Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Recessão não é solução, por André Araújo

Recessão não é solução

Por André Araújo

O Brasil necessita de uma série de reformas e ajustes no aparelho do Estado e nas finanças públicas. Mas esses movimentos podem ser executados sem que seja preciso provocar uma recessão ainda maior na economia do País. Sem perder tempo com debates doutrinários de teses econômicas, há uma razão prática.

O BRASIL NÃO RESISTIRÁ A UMA RECESSÃO PROLONGADA E PROFUNDA, as tensões sociais e políticas não irão conviver com uma recessão induzida por uma política monetária de arrocho deliberado para travar a economia.

O ajuste fiscal irá subtrair poder de compra do Estado e diminuir renda da população. Isso será uma consequência necessária do ajuste, sem entrar na questão da sua lógica ou qualidade, que ao que tudo indica será ruim.

Só será possível cortar em INVESTIMENTOS PÚBLICOS e em GASTOS SOCIAIS. As demais despesas são ou incomprimíveis ou irredutíveis. Não há quase nada para cortar, exceto nesses dois itens, QUE AFETAM DIRETAMENTE OS SERVIÇOS QUE O ESTADO PRESTA Á POPULAÇÃO.

Então a queda de renda provocada pelo corte de despesas atingirá diretamente a população. Menos investimento significa menos transportes, saúde, educação e saneamento.

Menos gastos sociais significará menos dinheiro nas mãos da população. ESSA ECONOMIA será toda transferida. Vou repetir TODA A ECONOMI será transferida para os rentistas para pagar a alta dos juros da dívida pública.

NÃO FAZ NENHUM SENTIDO, não se está economizando nada, a conta adicional dos juros elevados é superior ao corte de quase R$ 70 bilhões. Está se transferindo recurso público de um lado, dos mais pobres, para outro, dos mais ricos.

Ao fim desse processo que pode durar anos, nada garante que o País vai crescer. O Plano não garante isso.

O crescimento só pode dar-se pelo INVESTIMENTO PÚBLICO, mas se está se cortando vai haver mais queda do PIB e não crescimento. Essa política é IRRACIONAL, não leva a ganho algum, MAS COM CERTEZA LEVA A GRAVES PROBLEMAS SOCIAIS E POLÍTICOS que a sociedade brasileira, no nível de tensão em que está, não suportará.

O Plano Levy é um projeto de escassa viabilidade social e política e sua lógica econômica não se sustenta.

Há um caminho mais racional: Fazer o ajuste fiscal e tolerar mais inflação, esticando o tempo para controlá-la.

A elevação dos juros básicos aprecia o Real prejudicando a indústria e a exportação. Se o Real se depreciar, por exemplo, para R$ 4 por dólar, aumenta um pouco a inflação, mas estimula a exportação e desestimula a importação, barateia os ativos de produção no Brasil o que atrairá mais investimentos úteis e não apenas especulativos.

Para depreciar o Real basta diminuir os juros, com a diminuição dos juros ficará mais interessante investir em produção.

O trade-off mais crescimento e maior tolerância à inflação segura o emprego e ameniza ou elimina a recessão.

Ajuste fiscal e arrocho monetário AO MESMO TEMPO é purgante demais e depois de certo ponto pode matar o doente.

Cortar INVESTIMENTO PÚBLICO é absurdo, o Brasil precisa de muita infraestrutura. Nem tudo pode ser objeto de concessão e programas de concessão levam tempo para organizar. O Brasil não tem muito tempo para segurar o emprego, as demissões tomam um Ímpeto próprio e a coisa pode ficar incontrolável.

Mais da metade da população brasileira está em NOVE REGIÕES METROPOLITANAS, grande parte nas periferias. As cidades PODEM EXPLODIR se o desemprego passar de certo ponto, a violência e o crime podem disparar, definitivamente RECESSÃO NÃO É SOLUÇÃO PARA O BRASIL.

A HISTÓRIA ECONÔMICA demonstra com abundancia de exemplos antigos e modernos que é MUITO MAIS FÁCIL ACABAR COM INFLAÇÃO DO QUE COM RECESSÃO. Com alguma inflação, mas COM EMPREGO o trabalhador sobrevive, MAS com baixa inflação e sem emprego o trabalhador NÃO SOBREVIVE.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

31 Comentários

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  1. Fisgado pelo Piketty

    Acho que o amigo foi mais um fisgado pelo Piketty; se verdade folgo em saber, pois estou de pleno acordo com a análise de ambos, que chegam ao mesmo fim, ou seja um pouco mais de inflação, não traz nehum prejuizo, desque compensado com uma política de garantia de emprego e renda, o que parece não ser o caso desso meu governo, que ao aceitar bovinamente a política fiscal imposta pela banca renuncia ao discurso que nos levou ao segundo mandato.

    Em resumo, penso que minha presidenta foi vítima de um conto do vigário aplicado pelos rentistas através do Levygarista, que lhe prometeu um pote de ouro ao fim e ao cabo do arrocho.

    Quem conhece as histórias de contos do vigários sabem como isso termina, seja através do “bilhete premiado” ou pela troca do pacote de jornais decorado com dinheiro falso, como eu já caí quando era office boy, aos 16 anos. Ao ser descoberta a trama os ladrões já vão longe e ficamos com uma sensação de impotencia e ressaca indescritível.

    É o que vai acontecer conosco e com o nosso país em um tempo muito mais rápido do que possamos imaginar, daí talvez a China nos venha salvar, comprando nossas riquesas na bacia das almas. 

     

  2. rimas

    Dilma não tem nenhuma ilusão de achar solução pra recessão.

    É fato: ela só quer é chegar ao fim do mandato.

    Não é solução; apenas uma rima.

    (Mas já quebra o galho.)

    Em 1964, o golpista Auro de Moura Andrade declarou a plenos pulmões: “Assim sendo, declaro vaga a Presidência da República.”

    Hoje, Dudu Cunha nem precisa de tanto esforço.

    Dilma não pegou o avião de Brasília pra Porto Alegre, mas sabe bem do seu lugar.

  3. Acreditavam nisso no tempo do Figueiredo

    Esse papo vem de longe: os cepalinos, Celso Furtado à frente, garantiam que um pouquinho de inflação era essencial para o desenvolvimento. Achavam que somente investimentos públicos eram capazes de causar o crescimento. Não havia dinheiro para investimentos públicos? Então fazia-se mais dinheiro na prensa da Casa da Moeda, ora! E para garantir nossas exportações, depreciava-se a moeda nacional. Só que se esqueciam que os produtos nacionais também têm em sua planilha de custos muitos ítens pagos em dolar – até a soja que é produzida no cerrado depende de óleo diesel importado para chegar ao litoral!

    No tempo do Figueiredo esse besteirol todo foi para o vinagre: a inflação atingiu níveis recordes, e ao invés de aliviar a recessão, piorou-a. Foi o esgotamento do modelo nacional-estatista, que preconizava essas ideias. Só fomos sair do atoleiro dpois do Plano Real. Mas muita gente até hoje não se conformou.

    O irônico é que provocar inflação é tudo o que o governo deseja mais ardentemente. Pois inflação não é problema nenhum para quem emite a moeda, é problema para quem usa a moeda. Para quem emite, então, é solução: basta fabricar mais dinheiro que todos os rombos do governo estão magicamente cobertos, e a fatura vai para os infelizes usuários da moeda, que a pagam com a perda de seu poder aquisitivo. É como um imposto invisível, com a vantagem de que pode ser criado sem aquela chatice de comprar deputados. Não é maravilhoso? Quem aí nunca sonhou em fazer compras no shopping e mandar a conta para o vizinho?

    E então, se o governo deseja ardentemente, por que não o faz?

    A resposta é a base de sustentação do governo: a nova classe C que aumentou enormemente seu poder de compra nos últimos anos graças à estabilidade da moeda, ao crédito farto e ao dólar barato. Muita gente acha que o povo melhorou de vida na era petista por causa das bolsas e do aumento do saalário mínimo. É falso! As bolsas já existiam antes com outros nomes, e só fazem uma diferença sensível em alguns bolsões muito pobres, onde a maioria da população sobrevive de bolsas. E aumentar o salário mínimo não é sinônimo de aumentar o salário médio. O grande incremento no nível de vida do trabalhador deveu-se, simplesmente, à ampliação do crédito: agora o trabalhador pode comprar uma geladeira pagando em 15 vezes nas Casas Bahia, o que era impossível nos tempos da inflação alta.

    Mas se deixar a inflação voltar, aí acabou-se: os milhões que passaram à classe C voltam à classe D. A carruagem volta a ser abóbora. E o PT será surrado nas urnas. Neste quadro, o PT só permanece no poder se não depender de eleições, mas para isso ele teria que ter uma base armada. E a militância do PT é desarmada.

     

    1. Mas se a inflação daqui a 4

      Mas se a inflação daqui a 4 anos chegar a 2% ao ano e o desemprego a 25%, como fica? Nada é tão certo e errado da mesma forma sempre.  O modelo cepalino é do passado, não cabe mais no mundo globalizado. Mas ajustes violentos tambem não cabem hoje. É preciso fazer um mix, sou favoravel ao ajuste fiscal até maior, há MUITO desperdicio no Governo em todos os setores, dá para fechar metada das autarquias que viram corporações carissimas, seria muito mais radical do que o Levy pode ser. O Governo dos EUA funciona com 15 Ministerios, porque tmos que ter 38?

      Se o ajuste fiscal é necessario e eu acho que é, não concordo com a necessidade do arrocho monetario porque esse afeta as empresas privadas que serão as unicas capazes de gerar emprego.

       Se o Governo reduz sua participação na economia e a ideia do ajuste fiscal é essa, a economia empresarial tem que ser estimulada e não sufocada. Porque DESISTIMULAR  a economia produtiva? Temos capacidade ociosa na industria de mais de 35% , pode-se fazer o ajuste fiscal para enxugar o Governo MAS porque temos que ao mesmo tempo fazer a industria e a atividade privada tambem encolher? Não é racional. Há que ter ideias e não rezar por cartilhas e dogmas, cad contexto e cada Pais tem suas particularidades, a economia tem que ser flexivel e ajustavel a cada situação, essa é a grande lição do pensamento de Keynes, reformar o pensamento economico a cada 15 anos, adapta-lo às mudanças do mundo.

      1. Estimulando a economia produtiva

        Se a inflação daqui a 4 anos chegar a 2%, e o desemprego a 25%, como fica?

        Você está partindo do pressuposto de que menos inflação = mais desemprego, mais inflação = menos desemprego. Isso já foi desmentido com todas as letras no governo Figueiredo. Nada garante que uma inflação de 2% resultará em um desemprego de 25%.

        Concordo em número e grau: o governo gasta demais. Não precisamos de 38 ministérios se os EUA funcionam bem com apenas 15. É preciso cortar os gastos do governo para que a economia produtiva seja estimulada. Mas a economia só pode ser estimulada se houver crédito a juros razoáveis. Portanto, o governo precisa parar de sugar o dinheiro existente, para que esse dinheiro possa ser emprestado a particulares. Em outras palavras, o governo precisa fechar a torneira no BNDES, que jorra dinheiro a juros subsidiados para o séquito de empresários amigos-do-rei, pois só assim os juros vão cair para aqueles outros que não são amigos do rei e que podem produzir alguma coisa. Afinal, se um padeiro vende pão a preço abaixo e custo para um grupo seleto de fregueses, ele só poderá ter lucro se vender pão caro aos demais fregueses, certo? O ideal seria privarizar o BNDES.

        Mas Dilma não vai cortar o dela. Ela quer que eu e você cortemos o nosso.

  4. André, escreva sobre

    André, escreva sobre direito.

    Economia não é a sua área. Tente argumentar segundo a teoria econômica dos ciclos reais de negócios e a curva de phillips acrescida de expectativas(Lucas e Sargent), e não segundo história econômica. Diferencie curto prazo de longo prazo(é aí que está o “tcham” dos ajustes) e por favor, use dados.

    Pro pessoal não técnico entender: Levy não está causando recessão, ele foi chamado por que o governo causou recessão, mesma coisa com o Armínio em 1999, que foi só um bombeiro, mas culparam ele pelo incêndio.

      1. Eu respondo: resgate de

        Eu respondo: resgate de credibilidade, manutenção do Investment Grade (que poupa ao Brasil bilhões em juros por ano) e sinalização de mudança de rumo.

        André Araújo, essa simplificação em relação às finalidades do ajuste é incompreensível para quem tem a capacidade de entender o desastre para as finanças públicas que foram os governos Lula 2 e particularmente Dilma 1.

        É imperativo cortar investimentos e gastos sociais pela simples razão que essas despesas não podem coexistir com o nível de despesas correntes do governo. Nos últimos 4 anos as despesas correntes do Governo Federal (a preços constantes) aumentaram em 190 BILHÕES, ou seja, mais de duas vezes e meia o ajuste atual proposto pelo Governo. Os 70 bilhões de corte na verdade sequer começam a corrigir o problema, e evidentemente será necessário um aumento de impostos, bem ao gosto das esquerdas, que novamente voltará a sacrificar a produtividade do País.

        E se gasta uma enormidade em juros porque justamente a outra perna do modelo “neoliberal” foi abandonada pelas gestões petistas. O Banco Central tem que aumentar a taxa de juros neste momento porque luta para reconquistar a credibilidade perdida em meio a uma inflação sistematicamente acima do centro da meta. Não se trata de uma luta entre rentistas e defensores da produção, como a canalha subrepticiamente tenta vender aos incautos. Se trata de decidir qual geração pagará pelos excessos desta.

        O corte dos investimentos e gastos sociais não será para sempre, mas provavelmente durará alguns anos e algo terá que ser feito em relação aos gastos correntes. 

        1. Chama isso de resposta técnica?

          Eu respondo: resgate de credibilidade, manutenção do Investment Grade (que poupa ao Brasil bilhões em juros por ano) e sinalização de mudança de rumo.

          Não sei se nota, mas suas três razões são derivadas. Isto é, a “sinalização de mudança de rumo” serve para ganhar “credibilidade” que por sua vez implica na “manutenção Investment Grade”. Portanto, sua resposta “técnica” é apenas dizer que o corte serve para obter confiança do mercado.

          Só tem um problema nesse raciocínio…

          A crise não aconteceu por perda de confiança do mercado. Ela aconteceu por razões muito objetivas: endividamento da classe média, perda de produtividade devido a Copa, especulação imobiliária, depreciação das commodities no mercado internacional, a queda no PIB devido ao fator “Moro” (e isso não é brincadeira, conheço gente que está falido por causa desse imbróglio), etc…

          Então como justificar tecnicamente que a busca da confiança no mercado é a solução para os nossos problemas?!

    1. Concordo em parte

      O que causou a recessão foi o aumento da taxa Selic para 13%, e não o plano de ajuste.

      Mas o ajuste de Levy vai agravar a recessão já existente até as últimas consequencias.

    2. Lucidez

      Daniel, parabéns pela lucidez, algo raro de ser visto neste blog. Achei engraçado ver um comercial, há pouco, do Governo, falando que os ajustes que estão sendo realizados devem ser comparados aos ajustes que fazemos em nosso orçamento familiar. Eu sempre acho bom dar tempo ao tempo, gostaria de ver a posição deste blog quanto a esta publicação, confrontando-a com a atual posição do Governo, especialmente no que tange ao comercial citado, segue link:https://jornalggn.com.br/blog/brasil-debate/o-governo-brasileiro-e-gastador .

       

    3. Meu caro, se a ciencia

      Meu caro, se a ciencia economica fosse certinha e exatinha como vc pretende não haveria divergencias entre os 75 economistas galardeados com o Premio Nobel de Economia, cada qual com seu pensamento, suas teses, suas teorias e

      suas visões de mundo. A Economia permite interpretações sobre modelos, mecanismos, ciclos, expectativas, não é

      uma religião para iniciados que só eles são portadores da Verdade Revelada, como vc pretende ser.

      Tenho minha visão mas não sou dono do conhecimento. Gunnar Myrdal, o economista da pobreza, Nobel de 1974, expoente da Escola de Estocolmo, não via os fenomenos da economia como Milton Friedman, Nobel de 1976, expoente da Escola de Chicago. Cada qual vê o mesmo fenomeno de forma diferente, a realidade é a mesma mas cada qual enxerga de um modo e tira conclusões de outro, a interpreta de uma forma pessoal e unica.

      Convivi de perto com grandes economistas como Roberto Campos e Mario Henrique Simonsen e sem ser economista

      profissional me atrevo a pensar sobre economia, aliás direito de todo e qualquer cidadão. A condução da economia afeta a vida de todos os cidadãos e não só a vida dos economistas e cada um de nós tem o direito de pensar sobre economia

      como parte de nossas vidas, assim como pode pensar em politica sem ser cientista politico.

      Ontem, no Programa PAINEL, da Globonews, tres experientes economistas, Marcos Lisboa, Fernando Sampaio e Cesar Benjamin debateram o ajuste fiscal do Ministro Levy e cada um viu o ajuste de uma forma e tirou conclusões diferentes.

      Pelo seu critério todos deveriam obedecer à ciencia exata da economia e interpreta-la da mesma forma, já que são iniciados nessa ciencia, no entando divergiram muito, como ficamos?

       

    4. Ao invés de querer dar

      Ao invés de querer dar conselhor ao articulista, por que não expoe a sua tese com argumentos e clareza, como ele fez ?

      Ele tem a visão e opinião dele, a sua pode ser diferente. Ao expô-la fazendo o contraditória todos sairiam ganhando.

      Da forma como voce coloca, não acrescenta em nada ao debate.

       

       

       

       

       

       

  5. A solução

    Excelente artigo, Araújo.

    Dilma se manter o ajuste, vai criar uma crise parecida com a crise grega.Até parece que ela está fazendo de propósito. Seu dagnostico está corretíssimo. Com milhões de desempregados a mais, teremos uma situção social  parecida com a da era FHC, só que agora orquestrada por uma “petista”.

     

    Agora resta descobrir como poderemos contornar os desmandos de Dilma Roussef.

    Votamos em branco macissamente no segundo turno?

    Fazemos manifestações gigantescas, com greve de fome na frente do palacio do planalto?

    Poderíamos propor uma emenda costitucional para criar uma intervenção no Banco Central, caso a recessão atinja certo nível?

     

    Tudo, isto faria Dilma dar risada e aumentar os juros mais aindda.

    Parece que nada atinge esta mulher

    Será que o Brasil vai ficar refém das pirraças de Dilma por mais três anos, até 2018?

     

    Estamos abertos a sugestões

     

     

     

  6. CPMF

    Nassif.  O óbvio é ululante, como diz o nosso Nelson Rodrigues! O Governo tem que mostrar coragem.

    Chegou o exato momento de criar a milagrosa e oportuna “Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira – CPMF- simplesmente chamada de “Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira”. Qualquer outra deveras solução para o nosso País é “chover no molhado”. A crise é também mundial.

  7. No geral, a análise está

    No geral, a análise está correta. Não estou de acordo que haverá aumento de inflação se houver pleno emprego. O que se observa nesse ajuste levyano é que ele objetiva garantir recursos para pagar juros da dívida pública. É uma puta sacanagem com os de baixo. Poderiam esticar os prazos da dívida pública, reduzir o juros e incrementar as políticas de investimentos públicos, geradora de mais empregos e renda. Por si só resolveria os tais “desajustes” nas contas públicas.

    Dizem que o governo gastou mais do que podia para manter os empregos. Como assim? Gasou mais com quem? Certamente não foi com os beneficiários das políticas sociais, que ficam com a menor parte do orçamento público. Está na hora do Brasil enfrentar esta sangria chamada juros da dívida pública. E isto, para não radicalizar e exigir uma auditoria, como seria o certo, se combate de imediato baixando os juros.

    Um outro ponto é o ataque mais eficaz à sonegação de impostos pelos ricos. São R$ 400 bilhões de sangria anualmente, valor muitas vezes superior à economia desejada no ajuste neoliberal de Levy. Uma taxação das fortunas também cairia bem. O resto, é continuar investindo em setores estratégicos da economia, incluindo a infra estrutura que poderia baixar o chamado custo da produção, não incluídos aí os salários, que são a fonte de um mercado interno consumidor. Cortar e arrochar salários, como gostam os tucanos e seus teóricos, é gerar desemprego, menos consumo interno, recessão, etc.

    Uma pena que o governo federal não tenha aberto um debate com o país, sobretudo com as forças progressistas, sobre os rumos a serem tomados, ao invés de escolher o caminho indicado pelo chamado mercado (banqueiros e etc.), cujas consequências são por demais conhecidas no mundo inteiro, inclusive no Brasil.

  8. O que fazer?

    O mundo ocidental com mais gordura econômico financeira e institucional , suporta com menos traumas os apertos e ajustes que as crises impõem. Nós abaixo da linha do equador não deveríamos adotar as receitas ortodoxas de economia política, mas não temos alternativas consistentes para longo prazo.Também é incompatível seguir os passos, por exemplo, dos bolivarianos que supostamente deram certo.

  9. Desonerações

    As diminuições de impostos para a indústria automobilista fizeram a festa das matrizes e dos …bancos.

    O aumento das taxas básicas fazem a festa dos rentistas e dos…bancos.

    Mas, e se o Brasil quebrar com a política do Levy / Dilma e com ele os bancos, ?

    Não tem problema: Com a ajuda do pig (partidária imprensa golpista) elege-se o Aécio da vez que eleito toma algumas medidas básicas: Entrega o Présal a Petrobás e os direitos sobre a Floresta Amazônica para os gringos. Com a merreca obtida trata de fazer um PROER e salvar os amigos. O povo? Ora o povo…

    Perguntinha: Será que a Dilma e seu pupilo Levy conhecem o SONEGOMETRO? 

     

  10. Surreal

    O desarranjo que está se fazendo propositalmente na economia brasileira beira o surreal.

    Recessão com juros básicos de 13%aa e subindo não está em nenhum manual.

    Quando  recessão se abateu sobre a Europa e os Estados Unidos em 2008, a primeira medida foi baixar os juros a zero para incentivar a economia.

    Na economia real, o que está acontecendo é pior, mas bota pior nisso, do que aconteceu no segundo mandato de FHC.

    O dinheiro sumiu. Uma carteira negociada de títulos que até o ano passado custava 1,9%am hoje está custando 4,3% e o banco não faz a menor questão de negociá-la.

    Cadeias de distribuição que estavam funcionando azeitadas até o ano passado estão virando poeira por falta de dinheiro na economia real, como no final da década de 90 e ínicio deste século. Montar estas cadeias num ambiente de negócios péssimo como o brasileiro demora anos. Para destruí-las basta esse aperto monetário que hoje tornou-se política de governo.

    Não bastasse o aperto monetário, todos os governadores estão pondo em prática idéias mirabolantes para manter a arrecadação através do ICMS.

    No meu ramo vi muita empresa desaparecer entre 99 e 2002 e pelo andar da carroagem, isso vai acontecer de novo nos próximos anos. 

  11. Alguém pode explicar?
    Para mim, que sou leigo em economia, duas coisas são difíceis de entender. 1- a taxa SELIC está em 13,15% a.a. e a taxa do FED (EUA) está em 0,25% a.a., ou seja, o país paga juros que é 52,6 vezes a taxa dos EUA. Hipótese: O rendimento sobre uma aplicação de US$1.000.000,00 é US$10.975,00 em 1 mês aqui no Brasil (taxa de câmbio R$3,17 para US$1,00). Nos EUA, a mesma aplicação renderia US$208,00 em um mês. Será que isso explicaria o montante de “investimentos especulativos” no mercado de títulos públicos brasileiros? É necessário manter uma diferença tão grande assim para atrair “investimentos”? 2- se os bancos são os principais representantes dos rentistas porque foi colocado um banqueiro na condução da economia? Será que o país não teria um outro catedrático em economia para o cargo? Fica difícil aceitar justamente um banqueiro no cargo. Acredito que a escolha gerou desconfiança e apoio escasso. 

  12. mas pôxa!!! Não existe

    mas pôxa!!! Não existe instrumento maior de concentração de renda que a inflação!!! Não aprendemos nada com a década de 80?? “um pouquinho”?? talvez os teóricos precisem se convencer que a população não aceita mais, nem “um pouquinho” de inflação!! Dia desses fui comprar um vinho num supermercado e comentei para a caixa que o preço tinha aumentado. Sabe o que ela respondeu? “A culpa é da Dilma”!!!

  13. Ainda estamos no capitalismo

    No capitalismo os agentes econômicos reagem de acordo com o a relação oferta e demanda.

    A queda do dólar no Brasil e o fortalecimento do mercado interno desde 2002 permitiu o ajuste das contas públicas, via desdolarização da divida pública interna e redução significativa da divida pública externa.

    Como resultado tivemos um crescimento do setor industrial menor do que o crescimento do PIB, que resultou no aumento da participação dos importados, redução no crescimento das exportações produtos industrializados , que passaram de US$ 70 bilhões em 2002 para US$ 110 bilhões em 2014,, contra um aumento de US$ 60 bilhões para US$ 225 do total das exportações.

    Estamos diante de um processo de correção da taxa de câmbio, com impactos reduzidos nas contas públicas, que ocorre por meio do aumento dos juros da Selic e do aumento da taxa de inflação, já que cerca 60% da dívida publica é atrelada a Selic, ao IPCA e ao câmbio, e o restante 40% estão em títulos pré-fixados.

    De certo modo ajuda o Governo a dar uma resposta mais rápido em caso de queda da atividade econômica, via redução dos juros da Selic e aumento das gastos públicos.

    A atual correção da taxa de câmbio provoca um aumento da taxa de inflação em função dos aumentos dos preços de produtos atrelados ao câmbio, e aumento da demanda produtos industriais via aumento-as das exportações e substituição de parte das importações.

    Este aumento da produção industrial vai provocar um deslocamento dos trabalhadores em direção ao setor industrial.

    A partir de junho de 2015 já devemos perceber os primeiros impactos da atual correção da taxa de câmbio nas exportações de produtos industrializados e na produção industrial.

    anexos:

    1

    2

    3

    4

    5

    fontes:

    1-Caged-tabelas(pdf)

    http://portal.mte.gov.br/caged_mensal/principal.htm#3

    http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A4D526E89014D729B6A073B99/consolidado%20tabelas%20CAGED%20abril%202015.pdf

    2-Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior–Outras estatísticas de comércio exterior-(.xls)

     d. Exportações brasileiras por Fator Agregado: 1964 a 2013 o. 

    Importação por Fator Agregado: 1997 em diante 

    URL:

    http://www.desenvolvimento.gov.br//sitio/interna/interna.php?area=5&menu=608

     

     

  14. Ilustres pensadores
    A

    Ilustres pensadores

    A realidade é  dinâmica,  contundente e certeira.

    Cada pensador expõe  o que pensa sobre ministro  Levy. 

    Na verdade estamos tateando um grande  mastodonte  produzido por mentes progressistas.

    Os comentários e também o articulista não  apresentou o diagnóstico  do problema.

    Ficam jogando idéias sem  um quadro de referências. 

    Ou seja, estão  jogando conversa fora.

    Vou dar minha opinião :   nossa crise é  política. ….dê confiança. 

    O Modelo populista preconizado  pelo PT    se exauriu. 

    Como não  há  saída política convincente as forças progressistas ficam dando voltas no círculo.

    Como esse  blogs é simpático ao PT  fica  enganando seu público leitor.

    Meus queridos:  acabou…..o mercado, a teoria neoliberal  venceu.

    A menos que haja um golpe ….

     

     

     

     

     

    O

     

  15. Tripé: pré-sal, mercado de massa e o PAC

    Perdemos de novo, professora Maria da Conceição?

    Mal ou bem, forças progressistas estão à frente do governo há 12 anos: o ‘enrosco’, com ela diz , é pilotado pelo campo progressista. E o atinge diretamente.

    Carta Maior—31/05/2015 00:00 —por: Saul Leblon

    EBC

    A professora Maria da Conceição Tavares tem dois motivos para não querer falar nesse momento.
    A gripe alegada, que acentua o grave característico da voz,  é o menor deles.
    O quadro difícil da crise brasileira, o mais contundente.
    Estamos falando, porém, de uma mulher que não costuma deixar desaforo esperando na soleira da porta. 
    -Perdemos, professora Conceição?
     
    Ela hesita um pouco, tergiversa, mas só um pouco.
    Em seguida dispara o grave com a inflexão de ordem unida famosa, capaz de acionar todas as atenções ao redor, seja qual for o redor, tenha ele a solenidade que tiver.
    ‘Perdemos. Isso está à vista, não? –devolve com a força de uma pedrada.
    Mas em seguida vem outra, mais na mira: ‘O primeiro tempo, por certo’.
     
    Num átimo recolhe o grave com a  inflexão que vai buscar o distraído até no fundo do auditório e o submete às prontidões incontornáveis:
    ‘Não digo que perdemos o jogo, que todavia é muito duro’.
    Abriu a avenida para uma narrativa de longo curso, mas se contém.
     
    A dificuldade em extrair da decana dos economistas brasileiros uma avaliação mais desabrida do governo de sua amiga Dilma Rousseff, sendo ela a economista a quem todos ligam quando o mundo despenca e é preciso saber para onde ir, é ilustrativa da gravidade do momento brasileiro.
    Não qualquer gravidade.
    Desta vez, o ‘enrosco’, com ela diz , é pilotado pelo campo progressista. E o atinge diretamente.  
     
    Mal ou bem, forças progressistas estão à frente do governo há 12 anos  — ainda que não no poder e, sobretudo, na companhia não propriamente opcional de parceiros de uma ambígua ‘governabilidade’, em xeque nesse ‘momento Cunha’ da vida nacional.
    Esse protagonismo singular explica a perplexidade do olhar crítico que se enxerga no próprio objeto da crítica e não gosta do que vê.

    A história não é um closet no qual se possa trocar o figurino e recomeçar do zero. Neste filme, os protagonistas se defrontam com um enredo de urdidura que pode ser modificada, mas não ignorada.
    A correlação de forças é uma delas. Frequentemente evocada para justificar rendições e traições, nem por isso deixa de existir.

    É prima política das vantagens comparativas na economia –também e não raro evocadas para justificar a submissão ao poder econômico existente e o entreguismo conveniente.
    Nem um, nem outro são fatalidade, mas construções históricas.
     
    Até que ponto a camisa de força atual reflete recuos que contribuíram para enrijecer essas circunstâncias quando a hora era de avançar e dilatar os espaços, é uma questão em aberto.
    Avaliações díspares que essa pergunta enseja retardam agora a unificação de forças e agendas que dispersas se mostram incapazes de afrontar a ofensiva conservadora em marcha.

    Maria da Conceição Tavares é economista, não analista política. Faz questão de observar a diferença.
    Mas é uma personagem da história brasileira.
    Sua experiência engajada nos principais acontecimentos nacionais remonta a 1957, três anos depois de chegar de Portugal, onde nasceu–   quando se naturalizou, passou a estudar economia, ingressou no BNDES, conheceu Furtado, Ignácio Rangel, Darcy e outros gigantes aos quais hoje se ombreia no referencial dos que lutam por aquilo que eles sempre lutaram: o desenvolvimento que conduza à construção de uma democracia social efetiva no país.
     
    Conceição desembarcou no Brasil no ano em que Getúlio Vargas com um único tiro impôs uma década de protelação ao golpe que a coalizão empresarial-militar lograria desfechar em 1964.
    A professora participou ativamente do esforço progressista para dilatar esse prazo e empurrar a roda do desenvolvimento até um ponto que o tornasse autossustentado pelas próprias forças sociais com ele beneficiadas.

    O percurso foi interrompido à força no meio do caminho, como se sabe. Uma retomada seria ensaiada depois, nos anos 70/80, com a derrubada do regime militar e a tentativa frustrada do Cruzado –da qual participou–  igualmente decepada com a ascensão neoliberal nos anos 90.

    Finalmente, em 2002, a agenda da construção de uma democracia social tardia na oitava maior economia da terra seria resgatada com a vitória presidencial do metalúrgico, seu amigo, Luís Inácio Lula da Silva.
    Daí a pergunta inicial que a incita a romper o silencio diante da encruzilhada que se ergue outra vez em seu caminho, aos 83 anos de idade, e no do país, no seu ‘longo amanhecer’, como previu Celso Furtado, sua maior referência.
    Perdemos de novo, professora Conceição?’

    Ouvi-la extrapola a curiosidade. É uma necessidade, aqui entremeada da recuperação de reflexões anteriores que completam as atuais.
    ‘Essa crise não se parece com nenhuma outra que vivi’, adverte com vagar escolhendo as palavras para comentar a gravidade do fator político que trava a iniciativa progressista  –repita-se–  confrontada agora com a própria imagem no espelho dos desafios a vencer.

    ‘Nenhuma das que acompanhei mais de perto –o pós-Getúlio e a do golpe de 1964, para não falar das outras, como a do fim da ditadura—envolvia um travamento estrutural e político tão difícil’, explica para sublinhar em contraponto: ‘ Sem falar no quadro internacional, que é completamente outro, marcado pelo ambiente financeiro destrambelhado’.

    A diferença estrutural –‘estamos em uma transição de ciclo estrutural’, diz ela—é que nos anos 50 e nos anos 70, depois do suicídio de Getúlio, assim como após o golpe militar, havia espaço para se agregar novos setores à estrutura econômica brasileira.
    “Agregar é mais fácil do que reformar’, ensina a decana.
    A agregação amortece a colisão dos interesses instalados com os novos.
     
    O que fez, afinal, Getúlio quando foi reconduzido ao poder em apoteótica votação nas eleições de 1950, com o Brasil desordenado pela ‘malta liberal’ de Dutra?
    Getúlio viu espaço para agregar novos motores na economia.
    Seu governo lançaria uma saraivada de iniciativas diante da avenida aberta a sua frente.

    O Plano de Eletrificação em 1951, o BNDES em 1952, a Petrobrás em 1953. E o reforço convergente com uma industrialização ainda em fraldas, onde muito havia por fazer.

    Vargas modernizou áreas já existentes e acionou novas turbinas: investiu no setor de bens de base  –de base porque produz equipamentos, componentes, insumos universais, para todos os segmentos.

    Interligou isso aos duráveis, amalgamando a economia com uma cola política feita de expansão do emprego e extensão de direitos ao florescente operariado urbano.
    Aí acharam melhor eliminá-lo.

    ‘Mas a crise da morte do Vargas’, observa Conceição, ‘embora violenta por todos os seus ingredientes, paradoxalmente  durou pouco’.
    Mais à vontade, ela puxa aqui a memória de acontecimentos que acompanhou diretamente, jovem matemática atravessando a fronteira para a economia.
    ‘Durou pouco porque havia toda uma avenida aberta, aquela que Vargas deixou para JK  agregar: a dos bens de consumo’, interrompe para retomar o fôlego.

    ‘O que fez JK? Fez o Plano de Metas dilatando a infraestrutura; trouxe o parque automobilístico, deslanchou um novo ciclo de expansão’.
    O impasse vivido por Jango seria um primeiro sinal de que a agregação pura já enfrentava gargalos estruturais.

    ‘Tanto que tivemos um golpe, uma ruptura violenta’, pontua a economista que se exilou no Chile durante a ditadura, onde assessorou a equipe de Allende.

    Quando Jango se viu na contingência de ampliar o espaço do brasileiros miseráveis, excluídos do mercado e da cidadania, o que dilataria o fôlego do desenvolvimento pela alavanca do mercado de massa, os interesses estabelecidos reagiram violentamente.

    Num certo sentido, em vez de apenas agregar, as reformas de base buscavam democratizar o que antes era um privilégio dos herdeiros da casa grande. A terra, por certo. Mas também a educação, o comando sobre riquezas naturais; o controle sobre a moeda e os capitais; a ampliação da democracia na base da sociedade.

    Deu-se o que é sabido.
    ‘Só que os milicos do golpe eram eles mesmos desenvolvimentistas! ‘, atalha Conceição rindo das ironias da história.
    Os ‘milicos’ no entanto tropeçariam feio.
    Fizeram o torto por linhas certas.
     
    Em vez de agregar novos polos de ponta da industrialização naquele momento, como eletroeletrônica etc, o regime ditatorial  super-dimensionou os existentes, na siderurgia, por exemplo.
    Ainda assim a sobreagregação expandiu o PIB, mas endividou o país sem contrapartida de exportações para os dólares tomados a juros baixos, mas a taxas flutuantes.

    Quando elas flutuaram ferozmente para cima, em 1979 –saltaram de 7,5% para 20,18% em 1980– o regime perdeu o assoalho.
    O que se tem agora é mais sério, de qualquer forma, do que a transição de Vargas para JK e de Jango para o golpe.

    ‘É estrutural’, repete Conceição.
    Estrutural no sentido que não se resolve adicionando um novo motor na mesma máquina do crescimento — como se fez antes para reacomodar o conflito de classe.
    ‘O Brasil não vai acabar, nem o capitalismo e não temos golpe à vista, embora haja golpistas à solta’, murmura.

    Mas há um esgotamento desse correr para frente –típico do sistema–  baseado em aditivos que se sobrepõem à engrenagem anterior claudicante.
    Não apenas isso.

    O esgotamento, insista-se, acontece  sob as asas de um governo progressista. O que adiciona ao impasse econômico um auto-questionamento político de escolhas passadas e futuras. Tudo coroado por um  ambiente internacional pantanoso, marcado pela mais anêmica, longa e incerta convalescença de uma crise capitalista, desde a ruptura de 1929.
    Então é diferente de tudo o que Conceição viveu.
    ‘Temos uma estrutura econômica montada. É preciso recauchutar a máquina e, sobretudo, reorientar seu rumo’, a professora retoma o fio da meada.
    O Brasil viveu um período acelerado de consolidação industrial no 2o PND (1975/79) , o plano de desenvolvimento da ditadura.  Dificilmente repetirá aquele desempenho característico da fase de instalação e consolidação de um parque industrial.
     
    Esse tempo acabou.
    Assiste-se a algo oposto até.
    A indústria brasileira, na verdade, está sendo corroída por duas inércias que o ciclo iniciado em 2003 não corrigiu.
    De um lado, a valorização cambial acumulada nas últimas décadas. Ela favoreceu a asfixia do parque fabril brasileiro sob a avalanche das importações asiáticas (gerando um déficit comercial manufatureiro da ordem de U$ 200 bi nos último anos ).
    Simultaneamente, cristalizou-se uma inserção internacional capenga da economia brasileira, que perdeu o bonde tecnológico dos anos 80/90 porque ruminava a dolorida digestão da crise da dívida externa.
     
    O bonde perdido de um ciclo internacional não passa de novo, adverte Conceição. Não existe aula de recuperação na história do desenvolvimento.
    ‘Não vamos mais competir com os chineses naquilo que eles tomaram de nós e se mostraram líderes no mundo’, adverte ao falar da erosão sofrida em vários setores industriais.
     
    Por isso o pré-sal e o mercado de consumo doméstico, revigorado pelo ganho de poder de compra do ciclo Lula, bem como o PAC na infraestrutura e, objetivamente, a escala do agronegócio, são tão importantes.
    É esse o novo chão do desenvolvimento brasileiro no século XXI.
     
    Os encadeamentos inscritos no regime de partilha do pre-sal, e na exigência de conteúdo nacional, ambos demonizados pelos interesses sabidos e seus porta-vozes, encerram impulsos industrializantes de ponta, com escala capaz de criar, aí sim, uma inserção virtuosa do país nas cadeias internacionais.
     

    O mercado de massa, por sua vez,  é capaz de atrair plantas industriais e lastrear segmentos ainda não triturados por décadas de importações baratas.

    O PAC arremata o comboio puxando-o pela alavanca do investimento público.

    Conceição contextualiza esse tripé de forma realista, ciente de que a areia movediça da crise estreita a margem de manobra e todas as frentes.

    ‘Hoje isso depende muito do financiamento chinês para se viabilizar. É por aí que vamos completar o investimento público do PAC; não enxergo outra saída com as restrições impostas pelo ajuste fiscal’, suspira.

    Seu próprio desalento, porém, sofre um safanão em tom de advertência na frase seguinte: ‘Se não defendermos as políticas sociais, o PAC e o pré-sal não teremos mais modelo nenhum’.

    Destravar as concessões, o PAC,  e preservar o pré-sal  poderá desarmar a retranca do investimento privado?

    Sim, mas para isso não se pode destruir o mercado de consumo de massa. Se a economia afundar com o estirão de arrocho, cercado de juros altos por todos os lados, ninguém salva o Brasil.
     
    A costura dessa travessia envolve uma operação essencialmente política, como já explicou, porque mexe profundamente em interesses cristalizados.

    O nome do jogo não é mais ganha/ganha.
    É correlação de forças e se joga na rua.
     
    Não por acaso o debate da reforma tributária conquista audiências nunca registradas na agenda econômica. A audiência das manifestações sindicais contra o ajuste em benefícios trabalhistas, por exemplo, confrontado com a alternativa da taxação das fortunas, do lucro dos bancos, das remessas disfarçadas de assistência, das heranças etc.

    ´Não existe resposta técnica para o que se tem diante de nós’, sentencia a professora de uma geração inteira de economistas, entre alunos e amigos, que a ouvem e respeitam, mesmo quando dela divergem.

    Incluem-se aí nomes como os de Belluzzo, Luciano Coutinho, Mantega, a própria Presidenta, Dilma Rousseff.

    Em uma homenagem à mestra, em 2012, Dilma declarou: “Não houve momento importante na história do país, nas últimas décadas, sem as considerações da ‘nossa professora’. Nós hoje não admitimos mais a possibilidade de construir um país forte e rico dissociado de melhorias das condições de vida de nossa população, nem tampouco acreditamos mais na delegação da condução de nosso crescimento exclusivamente às forças de autorregulação  do mercado. Crença, aliás, que Maria da Conceição Tavares sempre, corretamente, criticou”, enfatizou a Presidenta.

    Os ventríloquos da autorregulação do mercado preconizam justamente isso agora: estabilizar o impasse desenhado pela professora, com base nas premissas ‘técnicas’ dos mercados.

    Ou seja, impedir que a luta pelo comando do crescimento deslize para o campo aberto da disputa política, onde a estrutura de repartição da riqueza e do poder seria questionada, escrutinada e repactuada em confrontos desaguados em amplas negociações.
     
    As considerações da economista enveredam cautelosamente por essa seara.

    ‘Não é fácil operar essa coisa. Você tem que recauchutar e redirecionar o mecanismo do crescimento com ele andando, entende? Com o trem em movimento’, sobe a voz, refreando-a na volta da respiração: ‘É um enrosco’.
     
    A palavra ‘conservadorismo’ resume o significado do obstáculo maior no caminho.

    A operação colide com massas gigantescas de interesses que nada tem a oferecer à sociedade exceto uma obstinada resistência à mudança, associada –aliás, indissociável, de uma não menos obstinada opção pela mórbida liquidez rentista.

    Pressões, chantagens, golpes, terrorismos e interditos emanados desse aparato são vocalizados e potencializados diuturnamente pelos veículos do ramo da semi-informação, enquanto o ‘ajuste’ cutuca a recessão com vara curta e a promessa difusa de uma ‘purga redentora’.

    É o torniquete dos dias que correm.
    E a velocidade aqui não é uma metáfora.
     
    O arrocho já bateu no consumo das famílias, derradeiro lacre de segurança do ciclo petista que avançou de forma quase ininterrupta nos  últimos 12 anos. Esse indicador caiu 1,5% no primeiro trimestre, em relação ao final de 2014.  

    O consumo das famílias pesa 63% na demanda da economia e arrastou junto a receita, o investimento, o emprego… O que sobra?

    A sobra é insuficiente para sustentar uma nação, um governo e um projeto progressista de desenvolvimento . O IBGE avisa que apenas 25% da economia ainda operava no azul ao final de março.
    Não melhorou de lá para cá. Ao contrário.
     
    ‘Você não enfrenta isso com debate econômico’, adverte Conceição.

    Nem pode paralisar um país para recauchutar a economia, que deixada a sua própria lógica não criará o espaço necessário à mudança.
    Uma frente? Uma frente de forças poderia funcionar como a dissonância à espiral descendente em marcha?

    ‘Sim’, entusiasma-se a economista que sabe dos limites daquilo que a ‘malta’ conservadora chama de ciência econômica.
    ‘Mas uma frente que apenas reitere o quadro existente não adianta’, pondera, atenta ao jogo que no primeiro tempo, como já disse, mostra que perdemos.

    ‘É preciso algo amplo, democrático que se imponha’, arrisca para advertir de pronto: ‘Mas não me pergunte como; isso é com os políticos’.

    Reserva, todavia, munição para um último disparo certeiro.
    Dirigido justamente ao PT.

    O partido que ajudou a construir, do qual foi deputada entre 1991 e 1995, dentro do qual sempre participou e  com o qual caminhou e caminha.

    ‘O PT precisa decidir o que quer; nos anos 60, nós éramos desenvolvimentistas. Mas o PT hoje parece dividido. Temos os ‘desenvolvimentistas’ –brinca com o termo hoje usado apenas como um marcador genérico para o pensamento de esquerda na economia.

    ‘Ao lado dos desenvolvimentistas noto que há agora no PT uma parcela grande de ‘estacionistas’, diz a professora.

    A língua afiada encontrou um jeito de expressar o incômodo que não quer explicitar. Conceição escande o achado com o riso que convida à cumplicidade: ‘Tá cheio de ‘estacionistas’. Vão resolver o Brasil parando o país?’.

    É um fugaz momento de descontração na penosa alternância de frases e silêncios sugestivos da intelectual que enxerga a encruzilhada do país como uma encruzilhada também das forças das quais é uma expoente.

    “Tem gente que acha que você pode estacionar para estabilizar e que, feito o serviço, os capitais retomam o investimento. Isso num mundo há seis anos mergulhado numa crise em que ninguém investe em lugar nenhum’.
     
    Nem mesmo nos EUA poderia dizer.  

    A economia que se notabiliza pela ‘recuperação inequívoca’ –no dizer das colunistas de certezas graníticas em relação à saúde do capitalismo — acaba de registrar a sua terceira recidiva na crise.

    O PIB dos EUA caiu  0,7% no primeiro trimestre, mesmo com taxas de juros entre negativas e zero desde 2008, e sob o efeito de um regime de engorda de liquidez de U$ 1,5 trilhão, recém concluído.

    O ‘estacionismo’, naturalmente, rechaça a ideia de uma frente ampla, como a  conjecturada por Conceição, para negociar o passo seguinte do desenvolvimento do país em meio a essa algaravia de sinais e lógicas em litígio, ao sabor do proficiente mercado financeiro global e de suas agências (as de risco).
     
    Basta estabilizar.

    O mercado autorregulado que a amiga Presidenta criticou em 2012 fará o resto: os capitais que não investem no mundo voltarão a investir aqui, o mel correrá das vertentes e o leite brotará nas curvas dos rios, acreditam os ‘estacionistas’ cutucados pela professora.

    O risco de o ‘estacionismo’ conduzir o Brasil a um beco sem saída na boleia de uma recessão histórica não é pequeno.

    Conceição não comenta.

    Mas seu silêncio preocupa mais ainda que as palavras.

    URL:

    http://cartamaior.com.br/?/Editorial/Perdemos-de-novo-professora-Conceicao-/33617

  16. Acredito que André Araújo,

    Acredito que André Araújo, mais uma vez, acerta e muito nos seus comentários. Há uma política econômica e monetária que nunca foi testada nos últimos 20 anos, que é a concomitância do arrocho fiscal e o afrouxamento monetário. O atual pacote é tirado dos ’90s. A política do Mantega/ Meirelles-Tombini foi oposta: afrouxamento fiscal e arrocho monetário. Os efeitos foram deletérios, pela apreciação cambial e pelo fraco nível de investimento provocada pelos juros reais cada vez mais altos, e pelo estímulo ao aumento da oferta (de importados) por conta do aumento do consumo provocado pelo aumento do salário real. O resultado foi o aumento do rombo na conta corrente.

    Cortes nos gastos de Governo de má qualidade (na máquina e não no investimento social ou em infraestrutura) somado a redução dos juros traria ares novos para a economia brasileira. Daria um sinal positivo para toda a população (corte em carne própria e não alheia) ao mesmo tempo que a redução dos juros aliviaria as contas públicas dos dois lados, o fiscal e o monetário. A transferência de renda seria inversa ao que está acontecendo agora, em sintonia com o preconizado pelo Lula durante seus 8 anos de governo.

    A cojuntura mundial não ajuda. Teremos em Junho mais um capítulo da novela grega, os EUA estão em recessão, e seu mercado de capitais está pairando nas nuvens, prestes a cair caso a política monetária do Fed seja de aperto a partir de Setembro. Os mercados internacionais demoram anos para responder as melhoras em competitividade da economia de qualquer pais,  mas respondem em questão de meses à piora. O Brasil não tem muito tempo para mudar o rumo. O segundo semestre pode ser muito pior que o esperado. O governo precisa agir já. Até agora, agiu de forma errada.

    1. Noas anos JK o Brasil cresceu

      Noas anos JK o Brasil cresceu 26% seu PIB e teve inflação em todo o periodo. Como então o desenvolvimentismo foi um desastre?

  17. Tolerar mais inflação no tempo deu chabu!

    É repetir a lambança dos juros baixados a fórceps por Dilma, que desorganizou o que já não funcionava.

    Concordo que inflação e juros baixos ajudaria O GOVERNO a arrumar suas contas, mas há um erro grave de análise aí:

    SÃO OS RENTISTAS que podem se proteger da inflação, quem vive de salário voltaria aos anos 80!!!!

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