O que o país mais feliz do mundo pode ensinar para enfrentar o coronavírus?

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Não se trata de uma felicidade de curto prazo. Mas de os cidadãos se sentirem confiantes com um sistema de suporte social para enfrentar os problemas

Jornal GGN – O que será do mundo após a pandemia do novo coronavírus é algo ainda sem respostas. Mas enquanto os números de contagiados pelo Covid-19 vão se acumulando dia a dia, milhares de pessoas necessitando de leitos em hospitais saturados, em países cujo desenvolvimento pensávamos estar consolidado, um estudo oposto a todo este cenário pode trazer caminhos: o Relatório Mundial da Felicidade 2020.

Trata-se de uma pesquisa sobre o estado da felicidade global, classificando 156 países em quão felizes os cidadãos se sentem. O Relatório Mundial da Felicidade 2020 faz um ranking das cidades em todo o mundo pelo seu bem-estar subjetivo e analisa profundamente como os ambientes sociais, urbanos e naturais se combinam para afetar nossa felicidade.

Falar em felicidade quando mais de 245 mil casos de coronavírus já foram confirmados oficialmente, com mais de 10 mil mortos, parece uma afronta à realidade atual. Mas para os autores do estudo, não: “É provável que superemos o coronavírus se mantivermos nossas conexões sociais unidas”, afirmou Jeffrey D. Sachs, professor da Universidade de Columbia e diretor da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável das ONU, que publica este relatório.

“Não podemos combater essa epidemia apenas no nível individual. Precisamos de muita ação compartilhada”, completou Sachs, em coletiva de imprensa. Assim, seguindo esta perspectiva, olhar para os países que lideram o relatório da felicidade pode trazer chaves para enfrentar esta pandemia.

São eles: Finlândia, Dinamarca, Suíça, Islândia e Noruega. O primeiro é culturalmente conhecido por sua forma retraída de se socializar, e os sorrisos não são a marca registrada deste povo. Mas segundo o documento, felicidade não é o quanto um povo demonstra suas emoções, e sim o quão satisfeito está com a sua vida e a confiança de que se vive em um lugar aonde todos se preocupam mutuamente.

Neste cenário, a credibilidade nas representações políticas e das instituições contam consideravelmente: 91% dos entrevistados finlandeses disseram estar satisfeitos com o presidente e 86% deles confiam no trabalho da polícia.

Apesar de ser um estudo já realizado há 9 anos, as publicações anteriores examinavam os impactos da migração, desigualdade social, até como as redes sociais impactavam os níveis de felicidade. Já a edição de 2020 enfoca na sensação de bem-estar relatada pelos entrevistados.

Com o relatório em mãos, a CNN foi atrás de cidadãos finlandeses para saber como se sentem no “país mais feliz”, em meio à maior pandemia da história do mundo desde a gripe espanhola. “Não se trata de uma felicidade de curto prazo. É sobre uma rede de segurança social e de outros sistemas de suporte que seu país possui antes que surjam problemas”, concluiu a reportagem (acesse aqui).

“Existe a sensação de que, em caso de doenças e deficiências, receberemos tratamento. Confiamos na qualidade e disponibilidade dele, e nossa rede de segurança social é importante. Nos ajuda em caso de perder o emprego, adoecer ou nossos filhos adoecerem. Perderemos renda, mas podemos obter compensação, o que nos ajuda a sobreviver e ajustar nosso consumo diário”, narrou Samuel Kopperoinen, que vive na Finlândia.

Além do suporte social garantido pelo governo, esse padrão de apoio se estende a nível comunitário: “Municípios e igrejas locais estão se organizando para ajudar a comunidade”, contou.

“A felicidade não vacinará esses países contra o novo coronavírus”, disse Sachs. “Mas estou certo de que os governos que funcionam bem acabarão se saindo melhor, porque essa epidemia exige governos fortes e eficazes”, acrescentou.

 


Abaixo, a íntegra do Relatório Mundial da Felicidade 2020:

WHR20

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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