Laboratório de maldades contra população mais humilde, por Gleisi Hoffmann

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – “Somos todos idiotas?”, perguntou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) à indagação feita por Michel Temer, criticando o discurso de que os mais pobres é que pagarão o custo maior do golpe.
 
“Convenhamos, é muito desagradável imaginar que um governo seja tão estupidificado, tão idiota, que chega ao poder para restringir direitos dos trabalhadores, para acabar com saúde, para acabar com educação”, havia dito Temer na última quarta-feira (14).
 
Em artigo, a parlamentar lembrou algumas das medidas tomadas pelo novo presidente que vão justamente contra a população, entre elas a PEC que congela por 20 anos os gastos públicos, independentemente do aumento da população. Também citou a reforma da Previdência, que segundo Gleisi, obrigará brasileiros a se aposentarem mais tarde, “mesmo aqueles que começam a trabalhar bem cedo e exercem dupla jornada, como as mulheres”.
 
E, por fim, citou a lista de concessões e licitações anunciadas por Temer, que recairá sobre os mais pobres os custos de pedágios e, até mesmo, de saneamento, para o lucro de iniciativas privadas.
 
Por Gleisi Hoffmann
 
Somos todos idiotas?
 
Do Brasil 247
 

Na última quarta-feira, o presidente Michel Temer tentou se vitimizar diante das críticas ao seu pacote de arrocho que está sendo imposto aos brasileiros. Disse ele: “Convenhamos, é muito desagradável imaginar que um governo seja tão estupidificado, tão idiota, que chega ao poder para restringir direitos dos trabalhadores, para acabar com saúde, para acabar com educação”.

Ora! De que se queixa esse senhor, que, depois de comandar a derrubada de uma presidente eleita com mais de 54 milhões de votos, transformou seu governo ilegítimo em verdadeiro laboratório de maldades contra a população mais humilde deste país?

Primeiro, enviou ao Congresso Proposta de Emenda Constitucional que limita os gastos sociais à correção da inflação, independentemente do aumento populacional. Até o fim do mês, deverá encaminhar outra PEC para obrigar os brasileiros a se aposentarem mais tarde, mesmo aqueles que começam a trabalhar bem cedo e exercem dupla jornada, como as mulheres. Se não bastasse, também anunciou que vai mexer nas leis trabalhistas, para “flexibilizar” a jornada de trabalho.

Agora, Temer divulgou o “seu” Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), que engloba 34 projetos de concessões na área de infraestrutura. Uma versão desidratada da segunda fase do Programa de Investimento em Logística (PIL), já lançado pela presidente Dilma. Na primeira fase do PIL, a qual tive a honra de coordenar, como ministra-chefe da Casa Civil, licitamos seis aeroportos, oito trechos de rodovias e 51 Terminais de Uso Privado. Foram leiloados sete arrendamentos em portos e realizadas sete renovações de arrendamentos.

Alguém ainda ouve falar em problemas nos terminais portuários ou em caos nos aeroportos? Quem esteve na Copa do Mundo ou na Olimpíada que o diga.

Mas como não podia deixar de ser, tudo neste governo tem as mãos do mercado. A nossa modelagem de concessões levava em conta a “modicidade tarifária”, pela qual ganhava as licitações quem apresentasse, por exemplo, as menores tarifas de pedágio nas rodovias. Foi uma maneira de garantir que os usuários, principalmente das regiões mais pobres, não fossem penalizados com tarifas fora de suas possibilidades.

Essa norma, porém, deixou de existir. Como informou a presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, o novo modelo de concessões está baseado em “premissas realistas”. Ou seja, que se dane o quanto os brasileiros terão que desembolsar nos pedágios das rodovias concedidas. O que importará agora, pelo visto, é o valor da outorga que as empresas vencedoras pagarão ao governo.

Essa “premissa realista” da presidente do BNDES torna-se ainda mais preocupante porque o novo governo resolveu incluir no programa de concessões uma área de grande demanda social, que é o saneamento básico. E eu me pergunto: se não tem modicidade tarifária, em que preço ficarão as tarifas de água e esgoto a serem cobradas da população, principalmente as que vivem em regiões mais pobres? De novo, o povo é que pagará a conta.

Meu Deus, somos mesmo todos idiotas?

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. Não acredito que se trata de

    Não acredito que se trata de idiotia, mas de uma mania horrorosa de colocaros pobres como detentores de cidadania, informando-os que tudo tem um preço e convidando-os a serem cidadãos plenos, com direitos e deveres como quaisquer outros. Que tal uma tarifa justa a todos? Ruim é tudo desabar sobre as costas da classe média… 

    No caso de SSA, por exemplo, em se tratando de IPTU: há isenção para moradias avalidas em até R$ 80 mil. Adivinha quem sustenta a cidade?

  2. Resp: Somos todos idiotas sim

    Resp: Somos todos idiotas sim !!!

    O intelectual mais influente do Brasil Hj é Olavo de Crvalho…. tem como ser mais idiota que isso ??

  3. E o pessoal das favelas, dos

    E o pessoal das favelas, dos morros, não vão para as ruas? Querem o que .-? Que os ricos defendam seus direitos? Ô povinho acomodado?

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