Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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Atual conjuntura, por Izaías Almada

Atual conjuntura

por Izaías Almada

Lembro-me bem de ouvir dizer depreciativamente sobre advogados, quando se chamava um deles de mau advogado: era o “advogado de porta de cadeia”. Penso que agora já iniciamos brasileiramente uma nova etapa do nosso poder judiciário, a dos juízes de porta de cadeia. Senão vejamos.

Comenta-se em alguns círculos de juristas portugueses e brasileiros que Moro foi passar férias em Portugal à procura dos Autos que condenaram Tiradentes à forca.

Sinceramente não acredito. Puro fake news, mas vale a ficção.

Até porque bastava consultar, numa tarefa penosa de se cumprir, aliás, os dez volumes dos “Autos da Devassa da Inconfidência Mineira” reeditados pela Câmara dos Deputados do Governo do Estado de Minas Gerais no ano de 1982.

São mais de quatro mil páginas que descrevem com exatidão como se construiu, com pormenores bem significantes, os julgamentos dos inconfidentes em 1789 e, em particular, o do Alferes Joaquim José da Silva Xavier.

Não sou advogado. Não estudei Direito, mas parafraseando uma ilustre juíza do nosso STF, posso afirmar que – mesmo não tendo os conhecimentos jurídicos necessários, a narrativa e a literatura da vida me permitem condenar alguns dos fatos do último dia 8 de julho.

Dessa vez ficou escancarada a parcialidade de um grupo de juristas em manter o ex-presidente Lula sequestrado em Curitiba. Ainda que a lei lhes desse razão, pois até agora nada ficou provado contra ele, o ódio, o rancor, a arrogância, a maldade mesmo, com que muitos desses brilhantes homens das leis insistem em tratar a um ex-presidente do país, torna parte da sociedade brasileira insensível por um lado e revoltada por outro.

Ninguém está acima da lei, não é mesmo? Nem o Aécio, o Temer, o Dória, o Alckmin, o Serra, o Aloysio, o Padilha, o Jucá, o FHC e tantos outros cidadãos de caráter sem jaça e ilibada reputação.

Tudo é apresentado a cada um de nós com o inegável olhar matreiro dos donos de alguns órgãos de comunicação social, emissoras de rádio e televisão, alem dos jornais e revistas, por enquanto ditas de “grande circulação”, mas que vão minguando à medida que a comunicação virtual parece que veio para ficar.

A atual imprensa brasileira, agora que muitos de seus colunistas descobriram o significado da palavra teratologia, é mais do que sensacionalista, é ciclópica. Descende de Ciclope, aquele monstro da mitologia de um só olho no meio da testa. A megalomania de alguns dos seus jornalistas já ultrapassa os limites da convivência civilizada entre cidadãos. É surreal e monstruosa. E o mesmo se pode dizer de alguns juízes.

A internet economiza papel e nos poupa de ler mentiras e canalhices impressas no dia a dia. Mas como a fantástica comercialização de “pets” aumenta em ritmo avassalador ainda teremos por algum tempo o uso de alguns jornais e revistas semanais para limpar a sujeira dos nossos queridos animaizinhos.

Muitas vezes a história da humanidade já demonstrou que golpes de estado e injustiça são palavras e situações sinônimas, o senhor concorda, doutor Moro? Como Sua Alteza Real, o senhor enviou ordens da Metrópole para a Colônia no último dia 08..

Isso me traz à memória um famoso samba de Sérgio Porto, o inesquecível Stanislaw Ponte Preta, a quem peço licença para transcrever um trechinho da letra. É assim uma espécie de Samba do Togado Doido:

Joaquim José, que também é da Silva Xavier…

Queria ser dono do mundo

E se elegeu Pedro II

Nas estradas de Minas

Seguiu pra São Paulo

E falou com Anchieta:

O vigário dos índios

Aliou-se a Dom Pedro

E acabou com a falseta.

Da união deles dois

Ficou resolvida a questão…

E foi proclamada a escravidão!

 

Acorda Brasil! Lula livre!

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

2 Comentários

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  1. Meritocráticos sintonizados com o “povo”

    Algumas autoridades se acham sintonizados com o povo e agem sentindo-se apoiados pela opinião pública ou, melhor dizendo, da sociedade reduzida em que eles participam. Assim ocorre com Raquel Dodge, Moro, com os TRF4, Barroso e muitos outros.

    Acordam de manhã já com O Globo ou a F de SP na mesa do café, cobrindo-os de elogios nas manchetes; ouvindo a voz do Boechat no radinho ou a GLOBONEWS na TV, falando bem deles. Não há desabastecimento; na sua geladeira há de tudo e, na mesa, frutas frescas e variadas. Os meninos todos arrumadinhos e penteados, partindo com pesadas mochilas para a escola. A mulher (ou esposo) voltando radiante depois de uma bateria de exames médicos num SPA no exterior. O AP é pago com auxílio moradia e o porteiro o saúda com um sorriso. Desconhece a crise de combustível, pois o motorista sempre vem a pegá-lo de tanque cheio.

    No seu gabinete recebe elogios dos seus funcionários, que também aparentam felicidade, felicitando-lhe pelas suas ações do dia anterior, reverberadas pela mídia. O café está quente assim como os brioches e salgadinhos. Empresas ligam contratando palestras; a economia anda bem. Surgem oportunidades de viagens ao exterior, e não há caos aéreo.

    De tarde, quando há problemas de trânsito, reclama da vida e lembra-se da sua casa em Miami e da tranquilidade do bairro frente ao mar. Família feliz, com os meninos indo bem na escola, os dois mais velhos em aula particular de inglês, mas protegidos com segurança e motorista, não há violência lhe afetando. Ainda, na paz do prédio, às vezes há um pequeno panelaço de “vizinhos de bem”, gente boa, que reclamam contra o PT ou pela eventual soltura do Lula.

    Em breve estará novamente de férias nos EUA e quer estrear o seu novo Jet Sky, com um colega do tribunal que possui casa em Miami no mesmo quarteirão. Está precisando comprar mais dois ternos italianos. Aguardando a sua aposentadoria integral, fecha os olhos e sente-se satisfeito pela sua luta diária pela manutenção do seu status e, numa atitude de generosidade, sonha com um Brasil cheio de gente assim, que estude; que faça concurso e tenha as chances de ser como ele. Depois de tudo, não é tão difícil assim – pensa ele – enquanto adormece.

    1. Olhando dos lados
       

      A pergunta é :

      Por que alguém abriria mão de uma vida assim?

      Conheci quem o fizesse e por dois motivos:

      1-olhou para os lados e viu o que fazia.

      2-não quis pagar o preço.

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