FHC e o pacto com o demônio, por Paulo Teixeira

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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FHC e o pacto com o demônio, por Paulo Teixeira

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso insinuou recentemente em entrevista que a presidenta Dilma Rousseff “vendeu a alma ao diabo” e terá que “fazer pacto com o demônio o tempo todo” para poder governar. Em ambas as metáforas, FHC refere-se ao PMDB.

É oportuno lembrar ao entrevistado, e também aos leitores que tenham tomado conhecimento da declaração de FHC, que o PMDB foi seu aliado nos dois governos tucanos sem que o então presidente jamais demonizasse as alianças construídas. Renan Calheiros foi seu ministro da Justiça. Eliseu Padilha esteve à frente da pasta dos Transportes. Geddel Vieira Lima foi seu líder na Câmara dos Deputados.

Sobretudo, é oportuno lembrar que o PMDB não é apenas um aliado da presidenta Dilma, mas a legenda do vice-presidente Michel Temer. Em outras palavras, o PMDB não está no governo; ele é governo.

Mesmo que a aliança com o PMDB não tivesse sido sacramentada nas urnas, é o próprio FHC quem reconhece, na referida entrevista, a necessidade das alianças. “Temos um sistema partidário e eleitoral que tornou inviável construir maiorias sólidas no Congresso”, diz ele. “Qualquer um terá esse problema para governar.” Nesse sentido, eu apenas complementaria a análise dizendo que o essencial é que essa maioria seja construída de forma ética, transparente e republicana, como Dilma tem feito, e não valendo-se de subterfúgios e expedientes ilícitos.

O que parece justificar o tom do ex-presidente é a evidência de que o governo está no caminho certo para recompor sua base, como mostra a importante vitória na votação dos vetos das emendas, antes mesmo de fazer a reforma ministerial. A postura do PSDB na ocasião foi reveladora do isolamento do partido. Nada menos do que 50 dos 51 deputados tucanos votaram pela derrubada dos vetos, convencidos da estratégia do “quanto pior, melhor”. Neste momento, derrubar os vetos e insistir no aumento de despesas seria um gesto irresponsável, onerando sobremaneira o erário e inviabilizando investimentos imprescindíveis para o país. Atitudes como essa nos convencem de que o PSDB deixou de ser o maior partido de oposição do Brasil para se tornar o maior partido de oposição ao Brasil.

Curiosamente, dias após a votação que evidenciou o objetivo tucano de rifar o futuro do país em favor da desidratação do PT, FHC usou o espaço da entrevista para cobrar do governo federal um “pacto” no qual, segundo ele, Dilma não pense em “vantagens para seu grupo político, só no futuro do país”. Quem coteja a entrevista com as reportagens que abordaram o gesto dos tucanos na votação dos vetos percebe a incoerência entre teoria e prática.

Hoje, é mais do que evidente que os deputados que de fato pensam no futuro do país são aqueles que reconhecem a necessidade de economizar. E certamente não são esses que merecem a alcunha de “diabo” ou “demônio”.

Finalmente, a entrevista foi também reveladora da posição de FHC ao lado dos golpistas. Em certo trecho, o ex-presidente admite que as manobras para justificar um hipotético impeachment da presidenta são meramente políticas, erigidas no plano do discurso. “O impeachment depende de você ter uma argumentação convincente, não só para o Congresso, mas para o povo”, ele afirma. Ora, FHC sabe muito bem que é preciso ter base jurídica e provas contra o mandatário para que um impedimento seja votado. Contra Dilma, não há nada.

Paulo Teixeira é deputado federal (PT/SP) e vice-líder do governo na Câmara dos Deputados.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. Toda vez que abre a boca para

    Toda vez que abre a boca para falar de política, FHC revela o homúnculo infeliz que vive escondido sob sua superfície glamourosa.

    Ele vai morrer tentando destruir os dois legados do pai dele (Petrobras e monopólio do petróleo).

    Trauma infantil?

    Se fosse freudiano, suporia que FHC viu o pai acariciar as tetas e a bunda da mãe dele.

    Mordido pelo ciúme ele jurou se vingar… e segue cumprindo sua promessa, apesar do pai e do seu objeto de desejo infantil terem desaparecido.

    Algumas neuroses são particularmente destrutivas. Hitler também era apaixonado pela mãe e destruiu a Alemanha.

    Lula foi generoso, não destruiu FHC imputando a ele os crimes cometidos durante a Privataria Tucana.

    Generosidade demais pode fazer mal à saúde de um país.

  2. teve a oportunidade não a usou

    FHC teve a boa vontade do povo (poucos se oporiam) para fazer reformas inclusive a politice e eleitoral. Não quis, cuidou de garantir a reeleição com os objetivos que todos conhecemos. Não pode falar nada agora.

    FHC so existe como intelectual porque tem uma imprensa que na falta de melhor assunto lhe diz: fala alguma coisa  que nos publicamos.

  3. Sobre pactos com o diabo este

    Sobre pactos com o diabo este sujeito entende. Afinal, será que ele teria conseguido sequer sair candidato a presidente em 1994 se aquela jornalista não tivesse sido despachada pelos patrões para a Europa e todo aquele rolo -que não pegaria bem junto a um eleitorado moralista- tivesse sido abafado? E  no fim o homem foi vítima de um dos mais vexatórios golpes da barriga da história do mundo: o filho da amante não era dele.

  4. Só não digo que

    O FHC falar e um burro cagar é a mesma coisa, porque ofenderia o burro, já que de seu estrume pelo menos se obtém adubo.

    O estrume que o FHC fala é retórico de dele não se obtêm nada.

  5. Escapar dos interesses privados nos acordos de governabilidade

    Não é fácil, pois se fosse fácil já teriam feito, ainda mais com a Dilma, honesta acima de qualquer suspeita.

    Penso, num diálogo intimista com meus botões, onde eles falam francamente sobre assuntos diversos sem pudores, argumentando que quem chega ao poder, chega lá (mesmo que não confesse nem sobre tortura) para roubar mesmo, pois a caminhada é dura e os riscos são muitos.

    Assim, uma vez na posição de exigir o que o cargo pode lhe fornecer, normalmente não abrem mão de seus interesses pessoais, nem que a vaca tussa, quando muito, numa situação limite como esta que a Dilma criou, onde o abismo foi escancarado, ai recuam, taticamente, para uma posição que lhes favoreça pessoalmente no futuro.

    Sempre foi assim e continua sendo, um congresso cheio de políticos que só pensam na reeleição e em enriquecer a si e aos seus.

    FHC é o exemplo pronto e acabado disto com uma dose cavalar de covardia.

    Como vencer esta maldição dos infernos?

    Trabalho, trabalho duro, com inteligência, método e persistência, sem isto, na minha opinião, não existe a menor chance.

    1. Trabalho duro, para valer
       Tyler Durden's picture

      What Happens To Our Economy As Millions Of People Lose The Habits Of Hard Work?

      Submitted by Tyler Durden on 10/07/2015 – 09:22

       

       

       

       

       

      Simply put, job growth is not keeping pace with population growth–specifically, the growth of the labor force which is generally defined as the population between the ages of 18 and 64.So what happens to the economy as millions of people never acquire the habits of hard work or lose them due to chronic joblessness?

       

  6. Ah, essa inveja que corroi!

    “Pacto com o demônio” Primeiro que isso não são palavras de um intelectual. Uma bobagem. Mas vindo de FHC não é bobagem, é projeção!

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