Eleições no Chile: “Bolsonaro chileno” irá a segundo turno

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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A onda extremista aterrisou nas eleições do Chile. Kast, o "Bolsonaro chileno" irá a segundo turno com o candidato da esquerda Gabriel Boric

Os candidatos Gabriel Boric, à esquerda, e José Antonio Kast, à direita – Foto: Reprodução

Jornal GGN – A onda extremista da direita mundial aterrisou no Chile. É o que revela o resultado do primeiro turno das eleições para presidente num país que recentemente enfrentou os maiores protestos sociais de sua história, provocando a mudança da Constituição, mas assim como seus vizinhos latino-americanos, especialmente o Brasil, também desenterrou um extremismo de quase um terço da população.

Pelo menos, aquela apta a votar. Neste domingo (21), milhares de chilenos foram às urnas para decidir o presidente que comandará o Chile em um momento particular da sua história. Enquanto as discussões da sociedade civil estão mobilizadas na construção da nova Constituição, que hoje está pleno andamento, também foram eleitos os dois presidenciáveis que irão ao segundo turno marcado para o dia 19 de dezembro.

De um lado, um ex-líder estudantil foi a opção da esquerda, Gabriel Boric (Apruebo Dignidad, com apoio da coalizão da esquerda), que enfrentou nos últimos meses uma dura campanha, recheada de difamações e Fake News disseminadas nas redes sociais, e duramente criticado pela classe mais conservadora do país como um candidato “despreparado”.

De outro, José Antonio Kast (Partido Republicano, da Frente Social Cristã), descrito como o “Bolsonaro chileno”. Com propostas escancaradamente extremistas e de agenda neoliberal (ainda mais do que já é hoje o país-laboratório do neoliberalismo), reuniu a outra face de um país que há dois anos reuniu milhares de pessoas, em um colapso social respondido com extrema violência das forças de segurança do Estado. O GGN acompanhou nas ruas do Chile a revolta social, relembre.

Os dois disputam o comando do país, em uma das mais importantes eleições da história recente do Chile. Durante este novo mandato, será aprovada uma nova Constituição para o país – derrubando a atual herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Kast, por exemplo, já manifestou em suas declarações eleitorais que não acatará a nova Constituição, se o novo texto concorde com sua postura.

Ainda, qualquer que seja o resultado do segundo turno – seja com a vitória de Kast ou de Boric -, o novo presidente do país terá um desafio inédito de governibilidade no país, porque também se elegem as cadeiras do Congresso, em sua maioria com nomes tradicionais da base centro-esquerda e centro-direita. O novo mandatário quebrará com revezamento tradicional de 16 anos entre os governos Sebastián Piñera (atual presidente, direita) e Michelle Bachelet (ex-presidente, esquerda).

Para o continente e para o mundo, o resultado também será decisivo no multilateralismo e tendências políticas para os próximos anos.

Relembre a cobertura completa do GGN sobre os protestos 2019 no Chile e a aprovação de uma nova Constituição.

1 Comentário

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  1. Um outsider (Kast) assim não aparece da noite para o dia.
    Sem querer alimentar fantasiosas teorias de conspiração, é bom pensar se o Chile, o Brasil, a França e outros países não se encontram na mira de Steve Bannon e companhia.

    Aliás, aqui no Brasil, começo a suspeitar que Bolsonaro foi o instrumento usado por essa extrema direita internacional. O atentado não foi fake. Adélio foi escolhido para empastelar as eleições que indicavam que qualquer candidato apoiado por Lula venceria. Bolsonaro seria, tal como no Xadrez, um peão sem valor a ser trocado pelo xeque mate ao Rei; no caso, o cancelamento das eleições com um governo militar “provisório” até que os ânimos serenassem.

    Se essa minha conjectura for verdade, e se Lula continuar liderando com folga todas as pesquisas para 2022, é bom a família Bolsonaro ficar de olho em novos Adélios.

    Bolsonaro, por burro que é, é um peso até mesmo para a extrema direita; aquela que pensa estrategicamente.

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