Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Fusíveis queimados e estratégia militar de terra arrasada: PMiG e grande mídia no modo Alarme, por Wilson Ferreira

O “apito de cachorro” da polêmica do “racismo reverso” do artigo da Folha foi o alerta para a mudança da estratégia semiótica: sai corrupção, entra a “guerra cultural”.

Fusíveis queimados e estratégia militar de terra arrasada: PMiG e grande mídia no modo Alarme

por Wilson Ferreira

A chamada “terceira via” não engrena, mais precisamente o ex-juiz Sérgio Moro. E junto vai embora a esperança de que o espinhoso tema da economia saísse de pauta, substituído pelo discurso moralista do combate a corrupção. Por isso a grande mídia está no modo Alarme: o “apito de cachorro” da polêmica do “racismo reverso” do artigo da Folha foi o alerta para a mudança da estratégia semiótica: sai corrupção, entra a “guerra cultural”. Colocando a guerra híbrida do PMiG (Partido Militar Golpista) no “Piloto Automático”, com os fusíveis pronto para serem queimados com figuras como Monark e a sub-celebridade ex-BBB Adrilles Jorge – fusíveis queimados para ocupar a pauta com lacradores de redes sociais, juristas de Twitter e a indefectível esquerda reativa pavloviana. Principalmente para ocultar a estratégia militar de “terra arrasada”: silenciosamente passar no Congresso pautas prioritárias que arrasem o País. Para deixar um eventual governo Lula prisioneiro da judicialização.

Em 2015 vivíamos o auge da pesada atmosfera política pré-golpe de 2016. Ápice da polarização política e de um caldo escatológico de cultura no qual o jornalismo de guerra dava visibilidade a qualquer coisa que, mesmo metonimicamente, pudesse servir de oposição ao Governo. Para engrossar a massa heterogênea de “indignados”, cujo único ponto em comum era a cor verde-amarela em adereços fornecidos por movimentos como o Vem Pra Rua, financiado pelo empresário Jorge Paulo Lemann.

Confirmando a eficácia da Teoria do Piloto Automático da Guerra Híbrida (apertando os botões certos, por meio de provocações, se obtém as respostas esperadas de seus alvos para perturbar o status quo por meio de processos pontuais de desestabilização), naquele ano os resultados esperados da polarização começaram a se acumular, ajudando a envenenar o psiquismo coletivo.

Por exemplo, em um desfile promovido pela Prefeitura da cidade de Taboão da Serra/SP, para comemorar o Dia da Independência, alunos representando uma escola municipal traziam nas mãos suásticas nazistas para representar os Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim. O tema do desfile era “Olimpíadas” (alusão aos jogos olímpicos que seriam disputados no Brasil no próximo ano) e para cada escola foi sorteada uma edição das Olimpíadas.

Em do campus Unesp, de Bauru/SP, banheiros foram pichados com citações racistas como “A Unesp está cheia de macacos” e “as mulheres negras fedem”. Ganharam visibilidade pela grande mídia, de forma acrítica em coberturas anódinas. Para alimentar as polarizações nas redes sociais entre os “brancos azedos” e a “ditadura do politicamente correto”.

Com o objetivo de “clarear” com alguma racionalidade essa atmosfera pesada, a USC (Universidade Sagrado Coração), promoveu a semana da “Feira das Profissões 2015” onde mais uma vez suásticas foram expostas por uma instituição de ensino. A feira da USC chamou a atenção ao apresentar os estudantes de História utilizando bandeiras com a suásticas e felizes alunos trajando o uniforme da SS e outros com a vestimenta dos prisioneiros judeus em campos de concentração, listrada e com a estrela de Davi – o que transformou o estande do curso de História da universidade em um mórbido parque temático nazista.

Repleto de boas intenções, a resposta da USC à polêmica falava que o estande era “expositivo” e que o propósito das imagens era “ensinar, conscientizar e abrir espaço para debates” e a “importância da Democracia, da Justiça e da Igualdade”.

Na prática, os resultados foram inacreditáveis selfies que se espalharam nas redes sociais de estudantes alegres, felizes, sorridentes, confortáveis e elegantes em seus uniformes da SS e empunhando braçadeiras com a suástica. É inegável que houve alguma contradição entre forma e conteúdo, intenções e resultado.

 Modo Alarme e “apito de cachorro”

Corta para o presente, ano eleitoral de 2022. Na esteira da repercussão da defesa da criação de um partido nazista no Brasil feita no Flow Podcast, pelo apresentador Bruno Aiub, a jornalista Monica Waldvogel, no “Em Pauta”, da Globo News, conseguia ver um “lado positivo” na fala do ex-youtuber de games: “possibilita um debate…”, afirmou a bem-intencionada comentarista do canal fechado de notícias…

Hoje, a grande mídia se escandaliza, posa como os guardião da Democracia e cai em cima de Monark e de uma subcelebridade e ex-BBB, Adrilles Jorge (que fez uma saudação nazista na TV Jovem Pan, para também surfar na onda e sair do anonimato), junto com todo um conjunto de lacradores de redes sociais, juristas de Twitter e congêneres. Todo um conjunto que, no citado ano de 2015, exercia um moralismo seletivo: ignorava suásticas e discursos de ódio. Porque via neles aliados úteis para engrossar o caldo político-cultural que deu o suporte para as pressões de resgar a Constituição e aplaudir o golpe transmitido ao vivo pela TV.

Embora nove em cada dez “colonistas” admitam que o grande tema do debate eleitoral serão as mazelas econômicas (desemprego, inflação etc.), esse diagnóstico parece ser tudo, menos uma análise imparcial da conjuntura política. Na verdade, é a grande mídia ligada no modo “Alarme!” – alerta para os guardiões da ortodoxia neoliberal e ao PMiG (Partido Militar Golpista) de que as estratégias semióticas têm que mudar, já que a chamada terceira via não engrena. 

Mais precisamente, o ex-juiz Sérgio Moro (“que investigava e julgava”, como disse a “colonista” Ana Flor num ato falho ao vivo na Edição das 16, da Globo News, 04/02, admitindo sem querer o porquê da suspeição de Moro) – a esperança de que, se o ex-juiz engrenasse, o espinhoso tema da economia seria tirado de foco para, em seu lugar, entrar a pauta moralista da corrupção. 

Se num passado recente a grande mídia era um partido de oposição (o PIG), agora é de situação. A guinada da estratégia semiótica começou com o artigo do jornal Folha de São Paulo sugerindo “racismo reverso” no dia 16 de janeiro (Antonio Risério, “Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo”) e todo o “freak out” (lacrações, abaixo-assinados, notas de repúdio etc.) gerado a partir da publicação.

Foi o “apito de cachorro” para a escalada da guinada da guerra semiótica num ano eleitoral que começa com o perigoso baixo-astral do desalento econômico. Estratégia diversionista: se a terceira via não engrena, então o que tem que engrenar é a “guerra cultural”. Afinal, todo o esforço da grande mídia no modo PIG e seu jornalismo de guerra foi permitir a conquista do Estado pelo PMiG como braço forte para fatiar a Petrobrás e deixar os acionistas no Exterior felizes e colocar as raposas no Banco Central para deixar a banca financeira mais feliz ainda.

Agendar a pauta da guerra cultural para a opinião pública equivale a “apertar os botões” da Teoria do Piloto Automático da Guerra Híbrida: tal como os lançadores da máquina de fliperama, lançam as bolinhas que rebaterão loucamente nos pinos. 

Isso significa que muitos fusíveis começarão a ser queimados para provocar o show do massacre midiático e da polarização política transformada em conflitos ideológicos, de costumes e opiniões.

Monark e Adrilles Jorge são os primeiros. O primeiro, um ex-youtuber de games que ficou rico e famoso que, não satisfeito com seus milhões de reais e de seguidores, percebeu que aquele caldo cultural escatológico poderia transformá-lo em informação de pauta para a mídia se começasse a fazer pitacos politicamente incorretos contra o PT, a corrupção, petrolão etc. E o segundo, uma subcelebridade à espera de embarcar na primeira onda para ganhar de novo alguma notoriedade.

O hábito do cachimbo torna a boca torta:  no momento quando a grande mídia sobe a temperatura da pauta identitária e de gênero (caso Moïse e o crescimento da pauta de agressões contra mulheres e feminicídios), esses “fusíveis” são os primeiros a agir como autômatos e fazer “cair o disjuntor” – figuras como Monark e Ardilles Jorge começam a reagir de forma pavloviana. O rendimento semiótico para a estratégia diversionista é perfeito: incita a polarização político-cultural, tirando de cena os delicados temas da economia política.

Continue lendo no Cinegnose.

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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