A mediocridade mantém o sistema, por Henrique Matthiesen

Antônio Abujamra, consagrado diretor de teatro, tinha uma frase célebre que dizia: “A vida é tua. Estrague-a como quiser”.

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A mediocridade mantém o sistema

por Henrique Matthiesen

Diz um sábio ditado que: “A vida é muito curta para uma existência medíocre”.

Este adjetivo deletério diz muito sobre os adeptos da mediocridade. Esta existência sofrível, morna, pequena é típica de seres que desperdiçam a vida na pequenez de suas insignificâncias.

Antônio Abujamra, consagrado diretor de teatro, tinha uma frase célebre que dizia: “A vida é tua. Estrague-a como quiser”.

Entretanto, esta característica peculiar dos medíocres contamina de forma maléfica as empresas; as instituições; as famílias; enfim, os ambientes, obrigatoriamente, de convívio social; uma vez que a junção da mediocridade com a arrogância é a formula mais eficaz para a sua própria manutenção ignóbil.

Dentre os atributos característicos destes seres está a pouca aptidão ao trabalho, seja ele individual ou coletivo e às inovações. Popularmente o medíocre é um preguiçoso intelectual, mas dono das mais profundas retóricas embusteiras, das justificativas mais convincentes para a manutenção do status quo. 

Todos conhecem pessoas assim: charlatões da existência que arrumam sempre uma desculpa por sua imobilidade, que sempre culpam outras pessoas ou situações por sua própria ineficiência. São pessoas reativas que só vislumbram e agem quantitativamente e não qualitativamente.

Desprezíveis parasitas que, onde for possível, encontram um hospedeiro para ludibriar e fazer da sua mediocridade uma profissão de fé. Lutam bravamente contra tudo que, minimamente, saia da sua inexpressível zona de conforto e da mesmice. 

Preferem a falência, o imobilismo e a pequenez à busca de novos horizontes, aos grandes projetos, ao fazer a diferença; pois para o medíocre a manutenção do sistema, de preferência, obsoleto mofado o garante e o perpetua.

De fato, Antônio Abujamra tem razão.

Se quiserem estragar suas vidas na mediocridade, no sonho químico, na vassalagem e no embuste permaneçam firmes, mas arquem com as consequências e não reclamem do julgamento da História, pois este sim, não é medíocre. 

Henrique Matthiesen – Bacharel em Direito. Pós-Graduado em Sociologia.

4 Comentários

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  1. De um tempo pra cá eu também me convenci que o problema do Brasil é a mediocridade. E não é difícil entender que este SEMPRE foi o projeto para o Brasil… Muitos autores (antropólogos, escritores, sociólogos, etc) chamaram a atenção o fato, mas até onde lembro poucos estudaram a fundo esse problema.
    As demonstrações da mediocridade são inúmeras, mas eu me concentraria no dado fundamental: a mentalidade da nossa classe média, materialização mais completa e acabada da mediocridade brasileira. Impossível coisa mais estúpida no Universo, sempre empurrando o país para trás.
    Como começou? É certo que foi nossa elite colonial, mas seria bom entender melhor como se deu esse mecanismo pérfido. Como se mantém? Tenho algumas pistas, mas também seria bom entender melhor o mecanismo. Quanto custa ao pais? Olha, por baixo uns 100 anos de atraso.
    Acho que um dos desafios dos poucos que pensam esse país é tentar desvendar um pouco melhor esse problema.

    1. Cidadão Marcos, esta é uma preocupação de muitos dos brasileiros que amam este país e não conseguem entender por que tanta potencialidade não é aproveitada. Como acreditava Darcy Ribeiro, o Brasil tem tudo para sediar uma nova civilização que pudesse superar o que se pode considerar como um dos grandes males da civilização ocidental que é a aceitação do racismo como ciência, com todas as implicações daí advindas.
      Sugiro que procure saber sobre a tese do professor italiano, Carlo Maria Cipolla, “As leis fundamentais da estupidez humana”. Ele considera a humanidade composta de quatro categorias, independentes de raça, religião, cultura, gênero, nacionalidade, classe social, grau de escolaridade etc. Dentre elas, a categoria dos estúpidos é a mais preocupante, porque diferentemente das demais, o estúpido o é sem que o saiba e, pior, se vê como entendido. Por isso, ele é uma ameaça constante ao bem estar de toda a sociedade, pois que age de maneira inadvertida, às esconsas e sem se preocupar com as consequências. Porém, tenho um senão quanto à teoria do Prof. Cipolla, que considera a estupidez como de fundo genético, porque eu acredito na educação como forma de promover o ser humano. Penso que o autor do artigo tenha usado eufemisticamente o termo “mediocridade”, para não dizer “estupidez”.

      1. Pra dizer a verdade eu pensei nos dois autores. Mas aqui a minha preocupação não é a especulação. Minha ideia e, você já deu a pista, é descobrir a origem de tudo, ou seja, quem e em qual momento ficou decido que a mediocridade ia ser política oficial do Brasil. Procuro por fatos, datas, nomes. Devem existir.
        Tenho algumas pistas, mas vou ter que pesquisar mais.

  2. Creio que a mediocridade que grassa nesse país tenha tido a sua origem e tenha a sua periódica atualização, na tentativa (sempre exitosa) de instalar aqui, primeiro uma reprodução material e intelectual maltrapilha da civilização portuguesa e depois, de toda e qualquer nação que possua e exerça um domínio, uma hegemonia política, cultural e econômica no mundo ( Inglaterra, França, EUA), subordinado duas realidades singulares imensas que são a terra brasileira e o povo brasileiro (muito mais heterogêneos, complexos e desafiadores do que as realidades da terra e do povo das nações mencionadas) à um apequenamento grotesco, grotesco que é uma das qualidades ou manifestações da mediocridade no Brasil, talvez a mais visível. Como exemplo do grotesco da mediocridade brasileira relacionada à terra, menciono a perene tentativa (por parte da elite dirigente do Brasil) de expurgar do país a aceitação plena da vida tropical, da exuberância natural da terra articulada a um saber viver naturalmente da mesma ( a vida indígena, quilombola, MST, comunidades tradicionais da terra) em proveito de um entendimento e relacionamento com a terra, que é simplesmente uma exportação da cultura civilizatória européia e norte americana. E como exemplo do grotesco da mediocridade brasileira relacionada ao povo, cito a angústia e o desejo irreprimíveis das elites políticas, econômicas e sócio-culturais do país (mas também da risível classe média nacional), por um povo puro, pelo fim “desse excesso de mistura” da população, e por fim de uma “cultura nacional” (evidentemente pura). Isto tudo partindo de um povo mestiço, um povo no mais ” puro” sentido da palavra: plebeu.

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