Brasil quer voltar às missões da paz da ONU sem resolver abusos no Haiti

Paulo Sérgio Nogueira, novo ministro da Defesa, afirmou que “o Brasil tem tradição em missões de paz e pode contribuir com boas práticas e ensinamentos”, mas ignora denúncias de abusos sexuais cometidos por soldados brasileiros

Atuação no exterior teria formado uma “casta” dentro das Forças Armadas brasileiras, segundo especialistas | Foto: Hector Retamal/AFP

O Brasil pretende voltar a participar das missões de paz da ONU (Organização das Nações Unidas). Este objetivo foi admitido nesta terça-feira (5/4) pelo ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, em coletiva conjunta com o comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, para comentar a participação de soldados brasileiros no exercício militar Viking 22, que engloba 40 países e que sumulará uma operação de paz em um país fictício.

Segundo Nogueira, “o Brasil tem tradição em missões de paz e pode contribuir com boas práticas e ensinamentos”. A declaração faz referência à participação de militares brasileiros na missão da ONU no Haiti, entre 2004 e 2017.

No entanto, a presença dos militares brasileiros no Haiti não ficou isenta de controvérsias. Um informe de 2019 realizado por organizações de direitos humanos reuniu mais de 2 mil denúncias de abusos sexuais cometidos por membros da Missão de Paz da ONU no Haiti – dessas vítimas, ao menos 300 eram crianças entre 11 e 13 anos.

Nem todas essas denúncias envolvem soldados brasileiros, mas algumas delas sim. Mas há uma estatística na qual se sabe mais exatamente a proporção da responsabilidade brasileira, que é no número de crianças haitianas filhas de militares das Missões de Paz: de um total de 256 casos, o informe assegura que 21,9% correspondem a soldados brasileiros que deixaram filhos no país – é o segundo maior número, atrás apenas do Uruguai, vinculado com 28,3% das crianças abandonadas.

Contudo, não há uma investigação mais aprofundada sobre os crimes cometidos por militares durante a Missão de Paz no Haiti, nem mesmo por parte da ONU e muito menos uma investigação interna do Exército brasileiro sobre os possíveis abusos cometidos por seus soldados.

Também vale destacar que alguns ministros do governo de Jair Bolsonaro foram comandantes no Haiti. Entre eles está o general Augusto Heleno (Segurança Institucional) e o general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria Geral da Presidência), além do atual presidente da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), general Floriano Peixoto Vieira Neto.

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Redação

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