Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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A grande agenda negativa, JK e o centro do poder, por André Motta Araújo

O Brasil NÃO crescerá, com ou sem reformas, enquanto não abandonar a AGENDA NEGATIVA que, desde 2015, domina a política brasileira.

Foto acervo CUT

A grande agenda negativa, JK e o centro do poder

por André Motta Araújo

O Brasil não tem hoje de uma agenda positiva de desenvolvimento e inclusão social, um projeto de país que seja o eixo em torno do qual o País se projeta para o futuro.  O grande desafio, central da política, é a retomada do crescimento para gerar emprego e renda.

A GRANDE AGENDA NEGATIVA

Hoje o Brasil se desune em termos sociais e políticos, o País implodido por uma agenda essencialmente negativa, nada se constrói, tudo se destrói.

Noticiário abundante sobre inquéritos, prisões, processos, tragédias e crimes frutos de uma crescente tensão social cujo adubo é o desemprego e a pobreza, resultado de uma estagnação da economia que se mantém estável já há cinco anos e nada, absolutamente nada indica que se sairá desse pântano com uma política monetária desde 2015 voltada exclusivamente para combate à inflação, que não é o problema de hoje, mas a medicação é para curar gripe de alguém que não está com gripe, enquanto recebe remédio desnecessário para a gripe o indivíduo morre de inanição por falta de comida.

Sem dinheiro, inflação zero de nada adianta, com dinheiro se tolera uma inflação morena de 10 ou 20%, há ciclos onde a inflação é o problema, mas há outros onde o desemprego é o maior problema. Política econômica deve ser manejada dentro de cada ciclo e visando o problema desse ciclo.

UMA POLÍTICA ECONÔMICA DE PROMESSA DE CRESCIMENTO SEM CRESCIMENTO

A política econômica de promessas de crescimento vem sendo aplicada desde 2014, sempre com o mote “após a reforma tal virão investimentos e o Brasil cresce”.  A reforma trabalhista deveria gerar empregos, mas aumentou o desemprego. Simples “reformas” não gerarão crescimento.

Países emergentes crescem a partir do Estado e não do mercado. É ação do Estado que no Brasil, como na China, puxa o crescimento MAS também nos EUA é o Estado quem arbitra o crescimento. As encomendas militares, o orçamento de defesa nos EUA passa de 700 bilhões de dólares, são cruciais para a economia americana assim como a atividade de milhares de estatais nos setores de portos, aeroportos, águas e esgotos, metrôs, ônibus nas grandes cidades, crédito agrícola, seguro agrícola, crédito à exportação, só que não são sob a forma de empresas e sim de autarquias (Authority) mas ao fim são a mesma coisa que estatais, nos EUA são 100% do Estado, sem acionistas particulares.

Na grande crise de 2008 foi o Estado americano quem resgatou a economia dos desarranjos criados pelo mercado, o mercado não conseguiu resolver a crise que ele mesmo criou, como confiar cegamente no mercado?

Jamais o mercado sozinho fará o Brasil crescer e sair da estagnação porque o estoque de 180 milhões de pobres precisa sobreviver e só politicas publicas tem a celeridade e a certeza de produzir renda que, pelo menos, assegure a sobrevivência dessa população.

O FALSO COMBATE À CORRUPÇÃO COMO AGENDA NEGATIVA

A corrupção não é um totem, um troféu ou um tabu. Há enorme corrupção na atividade privada, compradores ganham comissões, certos tipos de bônus em bancos e empresas privadas são apropriação dos recursos financeiros dos acionistas sem relação com a capacidade dos executivos, são na realidade alta corrupção disfarçada, vencimentos exorbitantes de funcionários públicos são corrupção legalizada. Ao se tentar tratar todos os movimentos de dinheiro como corrupção pode-se paralisar uma economia porque 90% dos grandes negócios estão em zonas cinzentas onde pode se considerar muita coisa como corrupção sem que o seja. Para não correr nenhum risco muitos negócios, obras, investimentos deixam se ser realizados,  a paralisia do medo.

Toda grande onda de crescimento em um País tem uma margem de corrupção. Ao querer extirpa-la mata-se o vírus ruim e também o bom, coloca-se fogo na casa para matar as baratas, quem constrói um País são aventureiros empreendedores e não funcionários públicos de vida segura e sem risco.

JK E A LIDERANÇA DO CRESCIMENTO

Os anos JK foi o melhor exemplo de um grande plano de desenvolvimento puxado a partir da liderança de um Presidente. JK não se abalava com eventos negativos, como os ataques de Carlos Lacerda, as revoltas da Aeronáutica de Aragarças e Jacareacanga, ele simplesmente ignorava e não alimentava, passava por cima para não atrapalhar sua GRANDE AGENDA POSITIVA. Seus 30 grupos de trabalho setoriais foram um exemplo de MÉTODO E ORGANIZAÇÃO.

JK era um agregador de forças para chegar a um objetivo claro, ele não aceitava e não alimentava agendas negativas, se existisse na época uma Lava Jato não haveria Brasília, nem indústria automobilística, naval e de bens de capital, tudo seria paralisado em nome da moral e do combate a corrupção.

Era o que a UDN queria, mas JK soube manobrar e não se deixou enredar pelas contínuas campanhas antidesevolvimentistas da direita.

O Brasil NÃO crescerá, com ou sem reformas, enquanto não abandonar a AGENDA NEGATIVA que, desde 2015, domina a política brasileira.

Um LÍDER, um CENTRO DE PODER definido, uma AGENDA POSITIVA com projetos claros, objetivos de investimento público, sem isso NÃO CRESCE.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

21 Comentários

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  1. O Vice-Presidente Hamilton Mourão, que não apita em nada mas atrapalha muito, afirmou aos empresários:

    “O salário mínimo não é mínimo. Governos anteriores aumentaram além da inflação e produziram uma contradição, onde as classes mais favorecidas recebem mais do que as menos favorecidas”.

    De acordo como Hamilton Mourão, se o salário mínimo for reduzido, as classes MAIS FAVORECIDAS passarão a receber menos do que as classes menos favorecidas.

    As classes menos favorecidas não não devem receber mais do que as classes mais favorecidas, as classes mais favorecidas é que devem receber menos do que as classes menos favorecidas.

    Somos um país de burros e lambe-sacos da elite.

    1. Quem especifica o valor dos salários é o mercado de trabalho. Aumentar o salário mínimo além da inflação só cria um efeito de achatamento pela base da pirâmide salarial: aquele trabalhador que até antes do aumento ganhava um real a menos que o novo valor, passa a receber exatamente um mínimo; aquele que ganhava um real a mais, continua recebendo a mesma coisa.

  2. A campanha de mentiras e agenda negativa tem história longa. Todos se lembram ou leram sobre a feita sobre Getúlio, mas é bom lembrar que, depois da mais rápida e eficiente campanha de desenvolvimento, os 50 anos em 5 de Juscelino, Ary Barroso fazia a marchinha: Quem é que vai recuperar esse país?/quem é que vai fazer o povo mais feliz? Janio, Janio, Janio…., como se o país estivesse no abismo. E como em outubro de 2014, com inflação baixíssima, a Globo e as outras faziam entrevistas fajutas em supermercados com pessoas reclamando da alta dos preços… O cúmulo foi a negação dos sucessos dos governos do PT, apoiada no final pelo bloqueio do congresso e do tal mercado a todas as iniciativas de Dilma. Os que fizeram as campanhas devem estar como alguns na ditadura de 64: Não foi para isso que fizemos a revolução…

  3. Como mantém uma “inflação morena” ?
    Nas aulas de Macro da faculdade de Administração a gente aprendia que o inflação era que nem barata , tinha de matar logo.
    A experiência histórica do país com a inflação parece indicar que é melhor evitá-la.
    Alguma boa bibliografia sobre isto ?

    1. Creio que um administrador não deveria acreditar nos dogmas econômicos feitos para deixar os colonizados presos. Para a bibliografia, basta comparar séries históricas de desenvolvimento do Brasil com séries de inflação, todas passadas por uma média móvel, para eliminar picos devidos a fatores efêmeros. O Brasil é o caso clássico do alto crescimento associado a alta inflação, esquecido em algumas escolas milagrosas de economia, que quando aplicadas quebram o país – lembrar Chile, FHC, Temer…
      Sobre os dogmas, sempre que um país acredita neles se ferra, quando os manda ao inferno cresce e se fortalece. Veja a Inglaterra, negando os dogmas do monetarismo no séc. xix, os estados unidos recusando-se a ser apenas fornecedores de mão de obra, a china e a URSS adotando o socialismo visando o crescimento – em todos os casos com imensos sofrimentos e perdas para parcelas da população. Nas épocas em que o Brasil se alinhou com os que lhe mandavam fazer as coisas, só perdeu.

  4. Votei em Ciro exatamente porque ele foi o único candidato q apresentou um Projeto Nacional de Desenvolvimento, priorizando os produtores (indústria e agricultura) e valorizando o trabalho. Penso q ao eleger Bolsonaro, o Brasil perdeu uma grande oportunidade de evoluir

  5. “Noticiário abundante sobre inquéritos, prisões, processos, tragédias e crimes frutos de uma crescente tensão social cujo adubo é o desemprego e a pobreza”

    Mercado livre ou manipulado?

    Conscientemente ou não, explicita ou tacitamente, esse parece ser o desejo dos operadores do dólar, caro André: impedir o desenvolvimento e crescimento, jogar o país num caos, com a Economia estagnada para a partir daí enfiar pela goela abaixo das pessoas algo que pareça solução, mas que na verdade é solução apenas para esse pessoal.

    O que parece melhor negócio para a Economia: empreendedores produzindo e vendendo ou interrompendo a produção e deixando as prateleiras dos supermercados vazias? No entanto, para ficar num exemplo propagandeado pela mídia à exaustão, as prateleiras dos supermercados venezuelanos estão vazias.

    Para o empresário a perda do que ganhariam vendendo ´não é prejuízo nem despesa, é investimento. É um dinheiro que eles investem para derrubar o governo e tomarem eles, o dólar privado, o controle sobre os cofres públicos.

    Assim acho bobagem imaginar que os operadores do dólar farão algo para que a Economia do nosso país volte a crescer. Só quem poderia fazer isso é o estado… isso se não estivesse tomado pelos representantes do capital privado, a quem interessa a recessão e não o crescimento.

  6. O País carece da ressurreição de políticas econõmicas geradoras de emprego. Não adianta ficar enrolando, tudo passa pela volta da indústria, o único fator gerador de empregos em cadeia. Precisamos de um novo
    Celso Furtado e a Maria da Conceição Tavares. Precisamos copiar o modelo gerador de empregos da China. O Brasil tem total condição de ser um dos países mais industrializados do planeta.
    Precisamos deixar de pensar pequeno. Precisamos descartar esse modelo medíocre que retroalimenta a pobreza, por interesse das grandes potências.

  7. Abra os olhos e observe, cidadão brasileiro: Mourão é um GENERAL !
    Deveria ser um militar culto, preparado, compromissado com os brasileiros e defensor da soberania do Brasil. Pois ele é exatamente o contrário de tudo isso.
    O governo militar à Bolsonaro é isso aí.

  8. “Um LÍDER, um CENTRO DE PODER definido, uma AGENDA POSITIVA com projetos claros, objetivos de investimento público, sem isso NÃO CRESCE.” Tradução : Ciro Gomes e o seu PND.

  9. Não não somos um país de burros, na verdade temos uma elite feudal, que faz questão de se considerar diferente. Mourão é mais um daqueles que falam no brasileiro em terceira pessoa, e que culpa todos os brasileiros pelos malefícios da elite. A mesma elite que através da mídia, desinformou, construiu narrativas , destruiu a democracia e o diálogo, quando deu o golpe,e não falo de 64 e pavimentou a eleição deste que está ai. Como num supermercado a elite agora procura um outro. Este não serviu, ou pelo menos vai servir até que a reforma privatizando a previdência seja feita. Desconfiada de que a criatura imposta, não faça o que querem começam a buscar outra para por no lugar. Não sabemos quem é Mourão. Escondido pela própria mídia que o menosprezava ganhou agora contornos de um sucessor racional. Afinal racionalidade parece faltar ao atual mandatário. Mas quem é Mourão? Nada sabemos além de suas declarações polêmicas quanto ao que pensa do brasileiro. Alías é mais um que fala do brasileiro na terceira pessoa. Foi esta elite gananciosa que vive de escolher quem ela quer para governar para si, que deu a Mourão uma visibilidade. Talvez em outra situação se recusassem a falar com ele. Mas nossa elite continua buscando um candidato para o cargo. E de Mourão continuamos sabendo apenas que não é Bolsonaro, um excelente pai, afinal seu filho esta bem empregado, sabe-se que tem pouco apreço por algumas etnias brasileiras, e compactua com quem entrega o país e ao mesmo tempo tenta se cacifar como o salvador da pátria. Mourão só ganha importância em comparação com aquele a quem ele e a elite resolveram dar suporte e apoio , Bolsonaro. Até o momento Mourão não disse nada sobre o seu projeto de país, apenas atua nas brechas midiáticas deixadas pela calamidade Bolsonaro. Ele atua com o governo quando é conveniente e contra o governo quando é conveniente, e nossa elite mais uma vez, sem propostas que não as ora vigentes,(A REFORMA), fica em busca de mais um nome para ocupar um cargo vazio. O sonho de consumo era fechar a porta para Lula, destituir Dilma e com Temer , tomar o controle. Com tamanha astúcia chegaram a Bolsonaro e sonham com Mourão.

  10. Leio todo artigo do André Araújo. Leio e compartilho. Gostaria, no entanto, de fazer pequena observação. Não teria a agenda negativa de Lacerda amedrontado um pouco ao presidente? Confesso ter lido ter sido uma das razões da mudança para Brasília, as diatribes quase diárias do golpista Lacerda na Rádio Globo.
    O jornal fazia uma chamada na primeira página e a população o escutava à noite. Segundo ele próprio, isso o amedrontava.

    1. Na metade do mandato de JK Lacerda avisou que naquela noite faria um discurso na TV Tupi que iria derrubar o Presidente. JK mandou o Ministro da Justiça Armando Falcão ir a TV Tupi e lacrar os transmissores por tres dias, Lacerda não fez o discurso. JK não tinha medo, era lider.

      1. Se o ministro fosse o ze Cardoso jk caia e o corvo seria o presidente rs. A ditadura de 64 impediu que jk e Lacerda disputassem no voto em 65 quem seria o presidente do pais.

  11. O Estado pode induzir ao crescimento, mas não um Estado já sobrecarregado e deficitário.

    JK produziu altos índices de crescimento, mas também uma crise que pavimentou o caminho para a queda de seus dois sucessores, Jânio Quadro e João Goulart. JK foi o último presidente idealista do país. Sua ingenuidade foi bem captada por Roberto Campos em uma conversa, na qual ouviu do presidente: “Sou contra emitir moeda para aumentar a folha do funcionalismo, mas para atividades produtivas, sou a favor”. Como se a cédula que sai da prensa da Casa da Moeda estivesse ciente de servir ou não a uma atividade produtiva, ironizou Roberto Campos…

    O modelo desenvolvimentista de Vargas e JK chegou ao esgotamento nos anos 80. Produziu alguns bons resultados quando o país era jovem e tinha uma previdência superavitária, aí dava para endividar-se, fosse criando uma dívida externa, ou criando uma divida com seu próprio povo ao produzir inflação. Agora não dá mais.

    1. Você tá querendo dizer que a inflação do passado não decorria do fato da oferta ser menor do que a demanda, mas da emissão de dinheiro?

  12. Concordo plenamente, o capitalismo é cíclico, veja a crise americana, JK foi um grande estadista e se tivesse se iludido com o ladrar dos cães, certamente não teríamos nenhum desenvolvimento no país. Viva JK e viva Getúlio e Lula!

  13. Eu vou levar o Pedro Mundim até às fonte, apesar de não poder obrigá-lo a beber.
    Esse comentário é uma resposta ao comentário do Pedro Mundim no qual ele afirma que o valor do salário m8nimo é fixo.
    Marx desmontou essa falácia há mais de 150 anos atrás:

    “Os argumentos do cidadão Weston (e do Pedro Mundim) baseiam-se, na realidade, em duas premissas:

    1ª ) que o volume da produção nacional é algo de fixo, uma quantidade ou grandeza constante, como diriam os matemáticos;

    2ª ) que o montante dos salários reais, isto é, dos salários medidos pelo volume de mercadorias que permitem adquirir, é também uma soma fixa, uma grandezaconstante.

    Pois bem, a sua primeira asserção é manifestamente falsa. Podeis ver que o valor e o volume da produção aumentam de ano para ano, que as forças produtivas do trabalho nacional crescem e que a quantidade de dinheiro necessária para pôr em circulação esta crescente produção varia sem cessar. O que é exato no fim de cada ano e para diferentes anos comparados entre si, também o é com respeito a cada dia médio do ano. O volume ou grandeza da produção nacional varia continuamente. Não é uma grandeza constante, mas variável, e assim tem que ser, mesmo sem levar em conta as flutuações da população, devido às contínuas mudanças que se operam na acumulação de capital e nas forças produtivas do trabalho. Éinteiramente certo que se hoje houvesse um aumento da taxa geral de salários, este aumento por si só, quaisquer que fôssem os seus resultados ulteriores, não alteraria imediatamente o volume da produção. Em primeiro lugar, teria que brotar do estado de coisas existente. E se a produção nacional, antes da elevação dos salários era variável, e não fixa, ela continuaria a sê-lo, também, depoisda alta.

    Admitamos, porém, que o volume da produção nacional fôsse constante em vez de variável.Ainda neste caso, aquilo que o nosso amigo Weston considera uma conclusão lógica permaneceria como uma afirmação gratuita. Se tomo um determinado número, digamos 8, os limites absolutos dêste algarismo não impedem que variem os limites relativos de seus componentes. Por exemplo: se o lucro fosse igual a 6 e os salários a 2, estes poderiam aumentar até 6 e o lucro baixar a 2, que o número resultante não deixaria por isso de ser 8. Desta maneira, o volume fixo da produção jamais conseguirá provar que seja fixo o montante dos salários. Como, então, nosso amigo Weston demonstra essa fixidez? Simplesmente, afirmando-a.

    Mas mesmo dando como boa a sua afirmativa, ela teria efeito em dois sentidos, ao passo que ele quer fazê-la vigorar apenas em um. Se o volume dos salários representa uma quantidade constante, não poderá aumentar, nem diminuir. Portanto, se os operários agem como tolos, ao arrancarem um aumento temporário de salários, não menos tolamente estariam agindo os capitalistas, ao impor uma baixa temporária dos salários. Nosso amigo Weston não nega que, em certas circunstâncias, os operários podemarrancar aumentos de salários, mas, segundo ele, como por lei natural a soma dos salários é fixa, êste aumento provocará, necessariamente, uma reação. Por outro lado, ele sabe também que os capita- listas podem, do mesmo modo, impor uma baixa de salários, e tanto assim que o estão tentando continuamente. De acordo com o princípio do nível constante dos salários, neste caso deveria ter lugar uma reação, exatamente como no anterior. Por conseguinte, os operários agiriam com acerto reagindo contra as baixas de salários ou contra as tentativas em tal sentido. Procederiam, portanto, acertadamente, ao arrancar aumentos de salários, pois toda reação contra uma baixa de salários é uma ação a favor do seu aumento. Logo, mesmo que aceitássemos o princípio do nível constante dos salários, como sustenta o cidadão Weston, vemos que os operários devem, em certas circunstâncias, unir-se e lutar pelo aumento de salários.

    Para negar esta conclusão ele teria que renunciar à premissa em que se baseia. Não deveria dizer que o volume dos salários é uma grandeza constante, mas, sim, que embora não possa, nem deva aumentar, pode e deve baixar todas as vezes que o capital sinta vontade de diminuí-lo. Se o capitalista quer vos alimentar com batatas, em vez de carne, ou com aveia em vez de trigo, deveis acatar a sua vontade como uma lei da economia política e vos submeter a ela. Se num país, por exemplo, nos Estados Unidos, as taxas de salários são mais altas do que em outro, por exemplo na Inglaterra, deveis explicar esta diferença no nível dos salários como uma diferença entre a vontade do capitalista norte-americano e a do capitalista inglês; método este que, sem dúvida, simplificaria imenso não já apenas o estudo dos fenômenos econômicos, como também o de todos os demais fenômenos.

    Ainda assim caberia perguntar: Por que a vontade do capitalista norte-americano difere da do capitalista inglês? E para responder a esta questão, não teriam outro remédio senão ir além dos domínios da vontade. É possível que venha um padre dizer-me que Deus quer na França uma coisa e na Inglaterra outra. E se o convido a explicar esta dualidade de vontade, êle poderá ter a impudência de responder que está nos desígnios de Deus ter uma vontade em França e outra na Inglaterra. Mas nosso amigo Weston será, com certeza,a última pessoa a converter em argumento esta negação completa de todo raciocínio.

    Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas investigar o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses limites”.

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