Austeridade fiscal, restrição monetária e as lições de Keynes

 

Artigo Brasil Debate

Por Everton Sotto Tibiriçá Rosa e Leonardo Flauzino de Souza

John Maynard Keynes é conhecido por justificar a adoção de medidas do Estado para garantir o crescimento econômico dos países por meio do estímulo à atividade dos empresários – produtores e comerciantes – orientando as decisões destes para elevação do produto da economia e, assim, garantir o aumento do nível de renda e do emprego.

Não obstante, o economista inglês foi um estudioso dos processos inflacionários e deflacionários que acometeram a Europa nas primeiras décadas do século passado. Neste sentido, além de diagnosticar as causas que levam a economia à retração e depressão, apurou os fatores que perturbam o nível de preços.

Na sua experiência ao longo da Segunda Guerra Mundial, orientou a expansão do produto (civil e militar) com o exercício de controle dos preços e salários. Neste sentido, sua experiência não só é válida, como é obrigatória para a resolução dos nossos desafios: utilizar o Estado como estabilizador e não como fonte adicional de problemas.

No quadro atual de expectativas de inflação de 7,5% a.a.(na opinião desinteressada do mercado financeiro), de desvalorização do câmbio e em vias da retração do PIB (0,5%), é importante olhar para a política Fiscal e Monetária. Vamos nos deter nestas políticas centrais de condução do sistema econômico, tendo em vista que é a partir destas que políticas específicas e setoriais são pensadas.

Estamos diante de uma política de Austeridade Fiscal que já tem impactado vários setores da economia, em especial nas parcelas da população que tiveram seus benefícios sociais reduzidos ou postergados, nos alunos e pesquisadores que tiveram corte de bolsas de estudo e postergação dos financiamentos, nas esferas da administração pública federal, estadual e municipal que tiveram queda de orçamento, bem como todos os empresários que atendem às demandas destes setores e já têm perda de faturamento (a não ser que consigam elevar seus preços).

Do lado, a política de Restrição Monetária, conduzida pelo Banco Central do Brasil, está sendo intensificada por meio da elevação contínua da taxa de juros básica da economia (12,75% a.a.). O “mercado financeiro” tem apoiado as medidas, difícil esperar que o “mercado produtivo” faça o mesmo.

Do lado fiscal, o governo está garantindo não só que ele reduzirá a sua aquisição do produto da economia, mas que parte da população e dos empresários também irá reduzir as suas demandas. Do lado monetário, o Banco Central está garantindo que o Brasil terá o dinheiro mais caro do mundo.

Em economia, o que desestimula os gastos do consumidor acaba por desestimular o ímpeto dos empresários na condução rotineira dos seus negócios, bem como na ampliação destes. É uma questão de sobrevivência, você não produz o que não espera vender. Assim, é irreal recomendar corte de gastos e encarecimento do dinheiro em cenário de expectativas de inflação e retração econômica.

Keynes sempre disse que o tempo para equilibrar o orçamento fiscal é na fase de boom da economia, quando a atividade econômica está fortalecida e os empresários estão encorajados a assumir riscos (entre eles, o investimento).

Nestes períodos, o gasto do Estado é menos necessário, pois o gasto privado (consumo e investimento) consegue manter a economia em expansão. O Estado pode elevar impostos neste período, pois o faturamento do empresário e as rendas do público estão em expansão, ou seja, os impostos não são suficientes para impedir o ímpeto da atividade econômica quando as expectativas de ganho futuro são positivas e há confiança na sua realização.

Adicionalmente, o Banco Central não deveria se comprometer com a estabilidade do nível de preços, uma vez que ele não controla a definição dos preços e das rendas da economia.

Salvo engano, a oferta e a demanda dos agentes no “Mercado” é que as definem. Neste sentido, quando o Banco define uma meta sobre o que não controla, ele está arriscando a sua reputação, ficando sujeito à perda de credibilidade e ao uso de doses cada vez mais amargas de um remédio que não funciona para conter inflação, mas que é fatal para conter o produto, em especial, o investimento.

O Banco Central é responsável pela gestão da moeda da economia. Ele tem certo controle sobre a criação de crédito e sobre o custo do dinheiro. Quando o Banco utiliza políticas de encarecimento do dinheiro, ele está sendo eficiente em derrubar a demanda do consumidor e dos empresários.

Além disso, ele está sendo eficiente em reduzir a produção de bens de consumo e em anular o ímpeto da produção de bens de investimento. Assim, o uso dos juros para combate à inflação é efetivo contra o lucro, o investimento e a confiança dos empresários. O equívoco é que o Banco Central faz algo que cientificamente não lhe cabe, pois ele é o gestor da moeda e dos juros, não dos preços e das rendas.

É difícil de acreditar que a articulação Fiscal-Monetária em curso seja a favor do crescimento econômico e contra a inflação, quando tem resultado em queda da demanda doméstica, do produto e na elevaçãodos preços.

O Brasil está deixando de ser senhor do seu destino ao apostar a vida dos brasileiros na mítica elevação da produtividade e no comércio exterior, em detrimento do investimento e consumo domésticos.

A despeito das opiniões recentes de Delfim Netto e do Ministro Levy (leia AQUIAQUI e AQUI), a tática mercantilista de construir saldos externos é uma ilusão em um mundo estagnado. A desvalorização cambial é geral, pois todos querem elevar exportações. O ganho de produtividade defendido teria que ser incrível, algo como uma Revolução Tecnológica, e a curtíssimo prazo.

A demanda que falta ao nosso PIB dificilmente virá do exterior, sobretudo quando reduzimos a já insuficiente demanda interna. O desafio apenas se agrava quando o empresário não tem condições de atuar como tal e o Estado não segue os exemplos da história e a solução de Keynes.

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Redação

31 Comentários

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  1. Keynes e seus detratores

    Não é tão novo. Mas fica patente que Keynes incomoda , e muito a galera pro-austeridade!

    em: http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/05/quando-os-conservadores-perdem-compostura/

    Quando os conservadores perdem compostura

    maio 16, 2013 21:53

    Quando os conservadores perdem compostura

     

    Defensor de uma “austeridade” cada vez mais impopular e insustentável, historiador Niall Ferguson rejeita ideias de Keynes alegando sua homossexualidade

    Por Marcelo Mallet Siqueira Campos, para o Outras Palavras

    (Foto: +ecumenix / Flickr)

    Niall Ferguson, historiador britânico e professor da Universidade de Harvard, manifestou-se de modo extremamente infeliz em uma palestra na Califórnia para um grupo de mais de 500 investidores, no início de maio. Na opinião do historiador conservador, a teoria econômica de John Maynard Keynes, o economista mais importante do século XX, deve ser rejeitada pelo fato de Keynes ser gay e não ter tido filhos, o que faria com que ele não se preocupasse com as gerações futuras. Em sua fala, Ferguson, inclusive, afirmou que Keynes “preferia poesia a fazer sexo com sua esposa bailarina”, fazendo referência à bailaria russa Lydia Lopokova com quem o economista se casou.

    Após rápida repercussão na internet, Ferguson publicou um pedido de desculpas no sábado, dia 4, através do seu website, dizendo que não é homofóbico, que havia esquecido que Lydia sofrera um aborto e que pessoas que não têm filhos também se preocupam com o futuro.

    Embora reconheça que falou algo estúpido e insensível, Ferguson justifica que a declaração foi de improviso, no momento das perguntas que sucederam sua palestra. Porém, foi justamente falando de improviso que seus preconceitos vieram novamente à tona. Não teria sido a primeira vez que Ferguson faz comentários deste tipo. Em seu livro The Pity of War, publicado em 1999, ele sugere que Keynes posicionou-se contra a I Guerra Mundial por razões sexuais, já que jovens garotos ingleses estavam no front.

    O argumento de Ferguson é duplamente desqualificável. Primeiro, por questionar a teoria keynesiana pelo fato de seu autor ser homossexual e não ter tido filhos. Segundo, por não ter compreendido sua teoria, utilizando uma citação totalmente descontextualizada. A famosa frase de Keynes, na qual Ferguson baseou-se para fazer suas declarações, “a longo prazo estaremos todos mortos” é exaustivamente referida, porém, pouco compreendida.

    A sentença famosa está presente no Tratado da Reforma Monetária, publicado em 1923, quando Keynes começou a rejeitar as ideias dos economistas clássicos relacionadas ao fato de que os mercados se ajustam e entram em equilíbrio. Ampliando-se o resgate do excerto no original, Keynes afirmava que “este longo prazo é um guia enganoso para a atualidade. A longo prazo todos estaremos mortos. Os economistas estabeleceram para si mesmos uma tarefa demasiado fácil e demasiado inútil se, em épocas tempestuosas, só nos conseguem dizer que depois da tempestade, o mar volta a ficar calmo.”

    Keynes jamais afirmou que o longo prazo não importa. O ponto central é que não devemos sacrificar o presente com desemprego em massa, aguardando que o mercado corrija o desemprego no momento em que os trabalhadores aceitem salários menores.

    Sua preocupação com o futuro é ressaltada em As Consequências Econômicas da Paz, obra publicada em 1919, na qual Keynes criticava o Tratado de Versalhes, que submeteu a Alemanha a condições humilhantes ao ter que pagar as reparações de guerra, criando as condições que abriram espaço para a ascensão do nazismo. Nesta obra, Keynes apresenta as consequências do desemprego (ignoradas por seus críticos, inclusive, o célebre historiador de Harvard). Nas palavras de Keynes: “Nem sempre as pessoas aceitam morrer de fome em silêncio: algumas são dominadas pela letargia e o desespero, mas outros temperamentos inflamam-se, possuídos pela instabilidade nervosa da histeria, podendo destruir o que resta da organização social, e submergindo a civilização com suas tentativas de satisfazer desesperadamente as necessidades individuais. É contra esse perigo que todos os nossos recursos, nossa coragem e idealismo devem cooperar.”

    Inicialmente, a posição de Keynes em relação ao tratado de paz não foi bem recebida pelos britânicos. No entanto, a história mostrou que ele tinha razão, com a Alemanha mergulhando no caos, numa situação que culminou na II Guerra Mundial. Ferguson, obviamente, associou esta posição ao homossexualismo em seu referido livro de 1999, sugerindo que Keynes defendia a Alemanha por ter se apaixonado por um negociador alemão durante as negociações do armistício.

    Além de preconceituosos e simplistas, os argumentos de Fergunson são também mal intencionados e buscam incidir sobre os dilemas contemporâneos das economias europeias. A maior contribuição teórica de Keynes foi a publicação em 1936 da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, obra que revolucionou a teoria econômica. Nela, desenvolve-se a base teórica para intervenção estatal na economia nos momentos de crise. Quando a economia entra em crise, a confiança dos empresários é abalada, afetando os investimentos e gerando desemprego. É nestes momentos que deve entrar em cena a ação do Estado. Os economistas keynesianos, portanto, defendem que em momentos de crise os governos devem conduzir déficits orçamentários até que o estado de confiança da economia seja restaurado e as empresas voltem a contratar. Este é justamente o ponto em discussão nas economias centrais atualmente – e parece ser o real motivo da fala de Ferguson, um defensor das políticas de “austeridade”.

    Cabe ainda lembrar que Keynes participou da conferência de Bretton Woods, que reconfigurou o sistema financeiro mundial pós-guerra. Sua preocupação era justamente evitar o erro cometido no Tratado de Versalhes. O sistema que emergiu em Bretton Woods visava manter a sanidade da economia mundial, evitando que os eventos insanos da Segunda Guerra Mundial voltassem a ocorrer. Sim, Keynes preocupava-se com o futuro da humanidade.

    Improvável, mas recorrente, muitos acadêmicos de renome baseiam suas opiniões em interpretações de segunda mão sobre Keynes. Desconhecem suas obras originais e manifestam interpretações equivocadas. Niall Ferguson, além de expressar preconceito inaceitável, rejeita uma teoria de valor inestimável para tempos de crise e depressão. Não surpreende, porém, a rejeição a priori da teoria do economista que mais se preocupou com o desemprego ser manifestada por este historiador, fã do General Pinochet e de Margaret Thatcher.

    Marcelo Mallet Siqueira Campos é professor do IFRS e doutorando em Economia PPGE-UFRGS

    1. Essa “tese” foi elaborada

      Essa “tese” foi elaborada inicialmente por Hans-Hermann Hoppe, professor do Instituto Mises e guru de figurinhas como Aliança Liberal e outros. Hoppe é famoso por suas declarações homofóbicas e racistas, inclusive organizando seminários em parceria com membros da KKK e de grupos neonazistas.

      Sobre a questão do Longo Prazo, o comentário de Keynes denota sua concepção teórica acerca da inexistência de um equilíbrio na economia. Na visão de Keynes, dado o caráter humano da economia, marcada pela intersubjetividade – e não pela objetividade, conforme a concepção neoclássica, baseada em modelos de maximização legados pelas ciências exatas – a economia se desenvolve em um contexto de desequilíbrio dinâmico, e não de equilíbrio estático, conforme a concepção neoclássica, defendida por idiotas como Fergusson, Hoppe e outros.

      Esse preconceito repulsivo é bastante ilustrativo do nível de argumentação dos defensores do neoliberalismo, que cada vez mais apelam para uma narrativa neofascista, completamente irracional e odiosa, para justificar suas ideias.

      Por fim, cumpre lembrar que essa homofobia neoliberal reside no discurso sócio-econômico defendido por, entre outros, marineiros financistas, como o sr. Gunter Zibell. Por isso mesmo, nada mais natural que seja essa a plataforma política defendida por figuras como o pastor Malafaia.

        1. O Liberalismo (com “L”)

          O Liberalismo (com “L”) surgiu contra a monarquia absoluta.

          O neoliberalismo surgiu contra o estado de bem estar com o livro de Hayek, que você já ouviu falar, contra o programa do Partido Trabalhista iinglês para as eleições de 1945. E esses foram vitoriosos, diga-se.

          Não edição brasileira de 75 (?) o prefaciador escreve com todas as letras “nós, neoliberais…”

          Era época de ascensão de Thatcher no Partido Conservador: ou seja, estava entrando na moda por aqui. Chique, né?

          Sim, Thatcher, a mesma que pronunciou: não existe essa coisa que chamam de sociedade; existem os indivíduos e suas famílias.

          Por isso eu os chamo de antissociais.

          1. Aqui, o maior ícone

            Aqui, o maior ícone neoliberal, Sr. Roberto Campos, juntamente com outros do naipe de Otavio Gouveia de Bulhões, Eugênio Gudim,etc, colaboraram com uma di-ta-du-ra.

            São esses os “liberais” tupiniquins. Derrubam um Presidente Constitucional para “salvar” a Democracia….

            O jogo da inversão definitivamente não é nada novo…

            E no final da vida ainda faz um “mea culpa” (sim, entre aspas mesmo) dizendo: eu acreditei no planejamento…

            Ridículos.

            … “liberais”, pfff!

          2. O que é neoliberalismo de

            O que é neoliberalismo de forma rápida.

            Neoliberalismo no primeiro uso do termo, e a aceitação por parte dos liberais de uma certa intervenção estatal no capitalismo laissez faire.

            Observe Roberto Campos, Hayek e outros não são liberais “laissez faire”.

            Neoliberalismo do Consenso de Washington, são propostas de reforma do estado interventor para que ele não entre em colapso que é o seu destino natural.

            Da mesma forma os economistas do CW não querem o retorno do “laisse faire”, são reformistas do estado interventor, ou estado de bem estar.

            Neoliberalismo como é entendido pela esquerda, neoliberalismo é sinonimo de capitalismo laisse faire, entendem que é o retorno do laisse faire.

             

             

             

          3. Termos tautológicos, linguagem desconexa, referências circulares
            Da salada de palavras destaco: Destino natural…

            Sabe o que lembra?
            Destino Manifesto….

            O que mais?
            Seleção natural….

            O que mais?
            Determinismo….

            Sabe, Ô Neide Mises, não entendo de economia, mas como funciona essa “escatologia” do consenso de Washington? O fim da história já aconteceu? O fim está próximo? Como é isso?

          4. Errado de novo.
            Releia o que

            Errado de novo.

            Releia o que eu escrevi ou leia Perry Anderson. Ele vai contar “direitinho” como Mises, Hayek, Waltel Lippman, Walter Eupken, Salvador de Madariaga, e miltom Friedman, novinho ainda, se reuniam muito antes de CW pra falar esses ditirambos sobre o “livre mercado”.

            Ninguém dava bola pra essas bobagens e a economia mundial crescia a taxas de 10%.

          5. “Neoliberalismo como é

            “Neoliberalismo como é entendido pela esquerda, neoliberalismo é sinonimo de capitalismo laisse faire, entendem que é o retorno do laisse faire.”

             

          6. Errado de novo.

            Errado de novo. Neoliberalismo suge em 45 com o pannfleto o caminho da servidão escrito contra o programa do Partido Trabalhista inglês. Isso é Historia.

            E você não faz a menor ideia do que pensa “a esquerda”. A única esquerda que você conhece é uam salada de bobagens que você “pensava” em seus encontros e desencontros com o Diretório Acadêmico.

            Trocou umas bobagens por outras que estão se debatendo até hoje.

    2. Pois é. É impressionante o

      Pois é. É impressionante o “nível” desses “liberais”…

      E ainda acreditam que estão “debatendo” ideias… São movidos unicamente por preconceitos rasteiros, frases feitas e bordões simplórios. Por isso o ódio: é doloroso “abrir mão” de ressentimentos tão profundos sobre os quais se construiu toda identidade pessoal.

  2. As regras da econômia são fluídas

    Hoje o que importa para o BC é o superavit primário, se ele aumenta, com inflação ou sem inflação pouco importa, mais ainda, se der para capturar riquezas por outros meios, como aumento nos juros pagos nos títulos do tesouro nacional e seus proxis, então usa-se este expediente também.

    A emissão de moeda, os QE, hoje largamente utilizados pelos BCs da Europa, Japão e FED são um recurso de última instância, que indicam a próxima obsolência da moeda utilizada, no caso o Euro, o Dollar e o Yen.

    O importante para o Brasil é participar dos pactos de harmonização e equilibrio que irão dar sustentação ao dinheiro que usamos e a moeda lançada sobre ele, Brenton Woods foi um destes pactos, que foi rompindo unilateralmente em 1971.

    O Banco dos Brics têm condição de  lançar um novo dinheiro que sirva de base. O Brasil precisa estar lá para  defender os seus interesses.

      1. Força de trabalho é

        Força de trabalho é mercadoria?

        É “produzida” na expectativa de ser vendida?

        É possível “estocar” na expectativa de “melhores preços de mercado”?

        Se separa do “vendedor” no ato de compra e venda?

         

        1. Força de trabalho é

          Força de trabalho é mercadoria? é serviços prestados.

          É “produzida” na expectativa de ser vendida? estudar para se qualificar é a expectativa de ganhos futuros.

          É possível “estocar” na expectativa de “melhores preços de mercado”? O preço de um serviço e determinado pela utilidade marginal deste.

          Se separa do “vendedor” no ato de compra e venda?serviço e o uso temporário da capacidade produtiva de alguém.

           

           

           

          1. Está mai que claro.Você

            Está mais que claro.

            Você nunca entendeu nem vai entender nunca a diferença entre trabalho e força de trabalho. Não é semãntica. Trabalho, na física, é a multiplicção de força por deslocamento.

            Nem é “serviço”, também. Você tampouco vai entender porque tanta discussão sobre jornada de trabalho.

            Ninguém contrata ou contratava um torneiro mecânico, por exemplo, pra fazer tantas ou quantas peças por dia ou por hora. Imagina o inverso (falando com uma criança de seis anos – que não foi comida por um “comunista”, é claro): alguém entra em um supermercado e, depois de pagar um preço, numa jornada, pega aquilo que coseguir, é isso? É claro que não existe.

            Ridículo.

            O que se “vende” não  é “trabalho”, mas sim, força de trabalho.

            Não importa se é o trabalho físico do século XIX ou o trabalho “intelectual” do século XXI. A diferença é só a medição. Só. Com o crescimento do setor de serviços, que é históricamente datado, você mistura tudo no bestunto sem entender o básico.

            Quer dizer, então, que as pessoas “nascem” pro mercado?

            Com o mínimo de raciocínio demográfico, qual seja, daria pra entender que a tal oferta dessa “mercadoria” seria, por assim dizer, “inelástica”.

            Quer dizer você, então, que as pessoas, pessoas podem ficar quanto tempo esperando – no limite – sem comer esperando pela “utilidade marginal” delas crescer?

            Ridículo.

            Não se reproduza: você vai “inflacionar” o tal “mercado” de trabalho.

            E não me venha falar de competiçao e produtividade. Voce ignora qualquer critério de justiça. Fala como quem defende privilégios. Foi nisso que se transformou a “síntese neoclassica” na versão marginalista que o Keynes superou. Repito: superou.

          2. As respostas minhas foram bem

            As respostas minhas foram bem claras, já o seu contraponto e confuso e opinativo.

            Veja que você usa a expressão “quer dizer que”  xxxxx então  xxxx.

          3. Suas respostas são furadas:

            Suas respostas são furadas: meras platitudes marginalistas. Porém, muito mal empregadas. Pra começo de coversa não sabe a diferença entre trabalho e força de trabalho. “Nem vai saber nunca”, como eu escrevi. Enfim um argumento ridículo, como escrevi. E essa é a prte opinativa do meu comentário (que eu mantenho) Não leu nem o enuncidado da pergunta que se propôs responder!

            Enfim, não vai entender mesmo. Não me surpreende o fato de achar confuso. Se é por falta de vontade, bloqueio ideológico, trauma de infância… Não importa; não tem problema, não. Seja feliz. Ninguém morre por causa disso, não.

             

             

      2. Dinheiro ou moeda?

        Posso estar enganado, mas você usou a palavra “dinheiro” para se referir a moeda que usamos no Brasil. Em todo caso, serve para mim esclarecer que na verdade penso que uma revolução no dinheiro, coisa que nossa civilização não experimentou ainda, de forma que se trata de uma atitude de alto risco, será tentada, principalmente devido ao avanço das cripytocurrencies que hoje circulam pelo planeta e que revogaram a idéia de soberânia nacional sobre o circulante.

        Vamos para mares nunca navegados, mas a capacidade de criação, adaptação e sobrevivência da raça humana é um espanto, para dizer o mínimo.

        Com certeza teremos novos campeões e também alguns que ficarão no fim da fila, mas penso que no geral, os 99% do mundo mais pobres se beneficiarão das mudanças.

        1. Os Bancos Centrais não conseguirão controlar isto

          The biggest issue facing the finacial system today is the US Dollar rally.

           

          The Fed and other Central Banks are trying to maintain the illusion that they have everything in control by talking about interest rates, but the reality is that the US Dollar carry trade is ABOVE $9 trillion in size. That is almost as big as ALL of the money printing that occurred between 2009 and 2013.

           

          And it’s imploding as we write this.

           

          Globally, the world is awash in borrowed money… most of it in US Dollars. The US Dollar carry trade is north of $9 trillion… literally than the economies of Germany and Japan COMBINED.

           

          When you BORROW in US Dollars you are effectively SHORTING the US Dollar. So when the US Dollar rallies… you have to cover your SHORT or you blow up.

           

          And the US Dollar has been rallying… HARD. Indeed, the move that began in July 2014 is already larger par in scope with that which occurred during the 2008 meltdown.

           

           

           

          Moreover, this move has occurred with little to no rest. The US Dollar barely corrected 2% after rallying a stunning 16+% in a matter of months before beginning its next leg up.

           

           

          You only get these sorts of moves when the stuff hits the fan. CNBC and the others are babbling about the Fed’s FOMC changes, but all of that is just a distraction from the fact that a $9+ trillion carry trade, arguably the largest carry trade in history, has begun to blow up.

           

          Rate hikes, QE, all of this stuff is minor in comparison to the carnage the US Dollar is having on the financial system. Take a look at the impact it’s having on emerging market currencies.

           

          Here are the monthly charts for the USD/ Aussie (black line), USD/ Brazilian Real (blue line), USD/South African Rand (red line), and USD/ Mexican Peso (green line) pairs. The carnage over the last six months has been extreme with double digit moves across the board.

           

           

          The US Dollar took down Oil, commodities, even emerging market currencies. Stocks will be next. The first REAL sign that the 2008 Crash was coming occurred when the US Dollar began to skyrocket in the summer of 2008.

           

          The time to prepare is now, BEFORE the crash hits.

           

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          1. Motivo para manifestações : Será contra a austeridade

            Com o desemprego aumentando expoencialmente e  a fome chegando nos lares, veremos o povo ir as ruas para protestar com razão.

            Mas duvído que algum político consiga cabalar votos em cima destes protestos, não destes partidos atuais, pois estão comprometidos ou são sustentados pela mídia da banca, que fez a lambança, mudar de lado ou fingir indignação vai ser impossível. Que curtam seus últimos minutos de gloria e bonanza.

  3. Quando Keynes escreve a

    Quando Keynes escreveu a “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda” ele não colocou o emprego na frente à toa, não. É isso – e muito mais – que não entra no bestunto desses reacionários metidos a “liberais”.

  4. Então falem para DILMA

    Ok então em vez de ficarem paparicando o governo, o jornalismo chapa branca deste site poderia começar a fazer críticas contundentes sobre essa política econômica…..

  5. …como não sou economista, tem tudo pra dar certo….

    Minha sugestão:

    1- Separa a economia em setores

    2- Trimestralmente avalia a alteração de preços em cada setor

    3- Para aqueles em que houve diminuição dos preços, faz-se uma desoneração fiscal, vantajosa e proporcional ao tamanho dos percentuais destas diminuições, nos próximos tres meses. Ex. se os preços diminuiram 1% desonera-se  em 2%.

    4- Inicia uma redução das taxas de juros junto à uma gradativa redução de gastos do governo.

    5-Iaí…a inflação cai e a economia volta a crescer.

    Como não sou economista…tem tudo pra dar certo…né não ???

  6. Para autoctones, desvalorizar aumenta demanda interna e externa

     

    Everton Sotto Tibiriçá Rosa e Leonardo Flauzino de Souza,

    Não vou comentar a parte do texto de vocês com a qual concordo. Até porque como não sou economista, a minha concordância seria apenas uma forma de eu tentar parecer igual a vocês.

    Vou, entretanto, como leigo, discutir o trecho do texto de vocês com o qual eu discordo. A discordância do leigo tem menos importância, pois nos coloca no patamar mais baixo. Discordo então dos dois parágrafos finais do artigo. Neles vocês afirmam:

    “A despeito das opiniões recentes de Delfim Netto e do Ministro Levy (leia AQUI, AQUI e AQUI), a tática mercantilista de construir saldos externos é uma ilusão em um mundo estagnado. A desvalorização cambial é geral, pois todos querem elevar exportações. O ganho de produtividade defendido teria que ser incrível, algo como uma Revolução Tecnológica, e a curtíssimo prazo.

    A demanda que falta ao nosso PIB dificilmente virá do exterior, sobretudo quando reduzimos a já insuficiente demanda interna. O desafio apenas se agrava quando o empresário não tem condições de atuar como tal e o Estado não segue os exemplos da história e a solução de Keynes”.

    Como disse a minha discordância é de leigo e não tem o condão de pôr por terra o arrazoado de vocês. Só que para quem como eu, nos meus 60 anos, já acompanha a história econômica do Brasil há muito tempo e sabe que já viu críticas como esta em outros tempos, não custa repetir aqui o que a experiência me ensinou e que parece ir contra o que vocês afirmaram.

    Toda vez que o Brasil precisava desvalorizar a moeda havia as vozes contrárias as quais quando viam da esquerda traziam os exatos argumentos de vocês. Vinha a desvalorização e um ano depois o país começava a crescer.

    Foi assim com a desvalorização de 1983 e o país cresceu em 1984 (Crescimento que foi interrompido pelo Plano Cruzado, que trouxe a valorização da moeda), foi assim com um arranjo leve no câmbio que se fez em 1991 e o país voltou a crescer em 1992 (Crescimento que foi interrompido pelo plano Real que trouxe a valorização da moeda), foi assim com a desvalorização em 1999 e o país voltou a crescer em 2000 (Crescimento que foi interrompido pelo apagão elétrico em 2001), foi assim com a desvalorização de 2003 (Crescimento que não foi interrompido pela valorização paulatina do real, primeiro porque a desvalorização de 2003 foi exagerada e segundo porque os preços de commodities subiram bastante no período) e iria ser assim se o governo tivesse mantido a maxidesvalorização que aconteceu no final do quarto trimestre de 2008. Então penso que se lograrmos uma boa desvalorização do real, a economia vai se deslanchar em 2016.

    Embora eu considere que muitos dos benefícios que a desvalorização poderia ter trazido ao Brasil foram derrubados por pensamentos de esquerda como vocês, o Plano Cruzado, por exemplo, veio justamente para tentar revigorar o mercado interno, não penso que seus dois parágrafos não sejam teoricamente fundamentados. É verdade que “em um mundo estagnado” “é ilusão” “a tática mercantilista de construir saldos externos”.

    É verdade que “em um mundo estagnado”, “a tática mercantilista de construir saldos externos”, via “desvalorização cambial é geral, pois todos querem elevar exportações”.

    Agora, a desvalorização da moeda tem dois efeitos que podem ser mais acentuados quanto maior for a desvalorização ou da existência de outros mecanismos que forem utilizados para reforçar esses efeitos. A desvalorização da moeda aumenta a inflação (Que pode ser reforçada com o aumento de preços internos controlados pelo governo), a a desvalorização da moeda aumenta a participação das exportações no PIB.

    Em 1983, as exportações brasileiras eram em torno de 25 bilhões de dólares. Com a desvalorização de fevereiro de 1983 em 30%, as exportações passaram a representar mais 30% de renda interna. A renda advinda das exportações, que em moeda nacional estavam 30%, caia em mãos de investidores que investiam esse valor uma vez que o setor passou a ser competitivo, aumentando a demanda.

    E com a desvalorização há necessidade de se reduzir a importação. A redução de importação significa que uma parte será suprida pela produção nacional, ou seja, haverá maior demanda para o produtor interno e que outra parte será suprida pela redução do consumo interno. A redução do consumo interno pode ser feita pelo aumento da inflação (Que é muito perigoso para governos democráticos que pretendam permanecer no poder) ou pelo corte dos gastos públicos ou aumento de receita.

    A política que está sendo posta em prática foi anunciada quando a presidenta Dilma Rousseff falou na campanha que iria mudar a política econômica. Tudo estava muito bem previsto, agora é aguentar o tranco e segurar firme.

    É claro que tudo que eu comentei acima requer uma desvalorização de bom tamanho. Tenho receio de o FED americano não elevar o juro e a nossa desvalorização demorar muito para ser completada. Talvez eu tenha que torcer para que a atual desvalorização já seja suficiente e que o real não volte a valorizar. E se não for suficiente, talvez eu tenha que torcer para a queda do grau de investimento do Brasil.

    Não vejo muita perspectiva para a queda do grau de investimento, tendo em vista matéria que saiu no Valor Econômico de terça-feira, 17/03/2015, na primeira página do caderno Finanças, com o seguinte título “Alta do dólar atrai capital externo”. Não boto muita fé nessas agências de ranking de risco soberano, mas quem sabe a gente possa convencê-los a rebaixar o Brasil.

    A esperança nunca morre e mesmo que não venha o rebaixamento, eu li na mesma primeira página do jornal Valor Econômico de terça-feira, 17/03/2015, ao abrir toda a página, na parte de baixo a seguinte notícia: “Protestos no Brasil aguçam dúvidas de investidor estrangeiro”. Talvez fosse o caso do governo financiar a produção de mais alguns protestos para que assim o dólar possa valorizar e a retomada da economia aconteça em 2016, como é a expectativa do governo e para o qual ele se preparou com antecedência.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 19/03/2014

    1. Respota ao Sr. Clever

      Clever Mendes,

       

      Você expos muito bem o seu ponto de vista, agradeço pelo comentário. Vou tentar endereçar algumas respostas.

      [1] No passado, as desvalorizações permitiam trocar demanda doméstica por externa em um comércio internacional em relativa expansão. Não é o caso hoje. É fato que a economia volta a crescer depois de uma desvalorização, porém, ela sempre volta a crescer depois que entra em crise e a demanda efetiva é recomposta. Nosso ponto é que não defendemos perder PIB para ter que recuperá-lo ao longo de anos, para daí então, voltarmos ao patamar que já nos encontrávamos.

      Em outras palavras, não defendemos o “ajuste recessivo” da economia, mas o “ajuste expansivo”. A economia é um mero problema de organização.

      [2] Quanto às afirmações de “esquerda”, infelizmente a direita foi dominada pelo neoliberalismo. No Brasil, a esquerda é manteve o legado da Social Democracia praticada na Europa, onde governos à esquerda e à direita implementavam as políticas que defendemos até os anos 1980.

      [3] O Brasil só precisa desvalorizar a moeda se não prestar atenção para a administração do Balanço de Pagamentos, isso é, se conduzir atividades comerciais, produtivas e financeiras utilizando recursos estrangeiros em excesso, pois isso tem um preço a pagar que é em dólar. A abertura da economia tem benefícios, e nenhum país pode se isolar do mundo, contudo, as pessoas esquecem que temos que pagar as contas lá fora. Por isso, a desvalorização não é uma solução é apenas uma enganação pois força a economia de dólares mas não muda em nada a estrutura da economia brasileira. Não a toa, somos fadados ao “vôo da galinha”, pois sempre que o país começa a crescer, ele tem que parar porque está importando demais, está se endividando demais e remetendo dólar demais para o exterior. Nesse caso, o país tem que desvalorizar a moeda ou tem crise cambial, fica em retração e volta a crescer até atingir esse teto colocado pelo balanço de pagamentos.

      [4] A solução passa em fazer como os outros países, organizar as atividades econômicas de modo que possamos fortalecer os estímulos domésticos, tendo um setor exportador para cumprir uma carga menor de despesas em dólar. Agora, sem empresas nacionais, tal como o Japão, Alemanha e Coréia fazem, fica dificil. Se temos muitas empresas estrangeiras, temos que remeter muito dólar para o exterior. Se recebemos muito Investimento Direto Externo, temos que remeter muito dólar para o exterior. Se temos muitas firmas estrangeiras, temos um comércio intrafirma (matriz estrangeira-filial no Brasil) muito intenso, ou seja, muitos dólares para o exterior. Sem mexer aqui, de tempos em tempos temos que desvalorizar a moeda, fazer um ajuste recessivo da economia, desperdiçando crescimento, bem estar da população, renda, emprego. Não é a solução. Esse é o nosso ponto.

      Abraço.

    1. Só rindo

      Sistema de formação de preços livre:

      “A mão invisível (do mercado) é invisível é por que ela não existe ou, quando existe, está paralítica”  Joseph E. Stglits

      O professor de economia política da Universidade Estadual de Washington Gerald Houseman,  sugere que: “O mito formidável da ‘livre-empresa’, uma grande muleta para o sistema de crenças dos que acreditam ser a economia de mercado a quinta-essência, está morto desde 1986  e um modesto economista, Joseph E. Stiglitz, juntamente com seus dois colegas ganhadores do prêmio Nobel de Economia,Spence e Akerlof, deram a lancetada fatal em seu coração durante a ‘Aula Magna’  de aceitação do prêmio, em Estocolmo (8/12/2001)

      E reacionário, é quem pretende fazer girar para trás a roda da história!

      1. A diferença entre iniciativa privada e livre iniciativa

        Paulo F existe uma grande diferença entre livre iniciativa e iniciativa privada, não é diretamente sobre a pauta mais e importante entender a diferença.

        A diferença entre iniciativa privada e livre iniciativa – ou: você é pró-mercado ou pró-empresa?

        Há uma diferença crucial entre defender a iniciativa privada e defender a livre iniciativa.  Há uma diferença crucial entre defender o livre mercado e defender empresas privadas. 

        A diferença chega a ser intransponível.

        Uma coisa é você ser pró-mercado.  Outra coisa, bastante diferente, é você ser pró-empresas.

        Há vários empresários que defendem a iniciativa privada, mas que não acreditam na livre iniciativa.

        Essa é uma distinção extremamente importante.  Livre iniciativa significa liberdade de entrar em um mercado e nele competir com as empresas já estabelecidas.  E liberdade de entrar em um mercado significa que este mercado não é regulado pelo governo, seja por meio de regulamentações que impõem barreiras à entrada (via agências reguladoras), seja por meio de subsídios a empresas favoritas, seja por meio de altos tributos que impedem que novas empresas surjam e cresçam.

        Sob um arranjo de livre iniciativa — ou um arranjo pró-mercado —, há um genuíno laissez-faire, no qual indivíduos interagem de maneira pacífica e voluntária, tendo liberdade para transacionar com quem quiserem, em termos mutuamente acordados.  Dado que todas as interações são voluntárias, todos os participantes necessariamente se beneficiam (eles não participariam se não considerassem a transação benéfica a priori).  Consequentemente, sem a imposição de barreiras artificiais ao empreendimento, a riqueza e o bem-estar aumentam.

        Já o termo ‘iniciativa privada’ significa meramente que a empresa e seus meios de produção estão em mãos privadas.  Mas isso não basta.  O que deve ser analisado é se essa empresa opera em um ambiente de livre iniciativa, ou se ela é protegida da concorrência pelo governo.

        Em meados do século XX, os governos fascistas da Europa mantinham um sistema em que havia empresas privadas, mas praticamente todas eram protegidas e seguiam diretrizes de seus respectivos governos.  A regulação era o método majoritariamente utilizado antes da Segunda Guerra Mundial pelos fascistas para alcançar seus objetivos políticos.  À época, a opção à regulação fascista era a estatização direta dos meios de produção, que era o objetivo dos comunistas.

        Mas a massificação das regulações estatais só viria a ocorrer mesmo no pós-guerra, mais especificamente a partir da década de 1980, quando várias agências reguladoras foram criadas para controlar os recém-privatizados monopólios estatais.  A ideia por trás das agências reguladoras era fazer com que as privatizações se tornassem politicamente aceitáveis.  A moda surgiu na Inglaterra e foi prontamente copiada mundo a fora.  Todos os países que adotaram seus próprios programas de privatização criaram secretarias e agências reguladoras como forma de manter o controle estatal sobre os setores agora privatizados.

        Por tudo isso, haver setores privatizados ou setores em que operam empresas privadas é algo insuficiente para que haja uma genuína liberdade econômica.  Se essas empresas privadas são protegidas pelo governo, que impede a entrada de concorrentes, então elas não estão sujeitas às verdadeiras demandas de mercado, e podem se dar ao luxo de ofertar serviços ruins aos consumidores sem serem por eles punidas.

        Os setores de aviação civil, de transportes terrestres, de transportes aquaviários, de telecomunicações, de energia elétrica, de petróleo, de saneamento básico etc. são exemplos de setores que, embora possam estar sendo servidos por empresas privadas, são integralmente controlados pelo governo e suas agências reguladoras, as quais, por sua vez, protegem essas empresas privadas contra o surgimento de concorrentes. 

        James Buchanan, o fundador e principal expoente da teoria da Escolha Pública, tornou-se famoso ao mostrar que as empresas privadas tinham um incentivo para manipular o governo e fazê-lo proteger suas empresas favoritas.  Um sistema de livre iniciativa beneficia todos aqueles que estão dispostos a ser produtivos.  Já um sistema em que a iniciativa privada opera em um setor regulado pelo governo beneficia somente alguns, e à custa de todos os outros, o que significa que os poucos beneficiados terão todos os incentivos para fazer defender este arranjo. 

        Em teoria, agências reguladoras existem para proteger o consumidor.  Na prática, elas protegem as empresas privadas dos consumidores.  Por um lado, as agências reguladoras estipulam preços e especificam os serviços que as empresas reguladas devem ofertar.  Por outro, elas protegem as empresas reguladas ao restringir a entrada de novas empresas neste mercado.  No final, agências reguladoras nada mais são do que um aparato burocrático que tem a missão de cartelizar as empresas privadas que operam nos setores regulados, determinando quem pode e quem não pode entrar no mercado, e especificando quais serviços as empresas podem ou não ofertar, impedindo desta maneira que haja qualquer “perigo” de livre concorrência.

        Exemplos

        Veja, por exemplo, o setor de telecomunicações.

        Em um arranjo de livre iniciativa — pró-mercado —, qualquer empresa que quisesse entrar nesse mercado para concorrer com as grandes estaria livre para isso. Em um livre mercado genuíno, essa empresa simplesmente chegaria, faria sua propaganda e, por meio do sistema de preços, ofertaria seus serviços.  Quem quisesse utilizá-la estaria livre para fazê-lo.  Quem não quisesse, continuaria com os serviços da Vivo, Tim, Claro e Oi.

        Mas isso não pode ocorrer atualmente.  A ANATEL não deixa.  Só pode entrar no mercado as empresas que ela aprova.  Veja essa notícia (negritos meus):

        Operadora móvel acusa Anatel de negociar decisões com cartel formado por Vivo, Oi, Claro e TIM

        Talvez você se lembre da Aeiou, operadora de celular que atuou no DDD 11 por um breve período, e desapareceu em meados de 2010. Agora, segundo a Folha, a empresa por trás da operadora tem sérias acusações a fazer contra Anatel, Vivo, Oi, Claro e TIM.

        A Unicel diz que as quatro maiores operadoras do país formaram um cartel para impedir a entrada de novos concorrentes. O grupo agiria em conluio com a Anatel, que negociaria pareceres, votos e até decisões finais com elas.

        A denúncia foi apresentada este mês ao Ministério Público Federal pelo controlador da Unicel, José Roberto Melo da Silva (foto acima). Ele diz que, quando alguma operadora envia um assunto de interesse para a Anatel analisar, alguns superintendentes já acertariam seus pareceres técnicos de acordo com os interesses do suposto cartel. Depois, quando esses pareceres seguem para análise, o relator responsável sofreria pressão interna para aprová-lo. No entanto, se alguma proposta fosse de interesse contrário ao do cartel, haveria pressão para vetá-la – como as outorgas da Unicel, por exemplo.

        Melo da Silva fez esta acusação de forma pública em dezembro, quando a Nextel pediu autorização da Anatel para comprar sua empresa. Prevendo que a agência não aprovaria o negócio, Melo da Silva disse ao Valor:

        O que vemos aqui é a Anatel sendo pressionada por um cartel formado pelas quatro grandes operadoras impedindo a entrada no mercado do quinto competidor.

        Agora, apenas imagine se a ANATEL fosse abolida e todas as empresas de telecomunicação, internet e TV a cabo do mundo pudessem vir livremente pra cá?  As tarifas iriam para o abismo e os serviços melhorariam espetacularmente.  Grandes empresas que reconhecidamente prestam serviços de qualidade nos mercados internacionais — como a AT&T, Vodafone, Verizon, T-Mobile, Orange — estariam livres para chegar aqui amanhã. Os call centers tornar-se-iam desnecessários, pois mudar de operadora seria algo rápido e gratuito.  As empresas muito provavelmente até distribuiriam celulares de graça e ofereceriam vários outros serviços gratuitos, inclusive Internet, que, aí sim, finalmente seria universal.

        Mas não.  Se você quiser criar uma empresa de telefonia, de TV a cabo ou de internet, ou se uma estrangeira quiser vir pra cá, é praticamente impossível.  Todo o aparato regulatório do estado cria ostensivamente barreiras burocráticas que aumentam proibitivamente o custo final, impedindo a concorrência e o livre mercado nesse vital setor da economia. 

        Esse exemplo de telefonia celular é válido para absolutamente todas as áreas da economia controladas por agências reguladoras.

        Se você criar uma empresa para operar no setor aéreo e concorrer com o duopólio da GOL e da TAM, a ANAC irá barrar. (A menos, é claro, que você tenha boas conexões políticas).  Da mesma forma, empresas estrangeiras são proibidas de fazer vôos nacionais aqui dentro, para não arranhar a saúde do duopólio.  Como seria em um livre mercado?  Simples.  Não haveria obstáculos.  Se a American Airlines quisesse operar a linha Curitiba-Fortaleza, estaria livre para isso.  Se a Lufthansa quisesse operar Florianópolis- Manaus, que o fizesse.  Se a Air China quisesse fazer São Paulo-Salvador, ótimo.  Se a KLM quisesse fazer Recife-Rio de Janeiro, melhor ainda.

        Nesse cenário de livre iniciativa, haveria queda nos preços e melhora nos serviços, duas coisas que as empresas protegidas pela ANAC não querem.  E esse cenário é fictício simplesmente porque a ANAC não o permite.  Ademais, como o espaço aéreo é propriedade autodeclarada do governo, é ele quem determina até quais companhias nacionais podem operar determinadas rotas em determinados horários.  Os aeroportos, também monopólio estatal, não podem alocar livremente seus slots (horários de pouso e decolagem).  Tudo é regulado. 

        E, sobre aeroportos, se você quiser construir e operar um aeroporto por conta própria, desafogando outros aeroportos e melhorando o tráfego aéreo, o governo também não deixa, como comprovou o recente caso daproibição da construção de um aeroporto privado em São Paulo.

        Se uma empresa quiser operar no setor elétrico, concorrendo livremente com as estatais do setor, aumentando a oferta de energia, a ANEEL certamente adotará as mesmas práticas da ANATEL.  Houvesse uma genuína livre iniciativa no setor elétrico, quem quisesse produzir e vender energia elétrica, seja ela hídrica, nuclear ou térmica, estarai livre para tal.  A produção e a venda de eletricidade seria uma atividade comercial como qualquer outra.  Os preços certamente cairiam.

        Se uma empresa quiser prospectar petróleo aqui no Brasil e nos vender, a ANP — cuja função autoproclamada é a de fiscalizar todo o setor petrolífero brasileiro, inclusive os setores de comercialização de petróleo e seus derivados, e o de abastecimento — irá barrar.  Ou, no mínimo, irá agir como a ANATEL e proteger a Petrobras, que, aliás, graças aos seus privilégios estatais, já se apossou das melhores jazidas do país, o que inviabiliza qualquer concorrência. 

        ANVISA e Ancine são outras duas agências que existem para proteger os grandes, e suas reais funções já foram destrinchadas aqui e aqui.

        E esses são apenas os grandes setores.  Não nos esqueçamos das regulamentações que inibem o surgimento e o desenvolvimento dos pequenos setores.

        Empresas de ônibus, estações de rádio, de televisão, TV a cabo, provedoras de internet, de seguro-saúde, hospitais, escolas, açougues, restaurantes, churrascarias, padarias, borracharias, oficinas mecânicas, shoppings, cinemas, sorveterias, hotéis, motéis, pousadas etc.  Nada disso pode surgir sem antes passar por incontáveis processos burocráticos que envolvem licenciamento, taxas, propinas, inspeções, alvarás, registros cartoriais, reconhecimentos de firmas etc.

        Consequências

        Em seu cerne, a regulação é anti-livre iniciativa, anti-livre mercado e anti-concorrência.  Uma empresa regulada pode encontrar várias maneiras de fazer as regulações funcionarem em proveito próprio e contra os interesses dos consumidores. 

        Por exemplo, não é incomum que grandes empresas façam lobby para criar regulamentações complicadas e onerosas sobre seu próprio setor.  Por que elas fazem isso?  Para dificultar uma potencial concorrência de empresas novas, pequenas e com pouco capital. 

        Empresas grandes e já estabelecidas têm mais capacidade e mais recursos para atender regulações minuciosas e onerosas.  Empresas pequenas, que querem entrar naquele mercado mas que ainda não possuem muitos recursos financeiros, não têm essa capacidade.  Empresas grandes podem contratar lobistas (ou podem simplesmente subornar políticos) para elaborar padrões de regulação que elas já atendem ou que podem facilmente atender, mas que são impossíveis de serem atendidos por empresas pequenas e recém-criadas. 

        Regulações fazem com que o estado, por meio de suas licenças, conceda respeitabilidade a empresas escroques e impeça que empreendedores sérios e genuinamente competentes possam servir livremente os consumidores.  Regulações impedem a formação de uma genuinamente boa reputação comercial, aquela que só se consegue por meio das preferências voluntariamente demonstrada por consumidores no livre mercado. 

        Regulações são a mais insidiosa maneira de se abolir a livre iniciativa e garantir uma iniciativa privada ineficiente.

        Conclusão

        É impossível haver livre iniciativa se o “livre” é uma mera abstração e a iniciativa privada opera sob proteção anti-concorrencial.  É impossível haver uma genuína concorrência — que é o que de fato melhora os serviços e diminui os preços — quando o estado faz de tudo para impedi-la. 

        A iniciativa privada é apenas um componente da livre iniciativa.  Toda livre iniciativa é privada, mas nem todo iniciativa privada opera em ambiente de livre iniciativa.  O não-entendimento dessa distinção é o que faz com que as pessoas recorram ao governo para reclamar da qualidade dos serviços das empresas de telefonia e peçam ainda mais intervenção.

        Quem defende agências reguladoras, subsídios e tarifas de importação está defendendo empresas privadas ineficientes; está defendendo o corporativismo, arranjo no qual a iniciativa privada se torna uma mera extensão do governo, e deixa de estar sujeita à concorrência e às demandas do consumidor.

        Trata-se de uma pessoa anti-mercado e pró-empresas (ineficientes). 

        Já quem pede a abolição de agências reguladoras, de subsídios e de tarifas de importação está simplesmente defendendo a livre iniciativa.

        Você, afinal, é pró-mercado ou pró-empresas?

        _____________________________________

        Hans F. Sennholz  (1922-2007) foi o primeiro aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos.  Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido contratado assim que chegou.  Após ter se aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic Education, 1992-1997.  Foi um scholar adjunto do Mises Institute e, em outubro de 2004, ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua defesa vitalícia da liberdade.

        Logan Albright, escritor e economista, é diretor do Capital Policy Analytics, analista do Freedom Works, e integrante do Ludwig von Mises Canadá.

        Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

        http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2049

         

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