Gilberto Maringoni
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
[email protected]

Bolsonaro dobra a aposta e conclama ao golpe, por Gilberto Maringoni

Mas na nova maneira de exercer o poder - com sua governabilidade de choque -, Bolsonaro pode acelerar e muito o desmonte do Estado.

Bolsonaro dobra a aposta e conclama ao golpe

por Gilberto Maringoni

Na manhã do sábado (7), numa base aérea em Boa Vista, a caminho de Miami, Jair Bolsonaro fez a mais arriscada aposta e o maior ataque à democracia dentre todos os impropérios lançados em seus 15 meses de governo. Num discurso canhestro – repita-se, a caminho dos Estados Unidos -, incentivou seus apoiadores a engrossarem as marchas golpistas convocadas para o 15 de março. Sublinhe-se: a caminho de um jantar horas depois com Donald Trump, no qual trataria de três coisas: aumentar a pressão sobre a Venezuela, vergar-se à negativa estadunidense para a entrada da China na concorrência do 5G e subordinar toda a área de Defesa do Brasil aos desígnios do Departamento de Defesa do Império.

Sublinhe-se. Destaque-se. Aponte-se. Alerte-se.

O QUE TERIA FEITO o presidente brasileiro mudar subitamente de ideia sobre a intentona golpista? Nos dias anteriores, ele negou repetidas vezes estar convocando alguma coisa.

Apesar das más notícias no front interno, a começar pelo piblinho de 2019 e da saída de recorde de US$ 44 bilhões de dólares do país desde o início do ano, Bolsonaro foi à Fiesp na quinta (5) para um encontro especial. Lá obteve apoio de 38 dirigentes de grandes empresas, 19 estrangeiras e nenhuma de mídia. Em live realizada na mesma noite, garantiu que “Paulo Guedes explicou tudo sobre o bom momento da economia brasileira”. Pode-se inferir daí que o capital está com Bolsonaro.

Novamente, sublinhe-se a última frase.

BOLSONARO É APOIADO por cerca de 30% do eleitorado, conforme atestam pesquisas recentes. Não mentiu para essa gente em campanha e não cometeu estelionato eleitoral. Aqui na terra estão jogando futebol, tem muito choro, muito samba e roquenról. Mas a economia derrete, os serviços públicos se sucateiam e ninguém sabe o dia de amanhã.

Refaçamos a pergunta: o que levou Bolsonaro a mudar de ideia sobre a marcha? É bem possível que esses dois fatores – Trump e empresariado – o tenham animado a chutar o balde para ver no que dá. Se as marchas forem fracas, sempre se poderá voltar atrás, mandar bananas para a mídia e perguntar “Golpe? O que é golpe?”, como fez às portas do Palácio ao comentar o PIB.

A GRANDE MÍDIA até a tarde de domingo (8) estava pasmada. A Folha de S. Paulo foi desconvidada para o ágape em Miami e lançou nota chorosa e reclamona. O Estadão chegou ao cúmulo de encomendar nota de apoio à senda golpista a um de seus colunistas amestrados. O Jornal Nacional mal tocou no assunto.

Depois de incentivar abertamente o motim policial no Ceará, Bolsonaro quer um motim nacional. Seus cães hidrófobos estão à solta, a começar por Augusto Heleno, o carrasco de Porto Príncipe, e Aginaldo Zambelli, comandante da Força Nacional.

UMA SEMANA INTEIRA nos separa do dia 15. Espera-se da oposição carga pesada contra a convocação oficial do caos. Tenho sérias dúvidas se competir com o fascismo para ver quem coloca mais gente nas ruas é um bom caminho. Mais do que nunca, uma coisa deve ser uma coisa e outra coisa deve ser outra coisa.

P. S. Um golpe com fechamento do Congresso e do STF – um novo AI-5 – tem poucas chances de dar certo. Mas na nova maneira de exercer o poder – com sua governabilidade de choque -, Bolsonaro pode acelerar e muito o desmonte do Estado.

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

11 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Quando o executivo não respeita o legislativo nem o judiciário, a briga pode ser por outro poder…
    no meu entender Bolsonaro está de olho mesmo mas é no poder do povo, no MP, por exemplo, entre outros

    quando temos três poderes independentes que não se respeitam, quem sofre é qualquer outro que seja autônomo em relação aos três

    Governar estando na fronteira da criminalidade, é isso, fazer de tudo para o circo pegar fogo

  2. Pois é, do jeito que estão as coisas, não é preciso decretar um AI-5, basta continuar fazendo como se houvesse um AI decretado e sem o ônus de assumi-lo.

    Por exemplo, como é que tem funcionado a Justiça mesmo sem nenhum decreto? Lula não foi preso sem prova? Dirceu, apenas porque a literatura permite? Marielle não foi executada em praça pública “e tudo bem”? Os encarcerados por Curitiba não foram torturados? E o Queiroz? E o Onix? E o Dallagnol? E o TRF4? E a imprensa, não está sendo vilipendiada, impossibilitada – ainda que pelos seus donos, diretores e gerentinhos -, ganhando bananas? Tudo isso sem que a Justiça se apresente. Na prática é como se a Justiça não existisse. E isso sem falar no Congresso… Qual a importância do que diz e faz a oposição ao governo? As comissões estão funcionando? Vem o River, fala uma coisa; vem seu chefe, fala outra e… nada acontece. As reformas propostas pelo governo que não passaram, não passaram AINDA mas por puro achaque do Legislativo contra o Executivo: apenas ainda não está fechado o preço.

    Enfim, porque Bolsonaro teria que arcar com o ônus de um AI se os cenários todos – e aqui vão as três instâncias, federal, estadual e municipal, em praticamente todos os níveis hierárquicos, dos administradores e seus indicados comissionados até o concursado “guarda da esquina” – estão sob domínio do dólar? Quem precisa de um AI quando se tem um país insensato e ensandecido, estupefato pelas drogas aspergidas através das redes sociais. Junte-se a isso o fato de que quase todos os países cujas moedas estão atreladas ao dólar estão, também, doentes, que o mundo do dólar tornou-se num manicômio bárbaro, incivilizado e pirata e… prá que um AI? Um AI só serviria para concretizar algo contra o que se pode protestar e lutar.

  3. Só para completar. Veja se, com ou sem AI, o governo não está exatamente como estaria se fosse assumidamente ditador:

    Encarceramento pelo estado policialesco: https://jornalggn.com.br/artigos/as-formigas-de-darwin-por-romulo-de-andrade-moreira/

    Anulação da imprensa: https://jornalggn.com.br/noticia/bolsonaristas-estao-de-olho-em-projeto-que-coage-a-imprensa/

    E por aí vai, com muitos, muitos, inúmeros outros fatos, em praticamente todas as instância das vidas pública e privada do Brasil, que comprovam que não é necessário decretar a interrupção do ordenamento democrático para efetivamente interrompê-lo.

    Como se luta contra o que não se vê… ou melhor, se vê, se sente mas não é assumido, essa é a questão.

  4. O problema não é uma “manifestação popular”. É quanto de povo ela representa. Que segmento(s)?
    Ou quanto de barulho elas fazem?
    Uma banda de rock de 4 pode ser muito mais barulhenta que uma sinfônica de 400. Depende.
    O Congresso e o STF aceitaram, até com bastante animação, a acusação aceita pelo bandido Eduardo Cunha de “crime” de responsabilidade (por honrar despesas públicas).
    Agora que estão “irritados”, vão fazer o quê? Um protestinho pralamentar, digo, parlamentar/judiciário?
    Ou vão esperar até que sejam fechados com apoio de alguma “marcha pela família…”, carimbada pela miRdia como “a voz do povo”?
    Bozo está jogando cada vez mais fichas na mesa, com ou sem blefe.
    Não se vê ninguém pagando pra ver.
    Daqui a pouco ninguém mais terá cacife na mesa.
    Se virarem a mesa vão fazer o quê? Discurso antes de prisão pela “segurança naTional” de Moro?
    .
    Uma coisa é livre manifestação popular.
    Outra é o presidente de um poder promover e INCITAR a população CONTRA OUTROS poderes.
    .
    Bozo saiu de um “não quis dizer isso” para um “estou dizendo” escancarado!
    Se isso não é crime de responsabilidade, o que mais o será?
    Já sei:
    …”Ou então não será nada!”…

  5. “um golpe com fechamento do Congresso e STF tem pouca chance de dar certo.” O que ocorreria poderia ser “uma nova maneira de exercer o poder.” Se houver apoio de Trump, do capital e das forças armadas, o governo pode emendar a Constituição de uma forma inconstitucional, fazendo com que Maia, Alcolumbre , Marco Aurélio, Celso de Mello, Dino, se não se submeterem, possam ser afastados por subversão, ou alguma outra figura jurídica a ser criada pelos “juristas” Moro e Fux. Os brasileiros vivem esses dias achando que tudo está totalmente dentro da normalidade. Como em 1889, quando o povo achou que a proclamação da república era um desfile militar. Se os fascistas colocarem 200 mil nas ruas de SP e Rio, o congresso pode ser “convencido” por “forças ocultas” a apoiar algumas emendas constitucionais inconstitucionais. E teremos um maluco e seu grupo concentrando todo poder, e um Congresso e STF decorativos. Governadores cassados. E Guedes fazendo algumas coisas que o Congresso não permitiu (capitalização da previdencia, por exemplo). Se houver pouca gente na rua dia 15, o bozzo vai continuar dando bananas até ocorrer um outro momento que seja propício ao auto-golpe. Sabemos do risco que há, e quem tenta impedir? Um Brizola estaria já tentando mobilizar todos de sul a norte do país, como em 1961. Mas os brasileiros mudaram tanto nesses 60 anos que hoje um Brizola ficaria falando sozinho. Os ianques transformaram um povo em gado, ou naquelas bananas que o humorista Carioca entregou pra imprensa. República bananeira povoada por bananas conectadas ao que existe de mais raso e nocivo. O bolsonarista apresentador da rádio guaíba me respondeu: “qual seu currículo? Eu tenho MDA. O que é uma análise rasa?” Tempos de bananas verdes-amarelas.

  6. Qual seria o resultado do casamento de um tipo como Bolsonaro com os partidos tradicionais como o DEM ou PSDB? Alimentaram o monstro assim como a mídia hegemônica e o judiciário lava jato. Não existirá paz e sim um conflito permanente com um miliciano no poder. Agora esses partidos tradicionais precisam criar as condições políticas para a retirada da extrema direita do poder. Devem ter esse sopro de dignidade com o país. O colapso das instituições levou Bolsonaro ao poder e ele sabe que manter as instituições em frangalhos é fundamental para sua sustentação. Simples assim.

  7. Nassif, faz ai um xadrez dos ataques da Maria Louca a tudo e a todos, exceto a Trump i love you e a banca e a milicia e aos vendilhoes do templo….
    Dos ataques as provincias:
    BozoNazi quer governar com governadores bionicos indicados por ele…..dai os ataques aos governadores ao culpa los pela alta dos combustiveis e espalhando fake news dizendo qye ele Bozo ja eliminou os impostos federais sobre gasolina, o que é mentira….quando os EUA invadiram e dominaram o Iraque, as provincias ficaram em poder de parte do petroleo para se manterem….aqui em Pindorama nem isso : Trump leva tudo de porteira fechada

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador