O machismo incrustrado na classe média

Nos últimos tempos, tenho me dedicado a uma pesquisa especial. Sondar, sutilmente, como são (ou eram) as relações pessoais em casamentos de mulheres bem-sucedidas.

Uma amiga antiga já tinha me falado do pequeno inferno diuturno em casa. Ambos trabalhando, ambos atarefados, a mulher começa a voar. A reação do marido é criar o pequeno inferno doméstico, usando o álibi dos pecadilhos diários, ridículos – um esquecimento, um móvel fora do lugar, um compromisso não agendado – para exercer o mando.

Não acontecera apenas com ela, mas praticamente com todo o universo de amigas, igualmente bem-sucedidas.

Extrapolei a pesquisa para mulheres de outros campos profissionais. Uma delas profissional liberal, viúva há 4 anos, de um casamento feliz. O marido era IBM. Descrevi de imediato o dia-a-dia caseiro: ele se incomodava com qualquer detalhe fora do lugar para encontrar motivo para implicar.

Ela arregalou os olhos e indagou surpresa:

– Como você sabe?

Pedi desculpas pela intromissão, afinal estava ali apenas para um tratamento ortodôntico, de um maxilar travado pelas tensões da Lava Jato.

Desde cedo tentei passar para minhas meninas os riscos dessa armadilha, de mulheres brilhantes sendo boicotadas em casa por esses pequenos e traiçoeiros movimentos de poder.

Minha homenagem à doce feminista formada por esse trabalho de três gerações familiares em defesa da igualdade para as mulheres, a Dora.

Dia desses, fui surpreendido entrando no seu Facebook e me deparando com um manifesto dela, em favor dos shortinhos do seu colégio. Não pelo tema em si, mas pela clareza dos argumentos, pela maneira como deslindou uma dessas armadilhas culturais do dia-a-dia, que muitas vezes passam despercebidas.

O manifesto recebeu mil assinaturas, o movimento teve a adesão de 220 colegas. Aparentemente tornou-se vitorioso.

 

Liberdade aos shortinhos 

Destinatário: Direção do Colégio 

Nós, alunas do Colégio …, viemos por meio desse abaixo-assinado reivindicar nossos direitos de liberdade de escolha e expressão, para enfim conseguirmos acabar com as restrições direcionadas somente às mulheres dessa escola, em relação as suas vestimentas. Enquanto os meninos têm a liberdade de usar o que querem, nós somos retiradas da sala de aula para levar sermão, e sermos obrigadas a comprar uma calça, a qual nem todas têm condições de pagar, e sofrer em silêncio com o calor do verão. A justificativa da direção pra isso, é que eles se preocupam com nós e, esses shorts atraem olhares masculinos. É claro que, para eles, é bem mais sensato nos fazer passar calor, do que culpar os meninos que não querem controlar seus hormônios, nem quando estamos usando calças. Porque convenhamos, não é por causa do shorts que eles não nos respeitam, a mesma coisa aconteceria usando calças. Então, alunas, pais e ex-alunas, pedimos o apoio de vocês para acabar com as regras injustas impostas sobre nós.

Assine este abaixo-assinado

PS – Perdão aos colegas do G1. O sobrenome não entrou a pedido da mãe.

Luis Nassif

38 Comentários

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  1. Nassif, muito bom o post, mas

    Nassif, muito bom o post, mas se permitir uma provocação.

    Se há um tema em que homens são claramente prejudicados é em relação á vestimenta, especialmente em locais formais de trabalho ou de estudo.

    Homem não pode usar bermudas, muito menos shorts nesse tipo de local, mulheres podem usar uma infinidade de outros tipos de peças.

    Nâo sei qual o tamanho desses “shortinhos”, mas sinceramente não considero adequado em uma escola o uso de shortes muito curtos, e isso, obviamente, tanto para meninos quanto para meninas. O ideal seria o uso de bermudas para ambos.

    Nâo digo que a escola deveria expressamente proibir o uso, mas adequado não considero.

    Claro que há exceções para aulas de esportes ou educação física.

    Quando ao restante do post, lembremos que esse tipo de implicância pode ocorrer, e frequentemente ocorre, dos dois lados.

    Que existe ainda muito machismo, também por parte da mulheres, não há a menor dúvida, só não sei se esses exemplos são claro em exemplificar isso.

     

     

    1. Já ouvi várias vezes esse

      Já ouvi várias vezes esse papo de que homem sofre com seus ternos enquanto as mulheres podem usar vestidos em ambientes formais em dias de calor…

      Que tal os homens aprenderem com as mulheres e fazer um movimeno sobre a roupa adequada para  homens em dias de calor.

      Terno  e gravata só faz sentido em países temperados, onde  na maior parte do ano faz frio ou temperaturas amenas. Num país como o Brasil que é quente a  maior parte do ano, em alguns lugares o ano inteiro,  não faz sentido o uso de terno e gravata de maneira regular.

      É isso, em vez de repreender as meninas, deveríamos aprender com elas.

    2. Nada demais.

      Nos idos 60/70 as meninas, pelo menos em cidades praieiras, já circulavam assim. O reacionarismo faz ensaios de ataques generalizados a todos os movimentos sociais;, as causas das minorias, o feminismo, tudo que traga nuance ou lembre a esquerda não lhe fica imune.

  2. A repressão sutil

    As alunas do colégio Anchieta, de Porto Alegre, também lançaram um abaixo assinado contra o tudo-mais-quase-invisível que está por trás do aparentemente inócuo disciplinamento do vestuário.

    O protesto delas se encontra aqui, e neste momento faltam apenas 685 assinaturas para alcançarem as 25.000 planejadas pelo abaixo assinado.

    Convido os leitores do blog a se juntarem às assinaturas.

    O protesto das meninas já repercutiu na Revista Forum e na Carta Capital.

  3. Assino a petição da Dora 😉

    Não sei de onde – da cabeça dos peudos-moralistas – se tirou que a mulher tem que se cobrir muito bem para que os homens não se sintam tentados.

    Desde que o mundo é mundo, as pessoas gostam de se observar e de fletar, com short ou sem short.

    Nos paises islâmicos, as mulheres nunca devem sair com uma roupa justa, delineando o corpo, a bunda deve sempre ficar escondida debaixo de tunicas. Se uma mulher ousa sair do cânone, pode ser chamada atenção por qualquer homem na rua e até apanhar.

    No Ocidente não somos sempre tão modernos quanto gostamos de pensar. Nas ruas podemos ser agredidas de muitas formas, algumas bem sutis outras bem grosseiras. E dentro de casa, muitas mulheres, ainda hoje, sofrem com o machismo dos maridos e da familia.

  4. Achei os argumentos
    A favor dos shorrinhos bem fracos.

    Vc não pode entrar neste assunto E ignorar o fato de que mulheres amadurecem mais cedo.
    Também não pode ignorar o fato de que não é o calor que faz uma menina de 12 anos colocar um shortinho de lycra.
    O que a Escola restringe é a sexualizacao precoce e é assim mesmo que deve ser porque o foco desta instituição é fornecer instrução antes de qualquer outra coisa.

    Abaixo os shortinhos, no bom sentido. As mulheres podem usar o que quiserem em locais públicos mas aceitem que há locais com REGRAS.

    Quer dizer que uma menina fixou constrangida por ser retirada da sala por não cumprir as regras?
    Diga para o irmão dela ir de short de lycra Rosa para ver o que acontece. Quem cumpre regras não é constrangido nunca!

    1. Só pra clarear

      LUGAR DE REGRAS IMBECIS É NA LATA DE LIXO!

      Eis por que essas regras são imbecis:

      Vai ter shortinho, sim
      Abaixo assinado das alunas do Colégio Anchieta, de Porto Alegre

      “Nós, alunas do ensino fundamental e médio do Colégio Anchieta de Porto Alegre, fazemos uma exigência urgente à direção. Exigimos que a instituição deixe no passado o machismo, a objetificação e sexualização dos corpos das alunas; exigimos que deixe no passado a mentalidade de que cabe às mulheres a prevenção de assédios, abusos e estupros; exigimos que, ao invés de ditar o que as meninas podem vestir, ditem o respeito.

      Regras de vestuário reforçam a ideia de que meninas tem que “se cobrir” porque garotos serão garotos; reforçam a ideia de que assediar é da natureza do homem e que é responsabilidade das mulheres evitar esse tipo de humilhação; reforçam a ideia de que as roupas de uma mulher definem seu respeito próprio e seu valor.

      Ao invés de humilhar meninas por usar shorts em climas quentes, ensine estudantes e professores homens a não sexualizar partes normais do corpo feminino.  Nós somos adolescentes de 13-17 anos de idade. Se você está sexualizando o nosso corpo, você é o problema.

      Quando você interrompe a aula de uma menina para forçá-la a mudar de roupa ou mandá-la pra casa por que o short dela é “muito curto”, você está dizendo que garantir que os meninos tenham um ambiente de aprendizagem livre de “distrações” é mais importante do que garantir a educação dela. Ao invés de humilhar meninas pelos seus corpos, ensinem os meninos que elas não são objetos sexuais.

      Ao invés de ensinar que a minha decência e o meu valor dependem do comprimento do meu short ou do tamanho do meu decote, ensine aos homens que eu sou a única responsável pela definição da minha decência e do meu valor. Ensine aos homens o respeito, desconstrua o pensamento de que a roupa de uma mulher decreta se ela é ou não merecedora de respeito.

      A prioridade do sistema educacional brasileiro, atualmente, é ensinar para ENEM e vestibulares, entendemos. Mas a educação social e política não pode ser deixada de lado. É por meio dela que construiremos uma geração melhor que a anterior; é por meio dela que criaremos um mundo onde mulheres não serão julgadas e humilhadas pelas roupas que escolhem vestir, pela forma que tem ou por quantas pessoas já transaram; é por meio dela que acabaremos com a realidade de que, a cada 2 minutos, 5 mulheres são espancadas no Brasil e, a cada 11 minutos, 1 é estuprada; é por meio dela que criaremos um mundo onde cotistas não precisarão ouvir que “roubaram a vaga” de alguém que estudou a vida inteira em colégio particular; um mundo onde mães de crianças negras tenham certeza de que, no fim do dia, seus filhos voltarão pra casa; um mundo onde não perderemos mais vidas para a Guerra Às Drogas; onde mulheres não morrerão em clínicas clandestinas de aborto; onde a religião e a política não se misturarão; onde o capital não será mais importante do que a vida; onde os problemas de hoje serão solucionados.

      Nós, alunas do ensino fundamental e médio do Colégio Anchieta, nos recusamos a obedecer a regras que reforçam e perpetuam o machismo, a cultura do estupro e slut shaming.”

        1. O tamanho da imbecilidade

          Não se faz combate à sexualização infantil com hipersexualização implícita. E isso, sim, é imbecil. E pior, colocando a culpa nas mulheres!

          A propósito, faltou avisar: Democracia é exatamente o sistema de regulação social em que as regras podem ser mudadas. O contrário se chama “autoritarismo”.


          1. Citar UM FATO é culpar mulheres?
            Mulheres amadurecem mais cedo, FATO. Isso é um PROBLEMA sim para escolas e deve ser tratado com tato e bom senso.
            Liberar geral, ignorando fatos, não me parece ser a opção do bom senso.

            Por favor, use isso que vc tem entre suas orelhas antes de escrever.

          2. ?????

            Quer dizer que o fato de uma mulher ser sexualmente madura a torna potencialmente culpada de ser objeto de acosso  sexual?????

            É ela que precisa ser reprimida para que os boçais não tranformem em ato social a sua boçalidade?

            Desculpa, Athos, mas você está pensando com a cabeça de um repressor, e não com a de um ser civilizado.

      1. A causa é correta, mas os argumentos …

        Eu não vejo problema nenhum nas jovens adolescentes usando shortinhos – e estou plenamente de acordo que são convenções sociais que precisam ser derrubadas. Só me incomoda a seguinte frase, presente no manifesto acima citado:

        “Nós somos adolescentes de 13-17 anos de idade. Se você está sexualizando o nosso corpo, você é o problema.”

        Eu já fui um adolescente de 13 anos, e eu sexualizava mesmo o corpo das minhas colegas de sala (e de praticamente toda a mulher que passava pela minha frente, pensando bem rsrsrsrsrs). No entanto, eu nunca estuprei, assediei ou fiz qualquer coisa que chegasse perto de fazer mal a uma mulher. O que os homens precisam aprender desde cedo é como lidarem de uma forma saudável com seus desejos sexuais. No entanto, que está sendo proposto na frase acima para mim só pode ser resolvido efetivamente de uma forma: pela castração coletiva de todos os jovens do sexo masculino. É esse tipo de bravata que ajuda os machistas a desqualificarem demandas legítimas!

  5. Parece que regredimos.

    Parece que regredimos. Lembro-me dos tempos de início de adolescência, no primeiro grau de escola pública, nos anos 70, em que algumas meninas iam da educação física para as salas de aulas usando shorts, para conforto delas e maravilhamento de nós, garotos. Também os tamanhos das saias variavam, conforme as famílias das alunas, mas era comum que usassem minissaias.

    Quanto mais se ampliam os espaços de afirmação e liberação feminina, mais a reação machista se acentua, mas sempre perdendo pontos. Quanto às recentes lutas das meninas nos colégios pelo direito ao shortinho, não se trata de bobagem ou coisa leviana, como dizem muitos. É parte de uma luta maior, afirmativa, pelo direito das mulheres aos próprios corpos. 

     

    1. correção
      Não são mulheres, são crianças!

      Vcs estão confundindo bandeiras e isso é fruto do analfabetismo funcional generalizado em nossa sociedade.

      E não, não estou lhe chamando de analfabeto funcional.
      O fato é que aqueles que aplicam a regra criada para combater a sexualizacao precoce são analfabetos funcionais. Ao aplicar a regra, por serem analfabetos funcionais, dizem que a razão não é o combate à sexualizacao precoce e sim porque são mulheres.
      Entendeu o tipo de confusão que o analfabetismo generalizado nos trás?

      Cabe a aqueles que não são analfabetos funcionais identificar esses cacoetes e diferenciar às coisas.

      1. Lógica x “alfabetização”

        Se crianças usam shortinhos, elas não podem ser proibidas de usar shortinhos porque estão atiçando a libido masculina.

        Elas não tem que ser culpadas por um problema que está na cabeça dos tarados, dos machistas e de repressores do mesmo naipe.

        Quem objetifica os corpos das adolescentes apenas como fetiche narcísico do consumo sexual, acessível por meio de um comportamento predatório, é que tem que prestar satisfações.

        As adolescentes não têm que assumir a culpa alheia. O problema continuará sendo de uma sociedade predatória, movida pelo hedonismo narcisista, e onde os machos tudo podem.

        Tá difícil de entender?

      2. Não sou eu quem “confunde as

        Não sou eu quem “confunde as bandeiras”. O que quero dizer, e digo: é otimo que as meninas tenham desde cedo esse cuidado político dos seus corpos, essa consciência que vai além do seu [delas] gosto pelos shortinhos da moda, e pode às vezes estar aquém do seu amadurecimento sexual. Aliás, uma coisa é a sexualidade e outra a sexualização infantis, como se sabe desde Freud. Claro que meninas não são mulheres, mas serão mulheres, e um justo slogan feminista recente (já que o colega Athos fala tanto em regras) reza: “meu corpo, minhas regras”. Aliás, a palavra “regras” em português também designa a menstruação feminina, o que é bem significativo.

         

  6. Em todas as matérias que vi

    Em todas as matérias que vi esse assunto dos shortinhos das meninas vi o mesmo tipo de reação: homens dizendo às mulheres (ou meninas, como queiram) o que devem vestir. Qual é a intenção? Proteger as mulheres de vocês homens? Ensinar as mulheres, desde meninas, que devem respeitar as regras criadas por vocês homens? Se a regra não é boa para mim tenho direito de me manifestar contra. Isso serve para leis também. E é isso que ensino pra minha filha de 12 anos que, inclusive, já foi assediada por homens na rua mesmo eu estando do lado dela.

    1. Por que?

      Por que essa demonização culpabilizadora dos homens? (Será que não existe sociedade, nem cultura, nem códigos simbólicos? Só existem “nós, mulheres” e “vocês, homens”?)

      Por que as rasteirices do discurso precisam se refugiar nessa retórica da vilania?

      Por que o feminismo atual precisaria ser chauvinista?

    2. Que atrevimento é esse, Cristiane Carvalho?

      Vai querer palpitar sobre feminismo? Não vê que isso é assunto para ser discutido entre e pelos homens? Sobretudo os autoproclamados intelectuais de esquerda. 

      Cale-se, mulher! Eles são muito mais preparados para discorrer sobre o tema.

      Ponha-se no seu lugar, mulher!

      Que coisa mais chauvinista (sic) esse negócio de mulher querer se manifestar contra o machismo deles de cada dia… 

      1. Fecal

        Sempre chega um momento em que a histeria assume sua feição fecal.

        A Vânia costuma dar mostras de ser a plena encarnação desse momento áureo.

  7. Acho que a discussão nos

    Acho que a discussão nos comentários até aqui não levou em conta um detalhe muito mais importante do que o uso de shorts por parte das meninas. Sobre isso, creio que deveria ocorrer uma pesquisa com a opinião dos meninos. Sou capaz de apostar que eles não dão a mínima para essa questão. A proibição dessa vestimenta encontra guarida apenas nas cabeças ocas dos adultos, mais nas cabeças dos homens com mais de 40 anos. Vou me eximir de tentar explicar os motivos que me conduzem a essa opinião. E entrarei diretamente em uma circunstância muito mais importante:

    A paixão!

    Quando adolescentes se apaixonam, a paixão costuma ser fulminante. Os hormônios, a novidade, etc.

    E isso pode desencadear uma fase um tanto quanto preocupante: A gravidez precoce. Para se evitar esse problema, que não está restrito às adolescentes de famílias pobres, o diálogo é fundamental e muito mais importante do que o ensino sobre o uso de contraceptivos, que, aliás, são bastante conhecidos pelos adolescente de hoje em dia. Sem um bom diálogo, principalmente por parte dos pais, o furor adolescente pode por tudo a perder, pois até se esquecem do uso dos contraceptivos.

    A gravidez de adolescente de família  pobre costuma ensejar o casamento ou “o juntar das escovas de dentes”.  No caso de adolescente de família rica, ou que se faz de rica, é comum o encaminhamento da mesma para aborto, sem que ninguém saiba.

     

    1. O diabo nas entrelinhas

      Cafezá, você percebeu que a sua argumentação truncada desvela algo muito sugestivo?

      Você percebeu que imediatamente após falar de homens de mais de 40 anos, você entrou de chofre na “paixão”, e que é nessa fratura geológica da argumentação que se esconde o segredo?

      Você se deu conta de que o problema desse machismo patriarcal é o fato de os pais terem medo da liberdade sexual das suas filhas?

      Quem diria! A geração da revolução sexual agora tem… medo!… Isso dá uma tese de história cultural (com direito a mais “longues durées” que pode imaginar nossa vã sociologia. Ou será que realmente nunca fomos modernos?).

  8. Geralmente todo local tem

    Geralmente todo local tem regras de vestimenta. Não é apenas uma questão de machismo ou sexualização. E isso tanto para homens quanto para mulheres.

    Por ex, um professor ou professora poderia dar aulas de roupas muito curtas ? Shortinhos ou mini-saias ? Creio que não.

    Alunos podem ? Nâo sei, é discutível.

    Eu não considero o uso de roupas muito curtas, seja para meninos ou meninas em sala de aula, adequado. É até uma questão de bom senso.

     

     

     

     

    1. Mais um!

      Mais um se refugiando no fetiche das regras!

      Bom, minha argumentação no diálogo com o Athos está aí abaixo (em especial, a argumentação sobre o autoritarismo).

      1. Desculpe Ricardo, mas todo

        Desculpe Ricardo, mas todo ambiente tem regras, inclusive de vestimenta.

        Essa é a questão. Pelo menos a grande maioria dos locais de trabalho tem.

        A meu ver, a  discussão então passa a ser se a escola e a sala de aula pode prescindir ou não de regras de vestimenta de seus alunos. Será que pode ? Nâo sei, dá uma boa discussão.

        1. Regras…

          Ter regras não significa que só haja uma regra. E mais: que as regras devam ser intocáveis.

          Reitero o que disse antes ao Athos: o lugar de regras imbecis é a lata de lixo.

          A razão delas serem imbecis? Bom, como disse abaixo, deixo para as adolescentes do Colégio Anchieta, de Porto Alegre, responderem por mim. Elas já o fizeram de forma muitíssimo mais competente do que eu poderia fazê-lo.

    2. O que é ou não “adequado” não

      O que é ou não “adequado”, ou o que constitui “bom senso”, não se pauta por opinião pessoal. É algo que diz respeito à cultura, aos costumes, que mudam conforme época e lugar. Dei meu depoimento abaixo sobre o uso de shorts e minissaias pelas meninas em salas de aulas, quando eu estava no primeiro grau, nos anos 70. Pois me lembro também de jovens professoras de minissaias, sendo a mais inesquecível a que se sentava sobre a mesa.

      Depois regredimos a esse moralismo hipócrita dos dias de hoje.

  9. Retrocesso

    O problema é a feiura dos shorts que a moda está mandando usar atualmente. Depois de décadas de evolução, sim, evolução ocorre esse retrocesso horroroso: shorts com a cintura lá em cima, lá na costela e daquele jeans desbotado de água sanitária! Retocesso puro e perverso! Tanto insistiram que conseguiram!

  10. Meias verdades

    Os meninos não podem usar o que querem. Isto é uma meia verdade. Se um homem também não respeitar as regras de vestuário, ele é barrado em muitos locais.

    Se um homem for num tribunal de bermuda e camiseta regata, ele é barrado. Se um homem, for numa entrevista para trabalhar num banco ou em uma multinacional, não pode ir sem camisa, de shorts ou de chinelos. Não deixam ele nem fazer a entrevista. Se um advogado homem for a uma audiência, e não estiver devidamente vestido, o juiz pode cancelar a audiência e repreender o advogado. Não é verdade quando dizem que um homem  pode fazer o que quiser, se vestir como quiser, na verdade o homem é tão cobrado quanto a mulher, ou em certos lugares e ocasiões, até mais do que elas.

    As regras são algo próprio da civilização.Todas as civilizações, das mais antigas, as modernas tem, ou tiveram regras de vestuário, e isto tem um porque.

    Imaginem se um juiz chegasse no tribunal de chinelo, bermudas, e sem camisa, provavelmente ninguém o levaria a sério. Por isto o advogado veste toga, e o advogado veste terno e gravata. As vestimentas tem um por que, e uma razão de ser.

    1. Verdade inteira

      Meia verdade é a reificação das regras, sem qualquer questionamento do que possa haver por trás delas.

      Não se trata de reificar regras, mas de reconhecer contextos.

      Quem não os reconhece, esconde não só metade da “verdade”. Esconde-a por inteiro.

      1. Separar as lutas

        Caro Cavalcanti. Não  se trata de luta por direitos das mulheres, este texto. Vamos separar as lutas. Lutar pelos direitos das mulheres é ótimo, mas o texto propõe quebra de regras de convivio, de conduta, propõe permitir que as pessoas andem por aí semi nuas em lugares impróprios.

        Isto nada tem a ver com feminismo, isto é uma luta pelo nudismo, não é pelos direitos da mulher. O homem, também é proibido de andar semi nu na sociedade atual.

        Se todos fossemos andar por aí semi nus, revogariamos então a civilização e voltariamos para um estágio anterior a ela.

        Misturar as lutas, desvaloriza a luta verdadeira, de dar a mulher direitos de ter uma vida digna, e o nudismo nada tem a ver com esta luta por dignidade. Luta pelo nudismo deveria ser enquadrada em outra categoria.

         

        Questionar regras? Que regras? De que moças não podem ir de mini shorts para a escola? Daqui apouco vão lutar para irem de fio dental, ou até mesmo tirarem tudo, irem nuas para as escolas, é isto que o senhor defende?

        Tudo tem local e hora certa. Da mesma forma que um juiz não pode ir num tribunal sem camisa, de chinelos e bermudas, pois perceria o respeito, um aluno tem roupas corretas para se vestir numa escola, e isto é respeito, pelos professores e outros alunos, pela sociedade enfim.

        Francamente.

        1. Caro, Zé

          Depois de ter passado alguns anos trabalhando com índios desnudos (sou antropólogo), eu posso te garantir que entre roupas e civilização não tem nada a ver o cu com as calças.

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