Boric ressalta contradição da direita e da imprensa sobre violações a direitos humanos na América Latina

Victor Farinelli
Victor Farinelli é jornalista residente no Chile, corinthiano e pai de um adolescente, já escreveu para meios como Opera Mundi, Carta Capital, Brasil de Fato e Revista Fórum, além do Jornal GGN
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Presidente chileno fez alusão a problemas existentes em seu próprio país e também aos assassinatos de dirigentes sociais na Colômbia, durante o governo de Iván Duque

Gabriel Boric e Alberto Fernández, em reunião oficial na Casa Rosada (foto: Agência Télam)

O presidente do Chile, Gabriel Boric, chegou a Buenos Aires nesta segunda-feira (4/4), na que é a sua primeira viagem internacional desde que assumiu o poder, há apenas três semanas.

Sua primeira atividade foi uma visita à Casa Rosada, na qual foi recebido pelo presidente argentino Alberto Fernández, encontro que terminou com uma coletiva em conjunto que ambos os mandatários ofereceram à imprensa.

Entre os vários pontos abordados na entrevista, um deles chamou a atenção, quando um jornalista do diário La Nación, um dos mais conservadores da Argentina, fez uma pergunta a Boric com alusão a uma recente entrevista sua, na qual pedia uma autocrítica a setores de esquerda – como a Frente Ampla, da qual ele mesmo faz parte – sobre as violações aos direitos humanos em Cuba, Venezuela e Nicarágua.

A pergunta do jornalista parecia pedir para que Boric reforçasse a autocrítica que expressou na entrevista anterior, mas o resultado talvez não tenha sido o esperado, já que o presidente chileno aproveitou a oportunidade para estender a sua crítica à direita e à imprensa.

“O problema que existe em alguns setores de esquerda, de um discurso contraditório em matéria de direitos humanos, também existe nos setores de direita, que martelam nos casos sobre a tríade Venezuela-Cuba-Nicarágua, e o jornalismo reproduz esse mantra permanentemente. Por que os meios me perguntam sempre sobre esses países e não me perguntam, por exemplo, sobre o que acontece em nosso país, no Chile? Ou sobre os assassinatos de dirigentes sociais na Colômbia”, questionou Boric.

A alusão ao Chile não foi muito específica, e não se sabe de o presidente fazia referência a casos recentes, como as violações cometidas durante a revolta social de 2019 – quando se contabilizaram ao menos 32 mortes, mais de 100 casos de abusos sexuais e mais de 400 lesões oculares provocadas por policiais e militares que atuaram no período em que o ex-presidente Sebastián Piñera manteve vigente o estado de exceção para proibir protestos contra o seu governo –, ou se foi uma crítica mais ampla, incluindo violações cometidas desde os tempos da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), e que continuaram acontecendo depois do retorno da democracia.

Porém, no caso da Colômbia, as críticas de Boric tiveram um alvo claro: a onda de assassinatos de líderes sociais e regionais, que constituem um verdadeiro genocídio silencioso ocorrido no país andino nos últimos seis anos.

Segundo um informe do Indepaz (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Paz na Colômbia) publicado em agosto de 2021, que contabilizou apenas casos de pessoas ligadas a movimentos de defesa do meio ambiente, foram identificadas pouco mais de 600 vítimas de chacinas entre os anos de 2016 e 2020 – tendência que se acelerou desde o início do atual governo, do ultradireitista Iván Duque, em agosto de 2018.

Na mesma coletiva, Gabriel Boric reforçou sua postura com relação aos direitos humanos, dizendo que estes “devem ser reivindicados de forma integral em todos os lugares do mundo, independente do viés político do governo que os vulnera”.

Ao terminar sua resposta, o presidente chileno fez um apelo para que “não se utilize o sofrimento dos povos, seja na Ucrânia, no Iêmen, na Palestina, no Chile, na Venezuela, na Nicarágua, onde quer que seja, para se tentar de tirar benefícios de política interna, porque isso acontece com frequência e os que terminam sendo os mais prejudicados são as pessoas”.

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