Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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A ‘laranja mecânica’ Lázaro Barbosa é a bomba semiótica apontada para 2022, por Wilson Ferreira

É o momento de reforçar o imaginário que alimentará as futuras bombas semióticas em hipotéticos cenários eleitorais de 2022.

A ‘laranja mecânica’ Lázaro Barbosa é a bomba semiótica apontada para 2022

por Wilson Ferreira

O “serial killer” ajudado por uma “rede criminosa”. Esse é a narrativa do jornalismo corporativo à caça cinematográfica de 20 dias ao criminoso Lázaro Barbosa, custando ao dinheiro público mais de R$ 3 milhões. Como toda bomba semiótica, revela timing e overacting. Lázaro era uma “laranja mecânica”, na acepção do termo: máquina que enlouqueceu e perdeu o controle; matador de aluguel mantido por “rede criminosa” formada, na verdade, por “cidadãos de bem”. Pelo sincronismo com as cuspidas de feijões de Luis Miranda na CPI (com colete à prova de balas e Bíblia na mão) é uma meta-bomba semiótica: a execução por 30 tiros reforça o imaginário da meganhagem, justiçamento e racismo. Imaginário em baixa com o ostracismo do ex-juiz Sérgio Moro, as vitórias de Lula no STF e o fim da Lava Jato. É o momento de reforçar o imaginário que alimentará as futuras bombas semióticas em hipotéticos cenários eleitorais de 2022.

Como esse blog vem destacando ao longo de todos esses anos (mais precisamente desde as Jornadas de Junho de 2013), as bombas semióticas são principalmente bombas cognitivas. Elas vão muito além de uma guerrilha semiológica de propaganda dentro do modelo tradicional das Teorias da Informação ou da Persuasão. Pelas suas características de novidade, efemeridade, imprevisibilidade e movimento, a metáfora da “bomba” é perfeita: uma ação pontual, cuja detonação cria ondas de choque tanto no contínuo midiático quanto no contínuo das relações sociais que sancionam os conteúdos midiáticos. 

O poder de ressonância das bombas semióticas, detonadas pela grande mídia em momentos decisivos nos últimos anos de guerra híbrida (impeachment de 2016, vitória eleitoral de Bolsonaro, a realização da agenda neoliberal de reformas e privatizações mesmo no contexto da trágica crise brasileira da pandemia), não se deve a um poder de “influência persuasiva” stricto sensu.

Por si mesmas, como determinadas configurações de signos (textuais e visuais) que criam narrativas, não teriam a força letal que possuem. As bombas semióticas necessitam de algo mais. Necessitam que os signos do contínuo midiático atmosférico se conectem com o imaginário: conjunto difuso de cenas, imagens, símbolos do inconsciente coletivo. Ou, se quiser, uma “psico-esfera” capaz de criar “egrégoras” – força espiritual formada por um conjunto de energias e sentimentos de um grupo de pessoas e, se for hegemônica, da própria sociedade.

É exatamente nesse plano que se encontram os pontos fracos, as feridas abertas do psiquismo social de uma sociedade. Feridas exploradas nas estratégias de guerra híbrida na gestão do chamado “caos administrado”. Através da qual são criadas cismogêneses: geração de polarização, conflitos. Nas palavras do jornalista Andrew Korybko, os “botões certos” que são apertados em operações psicológicas para criar determinados efeitos políticos.

Apertar alguns botões do imaginário

Como observamos em postagem anterior, o cenário eleitoral para 2022 aponta para o esgotamento da chamada “terceira via”: a criação de um “campeão branco”, personagem que representaria uma saída para a falsa polarização criada pela narrativa midiática “ném-ném” Bolsonaro X Lula. Foram-se Mandetta, Huck etc. 

Um “campeão branco” teria a difícil missão de ocultar dos eleitores a agenda neoliberal (que, por si mesma, nunca ganhou uma eleição) através dos temas diversionistas como “combate à corrupção”, “segurança pública”, “bandido bom é bandido morto”, “proteção ao cidadão de bem” e assim por diante.

Esse humilde blogueiro observava, acompanhando a análise do jornalista Rodrigo Vianna, que a única saída para a direita liberal seria uma candidatura unida ao Partido Militar (a “segunda via”), arranjo que incluiria mídia/Banca financeira/PSDB. Daí, a direita tradicional queimar o fusível do extrema direita Bolsonaro para liberar o agora elevado a reserva “moral” e “racional” do Exército, o vice general Mourão – clique aqui.

Uma operação psicológica desse alcance exigiria reforçar os dois “botões para apertar” do imaginário nacional (escravidão e militarismo) para ativar as futuras bombas semióticas visando cenários decisivos para 2022.

timing perfeito entre o estardalhaço midiático do desfecho sangrento da perseguição ao facínora Lázaro Barbosa e o ápice da CPI da Covid (a cuspida dos feijões do deputado Luis Miranda depois da chegada overacting no Congresso trajando colete tático à prova de balas empunhando um volume da Bíblia) é o início desse movimento de reforço de algumas egrégoras do imaginário que estão desgastadas.

Por que desgastadas? Devido ao ostracismo do ex-juiz Sérgio Moro, as sucessivas vitórias de Lula no STF e a ruína da marca “força tarefa Lava Jato” junto à opinião pública. Já não vemos mais nos telejornais o épico slogan “Policiais Federais nas ruas!”, bradado por apresentadores a cada condução coercitiva feita por agentes fortemente armadas como fossem participar de alguma ação militar no Iraque.

Praticamente desapareceu o impacto daquelas operações da polícia federal ou civil com nomes estrambólicos (chega a ser divertido imaginar como seriam as sessões das brainstormings das quais saíram os nomes dessas operações) nas ações de busca e apreensão de drogas e corruptos.

Lázaro e o imaginário

Os vinte dias da operação Lázaro Barbosa e o aumento da temperatura da CPI estão interligadas, a princípio como estratégia diversionista – desviar o foco da opinião pública. Porém, esse é apenas um efeito residual. O mais importante foi o reforço de dois “botões” do imaginário que serão certamente apertados no futuro: o botão da meganhagem/justiçamento (militarismo) e o botão do preconceito racial, decorrente do estigma da escravidão que jamais foi redimido.

 Repare leitor a obscenidade das imagens do desfecho do caso Lázaro Barbosa destacadas pela grande mídia (tão diligente em esconder as imagens das ofensas de Bolsonaro aos repórteres): policiais comemorando a morte do criminoso como a vitória de um campeonato, o corpo de Lázaro sendo jogado numa ambulância e moradores locais pulando de alegria e soltando fogos. 

Continue lendo no Cinegnose.

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

12 Comentários

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  1. Meu comentário foi bloqueado, censurado. Surreal, os que defendem a liberdade de imprensa censuram os comentários. Meus caros, prezado Nassif, louvo seu trabalho, mas se é para usar os meios do genocida, bloquear quem comenta contra ele, é melhor não abrir espaço para comentários. Fica feio se vestir de democrata e censurar comentários. Em tempo, o texto “bomba semiótica” é péssimo. Se é o próprio Wilson quem faz a censura, eis uma boa deixa!

  2. Comecei a ler para aprender o que é uma “bomba semiótica”. Bomba eu sei o que significa e semiótica aprendi no curso sobre “Sinal, signo e símbolo”. Mas me faltava aprender a “bomba semiótica”. Logo no segundo parágrafo o autor partidário do “tô falando desde…” esboça um paralelo entre “bomba semiótica são bombas cognitivas”. Opa, então já deixou claro que “bomba” é no sentido metafórico. Pensei, ele vai chegar lá. Tenha paciência. Só que aí eu me deparo com isso:

  3. Segunda parte do texto censurado:
    “Por si mesmas, como determinadas configurações de signos (textuais e visuais) que criam narrativas, não teriam a força letal que possuem. As bombas semióticas necessitam de algo mais (como assim, perguntei cognitivamente). Necessitam que os signos do contínuo midiático atmosférico se conectem com o imaginário: conjunto difuso de cenas, imagens, símbolos do inconsciente coletivo. Ou, se quiser, uma “psico-esfera” capaz de criar “egrégoras” – força espiritual formada por um conjunto de energias e sentimentos de um grupo de pessoas e, se for hegemônica, da própria sociedade.

  4. Terceira e última parte do texto censurado:

    Foi muito Bizarro!
    Devo estar enganado mas parece que ele leu cinco livros ao mesmo tempo e juntou tudo em um único pensamento. Só que egrégora, criar uma égregora, prezado, não se cria em um ano, cinco, dez ou 50 anos!!!
    Faça o simples. Caso contrário vc pode criar uma bomba. Não semiótica mas, psíquica. Eu conheço alguns que leram muito Blavastky, não entenderam nada e piraram.

  5. Um dia, um amigo me fez pensar: As pessoas que usam muito o latim, como juristas ou outros que usam muito termos em inglês, querem mostrar uma cultura que não tem, um conhecimento, pseudo conhecimento do tipo: “brainstormings” não sabe o que é? Pois eu sei.

    Se não, vejamos ou como dizem em Portugal “Vamos a ver”:
    O “serial killer” – timing e overacting – stricto sensu – De novo timing e overacting – e não podia falta o “brainstormings”.

    Na boa, é ou não “o cara”.
    Esse Wilson…
    Em tempo, que fique claro, sou Lula sempre. Leio todos os dias este blog do Nassif, o 247, Forum, Viomundo, O Cafezinho, Tijolaço etc.
    E mais, fiz muitas crítica ao 247 por mostrar “falas” de um “tipo” Lobão, frustrado como cantor e compositor que sempre atacou Lula e agora, como se volta contra o genocida, tem espaço nos blog, como o 247. Sou contra isso.

  6. “seu comentário aguarda autorização do censor, perdão “moderação”. Estou morrendo de medo de ser censurado pelos democratas de plantão ou de ocasião. Não existe isto de moderação. O próprio espaço pode incluir como rotina (falo de TI) para não publicarem automaticamente, palavrões. Agora, alguém que diz que o texto é péssimo…alto lá, aqui ninguém faz censura, ó gajo. Aqui fazemos “moderação”. QUAQUAQUAQUAQUAQUAQUA

  7. Em resposta:
    Há outros meios para evitar os robôs e spams. Implantar “códigos de segurança” para postar um comentário, como a ENEL faz para dar um segunda via (entre outras maneiras).
    Mas, hoje, meus comentários são exibidos, pelo menos para mim, mesmo mostrando que será moderado. Ontem, ao postar um comentário, apareceu a mensagem que eu estaba BLOQUEADO! Diferente de hoje onde o comentário é mostrado, aguardando moderação. Aliás, esta é a primeira vez que isso acontece. É a primeira vez que vejo meus comentários mostrado, claro, aguardando moderação.
    EM TEMPO: Conheço o Nassif desde o tempo que era comentarista Econômico na Band, salvo engano. Louvo sua coragem em continuar este TRABALHO em prol da democracia, mesmo sofrendo os ataques de todos os níveis, até judiciais, pelos Kanalhas de sempre, os Bostas de sempre, Os Conjes de sempre, as Globos de sempre. Quando leio que o Nassif é mais uma vez atacado judicialmente, me causa profunda dor. Poucos tem a coragem que ele demonstra. Um dia isso terá que ser reconhecido.

  8. Achei que tinha sido muito duro com o Wilson. Mas, achei que tinha terminado de comentar. Então, com dor na consciência, fui dar uma “clicada” no Wilson Ferreira. Vi vários títulos de outros textos. Cada um…e me deparei com este:

    Copa América no Brasil? A apropriação e ressignificação semiótica alt-right, por Wilson Ferreira

    Pois é, não fui muito duro não. Esse Wilson…

  9. Eu não sou um robô nem spamer mas meus comentários foram apagados. E olhem que a moderadora me explicou o porquê da censura, perdão, moderação.

  10. Tive que mudar de navegador (mudei para o Edge). Mas vamos lá para terminar (perdão, não me contive. E sem brainstormings:

    Tal qual um serial killer das palavras, usando o timing que me é oferecido e com o overacting de um tifosi ferrarista claro, no sentido stricto sensu, nunca lato, tudo isso decorrente de um brainstormings familiar de há muito (desde 2017), meu leitmotiv é diferente do Wilson: O ex juiz conje Moro será preso em 2025. Peço perdão pela minha idiossincrasia mas só os Wilsons entenderão.

  11. Peço perdão novamente mas não resisto (O Wilson que não me leve a mal – prometo ler outros dos seus textos, Juro.)

    Outro dia um amigo me contou que ficou com dor de cabeça ao ler um texto da Marie-Louise von Franz, Adivinhação e Sincronicidade. Se fosse hoje eu lhe receitaria um Wilson de 8 em 8 horas. Ele, o meu amigo, iria achar a Marie-Louise um sonrisal. Esse Wilson… (em tempos de genocida só o humor resolve. Que nos diga o Pasquim.)

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