Breves considerações sobre geoeconomia verde e agricultura, por Carlos José Espíndola e Roberto César Cunha

Geoeconomia Verde é uma abordagem nova e está em construção dentro dos limites teóricos e empíricos dos autores.

Breves considerações sobre geoeconomia verde e agricultura[1]

por Carlos José Espíndola e Roberto César Cunha

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A segunda revolução industrial no século XIX, via a emersão da eletricidade, da química e do motor a combustão como novas trajetórias tecnológicas, direcionara o foco dos sistemas produtivos para a combinação do aumento da produção e da produtividade. Na agricultura, soma-se a revolução verde que foi responsável pela multiplicação e melhorias significativas na produção de alimentos. Entretanto, o progresso nos diferentes sistemas industriais e agroindustriais se fez em parte com o enorme esgotamento dos recursos naturais, que tiveram efeito sobre o meio ambiente e a sociedade. Nesse processo houve um desbalanceamento entre as três mais importantes esferas da vida: econômica; social e ambiental – com o surgimento de doenças, alterações na qualidade da água, nas mudanças no clima global e regional, entre muitos outros. Hoje as diretrizes de políticas econômicas devem levar em consideração a questão ambiental inesperado do desenvolvimento econômico, social. Assim sendo, o capital natural é uma condição sine qua non nas agendas econômicas de diferentes países.

A inserção do meio ambiente na economia tem sua origem nos anos de 1970 devido à três fatores básicos: (i) aumento da poluição em países desenvolvidos, principalmente, nos Estados Unidos da América e Japão; (ii) associação ao aumento no valor do petróleo entre os anos 1973 a 1979, o que instigou um debate sobre a viabilidade permanente dos recursos naturais não renováveis; (iii) e o relatório denominado “Os Limites do Crescimento”, que enfatizava se o crescimento da população e da economia se mantivessem, o meio ecológico não teria condições de continuar a suprir tamanha demanda de produção e consumo.

Esses três fatos contribuíram para que o sistema econômico começasse a levar em consideração a relação economia/natureza. Com isso, surgiram conceitos como: ‘economia ecológica’ e ‘economia ambiental’. Muitos anos mais tarde, destacou-se ‘economia verde’. No entanto, alguns questionamentos permeiam estes conceitos: o que é economia ecológica, ambiental e verde? Quais as suas principais características? Existem diferenças entre elas? Quais são as diferenças? Há semelhanças? Quais? Que contribuição cada um destes conceitos pode trazer para o meio ambiente?

Dessa forma, em condensação, economia ecológica: (i) tem suas motivações advindas da década de 1960, que por sua vez, foi a época em que a problemática ambiental começou a ganhar notoriedade no mundo; (ii) compreende que a economia é apenas um subsistema dentro de outro sistema maior – a natureza -, em palavras mais claras – determinismo ambiental com características indutivista; (iii) uma linhagem teórica malthusiana, com perspectiva naturalista, santuarista e conservacionista. O progresso técnico é o responsável pelo desequilíbrio ambiental, especialmente, a grande indústria e a maquinaria, uma vez que, são os motores da degradação. Com isso, o aumento da produtividade geral dos fatores provoca desastres ambientais. Como saída, somente pelo decrescimento econômico e economia estacionária.

A Economia ambiental, surgida nos anos de 1970, se caracteriza: (i) de modo geral, apenas pela ótica monetária; (ii) sendo a economia um sistema superior, ou seja, possui forte inclinação a um determinismo econômico, com método dedutivo arcabouçado por modelagem matemática com objetivo de atribuir valores monetários aos recursos naturais; (iii) é embasada em teorias de economistas neoclássicos, tendo prisma naturalista, porém, preservacionista. O desenvolvimento tecnológico é um agente passivo na degradação da natureza, contudo, só é possível ter crescimento econômico e economia dinâmica através da valoração e preservação dos ativos ambientais.

A partir dos anos 1990, o conceito de economia verde foi lançado e propõe que o crescimento de emprego e renda deve ser impulsionado por: (i) investimentos públicos e privados que reduzam as emissões de carbono e a poluição; (ii) uso de mecanismos que aumentem a eficiência energética e que impeçam a perda da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Para isso realizar-se, depende de três dimensões: (1) diminuição do uso de energia advindo de combustíveis fósseis e aumento do uso de energia provindo de fontes renováveis; (2) promoção do uso de produtos e serviços que provém da biodiversidade, dando enfoque para que sejam criadas escalas de valor direcionadas aos produtos florestais e serviços ecossistêmicos; (3) incitação de técnicas e tecnologias capazes de diminuir as poluições e resíduos provenientes do processo produtivo, sobretudo, inovações tecnológicas de caráter comunitários para inclusão de populações tradicionais. Porém, tem especificidade do multiculturalismo, do pós-modernismo, do desenvolvimento social local e da economia solidária. Menos mitigação e mais adaptação às condições sociais.

Como visto, esses três conceitos, são passíveis de críticas, entre elas: (i) mantém a natureza como base da sociedade e assim apresenta um determinismo ambiental; (ii) estabelecem a superioridade da sociedade, o que confina ao reducionismo ambiental; e/ou (iii) uma visão paroquial, escala “glocal” (global -local), ou seja, sem noção de conjunto e perda da escala nacional.

Diante disso, uma abordagem nova na qual, de forma propedêutica, chama-se de ‘Geoeconomia Verde’, se forja em aproximações sucessivas por meio de mais de trinta anos de estudos geoeconômicos. E três elementos, dentre outros, são fundamentais para atender as transformações econômicas, sociais, geopolíticas e ambientais do mundo na terceira década do século XXI: (i) o desenvolvimento tecnológico – que por sua natureza e ritmo gera; (ii) o resgate central da Geografia como necessidade para entender; (iii) as relações (sociais e institucionais) multifacetadas dos sistemas produtivos, especialmente na agricultura.

Assim, para se ter um grau de respondibilidade razoável nos processos na agricultura moderna, é necessário compreender as especificidades de todos os seus processos produtivos dinâmicos em suas origens e desenvolvimentos. A tecnologia, nas últimas décadas, foi: um determinante fundamental para o sucesso da agricultura no mundo; para os avanços na biotecnologia, genética, para a criação de sementes modificadas e, especialmente, uma forte especialização nas estruturas de custos produtivos. Todavia, as condições naturais constituem, ainda, elemento fundamental da produtividade agrícola e da produtividade do trabalho. Com isso, a combinação entre desenvolvimento tecnológico, evolução econômica e social, e características naturais de cada região são basilares para se entender os sistemas de produção agrícolas e a efetivação de uma geoeconomia verde.

Desta maneira, o desenvolvimento tecnológico, com seus paradigmas e trajetórias, uma vez que, trazem uma relação de incerteza, leva o conhecimento impreterível dos territórios. E em virtude disso, os sistemas produtivos agrícolas se forjam com produtividades altíssimas, porém não similares. E esses fatores permitem um outro não menos importante: informacionalidade das coisas / comunicabilidade das coisas.

Por fim, a perspectiva maior nessa abordagem é entender as peculiaridades do ser humano a partir de suas atividades produtivas e do seu modo de fruição. Assim, sem a fé filosófica no poder que os conceitos têm de criar e destruir o mundo, acredita-se que só é possível ser conquistada uma geoeconomia verde através do mundo real, pelo emprego de meios reais. Ela não será um ato do pensamento e sim um fato histórico, condicionado por condições históricas da indústria, da agricultura, do comércio e serviços.


[1] Geoeconomia Verde é uma abordagem nova e está em construção dentro dos limites teóricos e empíricos dos autores. No decorrer desta construção, serão feitas várias discussões sobre o temário com autores de diversos matizes.

Carlos José Espíndola – Geógrafo, doutor em Geografia e especialista em agronegócios

Roberto César Cunha – Geógrafo, doutor em Geografia e especialista em agronegócios

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