As esquerdas encurraladas
por Aldo Fornazieri
As esquerdas estão encurraladas. Encurraladas por si mesmas e encurraladas por Bolsonaro. Há uma evidente incapacidade de as esquerdas se pensarem a si mesmas, de desenvolverem uma crítica acerca de si mesmas, de suas trajetórias, de suas derrotas e de suas estratégias. Essa perda de capacidade crítica e autocrítica está jogando as esquerdas para fora do jogo político do poder, fazendo-as perder a própria noção de rumo e de sentido de sua ação política. Ou seja, as esquerdas perderam a própria noção de estratégia. Esta aversão à crítica gerou militantes com pendores fascistóides que, diante de qualquer crítica, ao invés de debater o conteúdo, partem para a agressão. São bolsonaristas de sinal invertido.
Os partidos em geral, incluindo os de esquerda, são sustentados pelo dinheiro público, pelo dinheiro do contribuinte. Portanto, devem ser submetidos à crítica pública e ao debate público de suas propostas, de suas ações e atitudes. Na era das redes socais, o arcaísmo das esquerdas as faz acreditarem que podem resolver os seus problemas, as suas políticas, as suas táticas e as suas estratégias no segredo de suas catacumbas burocráticas. Essa misantropia política afastou os partidos das bases sociais e da juventude e quando eles se aproximam da sociedade o interesse é quase que exclusivamente eleitoral. Resultou que os partidos de esquerda se tornaram partidos de gabinetes.
Incapazes de olhar para si mesmas, as esquerdas estão encurraladas por Bolsonaro. Com o passar dos dias do governo Bolsonaro, as esquerdas e o bolsonarismo vão desenvolvendo um mútuo desejo mimético: o que um quer o outro quer. Bolsonaro quer destruir as esquerdas, as esquerdas querem destruir Bolsonaro; Bolsonaro tem e quer mais poder, as esquerdas querem o poder de Bolsonaro; Bolsonaro odeia as esquerdas, as esquerdas odeiam Bolsonaro; Bolsonaro tem se mostrado corajoso no governo em atacar seus inimigos, as esquerdas gostariam que, quanto no poder, os seus governantes tivessem a coragem de Bolsonaro para atacar os inimigos; Bolsonaro despreza o povo e o vê apenas do ponto de vista do seu interesse pelo poder; as esquerdas culpam o povo por ter elegido Bolsonaro.
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Nessa escalada de mútua fixação, de ódio mútuo, Bolsonaro perdeu a capacidade de governar e de pensar o seu governo e as esquerdas perderam sua capacidade de pensar a si mesmas, sua crise, suas estratégias e seus rumos. O que não falta são ataques de Bolsonaro às esquerdas e os ataques das esquerdas a Bolsonaro. Bolsonaro ocupou, povoou e dominou o pensamento das esquerdas e as atormenta todo dia, toda hora, todo minuto.
Os ataques das esquerdas a Bolsonaro, contudo, são inconsequentes, virtuais, impotentes, ilusórios. Os partidos de esquerda foram incapazes de promover qualquer ato contra a fúria destrutiva do governo Bolsonaro. No máximo, são caudatários das poucas mobilizações de movimentos sociais, a exemplo da luta pela educação. Os movimentos sociais, fragmentados e sem uma direção universalizante dos partidos, não são capazes de gerar potência. O terceiro tsunami da educação, ao menos em São Paulo, foi uma marolinha, para usar uma tirada do Lula.
As esquerdas não serão capazes de enfrentar a direita e Bolsonaro de forma consequente e eficaz se não se repensarem a si mesmas, se não repensarem suas estratégias, seus dilemas, seus desafios. Para isto é preciso abrir um amplo debate público e dialogar com a juventude, com as periferias, com os trabalhadores, com as mulheres, com os negros, com as classes médias. As esquerdas estão inseridas em duas crises: uma crise internacional, com o seu recuo e com a ascensão da extrema-direita; e uma crise no Brasil, com as sucessivas derrotas e com a incapacidade de enfrentar o governo Bolsonaro.
Ao se tornarem coadjuvantes dos partidos de centro liberal, os partidos de centro-esquerda colapsaram, com o esvaziamento do conteúdo democrático das instituições, com a crise dos sistemas políticos. Não foram capazes de oferecer saídas para as mazelas da globalização e para o aumento da desigualdade e da pobreza. Não foram capazes de dar outra perspectiva ao Estado-nação, assentada na justiça, na maior igualdade, na garantia de direitos e na democracia participativa. É nesse vácuo provocado pelo colapsamento dos sistemas políticos e pelo fracasso do centro e das esquerdas que cresce a extrema-direita, com seu discurso nacionalista e conservador. As esquerdas sofrem uma crise de oferta de políticas e programas eficazes para enfrentar os problemas das democracias e as carências das sociedades.
No enfrentamento do governo Bolsonaro, os partidos de esquerda propuseram a formação de uma frente democrática que não funciona e de uma frente antifascista que ninguém nunca viu. O PT lançou um programa emergencial de geração de emprego e renda de forma quase clandestina. Quer gerar 7,5 milhões de empregos. Mas qual a capacidade que o partido tem para gerar esses empregos? São estratégias equivocadas, pois não é disso que se trata. O que se trata é de formar redes e frentes aglutinando partidos, movimentos, entidades e organizações a partir das lutas e dos temas concretos como o desemprego, a educação, a destruição da Amazônia, a Saúde, a habitação etc.
O que se trata é de formar redes e frentes concêntricas e flexíveis de lutas, com o protagonismo de várias lideranças e organizações. Mas na sua vaidade, na sua arrogância e no seu egoísmo, os dirigentes partidários não são capazes de estabelecer uma eficaz distribuição de tarefas e de responsabilidades entre líderes, partidos, movimentos e organizações.
Bolsonaro opera sobre o colapso do sistema político-partidário e institucional que emergiu da crise do governo Dilma, do golpe-impeachment e do fracasso do governo Temer. Ele aprofunda, de forma deliberada, esse colapso, esvaziando e destruindo instituições e intervindo e dominando os mecanismos de controle, fiscalização e investigação. A sua meta é aprofundar o esvaziamento da vontade política e a descrença nas instituições. Sua forma de exercer o governo consiste em viabilizar mecanismos autoritários e estabelecer uma hegemonia a partir de valores conservadores e religiosos.
As esquerdas deveriam estabelecer uma contra-estratégia recuperando a capacidade de articulação e de organização da sociedade civil, dos movimentos sociais, do campo progressista e dos partidos políticos a partir das lutas concretas. Trata-se de recuperar o sentido das lutas coletivas e de unidade nas lutas, recriando vontades políticas e crenças de que somente através de mobilizações e lutas se podem obter conquistas.
As esquerdas precisam recriar o trabalho de base nas periferias – campo abandonado para o conservadorismo religioso. Mas este trabalho precisa ser desenvolvido com atividade, energia, disciplina, agregação e propostas, pois o discurso de esquerda não encontra a simpatia natural dos pobres e dos trabalhadores. É o discurso conservador que toca mais naturalmente os sentimentos das pessoas, pois as sociedades são conservadoras. Por isto, as esquerdas precisam rever as suas formas de se comunicar e de agir. Precisam rever os seus discursos para convencer, sabendo que no Brasil se trata de uma sociedade fragmentada, dilacerada pela violência, pela desigualdade, pela pobreza. Não será com uma retórica marxista, ultrapassada, dirigida a trabalhadores de uma sociedade industrial que sequer existe que as esquerdas irão recuperar o terreno perdido para a direita e para o conservadorismo.
Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP)
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O prof sofre da Sindrome do Apolinho… aquele jornalista esportivo q sabia tudo até o dia em que deram o Flamengo p ele treinar..m
Esquerdopatas não se aguentam !!! A crítica construtiva de um Intelectual de Esquerda os levam à ira irracional. Uma vez Aloprados… O que não querem enxergar é que desde 90 anos atrás, Esquerda e Direita andam juntas. Getúlio e Prestes saem da mesma Quartelada. Carlos Lacerda surge do partido de Prestes. Jango e Brizola defendem a história política de Getúlio Vargas, Ditador Militar Caudilho Fascista da Família. Família cujo parentesco está Tancredo Neves e por consequência Aécio Neves. Redemocratas, dizem. Pode?! 9 décadas de Surrealidade. Direita e Esquerda sempre andaram juntas. Só que agora é em Paris, Nova York ou Los Angeles,… Onde está a Dona Marina Silva? Trabalha onde? Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.
Zé Sérgio colocou o dedo diretamente na ferida: neste país, não há e jamais houve, diferença entre a esquerda e direita. A esquerda daqui, segue à risca a ideia que o sonho do oprimido é tornar-se opressor, enquanto a direita, não quer perder esta última posição. Quer conservar.
E aliás, isto que os brasileiros em sua maioria são: conservadores. Querem manter seus status, “pensarem em si mesmas” como diz em ato falho, Aldo Fornazieri.
Tirante um ou outro intelectual, nem direita ou esquerda apresentaram projetos para o país. Ao contrário, mesquinhos que são, apresentam apenas as demandas da classe que dizem defender. Para tanto usam os mesmos esquemas de poder: invasões, predações, maledicências.
Quem tem a coragem de ultrapassar as demandas mesquinhas e pensar no interesse comum? respeitando os vencidos democraticamente? Nenhum lado.
Sim, as necessidades dos mais pobres são urgentes, entretanto, todo o dinheiro arrecadado de modo público ou privado, é convertido de qual forma? como permite que melhorem de vida? a resposta é não há tal pensamento. Não há tal vontade.
Geramos ensino público de qualidade precária. Geramos crédito para que fosse apropriado por egoístas avaros. Geramos segurança para facilitar milícias.
Somos incompetentes porque o problema é gravíssimo, porque fomos criados sem ética, sem moral, sem respeito ao semelhante. Por isto que este país, jamais será ou ocupará posição de liderança. Que a humanidade seja livre do exemplo brasileiro! Assisto divertido aos estrangeiros que se encantaram com nossa hipocrisia padrão, nossa falsa simpatia, nosso acolhimento de fachada. Agora, horrorizados, veem que sob a máscara, queremos destruir o ambiente, os adversários, qualquer um ou coisa que se oponha à marcha triunfante da ignorância sobre tudo. Mas não estamos sós, temos os EUA, África, Rússia, China e europa em nossa gloriosa companhia. Que nos sigam os maus, parafraseando o filósofo Chaves, exemplo do Brasil ou México? ah, todos são iguais mesmo.
Isso é uma “ironia” né?
PelamordeDeus!
Encurralado está este senhor, cuja obsessão é criticar as esquerdas, o PT em particular. Quer indicar caminhos, estabelecer agenda, tudo com sua avaliação particular destorcida, criticando ações ou inações, estas que em política podem muitas vezes pode ser um diferencial. Quer porque quer, principalmente que as oposições, com base apenas em sua avaliação, parta para o confronto nas ruas, não importa que possa ser uma queima de etapas, que o esperar possa deixar o opressor se enredar em sua própria teia, mesmo porque nada que se possa fazer pode tudo reverter de imediato todos os malfeitos dos golpistas, principalmente na área econômica. E o decisivo, que as massas ainda não estejam dispostas a partir para um confronto direto. É um passo que, mal dado, coloca tudo a perder, adia a possibilidade de solução. Fique na tua professor.
Que maravilha! Vou pedir para ser lido no jornal nacional. Encaixa-se como uma luva nos comentários a respeito das comparações entre o presidente Lula e o atual ocupante do cargo de presidente da república.
Professor, és dos poucos à enxergar a realidade das esquerdas por isso muito criticado pelas mesmas. Os movimentos sociais estão mortos de medo em função das agressões sofridas pelo bolsonarismo e vivem de queixas nas redes sociais sem nada de concreto. Ainda vivem da esperança chamada Lula que creio não sairá tão cedo se não houver um forte movimento de rua e muita articulação que não vemos hoje. Parabéns professor pela coragem de uma critica construtiva.
O campo de batalha é a mídia social, não é mais as ruas. As ruas são feitas para os encontros. Mas eles,
marginalizam e criminalizam as manifestações de esquerda. Atacam. Jogam gás, cachorro e a mídia chama de vagabundos e vândalos. E cantam “nossa camisa não é vermelha” e tal.
Mas sobreviveremos. Sim. E sairemos mais forte. Por que o resultado de tudo isso que eles fazem é apenas
ódio de uns contra outros. Isso que eles chamam de direita não passa de “haters”, sua política é o ódio. Ódio contra o povo, ódio contra os homossexuais, contra os pobres, contra os ambientalista. É ódio até contra o próprio país. Parece com fascismo realmente. Não vai dar certo. Obviamente.
Política nunca deve ser feita para implantar o ódio, que vem junto com a mentira. Política deve ser feita para implantar o bem, comum, que melhora a vida de todos. E isso não deveria ser compromisso somente
da esquerda, mas também da direita, obrigatoriamente, também do centro, do fundo, de todos os lados políticos possíveis. Não se faz políitica para destruir um país, para piorar a vida das pessoas, e fazê-las sofrer. Isso não é Política.
O que se passa com a esquerda é que ela ainda está tentando entender tudo que está acontecendo, está pasmarda pelo ódio e perseguição da direita, realmente está tonta sem saber reagir. Quando descobrirem que eles não passam de “haters” que odeiam qualquer coisa, e não dão frutos, a esquerda irá resurgir com a cabeça erguida e mais forte. Quem sabe se todos aqueles que buscam a política com meio de melhorar a vida das pessoas não se juntem, e formem um só união, separados apenas por modelos
políticos ou econômicos. Mas com o único fim de melhorar o estado, melhorar o país.
Baita inveja, Jair. Eu queria ter escrito isso !
Pois é, se sabe o caminho monta um plano e oferece para os partidos….
Ficar atacando partidos e agora os militantes é comodismo….
O clima do país é de guerra silenciosa, eu mesmo já disse que conversando numa lanchonete baixei o tom por que um minion brucutu começou a fiscalizar o que estávamos falando…..qual a diferença da Alemanha nazista? Do falta sermos presos por criticar o governo…..pois é profexô, nem isso falta mais…….
Ao outro que disse que falta “conversa”, que tal começar pela rede golpe, que numa manipulação descarte sem vergonha cólica Lula e o demônio no mesmo balaio……
Quer saber……com analistas de boutique desses realmente tamos f…….
Pois é, se sabe o caminho monta um plano e oferece para os partidos….
Ficar atacando partidos e agora os militantes é comodismo….
O clima do país é de guerra silenciosa, eu mesmo já disse que conversando numa lanchonete baixei o tom por que um minion brucutu começou a fiscalizar o que estávamos falando…..qual a diferença da Alemanha nazista? Só falta sermos presos por criticar o governo…..pois é profexô, nem isso falta mais…….
Ao outro que disse que falta “conversa”, que tal começar pela rede golpe, que numa manipulação descarada e sem vergonha colocou Lula e o demônio no mesmo balaio……
Quer saber……com analistas de boutique desses realmente tamos f…….
Maldito corretor….
A esquerda ainda vive no tempo do mimeógrafo e do “acreditam nas flores vencendo o canhão” enquanto a direita tira proveito da tecnologia 4G. Além disso, parte da esquerda tem uma visão fantasiosa e idealizada do povo que não corresponde à realidade. Quem vive na periferia sabe.
Agora entendi, a culpa de toda desgraça são as esquerdas e Bolsonaro, que querem a mesma coisa com sinal invertido. Seja quem for o vencedor vislumbra-se um futuro de paz, amor e prosperidade, e para isso basta isolar o ódio mútuo, talvez com chá de artemisia (minha sugestão), que contamina os dois lados. Alvíssaras ! Claro, há um risco, o de um convencer o outro e o outro ser convencido pelo um, os dois vencendo. Lula palmeirense e Bolsonaro corintiano. Nesse caso uma melhor de três resolve.
Correção : …de um convencer o outro e o outro convencer o um…
Para constatar a verdade que foi dita nesse artigo, basta ler os comentários. Muito me entristece ver que algumas pessoas que sempre compartilharam ideias progressistas se tornaram cegos a ponto de não conseguirem parar para analisar sua estratégia que CLARAMENTE está totalmente equivocada. O prof. Fornazieri tocou o dedo na ferida. Encaro como um manifesto. Nosso campo politico só voltará ao poder quando a maioria que o compõem conseguir enxergar todos esses pontos e começar a debater como vamos enfrentar essa batalha dos novos tempos. Esse apego a uma narrativa que já passou é agoniante. Talvez tenha sido o trauma do golpe… Infelizmente acredito que só acontecera uma guinada de estratégia e uma abertura a novas ideias e pessoas quando o companheiro Lula se for. Muito me entristece ele na cadeia injustamente, mas cheguei a conclusão que a maior parte da militância está tão desnorteada que não consegue mais pensar por si…
Obs: um dos comentários diz “por que não propõem isso ai partido ao invés de ficar criticando?!”. Só pode ser sacanagem isso… Ou total desconhecimento de como as coisas funcionam…
Então eu pergunto a vc, como as coisas funcionam?
Eu vivo, eu trabalho, eu sofro, eu estudo, eu moro na periferia, eu paguei os meus estudos trabalhando até meia noite sem ter dinheiro para comer, será que eu não sei nada?
Já contei uma estória aqui, e vou repetir: minha mãe foi se cadastrar na prefeitura para ganhar uma cesta básica, disseram que depois de três meses ela poderia receber a tal cesta, minha mãe respondeu, “moço, meus filhos estão com fome hoje”….ela pegou um dinheiro emprestado, comprou uma roupas no Brás, esticou um pano na feira e assim criou três filhos….
O povo sabe mais do que uma dúzia de intelectuais com seus cebolórios ridículos, sua erudição imprestável e inservível na prática…..
Fiquem choramingando atrás dos teclados, nós, o povo, temos que sair e ganhar a vida…..
OK. Mas há algo que não se deve esquecer: o fascismo só foi derrotado em 1945 com pólvora, aço e sisal. E mais uma vez levantou a cabeça, neste século XXI, porque o “politicamente correto” criou a crença de que com ele bastava trocar receitas de brigadeiros ou coxinhas…
Mais uma vez Aldo foi certeiro. Ele resgata o conceito fundamental da esquerda que é a práxis. Em toda uma vida de militância no PT aprendi que sem crítica e autocrítica e sem teoria andamos às cegas. Infelizmente ele está certo, do nosso lado contamos com muitos bolsonaristas às avessas, que não toleram o debate crítico. A culpa de tudo é externo ao partido e aos governos petistas. Sim, a Globo, a NSA, a guerra híbrida, a Lava-jato, são elementos centrais da conjuntura, mas não explicam tudo. Se não prestarmos conta de nossos erros não vamos a lugar algum. O lamentável é que perdemos para a extrema direita a bandeira anti sistema e não temos propostas para implantarmos uma República no país que crie pontes entre Estado e sociedade.
Os últimos 15 anos deixaram claro que o povão não está nem aí para ideologias, o que o interessa é a economia. Enquanto o PT deu crescimento, emprego, inflação controlada e aumento de renda, o povão apoiou o PT; quando deixou de dar essas benesses, o povão abandonou o PT sem remorsos.
Vocês não entendem o povão porque insistem em encaixá-lo em esquematismos ideológicos do século 19, como o Aldo bem colocou, uma sociedade industrial que não existe mais. Se querem ter de fato diálogo com o povão, é preciso inverter a postura: aprender com ele ao invés de ter a pretensão de ensiná-lo. Isso significa entender a mentalidade conservadora do povão, coisa que os pastores pentecostais e o pessoal que promete baixar o pau na bandidagem entende muito bem.
Acredito que o autor do artigo, velho crítico do PT e das esquerdas, não viu o documentário Privacidade HACKEADA, disponível na NETFLIX.
Sua peroração talvez fosse diferente…
Enquanto a maioria que frequenta os sites progressistas continuar negando a realidade, nos continuaremos sendo acuados pela direita. Dentro de uma bolha mais esclarecida, todos estão contra bolsonaro. Mas é so sair dessas bolhas, que a realidade é que a população ainda apoia bolsonaro porque se identifica com ele, até em sua ignorância, e detesta as esquerdas e o PT em particular. Tenho dito isso constantemente, mas o negacionismo é praxe nas esquerdas e continuamos à reboque da pauta bolsonarista e perdendo contato com a população e apoio das classes médias.
Ainda não me conformo do PT não ter largado a eleição passada, o antipetismo elegeu esse extremista de direita, era o PT sair e o país estaria livre desse pesadelo bolsonarista. Votei e voto no PT, embora nunca tenha me sentido representado a ponto de me filiar, mas o PT deveria saber que o único jeito do país cair nas mãos dessa turma criminosa, impune e extremista de direita era ele, PT, concorrer na eleição passada à presidência. Não importa se sofreu injustiças e calúnias de todos os tipos e “tinha de enfrentar pelo orgulho” (não se tratava de briga de bar!), tinha que ser pragmático: tinha que ter a noção que todas as ofensas grudaram do jeito que seus inimigos queriam e o PT não soube se limpar da lama que jogaram, e até hoje não sabe. O antipetismo se tornou tão forte que qualquer um (qualquer um!) que fosse seu adversário venceria. Como em psicologia reversa, o PT teve a possibilidade de “escolher” o presidente: seria aquele contra o qual concorresse! Concorre contra Hitler e Hitler seria o presidente, concorre contra o huno Atila e Atila seria o presidente, concorre contra Pinochet e Pinochet seria o presidente! Não vale perder bonito em tais disputas, a derrota fica proibida contra tais adversários! Você não joga uma partida que não pode perder.
Ser segundo lugar depois de tanta pancada seria motivo para alguma alegria, pela demonstração que o partido ainda é competitivo? Sim, teria sentido – se o adversário vitorioso tivesse civilidade e dignidade! Segundo lugar contra bolsonaro é trágico: com esse vencedor o segundo lugar é último. Perder era proibido, tão proibido que tinha que deixar que outro concorresse contra bolsonaro e engolir o orgulho ferido, admitir o contexto evidente! Não era só jogo eleitoral, era muito mais que isso, era uma guerra. Como em guerra, não há “vice campeonato” que possa ser satisfatório. Perder, com o adversário que tinha, seria uma tragédia, e tal ocorreu. Não se pode entrar em disputas onde a derrota é inadmissível, onde a ideia de perder dá frio no estômago como em guerras onde o derrotado acaba morto. Era uma aposta gigante, como apostar tudo o que tem: deve-se pensar não só no “e se eu ganhar?”, mas é preciso pensar no “e se eu perder?” Mais que saudades de vencer eleição, fiquei com saudades de perder para FHC, quando perder era só um problema político mal humorado e não esse afundamento nas trevas, uma sensação de viver um pesadelo de uma quebra da ponderabilidade da rotina de vida e da sustentabilidade da democracia, sensação de cair numa revolução insana.
Que fará o PT se ainda tiver esse poder de “eleger” qualquer um contra o qual concorrer? Se dará conta da importância dessa força contrária e do que ela é capaz de fazer e eleger? Saberá que às vezes se retirar é aconselhável? Saberá que na contagem de votos não importará se a midia o perseguiu de forma cafajeste, mas sim a imagem que, afinal de contas, colou? Continuará socando ponta de faca? Eu queria o PT eleito, mas antes de tudo que o partido e seus dirigentes soubessem ler o quadro geral e tivessem noção não só do que é melhor, mas do que é o melhor possível, isto é, noção do que é menos ruim. Que tentasse com Lula e, na impossibilidade, se retirasse. Pra que tudo ou nada, um jogo sempre perigoso? Há muita coisa boa que se pode fazer sem a presidência, num país onde um adversário está no poder, não um inimigo, inclusive um balanço interno no próprio partido. Pior do que está hoje não estaria, para o país e para o PT, mesmo porque está fraco e mudo, como as esquerdas todas, mesmo com bancadas numerosas no congresso, preso à pauta única de Lula Livre, sem saber caminhar sozinho enquanto isso, o que é um fiasco. Antes da buscar presidência que corrigisse essa insignificância parlamentar e dependência infantil da mão do Lula a guiá-lo, a direção do partido ainda pensa que estamos nos anos 80? Corre o risco de ficar menor que naquela época, mesmo que a barca de bolsonaro afunde, porque o PT não consegue nem aparecer com ideias alternativas. Não adianta só apedrejar esse desgoverno, o povo sabe tanto que a coisa está feia que criticar e dizer que a pedra cai para baixo impressionam igualmente. Queremos saídas que não sejam o aeroporto. Se um partido político não tem ideias para solucionar os problemas que uma sociedade vive, que sentido tem em existir?