Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Bresser e a Economia, por Rui Daher

Bresser-Pereira, talvez, junto a Covas, Sérgio Motta, e outros, foi o último rasgo de honestidade intelectual entre os tucanos, contra a tibiez vaidosa de Fernando Henrique.

Foto RBA

Bresser e a Economia

por Rui Daher

Na contramão do culto, experiente e político encapuzado professor Antônio Delfim Netto (91), temos o scholar e professor Luiz Carlos Bresser-Pereira (86), a quem me desculpo pelos erros de esquerdismo infantil que cometi quando seu aluno na FGV.

Bresser-Pereira, talvez, junto a Covas, Sérgio Motta, e outros, foi o último rasgo de honestidade intelectual entre os tucanos, contra a tibiez vaidosa de Fernando Henrique.

Delfim não foi meu professor, reconheço suas leituras de Karl Marx, mas pouco entendo seus textos anódinos de hoje em dia. Foi grande entusiasta e conselheiro do dadivoso Lula, mas hoje silencia sobre Paulo Guedes e o Regente Insano Primeiro do Brasil. Deveria, ao menos, assinar embaixo dos editoriais de Mino Carta, em CartaCapital. Não o faz, pelo contrário, o que mostra sermos uma publicação democrática.

Não me lembro de ter lido único artigo seu que nos alertasse para o rombo que as políticas sociais de Lula iriam causar. Claro, seria mentira. Hoje, coonesta o arrocho fiscal, homicida da pobreza.

Sim, a crise do coronavírus é pandêmica. Em países que pouco se importaram em investir na saúde, será mais grave e fatal. Pela pobreza e a necessidade de trabalhar em serviços, os empreendouberistas e quetais, permitirá somente ao topo da pirâmide, o isolamento.

Em artigo para o Valor (23/03/20), “Salvar as pessoas, as empresas e o emprego”, o ex-ministro de FHC e professor emérito da GV, volta a deixar claro o que muitos de nós já vínhamos falando: o afogamento da sociedade, citada no título de seu artigo, precede em cinco anos a pandemia do coronavírus.

Sob base já erodida, por óbvio, a intensidade da atual pandemia iria agravar a situação do tripé pessoas, empresas, empregados.

Não é de hoje, talvez desde 2015, vimos alertando, no BRD, do GGN, e de CartaCapital, entre colunas sérias ou jocosas, para os equívocos das políticas econômicas sob Michel Temer e, agora, da dupla Regente Insano Primeiro e Posto Ipiranga, baseadas em duas obsessões: a destruição dos aparelhos de Estado, pois os querem mínimos; e o ajuste fiscal “com teto”. Dois desequilíbrios de incompetentes, que excluem de suas planilhas os mais pobres.

Em primeiro lugar, sabemos que a crise econômica e financeira, 2007/08, de caráter “liberou geral”, ainda não havia sido superada. Depois, muitos economistas começaram a pensar e escrever que com tamanha desigualdade social, as democracias não sobreviveriam. Agora, o que esperar do coronavírus se não mais desemprego, redução nas vendas de empresas comerciais e redução da produção industrial, pela queda na demanda.

– Mas isso já estava acontecendo, ‘seo’ Rui.

– Sim, Everaldo, fiel segurança, mas irá piorar.

– Cruz credo! E tem jeito?

– Doerá, mas tem, amigo. Mudar, urgentemente, a política econômica dos insanos.

– Como?

– Voltar a ter um Estado forte e capaz, “que salve as pessoas da morte, as empresas da quebra e salve os empregos”.

– Então, o locutor de cercadinho está certo?

– Não! Ele elimina o primeiro e mais importante fator. Como um genocida. Volto a Brésser-Pereira, e a ele se unem Martin Wolf, Dani Rodrik, Piketty, Ricardo Carneiro, Laura Carvalho, e até Armínio Fraga e André Lara:

“[Para a salvação] o governo não pode ficar calculando qual será o impacto de cada medida que tome na dívida pública. Ela aumentará agora como aumentou em todo o mundo em 2008”.

Conforme citados pelos economistas Emanuel Saez e Gabriel Zucman, de Berkeley: “O governo deve entrar como comprador de última instância”.

Isso será fácil para uma nova conformação ideológica brasileira? Não. Nossa crise, a partir de 2015, é interna e financeira. Para Bresser, definida “pela falta de expectativa de lucro das empresas e paralisação do crédito privado”.

Precisamos recuperar a credibilidade internacional, mas não com as bestas que assumiram o governo. Com eles não nos recuperaremos em duas décadas.

Precisam desentravar esse nó. Basta os eleitores darem o braço e reconhecerem que erraram. Não dói, mas pode salvar uma nação promissora.

Inté!

Nota: para não dar mais trabalho à nossa editora, se quiserem ler o que escrevi para CartaCapital, que acho importante, abaixo o link:

https://www.cartacapital.com.br/opiniao/impactos-da-covid-19-no-agronegocio-brasileiro/

Rui Daher

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