Divagações em torno de um bestialógico que virou impeachment, por J. Carlos de Assis

Movimento Brasil Agora

Divagações em torno de um bestialógico que virou impeachment

por J. Carlos de Assis

A pedalada fiscal é uma boçalidade em cima de uma estupidez. Virou peça acusatória no impeachment de Dilma como ilustração da fragilidade institucional do país quando se deparou com a vontade de poder de golpistas improvisados. Em termos substantivos, pedalada não é nada. Apenas um adiantamento de bancos públicos para cobrir despesas do Tesouro devidamente orçamentadas. Daí a boçalidade da acusação originalmente feita por um fiscalista meio idiota. E a estupidez, de onde veio?

Ah, essa vem de longe. Vem do início do governo Lula, vem mesmo antes disso, ainda no governo FHC. A pedalada virou denúncia porque, através dela, o governo escondeu uma queda no superávit primário. E qual é o problema de uma queda no superávit primário? Substantivamente, nenhum.  Acontece que desde o governo FHC tornou-se um objetivo sagrado da política econômica brasileira fazer um alto superávit primário para agradar as agências de risco internacionais, que “dão notas” ao governo.

Assim, Dilma caiu, entre outros motivos, porque levou nota ruim das agências de risco, escondida pelas pedaladas. Entretanto, precisamos de ir um pouco mais adiante. Por que as notas das agências são tão importantes? Simplesmente porque a comunidade financeira internacional, ou seja, os grandes especuladores globais, controlam dessa forma a política econômica brasileira. Lembram que, antes, quem fazia isso era o FMI? Pois bem, já não é mais. Temos reservas de quase 400 bilhões de dólares e até emprestamos algumas ao Fundo.

Com o FMI fora da feitoria direta sobre o Brasil, seu papel de pretor da economia brasileira, e dos demais países em desenvolvimento, passou a ser exercido pelas agências de risco privadas. Suas notas determinam o custo dos empréstimos privados e estatais para o país, a começar dos empréstimos das próprias agências multilaterais. Isso estabelece uma cumplicidade entre tomadores de empréstimos no país e financiadores ou fundos externos que querem o conforto de uma avaliação de risco “independente” para seus créditos.

A matriz de avaliação de risco dessas agências é uma caixa preta. Num mundo em que grandes bancos como Bank America, Citigroup, Deutche Bank, UBS e os 12 maiores bancos mundiais que controlam a Libor são acusados de fraudes bilionárias, imagina o que podem fazer as agências de risco para classificar ou desclassificar um país. Entretanto, a culpa também é nossa com nosso complexo de vira-lata: devíamos simplesmente mandar às favas as agências, e entrar na competição por crédito barato na Ásia, com bancos mais confiáveis.

Voltemos ao impeachment. O fato de se ter dado tanta ênfase a pedaladas no início do procedimento de impeachment revela o grau de improvisação do golpe. Posteriormente, acrescentaram uns decretos de suplementação orçamentária que também não eram crime. Por traz disso estava o óbvio: o PSDB atirou uma pedra ridícula e derrubou uma casa inteira para a própria surpresa. Certamente a casa estava vulnerável. Contudo, a evidência da improvisação nos conduz imediatamente à situação seguinte, ou seja, ao governo Temer.

Esse governo é um improviso absoluto. Sem plano, sem objetivos coerentes, sem estratégia. Estamos literalmente sem rumo. O governo se agarra exclusivamente ao próprio poder. Suas pedaladas são literais: chutes para todo lado, sem coordenação, com ministros afirmando agora e se desmentindo logo depois, com um esboço de política externa absolutamente incompetente e, agora com a colaboração da presidenta do Supremo, iniciando uma descarada aproximação com os militares para que ajudem a cuidar de uma ordem interna cuja disrupção é o principal temor de quem chegou ao poder sem povo.

J. Carlos de Assis – Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ, autor de mais de vinte livros sobre economia política brasileira.

Redação

10 Comentários

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  1. Eu vou contar um pequeno

    Eu vou contar um pequeno segredo: Os “tubarões” que atuam na bolsa de valores ignoram as agências de riscos. Essas “agências” servem apenas para enganar os pequenos investidores e para maquinações políticas como o autor do texto corretamente apontou.

  2. Lobo Bobo……

    Com relação as agencias de risco internacionais, é como se tivessemos lobos cuidando de nosssa ovelhas, e de tempos a outros algumas ovelhas sumissem se deixar vestigios(uma lanzinha aqui…um ossinho acola….mais nada), e esses mesmos lobos, idignados, nos perguntassem…

    -Mas como assim…..o que voces fizeram com as ovelhas????Assim não é possivel…..voces tem que ser mais responsaveis e cuidar melhor de suas ovelhas…..mas se quiserem temos uns amigos lobos que podem emprestar dinheiro para voces comprarem mais ovelhas……juros modicos….longo prazo……..uma pechincha….  

  3. Se um executivo de multinacional falsifica números contábeis…

    Ele deve ir preso. E veja que isso só prejudica os acionistas que investiram na empresa. Um presidente que falsifica a contabilidade do país fazendo com que ele quebre não é apenas alguém que deveria perder o cargo, deveria ser deportado… Inacreditável como tem gente que até hoje acredita que a classe política deve ter carta branca par quebrar o país. Ter credibilidade e ser visto como um país sério internacionalmente não é para agradar agências de risco, tão simplesmente. É para receber investimentos internacionais, conseguir juros mais baixos, etc, etc. Defendo todas as bandeiras que a esquerda defende, a não ser as patetices em economia e administração que ela propõe. Até que nossa esquerda amadureça e entenda os erros que cometeu nesses dois pontos, ela não pode voltar ao poder de jeito nenhum. E pelo visto não vai voltar pelas próximas décadas, já que não dá o menor sinal de estar evoluindo.

    1. Vosmecê poderia ter a bondade

      Vosmecê poderia ter a bondade de detalhar as “patetices” econômicas e administrativas que teriam sido cometidas pela nossa esquerda? Obrigado.

      PS: se enumerá-las e der as razões que levam você a adjetivá-las como patetices, e se você tiver razão, ajudará a esquerda a não comete-las mais; ou, quem sabe, com o debate que você disparará, você talvez conclua que “as patetices” não foram tão patetices assim.

      1. Com prazer Ramalho

        0) As teorias econômicas da esquerda estão para as teorias usuais da mesma maneira que o criacionismo está para o darwinismo. São uma corrente minoritária nos ramos científicos, além de pautadas por uma agenda ideológica e não por metodologia científica. Utilizar um país como laboratório para teorias que não encontram corroboração na própria comunidade acadêmica é no mínimo uma temeridade. Mas vamos às patetices.

        1) A esquerda insiste que não há problema em endividar o estado, mas não quer pagar os juros decorrentes do endividamento. As políticas de controle de gastos são exatamente o que nos impedem de voltar para o colo do FMI. Mas a esquerda é contra o controle dos gastos, assim como também não quer voltar para o colo do FMI. É no mínimo uma atitude infantil, de quem quer tudo sem fazer por onde. 

        2) Ao endividar-se, o estado suga os recursos disponíveis para financiamento, tornando os juros caros para o restante da sociedade e para o setor produtivo. Mas a esquerda não gosta de juros caros.

        3) A esquerda insiste que não há problema em aumentar a inflação, por mais devastador que isso seja para os mais pobres e para a sociedade. E isso em um país com problema inflacionário crônico como o nosso…. E como a esquerda tampouco quer mudar o perfil do estado de gastador para investidor (lembre-se não tivemos absolutamente nenhuma reforma sob o petismo), sobra para o Banco Central sozinho controlar a pressão inflacionária, já que o estado injeta liquidez no mercado de maneira indiscriminada, como gasto, e não investimento. Como o Banco Central está sozinho contra as pressões inflacionárias, sem o restante do governo fazer sua parte, os juros vão parar na lua. Mas… contraditoriamente… a esquerda diz não gostar de juros altos. Vai entender… mas é patetice mesmo.

        4) Sobre intervencionismo, vimos Dilma “controlar” artificialmente a inflação manipulando os preços da gasolina. Além de estar combatendo apenas um sintoma, e não a causa, ainda por cima gerou prejuízos enormes à empresa e destruiu a indústria do etanol. E o mesmo no setor elétrico, tarifas baixadas na marreta demandaram que o governo financiasse o prejuízo das operadoras. Uma trapalhada sem tamanho.

        5) Mais intervencionismo: a teoria dos campeões nacionais do BNDES financiou empresas gigantes produtoras de bens primários. Ora, empresas gigantes não precisam de financiamento, podem captar no mercado. Além disso, colocar todo ouro no pote dos bens primários é nos condenar à periferia do sistema produtivo internacional. O BNDES alemão financia pequenas e médias empresas desenvolvedoras de tecnologia, quanta diferença!

        6) Ainda sobre a Alemanha, nos tempos de bonança, nos anos 2000, fizeram um acordo com sindicatos indústrias, os diversos partidos, etc, para zerar o déficit público a longo prazo. Saíram da crise de 2008 como liderança inconteste da Europa, por terem sabido se preparar para o inverno. O Palocci propôs algo parecido para o Brasil em 2005, mas os desenvolvimentistas no governo sabotaram. Quem está certo, governos precavidos ou os patetas que esperam começar a tormenta para começar a remendar o barco?

        7) A esquerda desconhece como funciona o mercado de trabalho. Uma CLT criada em um país pré-industrial não pode ser adequada a um país pós-industrial. Não digo que a reforma da CLT tem de ser à maneira da direita, MAS ALGUMA REFORMA TEM DE TER. Temos mais de 40% de trabalhadores na informalidade, e eles não trabalham para malvadas multinacionais, e sim em padarias, mercearias e oficinas das periferias, onde pagar a carga tributária que o governo cobra implica em ter de fechar o negócio. A grande maioria das pessoas que poderiam trabalhar como terceirtas acaba tendo de abrir empresas em nossa legislação. Enquanto empresários, ao invés de terceirizados, não têm direito a férias, décimo terceiro, nada disso. Eu mesmo já passei por essa situação.

        8) A previdência é uma questão matemática e demográfica. Uma bomba de médio prazo. Isso em todos os países do mundo. Mas existe na esquerda a velha noção de que dinheiro dá em árvores. 

        9) Por fim, como nossa esquerda nunca quis reformar nada, nunca quis modernizar nada no país, ela obviamente tampouco se empenhou em uma reforma tributária. Todos sabemos que nossa legislação tributa o consumo e a produção, e não a renda. Isso prejudica os trabalhadores e o setor produtivo, em benefício dos rentistas. Ao invés disso o que a Dilma fez? Distribuiu isenções tributárias a amigos do rei…… aumentou o endividamento estatal, optando por mais um paliativo de curto prazo.

        10) Décimo item, para ficarmos em um número redondo. Metas de superávit são, por natureza, políticas de longo prazo, para quem não quer ter de pagar juros caros daqui a 10 anos. Mas a nossa esquerda defende somente políticas de curtíssimo prazo, imediatistas, e depois não entende porque temos apenas vôos de galinha em economia. Ao invés de criar condições de baixar os juros, preferem baixá-los na marreta. A marreta realmente abaixa os juros, mas destrói a bicicleta……. e a inflação está aí de volta.

        1. Não há patetice nenhuma

          0) A esquerda brasileira usou, com Mantega, política econômica anticíclica e fomos bem sucedidos, pois o Brasil passou pela crise de 2008 com muito menos prejuízos do que os que adotaram a política da “austeridade”, como Grécia, Espanha, Portugal etc. Palocci deu início à redução da dívida líquida pública (DLP), dos juros e do desemprego. A política econômica conduzida por Palocci, tal qual a de Mantega, também deu certo. Estas medidas têm a ver com as teorias keynesianas e pós-keynesianas, e, importantemente, foram bem sucedidas. Usando-se a sua metáfora, estão muito mais para darwinismo do que as políticas econômicas dos governos FHC, Temer e de Levy, erro monumental de Dilma. As teorias keynesianas, de forma nenhuma são de corrente minoritária, foram usadas antes de usadas no Brasil que não foi laboratório de nenhuma teoria econômica. Dizer que Keynes não é corroborado academicamente é temeridade acadêmica, para se dizer o mínimo.

          1) Concretamente, e não no plano do discurso, foi a esquerda que reduziu o endividamento do Estado. A esquerda trouxe a DLP, de pouco mais de 60% do PIB para cerca de 33,6% do PIB em 2015, mesmo com a campanha antinacional de desestabilização do governo e da economia promovida pela direita nos últimos anos. Quer dizer, contrariamente ao que você afirma, para o governo de esquerda há problema sim em endividar o Estado, tanto que reduziu a dívida para quase a metade do valor deixado pelo governo de direita, que, este sim, não vê problema em endividar o Estado, como os dados provam (vá ao BC e ao IPEADATA e confirme).

          A redução dos gastos do Estado aumenta a dívida pública. Este fato é contra intuitivo, mas é fato, é assim. Administrar a dívida do Estado nada tem a ver com administrar a dívida familiar, apesar de economistas com voz em jornais afirmarem essa baboseira. Tal é previsto teoricamente e constatado empiricamente. Aliás, foi durante o governo que para você é gastador que a dívida estatal foi reduzida.

          A esquerda diminui a dívida do Estado e quer manter baixos os juros que paga. Que mal há nisso?

          Não é que a esquerda não queira voltar para o FMI, a esquerda saiu do FMI e não precisou dele para nada. Por que deveria voltar, diga lá? Qual a vantagem para o Brasil? O FMI sim, foi que precisou do Brasil, e o Brasil pôs dinheiro lá esperando, claro, ganhar com juro alto (e, não, pagar altos juros). Ora, voltar para o FMI….

          2) O Estado, sob governo de esquerda REDUZIU a DLP. A esquerda gosta de juros caros quando é o Estado que empresta (como fez com o FMI) e não gosta de juros caros quando o Estado é tomador. Não consigo entender como você apoia juros caros cobrados do Estado que é também mantido por você. Será que quando você vai ao banco fazer empréstimo, pede que cobrem juros caros de você?

          3) A inflação diminuiu durante os governos de esquerda, a esquerda não insiste, como diz você, em que não há problema em aumentá-la, pois a esquerda reduziu a inflação. Seu discurso é contrariado pelos fatos (será que você esteve fora do país e chegou agora?). O resto do seu tópico 3 desmonta-se por si mesmo.

          4) Ué, como assim? Quem está diminuindo o preço da gasolina é o governo Temer, um governo de direita, talvez para controlar a inflação. Dilma não controlou preço nenhum de gasolina, tanto que o governo Temer, de direita, achou que a gasolina estava cara. De onde você tirou isso? E de onde você tirou que a indústria de etanol foi destruída?

          As tarifas elétricas estavam elevadíssimas, tinham de ser baixadas mesmo. Apesar da crise hídrica que obrigou o governo a usar termelétrica cuja operação é mais cara do que a das hidrelétricas, o esquema tarifário foi mantido com os ajustes pontuais necessários decorrentes da falta de chuvas. Não houve trapalhada nenhuma, ao contrário, houve benefícios para toda a economia, especialmente para o setor produtivo.

          5) Não tenho a carteira de empréstimos do BNDES e não estou com tempo para buscá-la e analisá-la, e não entrarei nessa questão.

          6) Como já lhe informei antes, o governo de esquerda reduziu DLP, que é o que interessa, a quase metade do valor em que estava quando assumiu.

          Meu caro, desenvolver é a única solução. A Alemanha não prescindiu de seu desenvolvimento. Você se engana se pensa que a Alemanha não quis e não quer se desenvolver. A Alemanha, destruída durante a Segunda Guerra, foi o país europeu que mais se desenvolveu, partiu praticamente do zero e é hoje uma potência por ter, sim, buscado e conseguido se desenvolver. A Inglaterra, outro exemplo, não volta as costas ao desenvolvimento, também a China, Coreia do Sul, EUA etc. Ser contra o desenvolvimento é posicionamento que contraria o bom senso, para se dizer o mínimo.

          7) Paga-se muito imposto porque sonega-se muito. São mais de R$ 500 BILHÕES/ANO. Todos sonegam, menos o assalariado, porque não tem como sonegar. Essa história de que pequenas empresas de periferia aviltam as relações trabalhistas (informalidade) por causa da alta carga de impostos é balela: fazem isto por ganância e desrespeito ao trabalhador. Tais empresas são grandes sonegadoras, são uma das causas da carga fiscal elevada que pune principalmente assalariados. Essas empresas não são coitadinhas que pagariam impostos exorbitantes simplesmente porque são grandes sonegadoras e traidoras de seus empregados.

          Quem disse que as multinacionais são malvadas, meu caro? A Petrobras é uma multinacional e o BNDES resolveu agora negar financiamento a seus negócios no exterior. Só se for o “novo” BNDES.

          A questão não é a esquerda achar as multinacionais são malvadas, mas o papel do governo (de esquerda e de qualquer outro matiz) que tem de ser o de reservar o mercado nacional preferencialmente para empresas nacionais e impor às multinacionais o cumprimento da legislação brasileira. Onde está a patetice?

          Sua teoria de terceirização não resolve nada: o empregado tem de continuar a receber e tem de ter seus direitos respeitados, pela empresa original ou pela empresa de terceirização. Empregado não é escravo; empregado adoece, envelhece e pode ficar desempregado. A terceirização, considerando-se o sistema como um todo, não resolve nada.

          Empresário goza férias, sim; ganha muito mais do que trabalhador com décimo terceiro e tudo. Os que não usufruem dessas benesses são os péssimos empresários. Empresário com um olho só fica rico, muito mais os com dois.

          8) A previdência é uma questão contratual, e de privilégios indevidos, afora atuarial (os contratos previdenciários são feitos submetidos às condicionantes atuariais). Os trabalhadores pagam também pela aposentadoria, tal como o trabalhador que contrata previdência privada, com a diferença de que uma segunda parte é paga pelo contratante do trabalhador e outra pelo Estado. Se o trabalhador contratou (compulsoriamente) a cobertura previdenciária do Estado e cumpriu o contrato (pagou sua parte), a empresa que o emprega tem de pagar sua parte e igualmente o Estado. Decorrido o prazo contratual, o trabalhador tem direito à aposentadoria e o Estado TERIA de pagar aquilo com que se comprometeu. Mas tal não aconteceu. No passado, as reservas que cobririam o pagamento dos aposentados foi queimada na construção de Brasília. O Estado agiu com os aposentados, que quando na ativa cumpriram sua parte do contrato, como estelionatário, e isto com o respaldo do Supremo. O Estado ROUBOU os aposentados que pagaram por suas aposentadorias e não receberam o que contrataram, isto os do chamado Regime Geral (e é destes que o Estado quer sempre sugar vampirescamente mais), e você vem falar em atuária… O Estado já ROUBOU aposentados e quer ROUBAR novamente, haja vista as reformas previdenciárias ensaiadas.

          Senadores, deputados federais, o funcionalismo do legislativo federal, a turma do judiciário e outras categorias do serviço público têm aposentadorias privilegiadas (ao menos aos olhos da turma do Regime Geral) – mas que talvez sejam aposentadorias justas cujos critérios  e valores deveriam se estendidos a todos os trabalhadores.

          Você se equivoca nessa questão.

          9) Talvez você não tenha percebido, mas Lula e Dilma fizeram pelo trabalhador o que foi possível, e fizeram mais do que todos os governos que os precederam. Mesmo assim, foi pouco, embora haja os que não gostaram do que foi feito pelo Povo: para dar mais ao Povo, os juros foram reduzidos, a inflação contida e, por isto, a remuneração dos rentistas diminuiu. Ora, os rentistas ficaram insatisfeitos, querem mais, e o golpe prova: os golpistas se apressaram em aumentar juros, atacar o funcionalismo, atacar rendimentos dos aposentados, ações todas que favorecem rentista em detrimento do setor produtivo da economia onde estão inseridos os trabalhadores.

          REPETINDO MAIS UMA VEZ PARA VOCÊ: O GOVERNO DE ESQUERDA REDUZIU O ENDIVIDAMENTO ESTATAL, VEJA OS DADOS NO BC (E, POR FAVOR, VEJA O QUE INTERESSA: A DLP MEDIDA EM PIBs)

          Dilma errou? Sim, errou e seu erro foi ter levado Levy, um monetarista empedernido, jurássico, fraco tecnicamente, para o governo, e ter dado a ele carta branca. Este foi o erro e esse erro é a principal contribuição de Dilma para a própria destituição.

          10) Só falo em superavit se houver contingenciamento rigoroso do pagamento de juros (que sim, têm de ser pequenos quando somos tomadores).

          1. Respondendo

            0) Não tenho reclamações a fazer de Palocci, isso prova que a esquerda pode fazer boa política econômica. No entanto, ele é minoria dentro da esquerda (assim como eu que, veja só, sou de esquerda, mas infelizmente não tenho condições de votar na esquerda atualmente pelas barbeiragens econômicas). A austeridade deve ser feita ANTES da crise, nos tempos de bonança, a Alemanha foi austera nos tempos de bonança, se preparou para a tempestade que, mais dia menos dia, vem. Já Grécia, Espanha e Portugal sempre foram gastadores e nunca se preparam para as crises cíclicas. Foram Mantega, Dirceu e Dilma os que sabotaram o plano de controle de longo prazo de Palocci. Seria indolor corrigir as distorções na época: tínhamos crescimento internacional, crescimento interno, programas sociais, etc. Uma oportunidade excelente de corrigir os problemas, mas que foi jogada fora. Em outras palavras, sobre Mantega e a linha majoritária da esquerda no Brasil hoje: o problema não são medidas anticíclicas, o problema é uma política permanente de descontrole de gastos, tanto que ele foi contra o plano do Palocci mesmo nas épocas de bonança. Aliás, Keynes era preocupado com o déficit público, coisa que nossa esquerda insiste em não ser. Ele defendeu políticas anticíclicas, mas não políticas de expansão de gastos constante. Por fim, a política econômica de Palocci é a mesma de FHC, similar a de Temer e a de Levy. A diferença é que Palocci e FHC propuseram um ajuste de longo prazo (superávit, responsabilidade fiscal e metas inflacionárias são políticas de médio/longo prazo), ao passo que Temer e Levy são propostas de apagar um incêndio. Mas o correto, óbvio, é não deixar o incêndio começar. Depois que o incêndio começou, NÃO EXISTE TEORIA UNANIMEMENTE ACEITA PARA RESOLVER, e por isso os precavidos, como a Alemanha, estão certos, enquanto os descontrolados, como Portugal, Espanha, Grécia e Brasil, são irresponsáveis brincando com a sorte.

            1) Isso se você está considerando o governo FHC de esquerda também, assim como a política econômica de Palocci. Como disse, a política de superávit é de longo prazo, e enquanto ela foi mantida tivemos esses bons resultados, mas a coisa começou a degringolar quando o tripé da estabilidade econômica foi abandonado. A linha majoritária na esquerda sempre foi a favor de chutar todas as pernas do tripé. Reduzimos a dívida enquanto ele foi mantido, fizemos ela explodir quando eliminamos o tripé. O resultado era previsível, e hoje temos mais um exemplo empírico das consequências disso. O problema é que nem assim conseguem ver um desastre que já estava previsto desde 2013.

            A seguir cito e discuto comentários seus nesse item:

            “A redução dos gastos do Estado aumenta a dívida pública.” Uma coisa é gasto, outra é investimento, o estado brasileiro gasta em custeio, não em investimento. O PT e a esquerda nunca fizeram – e na verdade fazem oposição FERRENHA – a qualquer proposta de mudar esse perfil.

            “A esquerda diminui a dívida do Estado e quer manter baixos os juros que paga. Que mal há nisso?” Uma coisa é querer, outra coisa é criar condições para isso. As condições são criadas no longo prazo, e foram conquistadas pela política Palocci-FHC. Para a seguir serem destruídas pela dupla Mantega-Dilma.

            2) Como disse em outro momento, os juros são altos porque o Banco Central fica sozinho enxugando gelo enquanto o restante do estado brasileiro não faz sua parte: a) O perfil de gastos públicos em custeio ao invés de investimentos injeta liquidez sem aumentar produtividade, resultado: inflação. E a esquerda é contra qualquer reforma para mudar isso. b) Passamos mais de uma década incentivando o consumo sem nos preocuparmos em aumentar as condições de expandir a oferta e aumentar a produtividade. O resultado óbvio é inflação. Nada contra incentivar o consumo, mas essa é a parte fácil e preguiçosa, e como disse, a nossa esquerda prefere pensar no curtíssimo prazo do que nos problemas de médio e longo prazo. Simplificar a vida das empresas não é neoliberalismo ou o que o valha, é permitir que os ganhos de produtividade para que os incentivos ao consumo não gerem inflação.

            3) Sim, a inflação diminuiu nos governos de esquerda enquanto a política de Palocci foi mantida por Mantega. Mas o plano de Mantega era paulatinamente desarmar isso. Você sabe muito bem o que a maioria da nossa esquerda pensa de Palocci.

            4) Dilma manteve a gasolina artificialmente baixa quando os preços internacionais eram altos. Além de gerar prejuízos, acabou com quem investiu na propaganda de Lula de tornar nosso álcool comoditie internacional. Em uma entrevista (infelizmente não tenho o link) o presidente da associação dos produtores de etanol disse que os investidores não voltam nunca mais por conta de uma rasteira dessas. O que aconteceu depois? O preço do barril despencou de mais de 100 dólares para 20 dólares. Só que então a Petrobrás teve que manter os preços altos para cobrir o prejuízo anterior. É esquizofrênico, os preços internacionais aumentam e nós represamos, depois eles diminuem e nós aumentamos. Imagine a quantidade de distorções que isso gera. Essa “inflação represada” foi altamente documentada por economistas e na imprensa. Mas às vezes me esqueço que nossa esquerda lê notícias e aceita informações apenas de um lado. E sobre as tarifas elétricas, se elas estavam elevadíssimas, porque o governo depois teve que subir novamente e ainda financiar as perdas das operadoras? Secas existem e sempre vão existir, assim como crises econômicas, e por isso políticas preventivas são essenciais. Você ainda está em fase de negação de coisas que são alertadas há muito tempo. Não é questão de baixar tarifa na canetada, é criar condições para isso, coisa que não havia.

            5) A carteira é essa, é público e notório que JBC, Vale, Oi, etc., foram as maiores tomadoras de empréstimos em detrimento de empresas que realmente precisariam. Não precisa buscá-la no BNDES, bastava ter acompanhado o noticiário econômico por esses anos. Claro, sugiro ler jornais e revistas de TODAS as linhas ideológicas para isso. Senão você vai acabar desavisado mesmo.

            6) TODOS querem desenvolver. A diferença é quem cria políticas de longo prazo para dar condições disso e aqueles que apostam em políticas de curtíssimo prazo para crescer a qualquer custo, mesmo sem condições.  A aversão completa a reformas da nossa esquerda mostra que ela não tem visão de longo prazo. Poderíamos fazer reformas à esquerda na CLT, na previdência, etc, porque elas são necessárias. Infelizmente, pela miopia de nossa esquerda, é a direita quem vai fazer, à maneira dela. Nossa esquerda deveria estar lamentando não tê-las feito, porque em um momento seriam inevitáveis, e deixado para a direita fazer.

            7) Ganância e desrespeito ao trabalhador? Já tentou abrir uma empresa? Você tem realmente conhecimento de causa para falar isso? Você tem noção do absurdo que é a substituição tributária do ICMS? Existe uma curva em economia que mostra que a partir de certo ponto não adianta aumentar a carga tributária senão a sonegação aumenta, porque do contrário as empresas quebram. E porque a sonegação aqui é alta e em outros países não? No mais, sobre terceirização, ela permite alocar recursos melhor. Uma empresa com alta demanda por um serviço ao longo de 2 anos não precisa criar um setor só para isso se puder terceirizar. Porque não devemos criar um setor inteiro? Porque amanhã virão as vacas magras e a empresa quebra se tiver que mantê-lo ou demitir todo mundo (algo que é extremamente caro). Já a empresa terceira consegue realocar melhor esses funcionários, por trabalhar para várias e ter um colchão de amortecimento com isso. Outro ponto: se empresa e trabalhadores pudessem negociar redução da jornada de trabalho com redução salarial TEMPORÁRIA em tempos de crise poderíamos evitar demissões. Por isso me pergunto: quantos dos que são avessos a esse tipo de coisa estão realmente no mercado de trabalho e entendem como ele funciona? Por fim, sobre empresários que não precisam de férias porque ganham muito: o dono da lanchonete onde tomo café da manhã antes de ir trabalhar está há 8 anos sem férias. Ele é um péssimo empresário? Não sei, a lanchonete funciona e dá emprego a 5 funcionários. Comece a olhar para pessoas comuns na rua antes de sair falando que são péssimos empresários. A estrutura de funcionamento do nosso mercado é péssima, quase pré-capitalista, e por isso esses caras não estão ganhando pelo tanto que trabalham.

            8) Sobre a previdência, o regime de trabalhadores da iniciativa privada e do serviço público deveria ser o mesmo. É a esquerda que se aliou politicamente ao funcionalismo na manutenção de privilégios (funcionários públicos são uma classe que historicamente faz apoio ao PT). O principal alvo da reforma previdenciária devem ser os servidores públicos, portanto. Concordo com você!!!! Agora vai falar isso em um congresso do PT….

            9) A política econômica desastrosa de Dilma já estava mais do que clara em 2013. Levy foi muito depois. Os alertas foram dados, mas a esquerda considerava coisa de liberal-direitista-golpista-que-não-gosta-de-pobre. Vocês acordaram só quando o Levy assumiu, mas o problema já estava declarado 3 anos antes!!! Esse radicalismo de ler uma única fonte de informação é que faz nossa esquerda ser a última a saber das coisas e ainda apontar o culpado errado por conta disso.

            10) Os juros devem baixar quando forem criadas condições para isso, senão voltamos à hiperinflação da década de 80. Que tal discutirmos como criar essas condições – como apontei acima – ao invés de considerar que basta uma marretada voluntarista?

  4. Não tem um texto desse cara

    Não tem um texto desse cara que não tenha no primeiro parágrafo as palavras “estupidez”, “ignorânica”, “mediocridade”, “burrice”.

    O disco do autor de “mais de vinte livros”  toca sempre assim: diagnóstico catastrófico seguido de cagação de regra arrogante.

    1. Otto, meu querido, estou aqui

      Otto, meu querido, estou aqui aguardando ansiosamente seu texto refutador do que disse o autor do artigo, texto que certamente não conterá as palavras que lhe incomodaram tanto, sem diagnóstico catastrofista e sem cagação de regra (a regra ser tida por arrogante, ou não, é subjetivismo que depende do leitor, não do escritor).

      Quem sabe você contestará o artigo corretamente, desconstruindo os dados lançados, a interpretação do autor da realidade e os argumentos que ele usa? Seria bom que assim fosse, pois, então, ficar-se-ia sabendo que você é capaz de pensar e que não é sempre arrogante (pois essa sua crítica ao artigo, ao meu ver, nada mais é do que manifestação vazia de arrogância, isto é, sua manifestação é arrogância em estado puro; Freud explica seu caso).

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