Coluna Econômica: a bolha dos créditos garantidos por imóveis, por Luís Nassif

Nos próximos meses, se verá a enésima repetição das crises de liquidez no país: execuções em massa de garantias imobiliárias para empréstimos não quitados

Há que se prestar atenção a movimentos de formação de bolhas. Há muita liquidez nos mercados e novos setores atraindo muito recurso, sem horizontes claros pela frente.

Em breve, deverão aparecer nos bancos brasileiros, indícios de um problema que já afeta os bancos norte-americanos: as bolhas de empréstimos garantidos por propriedades comerciais.

Foi a maneira encontrada por alguns grandes bancos para atender à demanda por crédito da clientela.

Nos EUA, o sinal amarelo surgiu com a capacidade ociosa de escritórios, shoppings e hotéis.

No segundo trimestre deste ano, os empréstimos criticados (de maior risco) aumentaram 62%.

Essa denominação se refere a empréstimos equivalentes à classificação CCC ou menos, na nomenclatura das agências de risco.

Mas os empréstimos criticados garantidos por imóveis aumentaram 144%, perfazendo US$ 26 bilhões, segundo cálculos do Financial Times.

Os bancos com maior exposição são o JPMorgan Chase, Bank of America e Well Fargo, três dos quatro maiores bancos norte-americanos. Esses empréstimos criticados correspondem respectivamente a 9, 13 e 25% do capital de primeira linha.

Os bancos americanos aumentaram em US$ 111 bilhões as reservas para perdas com empréstimos.

O maior caso de créditos criticados é do M&T Bank, com quase 40% de empréstimos em imóveis comerciais concentrados em Nova York. Em apenas um trimestre, esses empréstimos aumentaram 156%. Hoje, equivalente a 55% do capital e nível 1 do banco.

Os fatores de incerteza são muitos.

O primeiro, é sobre o tempo de recuperação das economias. Os últimos indicadores mostram uma certa recuperação das economias francesa e alemã, além obviamente da China. Mas, depois de uma melhora inicial, o ritmo de recuperação reduziu.

O segundo fator de incerteza é sobre os efeitos da pandemia sobre cada setor, especialmente depois que mudanças de hábitos – como o home office – parecem se consolidar para o pós-pandemia.

Finalmente, a vulnerabilidade de capital de giro das empresas no pré-pandemia, que dividiu cada setor entre sobreviventes e desaparecidos.

Nos próximos meses, se verá a enésima repetição das crises de liquidez no país: execuções em massa de garantias imobiliárias para empréstimos não quitados. E o Banco Central garantindo liquidez aos bancos sem nenhuma forma de contrapartida.

7 Comentários

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  1. Não. Se houvesse essa crise de liquidez com execuções em massa, o setor imobiliário apresentaria sinais de retração. O que claramente não é o caso. Há sim um estranho aumento na construção civil e na liberação de crédito para compra de imóveis.

    1. Mas não é precisamente desse “estranho aumento” que se trata?
      Não há (ainda) crise de liquidez com execuções em massa; o artigo prevê que haverá.
      Creio que seu comentário deveria ter um “sim” no começo.

    2. Gustavo Pereira, você se refere a imóveis comerciais? Porque é disso que o texto trata: “bolhas de empréstimos garantidos por propriedades comerciais”. Não é sobre imóvel residencial de alto padrão, nem minha casa, minha vida.

  2. Essa crise será um verdadeiro Tobogã.
    Como os juros estão muito baixos investidores vão correr para o imobiliário, com isso os preços se mantém, quando estourar a bolha os preços despencam, como os estoques estão muito baixos, as barbadas (credores apertados) serão vendidos logo depois sobe um pouco, depois vem a venda de quem comprou agora como investimento, os preços descem, depois estoura o saco de quem tentou o mercado e ficamos alguns anos com crescimento muito baixo e preço baixo……

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