Para Time, Milei faz da Argentina seu laboratório de promessas

Dolores Guerra
Dolores Guerra é formada em Letras pela USP, foi professora de idiomas e tradutora-intérprete entre Brasil e México por 10 anos, e atualmente transita de carreira, estudando Jornalismo em São Paulo. Colabora com veículos especializados em geopolítica, e é estagiária do Jornal GGN desde março de 2014.
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Revista destaca o cenário de contrastes entre diminuição da inflação e o aumento da pobreza em busca da prosperidade prometida

Revista destaca o cenário de contrastes entre diminuição da inflação e o aumento da pobreza em busca da prosperidade prometida
Revista realiza um perfil do presidente anarco-capitalista argentino, Javier Milei Foto:Tomas Cuesta/Getty Images

Em 25 de abril, a revista Time publicou um perfil do atual presidente argentino, Javier Milei. Desde figura caricata na televisão e nas redes sociais até a chegada à Casa Rosada, o autodenominado “anarco-capitalista” Milei foi apresentado enquanto um populista de direita que “prometeu desmantelar um estado dominado pela corrupção e governado por elites obscuras”. Resgatando sua declaração durante a campanha, a revista destaca: “que tudo vá pelos ares, que a economia vá pelos ares e que toda essa casta política de lixo seja destruída com ela”.

“A Argentina se tornará um modelo de como transformar um país em uma nação próspera”, Milei celebrou ao anunciar o “milagre econômico” do primeiro superávit orçamentário trimestral do país desde 2008. O país sul-americano, apresentado pela Time como uma “potência regional rica em recursos naturais, atormentada por décadas de má administração política e instabilidade econômica”, havia se tornado um laboratório para a aplicação de teorias de governo ideologicamente radicais. 

A ‘terapia de choque’ estaria “funcionando”, já que a inflação havia diminuído por quatro meses consecutivos, sendo elogiada pelo Fundo Monetário Internacional. No entanto, taxa de inflação anual ainda é de quase 300%, uma das mais altas do mundo. 

Com seu lema inicial “No hay plata” – não há dinheiro, o mandatário pediu paciência aos argentinos, pois os efeitos de seu plano se assemelhariam à letra V – uma queda econômica acentuada antes de atingir o fundo do poço, seguida de uma forte recuperação. Para a publicação estadunidense, Milei afirma que o pior já havia passado: “eu disse que o caminho seria difícil, mas que desta vez valeria a pena”.

Até o momento, o percentual de argentinos emergidos na pobreza saltou de 45%, em dezembro, para 55%. Após o corte de ajuda federal, de subsídios ao transporte e à energia e eliminar os controles de preços, muitos trabalhadores daquele país já não conseguem mais consumir carne, ressaltou a Time. 

Além disso, Milei congelou projetos de obras públicas, desvalorizou o peso em mais de 50% e anunciou planos para demitir mais de 70.000 funcionários públicos. 

Assim como seus pares da ultradireita, como Trump e Bolsonaro, Milei é mencionado como em constante confronto com a mídia, destacando o fechamento da agência de notícias estatal argentina Télam, o único serviço que cobre e alcança as províncias do país, acusando-a de ser um porta-voz da propaganda esquerdista. 

Após seus primeiros 100 dias de governo, o representante do La Libertad Avanza ainda não teve conquistas legislativas, seara em que sua proposta de alterações nas Leis de Bases patina. Esse é apontado pela revista como um dos pontos fracos, demonstrando que o presidente,  que se vendeu como um “antídoto para a má administração política e econômica”, seu poder em realizar alianças nacionais e estrangeiras ainda é limitado. 

Nesse sentido, se por um lado “El Loco” avançou em algumas de suas medidas mais ideológicas, de outro precisou recuar. O presidente argentino precisou contornar os ataques desferidos contra o Papa Francisco, selando a paz com alfajores levados presencialmente à Roma, diminuiu o tom contra a China, repensando a dolarização da economia e almejando a entrada da Argentina nos BRICS. 

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