbosa, ficou calado.
 
O máximo que se obtém é uma defesa entortada: “Agiu errado, mas queria o bem”. Era mesmo o bem o seu norte?  
Suas motivações são assunto para psicanalistas. As coisas que fez e deixou de fazer como magistrado devem ser interpretadas por quem entende de Direito. Mas de uma coisa podemos estar certos: foi sábia a decisão dos examinadores do Instituto Rio Branco que o consideraram inapto para a diplomacia. Alguém calcula as confusões que teria aprontado se viesse a ser embaixador?
Podemos também discutir as consequências de sua passagem pelo primeiro plano de nossa sociedade. Não foi longa, mas acabou por se tornar relevante. Merece ser avaliada.
 
Sua trajetória, está claro, só teve efeitos mais amplos por ele ter sido transformado, com visível satisfação, em instrumento das oposições ao “lulopetismo”, especialmente de seu braço midiático. Caso não tivessem celebrado um casamento de conveniências, o impacto seria outro.
 
Sem o “julgamento do mensalão” ou na hipótese de que ele só ocorresse depois da eleição deste ano, Barbosa seria de utilidade limitada. Apenas mais um ministro do STF, sem nada que o destacasse.
 
O braço mais radical da mídia conservadora ofereceu-lhe o posto de herói em troca da realização de uma tarefa. Seria recompensado se fizesse a parte dele e punido se recusasse o papel. Que o digam as vaias encomendadas contra Ricardo Lewandowski.    
A cada vez que retribuía os carinhos recebidos ganhava novos mimos. Tudo nele se tornou elogiável: a mise-en-scène, o modo de dizer o texto, a expressão corporal, o figurino. Ganhou capas de revista, longas e laudatórias reportagens na tevê, belas manchetes. Virou “o menino pobre que mudou o Brasil”, o “responsável pela transformação do País”, e por aí afora. Em troca, deu muitos presentes, nenhum tão vistoso quanto a prisão dos condenados em 15 de novembro de 2013, levados a Brasília como troféus da “limpeza ética” à sua moda. Naquele dia foi autor, roteirista e diretor de espetáculo.
 
Seria exagero dizer que Barbosa trouxe o ódio, a truculência e a intolerância para a política brasileira. Ou que foi ele quem fez nascer esses sentimentos em uma parcela importante de nossa população. A emersão de sua figura, fabricada por ele e a mídia conservadora, é inegável, acompanhou e incentivou uma deplorável mudança em nossa cultura política. Tornamo-nos um país onde alguns acham “normal” odiar um adversário e sentir raiva de tudo, inclusive do próprio Brasil.
 
A violência saiu dos guetos neonazistas e das fanfarronices de skinheads, espalhou-se e se achou legítima. Por que não seria válido odiar se uma figura tão elevada da República não escondia seu rancor? Por que um black bloc não poderia manifestar sua raiva quebrando coisas, se regras “erradas” podiam ser rompidas por ele?
 
Há quem pense ter sido Barbosa importante no processo de valorização da identidade negra no Brasil. Que poderá ser uma referência para crianças e jovens negros, ensinando-os a enfrentar limitações e preconceitos. Pena, mas é improvável. Nada há de construtivo no seu protagonismo. O que poderia ter havido foi tragado pelo espírito de vingança, que, com o histrionismo, tornou-se sua marca.
 
Resta a ilusão dos menos informados de que, “mal ou bem”, Barbosa teria trazido uma contribuição moralizadora à política brasileira, fazendo com que, “depois do julgamento do mensalão”, as coisas se regenerassem. Nada menos verdadeiro. Nem antes, nem durante, nem após o julgamento algo mudou, em qualquer partido ou nível de poder.   
Ele não deixa qualquer legado que mereça tal definição.
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

15 Comentários

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  1. Uma frase define o que é

    Uma frase define o que é mudar a sociedade com bom senso:

     

    “Agir quando se tem raiva, é como içar velas em plena tempestade. “

    Eurípedes

     

    O princípio para mudar o modo de pensar daqueles que discordamos, é aceitar que eles tenham o direito de agir diferentemente de nós, por seu livre arbítrio. Aceitação, lembrando que aceitar não é concordar.

    A verdadeira mudança na sociedade para melhor começa com uma mente e coração serenos. Os ventos de tempestade não levam a lugar nenhum, só servem para destruir.

    1. Corrupação deve ser tratada

      Corrupação deve ser tratada com carinho,  sem ravia, afinal corrupto é um ser humando como outro qualquer. Além disso, se legalizasde talvez fosse até melhor, assim como sairia mais barato o Estado prender quem se recusse ser.

      1. Guerra e Paz Interior
         
        Agir

        Guerra e Paz Interior

         

        Agir sem raiva não significa não agir.

         

        Sereno por dentro, e aguerrido por fora. O país pode muito bem lutar contra a corrupção, mas sem raiva, aliás os maiores guerreiros de todos os tempos, os samurais no antigo japão treinavam a serenidade, para que durante as batalhas a sua mão não tremesse quando empunhavam o arco e flecha, ou a espada contra o inimigo.

        O auto domínio é essencial para vencer uma batalha. O pecado não é lutar, mas sim lutar com ego, com raiva, e acima de tudo com honra. O verdadeiro guerreiro não leva a luta para o lado pessoal.

        Quando o povo quer mudar um país não será com arruaças que o conseguirá. Mas num movimento legítimo que traga para a eleição uma opção real de candidato ao país e acima de tudo um discurso que seja do agrado da maioria. Quando se luta de cabeça quente não se chega a lugar algum; com uma luta coordenada e bem pensada consegue-se melhores resultados.

        Quando Joaquim Barbosa julgou a ação penal 470 está certo, se houve denúncia deviam averiguar mesmo; o que deixou a desejar foi a forma como julgamento foi conduzido; sem provas, perseguição aos réus privando-os do direito de trabalhar, manter um condenado preso em regime fechado, sendo que ele foi condenado ao semi aberto. podia-se ver que havia um desejo de condenar, e um juiz não pode ter desejo, tem de ser sereno e imparcial. Não estou dizendo que eles sejam inocentes, mas a maneira como o julgamento foi conduzido dá brechas até para que ele seja anulado futuramente. Pode ser que até os condenados sejam indenizados por terem seus direitos desrespeitados; e além do mais o resultado do julgamento não influenciou em nada as eleições. Porque com um julgamento tão tendencioso assim, acabou perdendo a credibilidade diante dos eleitores. Se o objetivo era apear o PT do poder, não convenceu. Muita gente realmente acredita que o crime nunca existiu, ou que foi caixa 2. Tudo porque havia cabeça quente na hora de julgar.

        E é por estas e outra que a oposição nunca chega ao poder neste país. Não convence.

         

         

        “O ódio pode até levar alguém a uma batalha, mas é uma péssima arma”

  2. Quando Joaquim Barbosa não

    Quando Joaquim Barbosa não foi aceito no Itamarati, o que vi escrito por aqui de coisas que isso era em função da cor da pele do sujeito e não por desequilíbrio mental de JB não foi brincadeira. Vixi.

    1. Teste de sociopatia eh

      Teste de sociopatia eh standard mundial.  Barbosa falhou.

      Vai ver alguem precisa de mapa!

      Qualquer um…  menos o judiciario brasileiro.  Ele eh o que eles merecem.

  3. Para o Barbosa só digo uma

    Para o Barbosa só digo uma coisa: A QUALIDADE do justo é a JUSTIÇA EM TODO TRAJETO DE VIDA!

    Ele foi justo com o Zé Dirceu ao manipular tempo das penas?

    Ele legitimou a Satiagraha?

    Que outro feito ele patrocinou?

    A teoria do Dominio do Fato do Barbosa é um marco jurídico? Onde?

     

  4. Promotor  seria perfeito

    Promotor  seria perfeito ,segundo o provável  psicotécnico a que teria se  submetido. Piromaníaco,igualmente, lhe cairia bem.

     Itamaraty detectou a tempo   uma bomba  diplomática e desarmou-a.Melhor, enviou-a com o pavio aceso ao STF,não explodiu , como se acreditava,apenas  disseminou  intenso odor  de gás metano.

     

  5. É isso, JB e seu comando,

    É isso, JB e seu comando, institucionalizaram o ódio e a violência está legitimada como instrumento de reivindicação. O problema que isso só é válido para o 1%. A violência passa ser um privilégio. Qdo dão o azar de matar um da mesma espécie, como no caso do cinegrafista da Band, escolhem alguém dos 99% para pagar o pato. Estão os dois trancados até hoje e, não vou estranhar se nunca mais ouvirmos falar deles. Lembrando que Boechat que tanto criticou a Sherazade, foi um dos que mais estimulou a violência dos coxinhas.

    Um relato compartilhado no FB, dá conta que uma moça teve a boca arrebentada por um grupo desses. E aí? Como é que fica?

    “Adorei o texto Ines Duarte, peço licença pra compartilhar. Sou uma Nacionalista convicta e Petista apaixonada. Sofri junto com a minha filha e o namorado dela, uma agressão de quem faz o Brasil atual não ter “esse lado bonito”. Bandidos, marginais, idiotas travestidos de trabalhadores da construção civil, protegidos por um tal “SCP Conlutas – central sindical e popular”, numa tal (conforme a globo e cia), manifestação pacífica, nos trancaram colocando o carro do sindicato embaixo do sinal de trânsito, impedindo o nosso acesso ao Centro Administrativo do Banco do Nordeste, onde eu estava indo para trabalhar de carona. Ao buzinarmos depois de mais de 10/15 minutos PARADOS NO TRANSITO, os marginais abriram e passamos pelo sinal e ao nos aproxirmarmos da entrada do banco, ouvimos uma pancada muito forte e o vidro do passageiro na frente, onde estava minha filha, ficou estraçalhado, com um enorme buraco e minha filha, por providência divina, ao virar o rosto ao ouvir a pancada, teve os dentes da frente estraçalhados…A sorte dela foi termos dentro das dependências do bco, uma ambulância com pessoas TRABALHADORAS DE VERDADE, que salvaram minha filha que ficou com a pressão 3 por 8 e que nos kevaram ao Hospital Antonio Prudente onde ela foi muito bem atendida. Ainda estamos enfrentando várias batalhas tipo jurídicas, estéticas, coberturas planos de saúde/ seguros etc e tal. Aproveitei sua postagem porque acredito no presente e no futuro do Brasil, acredito que o PT/Lula/Dilma mudaram e mudarão bem mais, para melhor, nosso País que sofreu porrada durante 500 anos e que hoje tá esquecido por um bocado de sabidinhos. Gostaria que esse desabafo chegasse ao IML CE; OAB-CE; GOVERNO DO ESTADO; POLICIA MILITAR; IMPRENSA; Nonato Albuquerque; e a todos @s amig@s que sentirem vontade de compartilhar com a nossa indignação”

    1. “Alguém calcula as confusões

      “Alguém calcula as confusões que teria aprontado se viesse a ser embaixador?”

      Bastaria essa pergunta para dar nota DEZ ao texto! 

  6. Faltou muito pouco para o capitão do mato

    acusar o Lula e o PT por formação de quadrilha referente ao processo do  mentirão. Se o capitão do mato tivesse conseguido esse feito o Lula já estaria preso e o golpe seria concluído com naturalidade  nas eleições de outubro. E ficaria muito mais fácil o efeito dominó em toda a América Latina para outros golpes.

    Fica aqui meus parabéns (novamente) para o Lula e o Dirceu pela excelente escolha do capitão do mato (e outros ministros) para o stf. Não me canso de dá parabéns para o Lula pelo seu amadorismo nessa área. 

    Eu espero que a Dilma não seja amadora quando for escolher os próximos ministros para o stf.

     

  7. Aos críticos do JB

    nos corredores do judiciário pode ser que ele seja um péssimo exemplo, um erro.
    Só pra vocês. Porque para o povo JB tentou condenar os vagabundos do mensalão e foi impedido por alguns companheiros de tribunal que pensam diferente.
    Eu acho que ele se exaultou diversas vezes, mostrando esse lado que vocês tanto repudiam, mas é que diante de tantos fatos que levariam o julgamento do mensalão a nao condenar ninguém, confesso que também teria perdido a peciência. inspirado no eminente ministro Roberto Barroso lhes digo: “meu voto (minha opiniao) vale tanto quanto a de vocês”

    1. Por que só o PT

      Os vagabundos do mensalão do PSDB ele não quiz condenar. E aí caro Joaldro? Ou sua indignação só vale para PT? Seu bairrismo político é de lascar.

      1. amigo. nao tenho partido.

        amigo. nao tenho partido. discuto partidos. discuto atitudes… nao tenho nada contra nenhum partido. se liga. to citando o mensalão julgado, que por acaso envolveu o PT.
         

  8. Acho uma tremenda ingenuidade

    Acho uma tremenda ingenuidade achar que Joaquim Barbosa agiu apenas por instintos primitivos.

    Não acredito nisso. Ele sabia muito bem o que estava fazendo, desde que assumiu a relatoria da AP470.

    Ele tinha um plano, e cumpriu o plano à risca, não se importando que seu nome fosse para o lixo da história.

    Meu palpite é que sua “missão” principal era colocar José Dirceu na prisão, a qualquer custo.

    Agora que se esgotaram os meios para continuar cumprindo sua missão dentro do STF, ele sai, talvez para continuar trabalhando em sua missão a partir de fora do STF, onde ele poderá convenientemente bombardear o próprio STF caso José Dirceu (e Genoíno) consigam ir de fato para o semi-aberto.

    Acredito que um dia todos os detalhes de sua passagem ainda irão ver a luz dia,

    PS. Acho que José Dirceu (e seus companheiros) ainda não podem se dar ao luxo de comemorar. A relatoria da AP470 pode ir para Gilmar Mendes, Fux ou Marco Aurélio, que apoiaram integralmente o “trabalho” de Joaquim Barbosa.

  9. Lamentável

    É lamentável que alguem tenha uma oportunidade como essa e a jogue fora assim. Vai ser um exemplo para que outros não façam o mesmo.

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